Bolsa Família: fila de pacientes em unidade de saúde em Natal não tem relação com benefício


Postagem enganosa associa imagens de pessoas enfileiradas na rua a um suposto cancelamento do Auxílio Brasil pelo governo de Lula

Por Projeto Comprova
Atualização:

Conteúdo investigado: Vídeo de pessoas em uma fila na calçada acompanhado da seguinte frase: “Que maldade que o governo Lula está fazendo, deixando o povo em grandes filas pegando sol e cancelando o Auxílio Brasil. Você acha que o governo está agindo correto (sic) com a população?”

Onde foi publicado: Telegram e Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso o post que associa imagens de uma fila na rua ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva e ao cancelamento de programa social. A publicação, que tira vídeo de contexto, cita que a atual administração federal estaria “deixando o povo em grandes filas pegando sol e cancelando o Auxílio Brasil”.

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Fila de pacientes em unidade de saúde em Natal não tem relação com Bolsa Família Foto: Arte/Estadão

O vídeo original, gravado em maio deste ano e exibido pela Inter TV, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Norte, mostra pacientes aguardando atendimento em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) da cidade de Natal, capital potiguar. A fila foi gerada pela demora na emissão de senhas e, segundo nota da prefeitura enviada ao telejornal, por uma redução no número de médicos em atuação naquele dia na unidade. O espaço é de responsabilidade do município — administrado por Álvaro Dias (Republicanos) —, não da União.

O atual governo de fato bloqueou o pagamento do Bolsa Família (que substitui o Auxílio Brasil) de parte dos beneficiários por indícios de irregularidades e provocou filas ao exigir o recadastramento de outra parte. Mas isso não tem relação com a fila registrada em frente à UBS, como sugere o post enganoso.

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Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 1º de junho, o post no Twitter acumulava 159,5 mil visualizações, 4,4 mil curtidas, mais de 900 compartilhamentos e 179 comentários.

Como verificamos: Primeiramente, buscamos pistas no próprio vídeo. Nas imagens, é possível ler nos letreiros instalados na fachada do prédio que se trata de uma UBS. Como recentemente houve uma greve na cidade de Natal, buscamos por imagens de unidades de saúde da capital potiguar e encontramos uma edificação compatível.

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Print do vídeo usado no post enganoso / Print do Google Maps da fachada da UBS Bela Vista, em Natal Foto: Reprodução

Ao identificar a UBS em frente à qual o vídeo foi gravado, procuramos no Google por denúncias de problemas no local, envolvendo fila ou demora no atendimento. A pesquisa retornou reportagens jornalísticas, sendo que uma delas usava, no contexto original, o vídeo que ganhou outro sentido no post enganoso. Fizemos contato com a emissora para obter mais informações sobre a origem das imagens.

Também pesquisamos por palavras-chave no Google como “Auxílio Brasil”, “Bolsa Família” e “governo Lula”.

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Enviamos questionamentos à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Natal, onde fica a UBS, e ao Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Por fim, contatamos o perfil no Twitter que fez a publicação enganosa.

Vídeo foi gravado em frente a UBS

A fila na calçada que aparece no post enganoso foi registrada na manhã de 18 de maio em frente à UBS Bela Vista, no bairro de Igapó, zona norte de Natal. A gestão do espaço é feita pela prefeitura, comandada por Álvaro Dias (Republicanos). As imagens foram exibidas pelo telejornal RN TV 1ª Edição, da Inter TV RN, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Norte.

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O programa informa ter recebido diversos vídeos de pacientes que reclamavam da demora no atendimento no local. Neles, moradores relatam que chegaram à unidade de madrugada e que o posto informou que as fichas para atendimento seriam distribuídas somente a partir das 9 horas. “Todos os postos de saúde entregam às 7 horas, menos aqui”, reclama uma senhora. “Muitos idosos, teve uma que já passou mal e foi para casa. E aí?”, questiona outra. A demora para o início da distribuição das fichas fez com que uma longa fila se formasse.

Quando, finalmente, as senhas foram entregues, parte do grupo que aguardava ficou sem atendimento. Ao RN TV, a Secretaria Municipal de Saúde de Natal informou que a escala médica desta unidade é composta por três médicos clínicos, um pediatra e um ginecologista, mas que um clínico estava de licença em virtude de uma cirurgia e, por isso, houve redução de atendimentos médicos.

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Ainda ao RN TV, a SMS informou, na ocasião, que foram realizadas 150 marcações de consultas e acrescentou que ainda existem 59 UBSs na capital potiguar, onde os usuários podem procurar atendimento sem a necessidade de chegar antes do horário de funcionamento, que se inicia às 8 horas.

Bolsa Família: cancelamento e recadastramento

O post enganoso também cita o cancelamento do Auxílio Brasil. O benefício social, que no atual governo voltou a se chamar Bolsa Família, concede valor mínimo de R$ 600 a famílias de baixa renda. De fato, o governo Lula cancelou o pagamento da bolsa a parte dos beneficiários por indícios de irregularidades. Conforme disse o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, em março deste ano, 1,4 milhão de famílias foram excluídas do programa. Em contrapartida, outras 700 mil famílias foram incluídas.

Em abril, por suspeita de fraude, houve bloqueio do Bolsa Família para 1,2 milhão de “famílias de uma pessoa só”, o que provocou longas filas nos postos de atendimento de prefeituras. O aumento na procura por recadastramento após a suspensão foi registrado em capitais como Rio de Janeiro e Salvador. O grupo tinha 60 dias para demonstrar que, de fato, atendia os requisitos para acessar o benefício.

O objetivo da medida é combater fraudes e conceder a bolsa a quem realmente precisa, de acordo com o governo. Em maio deste ano, segundo dados do governo, 21,2 milhões de famílias foram beneficiadas.

O Bolsa Família é voltado para pessoas em situação de vulnerabilidade econômica e social. Para serem contempladas, elas precisam apresentar renda classificada como situação de pobreza ou de extrema pobreza. Com a nova legislação, têm acesso ao programa as famílias com renda de até R$ 218 por pessoa. Os dados precisam estar atualizados junto ao Cadastro Único (CADÚnico).

A seleção considera a estimativa de pobreza, a quantidade de famílias atendidas em cada município e o limite orçamentário.

Bolsa Família e UBS

Segundo as regras do Bolsa Família, alguns beneficiários devem comparecer duas vezes ao ano, sendo uma a cada semestre, às UBSs de seus municípios para comprovar ao governo federal que fazem o acompanhamento de saúde. No entanto, essa necessidade atinge apenas as pessoas grávidas, puérperas e crianças menores de 7 anos.

A ida à UBS consiste em realizar o monitoramento da situação vacinal das crianças e a medição de peso e altura, além do pré-natal das gestantes. Cada município deve nomear um responsável técnico pelo programa Bolsa Família na secretaria de saúde municipal. Ele deve acessar uma plataforma online e verificar quais famílias beneficiadas precisam do acompanhamento de saúde e se ele está sendo realizado.

Há risco de perder o benefício em caso de não realização do acompanhamento. Em abril, uma portaria do governo federal definiu que a repercussão pelo acompanhamento das condicionalidades será retomada a partir de julho, com aplicação de advertência aos beneficiários que descumprirem qualquer critério. Neste caso, o benefício ainda é mantido, mas trata-se de um sinal de alerta.

Regra semelhante existe na educação, em que é necessário ter frequência escolar mensal mínima de 60% para os beneficiários de 4 a 6 anos incompletos de idade; e frequência escolar mensal mínima de 75% para os beneficiários de 6 a 18 anos incompletos que não tenham concluído a educação básica.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova entrou em contato pelo Twitter com a conta @mspbra, responsável pelo post verificado. Na bio, o perfil se apresenta como um espaço de “notícias, humor, paródia, ironia e sátira”. Não houve retorno até a publicação desta checagem.

O que podemos aprender com esta verificação: Ao se deparar com uma publicação que usa imagens sem mencionar data, local, ou mesmo crédito, desconfie. Olhe o vídeo com atenção e busque pistas que ajudem na contextualização. Neste caso, o letreiro, por exemplo, e a própria estrutura do prédio, indicava se tratar de uma unidade de saúde.

Antes de compartilhar um post, pesquise sobre o tema abordado e procure fazer questionamentos. Em relação à publicação em questão, houve mesmo cancelamento de auxílio? Quando, em qual contexto e por qual motivo? Esse cancelamento tem gerado filas? Qual a eventual relação do benefício social com uma UBS? Notícias provavelmente o ajudarão a compreender o cenário.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já desmentiu outras peças de desinformação envolvendo Lula. Recentemente, mostrou ser falso que ele tenha reconduzido Nestor Cerveró a cargo na Petrobras e que o petista esteja implementando banheiros unissex no país.

Conteúdo investigado: Vídeo de pessoas em uma fila na calçada acompanhado da seguinte frase: “Que maldade que o governo Lula está fazendo, deixando o povo em grandes filas pegando sol e cancelando o Auxílio Brasil. Você acha que o governo está agindo correto (sic) com a população?”

Onde foi publicado: Telegram e Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso o post que associa imagens de uma fila na rua ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva e ao cancelamento de programa social. A publicação, que tira vídeo de contexto, cita que a atual administração federal estaria “deixando o povo em grandes filas pegando sol e cancelando o Auxílio Brasil”.

Fila de pacientes em unidade de saúde em Natal não tem relação com Bolsa Família Foto: Arte/Estadão

O vídeo original, gravado em maio deste ano e exibido pela Inter TV, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Norte, mostra pacientes aguardando atendimento em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) da cidade de Natal, capital potiguar. A fila foi gerada pela demora na emissão de senhas e, segundo nota da prefeitura enviada ao telejornal, por uma redução no número de médicos em atuação naquele dia na unidade. O espaço é de responsabilidade do município — administrado por Álvaro Dias (Republicanos) —, não da União.

O atual governo de fato bloqueou o pagamento do Bolsa Família (que substitui o Auxílio Brasil) de parte dos beneficiários por indícios de irregularidades e provocou filas ao exigir o recadastramento de outra parte. Mas isso não tem relação com a fila registrada em frente à UBS, como sugere o post enganoso.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 1º de junho, o post no Twitter acumulava 159,5 mil visualizações, 4,4 mil curtidas, mais de 900 compartilhamentos e 179 comentários.

Como verificamos: Primeiramente, buscamos pistas no próprio vídeo. Nas imagens, é possível ler nos letreiros instalados na fachada do prédio que se trata de uma UBS. Como recentemente houve uma greve na cidade de Natal, buscamos por imagens de unidades de saúde da capital potiguar e encontramos uma edificação compatível.

Print do vídeo usado no post enganoso / Print do Google Maps da fachada da UBS Bela Vista, em Natal Foto: Reprodução

Ao identificar a UBS em frente à qual o vídeo foi gravado, procuramos no Google por denúncias de problemas no local, envolvendo fila ou demora no atendimento. A pesquisa retornou reportagens jornalísticas, sendo que uma delas usava, no contexto original, o vídeo que ganhou outro sentido no post enganoso. Fizemos contato com a emissora para obter mais informações sobre a origem das imagens.

Também pesquisamos por palavras-chave no Google como “Auxílio Brasil”, “Bolsa Família” e “governo Lula”.

Enviamos questionamentos à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Natal, onde fica a UBS, e ao Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Por fim, contatamos o perfil no Twitter que fez a publicação enganosa.

Vídeo foi gravado em frente a UBS

A fila na calçada que aparece no post enganoso foi registrada na manhã de 18 de maio em frente à UBS Bela Vista, no bairro de Igapó, zona norte de Natal. A gestão do espaço é feita pela prefeitura, comandada por Álvaro Dias (Republicanos). As imagens foram exibidas pelo telejornal RN TV 1ª Edição, da Inter TV RN, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Norte.

O programa informa ter recebido diversos vídeos de pacientes que reclamavam da demora no atendimento no local. Neles, moradores relatam que chegaram à unidade de madrugada e que o posto informou que as fichas para atendimento seriam distribuídas somente a partir das 9 horas. “Todos os postos de saúde entregam às 7 horas, menos aqui”, reclama uma senhora. “Muitos idosos, teve uma que já passou mal e foi para casa. E aí?”, questiona outra. A demora para o início da distribuição das fichas fez com que uma longa fila se formasse.

Quando, finalmente, as senhas foram entregues, parte do grupo que aguardava ficou sem atendimento. Ao RN TV, a Secretaria Municipal de Saúde de Natal informou que a escala médica desta unidade é composta por três médicos clínicos, um pediatra e um ginecologista, mas que um clínico estava de licença em virtude de uma cirurgia e, por isso, houve redução de atendimentos médicos.

Ainda ao RN TV, a SMS informou, na ocasião, que foram realizadas 150 marcações de consultas e acrescentou que ainda existem 59 UBSs na capital potiguar, onde os usuários podem procurar atendimento sem a necessidade de chegar antes do horário de funcionamento, que se inicia às 8 horas.

Bolsa Família: cancelamento e recadastramento

O post enganoso também cita o cancelamento do Auxílio Brasil. O benefício social, que no atual governo voltou a se chamar Bolsa Família, concede valor mínimo de R$ 600 a famílias de baixa renda. De fato, o governo Lula cancelou o pagamento da bolsa a parte dos beneficiários por indícios de irregularidades. Conforme disse o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, em março deste ano, 1,4 milhão de famílias foram excluídas do programa. Em contrapartida, outras 700 mil famílias foram incluídas.

Em abril, por suspeita de fraude, houve bloqueio do Bolsa Família para 1,2 milhão de “famílias de uma pessoa só”, o que provocou longas filas nos postos de atendimento de prefeituras. O aumento na procura por recadastramento após a suspensão foi registrado em capitais como Rio de Janeiro e Salvador. O grupo tinha 60 dias para demonstrar que, de fato, atendia os requisitos para acessar o benefício.

O objetivo da medida é combater fraudes e conceder a bolsa a quem realmente precisa, de acordo com o governo. Em maio deste ano, segundo dados do governo, 21,2 milhões de famílias foram beneficiadas.

O Bolsa Família é voltado para pessoas em situação de vulnerabilidade econômica e social. Para serem contempladas, elas precisam apresentar renda classificada como situação de pobreza ou de extrema pobreza. Com a nova legislação, têm acesso ao programa as famílias com renda de até R$ 218 por pessoa. Os dados precisam estar atualizados junto ao Cadastro Único (CADÚnico).

A seleção considera a estimativa de pobreza, a quantidade de famílias atendidas em cada município e o limite orçamentário.

Bolsa Família e UBS

Segundo as regras do Bolsa Família, alguns beneficiários devem comparecer duas vezes ao ano, sendo uma a cada semestre, às UBSs de seus municípios para comprovar ao governo federal que fazem o acompanhamento de saúde. No entanto, essa necessidade atinge apenas as pessoas grávidas, puérperas e crianças menores de 7 anos.

A ida à UBS consiste em realizar o monitoramento da situação vacinal das crianças e a medição de peso e altura, além do pré-natal das gestantes. Cada município deve nomear um responsável técnico pelo programa Bolsa Família na secretaria de saúde municipal. Ele deve acessar uma plataforma online e verificar quais famílias beneficiadas precisam do acompanhamento de saúde e se ele está sendo realizado.

Há risco de perder o benefício em caso de não realização do acompanhamento. Em abril, uma portaria do governo federal definiu que a repercussão pelo acompanhamento das condicionalidades será retomada a partir de julho, com aplicação de advertência aos beneficiários que descumprirem qualquer critério. Neste caso, o benefício ainda é mantido, mas trata-se de um sinal de alerta.

Regra semelhante existe na educação, em que é necessário ter frequência escolar mensal mínima de 60% para os beneficiários de 4 a 6 anos incompletos de idade; e frequência escolar mensal mínima de 75% para os beneficiários de 6 a 18 anos incompletos que não tenham concluído a educação básica.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova entrou em contato pelo Twitter com a conta @mspbra, responsável pelo post verificado. Na bio, o perfil se apresenta como um espaço de “notícias, humor, paródia, ironia e sátira”. Não houve retorno até a publicação desta checagem.

O que podemos aprender com esta verificação: Ao se deparar com uma publicação que usa imagens sem mencionar data, local, ou mesmo crédito, desconfie. Olhe o vídeo com atenção e busque pistas que ajudem na contextualização. Neste caso, o letreiro, por exemplo, e a própria estrutura do prédio, indicava se tratar de uma unidade de saúde.

Antes de compartilhar um post, pesquise sobre o tema abordado e procure fazer questionamentos. Em relação à publicação em questão, houve mesmo cancelamento de auxílio? Quando, em qual contexto e por qual motivo? Esse cancelamento tem gerado filas? Qual a eventual relação do benefício social com uma UBS? Notícias provavelmente o ajudarão a compreender o cenário.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já desmentiu outras peças de desinformação envolvendo Lula. Recentemente, mostrou ser falso que ele tenha reconduzido Nestor Cerveró a cargo na Petrobras e que o petista esteja implementando banheiros unissex no país.

Conteúdo investigado: Vídeo de pessoas em uma fila na calçada acompanhado da seguinte frase: “Que maldade que o governo Lula está fazendo, deixando o povo em grandes filas pegando sol e cancelando o Auxílio Brasil. Você acha que o governo está agindo correto (sic) com a população?”

Onde foi publicado: Telegram e Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso o post que associa imagens de uma fila na rua ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva e ao cancelamento de programa social. A publicação, que tira vídeo de contexto, cita que a atual administração federal estaria “deixando o povo em grandes filas pegando sol e cancelando o Auxílio Brasil”.

Fila de pacientes em unidade de saúde em Natal não tem relação com Bolsa Família Foto: Arte/Estadão

O vídeo original, gravado em maio deste ano e exibido pela Inter TV, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Norte, mostra pacientes aguardando atendimento em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) da cidade de Natal, capital potiguar. A fila foi gerada pela demora na emissão de senhas e, segundo nota da prefeitura enviada ao telejornal, por uma redução no número de médicos em atuação naquele dia na unidade. O espaço é de responsabilidade do município — administrado por Álvaro Dias (Republicanos) —, não da União.

O atual governo de fato bloqueou o pagamento do Bolsa Família (que substitui o Auxílio Brasil) de parte dos beneficiários por indícios de irregularidades e provocou filas ao exigir o recadastramento de outra parte. Mas isso não tem relação com a fila registrada em frente à UBS, como sugere o post enganoso.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 1º de junho, o post no Twitter acumulava 159,5 mil visualizações, 4,4 mil curtidas, mais de 900 compartilhamentos e 179 comentários.

Como verificamos: Primeiramente, buscamos pistas no próprio vídeo. Nas imagens, é possível ler nos letreiros instalados na fachada do prédio que se trata de uma UBS. Como recentemente houve uma greve na cidade de Natal, buscamos por imagens de unidades de saúde da capital potiguar e encontramos uma edificação compatível.

Print do vídeo usado no post enganoso / Print do Google Maps da fachada da UBS Bela Vista, em Natal Foto: Reprodução

Ao identificar a UBS em frente à qual o vídeo foi gravado, procuramos no Google por denúncias de problemas no local, envolvendo fila ou demora no atendimento. A pesquisa retornou reportagens jornalísticas, sendo que uma delas usava, no contexto original, o vídeo que ganhou outro sentido no post enganoso. Fizemos contato com a emissora para obter mais informações sobre a origem das imagens.

Também pesquisamos por palavras-chave no Google como “Auxílio Brasil”, “Bolsa Família” e “governo Lula”.

Enviamos questionamentos à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Natal, onde fica a UBS, e ao Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Por fim, contatamos o perfil no Twitter que fez a publicação enganosa.

Vídeo foi gravado em frente a UBS

A fila na calçada que aparece no post enganoso foi registrada na manhã de 18 de maio em frente à UBS Bela Vista, no bairro de Igapó, zona norte de Natal. A gestão do espaço é feita pela prefeitura, comandada por Álvaro Dias (Republicanos). As imagens foram exibidas pelo telejornal RN TV 1ª Edição, da Inter TV RN, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Norte.

O programa informa ter recebido diversos vídeos de pacientes que reclamavam da demora no atendimento no local. Neles, moradores relatam que chegaram à unidade de madrugada e que o posto informou que as fichas para atendimento seriam distribuídas somente a partir das 9 horas. “Todos os postos de saúde entregam às 7 horas, menos aqui”, reclama uma senhora. “Muitos idosos, teve uma que já passou mal e foi para casa. E aí?”, questiona outra. A demora para o início da distribuição das fichas fez com que uma longa fila se formasse.

Quando, finalmente, as senhas foram entregues, parte do grupo que aguardava ficou sem atendimento. Ao RN TV, a Secretaria Municipal de Saúde de Natal informou que a escala médica desta unidade é composta por três médicos clínicos, um pediatra e um ginecologista, mas que um clínico estava de licença em virtude de uma cirurgia e, por isso, houve redução de atendimentos médicos.

Ainda ao RN TV, a SMS informou, na ocasião, que foram realizadas 150 marcações de consultas e acrescentou que ainda existem 59 UBSs na capital potiguar, onde os usuários podem procurar atendimento sem a necessidade de chegar antes do horário de funcionamento, que se inicia às 8 horas.

Bolsa Família: cancelamento e recadastramento

O post enganoso também cita o cancelamento do Auxílio Brasil. O benefício social, que no atual governo voltou a se chamar Bolsa Família, concede valor mínimo de R$ 600 a famílias de baixa renda. De fato, o governo Lula cancelou o pagamento da bolsa a parte dos beneficiários por indícios de irregularidades. Conforme disse o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, em março deste ano, 1,4 milhão de famílias foram excluídas do programa. Em contrapartida, outras 700 mil famílias foram incluídas.

Em abril, por suspeita de fraude, houve bloqueio do Bolsa Família para 1,2 milhão de “famílias de uma pessoa só”, o que provocou longas filas nos postos de atendimento de prefeituras. O aumento na procura por recadastramento após a suspensão foi registrado em capitais como Rio de Janeiro e Salvador. O grupo tinha 60 dias para demonstrar que, de fato, atendia os requisitos para acessar o benefício.

O objetivo da medida é combater fraudes e conceder a bolsa a quem realmente precisa, de acordo com o governo. Em maio deste ano, segundo dados do governo, 21,2 milhões de famílias foram beneficiadas.

O Bolsa Família é voltado para pessoas em situação de vulnerabilidade econômica e social. Para serem contempladas, elas precisam apresentar renda classificada como situação de pobreza ou de extrema pobreza. Com a nova legislação, têm acesso ao programa as famílias com renda de até R$ 218 por pessoa. Os dados precisam estar atualizados junto ao Cadastro Único (CADÚnico).

A seleção considera a estimativa de pobreza, a quantidade de famílias atendidas em cada município e o limite orçamentário.

Bolsa Família e UBS

Segundo as regras do Bolsa Família, alguns beneficiários devem comparecer duas vezes ao ano, sendo uma a cada semestre, às UBSs de seus municípios para comprovar ao governo federal que fazem o acompanhamento de saúde. No entanto, essa necessidade atinge apenas as pessoas grávidas, puérperas e crianças menores de 7 anos.

A ida à UBS consiste em realizar o monitoramento da situação vacinal das crianças e a medição de peso e altura, além do pré-natal das gestantes. Cada município deve nomear um responsável técnico pelo programa Bolsa Família na secretaria de saúde municipal. Ele deve acessar uma plataforma online e verificar quais famílias beneficiadas precisam do acompanhamento de saúde e se ele está sendo realizado.

Há risco de perder o benefício em caso de não realização do acompanhamento. Em abril, uma portaria do governo federal definiu que a repercussão pelo acompanhamento das condicionalidades será retomada a partir de julho, com aplicação de advertência aos beneficiários que descumprirem qualquer critério. Neste caso, o benefício ainda é mantido, mas trata-se de um sinal de alerta.

Regra semelhante existe na educação, em que é necessário ter frequência escolar mensal mínima de 60% para os beneficiários de 4 a 6 anos incompletos de idade; e frequência escolar mensal mínima de 75% para os beneficiários de 6 a 18 anos incompletos que não tenham concluído a educação básica.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova entrou em contato pelo Twitter com a conta @mspbra, responsável pelo post verificado. Na bio, o perfil se apresenta como um espaço de “notícias, humor, paródia, ironia e sátira”. Não houve retorno até a publicação desta checagem.

O que podemos aprender com esta verificação: Ao se deparar com uma publicação que usa imagens sem mencionar data, local, ou mesmo crédito, desconfie. Olhe o vídeo com atenção e busque pistas que ajudem na contextualização. Neste caso, o letreiro, por exemplo, e a própria estrutura do prédio, indicava se tratar de uma unidade de saúde.

Antes de compartilhar um post, pesquise sobre o tema abordado e procure fazer questionamentos. Em relação à publicação em questão, houve mesmo cancelamento de auxílio? Quando, em qual contexto e por qual motivo? Esse cancelamento tem gerado filas? Qual a eventual relação do benefício social com uma UBS? Notícias provavelmente o ajudarão a compreender o cenário.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já desmentiu outras peças de desinformação envolvendo Lula. Recentemente, mostrou ser falso que ele tenha reconduzido Nestor Cerveró a cargo na Petrobras e que o petista esteja implementando banheiros unissex no país.

Conteúdo investigado: Vídeo de pessoas em uma fila na calçada acompanhado da seguinte frase: “Que maldade que o governo Lula está fazendo, deixando o povo em grandes filas pegando sol e cancelando o Auxílio Brasil. Você acha que o governo está agindo correto (sic) com a população?”

Onde foi publicado: Telegram e Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso o post que associa imagens de uma fila na rua ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva e ao cancelamento de programa social. A publicação, que tira vídeo de contexto, cita que a atual administração federal estaria “deixando o povo em grandes filas pegando sol e cancelando o Auxílio Brasil”.

Fila de pacientes em unidade de saúde em Natal não tem relação com Bolsa Família Foto: Arte/Estadão

O vídeo original, gravado em maio deste ano e exibido pela Inter TV, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Norte, mostra pacientes aguardando atendimento em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) da cidade de Natal, capital potiguar. A fila foi gerada pela demora na emissão de senhas e, segundo nota da prefeitura enviada ao telejornal, por uma redução no número de médicos em atuação naquele dia na unidade. O espaço é de responsabilidade do município — administrado por Álvaro Dias (Republicanos) —, não da União.

O atual governo de fato bloqueou o pagamento do Bolsa Família (que substitui o Auxílio Brasil) de parte dos beneficiários por indícios de irregularidades e provocou filas ao exigir o recadastramento de outra parte. Mas isso não tem relação com a fila registrada em frente à UBS, como sugere o post enganoso.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 1º de junho, o post no Twitter acumulava 159,5 mil visualizações, 4,4 mil curtidas, mais de 900 compartilhamentos e 179 comentários.

Como verificamos: Primeiramente, buscamos pistas no próprio vídeo. Nas imagens, é possível ler nos letreiros instalados na fachada do prédio que se trata de uma UBS. Como recentemente houve uma greve na cidade de Natal, buscamos por imagens de unidades de saúde da capital potiguar e encontramos uma edificação compatível.

Print do vídeo usado no post enganoso / Print do Google Maps da fachada da UBS Bela Vista, em Natal Foto: Reprodução

Ao identificar a UBS em frente à qual o vídeo foi gravado, procuramos no Google por denúncias de problemas no local, envolvendo fila ou demora no atendimento. A pesquisa retornou reportagens jornalísticas, sendo que uma delas usava, no contexto original, o vídeo que ganhou outro sentido no post enganoso. Fizemos contato com a emissora para obter mais informações sobre a origem das imagens.

Também pesquisamos por palavras-chave no Google como “Auxílio Brasil”, “Bolsa Família” e “governo Lula”.

Enviamos questionamentos à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Natal, onde fica a UBS, e ao Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Por fim, contatamos o perfil no Twitter que fez a publicação enganosa.

Vídeo foi gravado em frente a UBS

A fila na calçada que aparece no post enganoso foi registrada na manhã de 18 de maio em frente à UBS Bela Vista, no bairro de Igapó, zona norte de Natal. A gestão do espaço é feita pela prefeitura, comandada por Álvaro Dias (Republicanos). As imagens foram exibidas pelo telejornal RN TV 1ª Edição, da Inter TV RN, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Norte.

O programa informa ter recebido diversos vídeos de pacientes que reclamavam da demora no atendimento no local. Neles, moradores relatam que chegaram à unidade de madrugada e que o posto informou que as fichas para atendimento seriam distribuídas somente a partir das 9 horas. “Todos os postos de saúde entregam às 7 horas, menos aqui”, reclama uma senhora. “Muitos idosos, teve uma que já passou mal e foi para casa. E aí?”, questiona outra. A demora para o início da distribuição das fichas fez com que uma longa fila se formasse.

Quando, finalmente, as senhas foram entregues, parte do grupo que aguardava ficou sem atendimento. Ao RN TV, a Secretaria Municipal de Saúde de Natal informou que a escala médica desta unidade é composta por três médicos clínicos, um pediatra e um ginecologista, mas que um clínico estava de licença em virtude de uma cirurgia e, por isso, houve redução de atendimentos médicos.

Ainda ao RN TV, a SMS informou, na ocasião, que foram realizadas 150 marcações de consultas e acrescentou que ainda existem 59 UBSs na capital potiguar, onde os usuários podem procurar atendimento sem a necessidade de chegar antes do horário de funcionamento, que se inicia às 8 horas.

Bolsa Família: cancelamento e recadastramento

O post enganoso também cita o cancelamento do Auxílio Brasil. O benefício social, que no atual governo voltou a se chamar Bolsa Família, concede valor mínimo de R$ 600 a famílias de baixa renda. De fato, o governo Lula cancelou o pagamento da bolsa a parte dos beneficiários por indícios de irregularidades. Conforme disse o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, em março deste ano, 1,4 milhão de famílias foram excluídas do programa. Em contrapartida, outras 700 mil famílias foram incluídas.

Em abril, por suspeita de fraude, houve bloqueio do Bolsa Família para 1,2 milhão de “famílias de uma pessoa só”, o que provocou longas filas nos postos de atendimento de prefeituras. O aumento na procura por recadastramento após a suspensão foi registrado em capitais como Rio de Janeiro e Salvador. O grupo tinha 60 dias para demonstrar que, de fato, atendia os requisitos para acessar o benefício.

O objetivo da medida é combater fraudes e conceder a bolsa a quem realmente precisa, de acordo com o governo. Em maio deste ano, segundo dados do governo, 21,2 milhões de famílias foram beneficiadas.

O Bolsa Família é voltado para pessoas em situação de vulnerabilidade econômica e social. Para serem contempladas, elas precisam apresentar renda classificada como situação de pobreza ou de extrema pobreza. Com a nova legislação, têm acesso ao programa as famílias com renda de até R$ 218 por pessoa. Os dados precisam estar atualizados junto ao Cadastro Único (CADÚnico).

A seleção considera a estimativa de pobreza, a quantidade de famílias atendidas em cada município e o limite orçamentário.

Bolsa Família e UBS

Segundo as regras do Bolsa Família, alguns beneficiários devem comparecer duas vezes ao ano, sendo uma a cada semestre, às UBSs de seus municípios para comprovar ao governo federal que fazem o acompanhamento de saúde. No entanto, essa necessidade atinge apenas as pessoas grávidas, puérperas e crianças menores de 7 anos.

A ida à UBS consiste em realizar o monitoramento da situação vacinal das crianças e a medição de peso e altura, além do pré-natal das gestantes. Cada município deve nomear um responsável técnico pelo programa Bolsa Família na secretaria de saúde municipal. Ele deve acessar uma plataforma online e verificar quais famílias beneficiadas precisam do acompanhamento de saúde e se ele está sendo realizado.

Há risco de perder o benefício em caso de não realização do acompanhamento. Em abril, uma portaria do governo federal definiu que a repercussão pelo acompanhamento das condicionalidades será retomada a partir de julho, com aplicação de advertência aos beneficiários que descumprirem qualquer critério. Neste caso, o benefício ainda é mantido, mas trata-se de um sinal de alerta.

Regra semelhante existe na educação, em que é necessário ter frequência escolar mensal mínima de 60% para os beneficiários de 4 a 6 anos incompletos de idade; e frequência escolar mensal mínima de 75% para os beneficiários de 6 a 18 anos incompletos que não tenham concluído a educação básica.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova entrou em contato pelo Twitter com a conta @mspbra, responsável pelo post verificado. Na bio, o perfil se apresenta como um espaço de “notícias, humor, paródia, ironia e sátira”. Não houve retorno até a publicação desta checagem.

O que podemos aprender com esta verificação: Ao se deparar com uma publicação que usa imagens sem mencionar data, local, ou mesmo crédito, desconfie. Olhe o vídeo com atenção e busque pistas que ajudem na contextualização. Neste caso, o letreiro, por exemplo, e a própria estrutura do prédio, indicava se tratar de uma unidade de saúde.

Antes de compartilhar um post, pesquise sobre o tema abordado e procure fazer questionamentos. Em relação à publicação em questão, houve mesmo cancelamento de auxílio? Quando, em qual contexto e por qual motivo? Esse cancelamento tem gerado filas? Qual a eventual relação do benefício social com uma UBS? Notícias provavelmente o ajudarão a compreender o cenário.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já desmentiu outras peças de desinformação envolvendo Lula. Recentemente, mostrou ser falso que ele tenha reconduzido Nestor Cerveró a cargo na Petrobras e que o petista esteja implementando banheiros unissex no país.

Conteúdo investigado: Vídeo de pessoas em uma fila na calçada acompanhado da seguinte frase: “Que maldade que o governo Lula está fazendo, deixando o povo em grandes filas pegando sol e cancelando o Auxílio Brasil. Você acha que o governo está agindo correto (sic) com a população?”

Onde foi publicado: Telegram e Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso o post que associa imagens de uma fila na rua ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva e ao cancelamento de programa social. A publicação, que tira vídeo de contexto, cita que a atual administração federal estaria “deixando o povo em grandes filas pegando sol e cancelando o Auxílio Brasil”.

Fila de pacientes em unidade de saúde em Natal não tem relação com Bolsa Família Foto: Arte/Estadão

O vídeo original, gravado em maio deste ano e exibido pela Inter TV, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Norte, mostra pacientes aguardando atendimento em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) da cidade de Natal, capital potiguar. A fila foi gerada pela demora na emissão de senhas e, segundo nota da prefeitura enviada ao telejornal, por uma redução no número de médicos em atuação naquele dia na unidade. O espaço é de responsabilidade do município — administrado por Álvaro Dias (Republicanos) —, não da União.

O atual governo de fato bloqueou o pagamento do Bolsa Família (que substitui o Auxílio Brasil) de parte dos beneficiários por indícios de irregularidades e provocou filas ao exigir o recadastramento de outra parte. Mas isso não tem relação com a fila registrada em frente à UBS, como sugere o post enganoso.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 1º de junho, o post no Twitter acumulava 159,5 mil visualizações, 4,4 mil curtidas, mais de 900 compartilhamentos e 179 comentários.

Como verificamos: Primeiramente, buscamos pistas no próprio vídeo. Nas imagens, é possível ler nos letreiros instalados na fachada do prédio que se trata de uma UBS. Como recentemente houve uma greve na cidade de Natal, buscamos por imagens de unidades de saúde da capital potiguar e encontramos uma edificação compatível.

Print do vídeo usado no post enganoso / Print do Google Maps da fachada da UBS Bela Vista, em Natal Foto: Reprodução

Ao identificar a UBS em frente à qual o vídeo foi gravado, procuramos no Google por denúncias de problemas no local, envolvendo fila ou demora no atendimento. A pesquisa retornou reportagens jornalísticas, sendo que uma delas usava, no contexto original, o vídeo que ganhou outro sentido no post enganoso. Fizemos contato com a emissora para obter mais informações sobre a origem das imagens.

Também pesquisamos por palavras-chave no Google como “Auxílio Brasil”, “Bolsa Família” e “governo Lula”.

Enviamos questionamentos à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Natal, onde fica a UBS, e ao Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Por fim, contatamos o perfil no Twitter que fez a publicação enganosa.

Vídeo foi gravado em frente a UBS

A fila na calçada que aparece no post enganoso foi registrada na manhã de 18 de maio em frente à UBS Bela Vista, no bairro de Igapó, zona norte de Natal. A gestão do espaço é feita pela prefeitura, comandada por Álvaro Dias (Republicanos). As imagens foram exibidas pelo telejornal RN TV 1ª Edição, da Inter TV RN, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Norte.

O programa informa ter recebido diversos vídeos de pacientes que reclamavam da demora no atendimento no local. Neles, moradores relatam que chegaram à unidade de madrugada e que o posto informou que as fichas para atendimento seriam distribuídas somente a partir das 9 horas. “Todos os postos de saúde entregam às 7 horas, menos aqui”, reclama uma senhora. “Muitos idosos, teve uma que já passou mal e foi para casa. E aí?”, questiona outra. A demora para o início da distribuição das fichas fez com que uma longa fila se formasse.

Quando, finalmente, as senhas foram entregues, parte do grupo que aguardava ficou sem atendimento. Ao RN TV, a Secretaria Municipal de Saúde de Natal informou que a escala médica desta unidade é composta por três médicos clínicos, um pediatra e um ginecologista, mas que um clínico estava de licença em virtude de uma cirurgia e, por isso, houve redução de atendimentos médicos.

Ainda ao RN TV, a SMS informou, na ocasião, que foram realizadas 150 marcações de consultas e acrescentou que ainda existem 59 UBSs na capital potiguar, onde os usuários podem procurar atendimento sem a necessidade de chegar antes do horário de funcionamento, que se inicia às 8 horas.

Bolsa Família: cancelamento e recadastramento

O post enganoso também cita o cancelamento do Auxílio Brasil. O benefício social, que no atual governo voltou a se chamar Bolsa Família, concede valor mínimo de R$ 600 a famílias de baixa renda. De fato, o governo Lula cancelou o pagamento da bolsa a parte dos beneficiários por indícios de irregularidades. Conforme disse o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, em março deste ano, 1,4 milhão de famílias foram excluídas do programa. Em contrapartida, outras 700 mil famílias foram incluídas.

Em abril, por suspeita de fraude, houve bloqueio do Bolsa Família para 1,2 milhão de “famílias de uma pessoa só”, o que provocou longas filas nos postos de atendimento de prefeituras. O aumento na procura por recadastramento após a suspensão foi registrado em capitais como Rio de Janeiro e Salvador. O grupo tinha 60 dias para demonstrar que, de fato, atendia os requisitos para acessar o benefício.

O objetivo da medida é combater fraudes e conceder a bolsa a quem realmente precisa, de acordo com o governo. Em maio deste ano, segundo dados do governo, 21,2 milhões de famílias foram beneficiadas.

O Bolsa Família é voltado para pessoas em situação de vulnerabilidade econômica e social. Para serem contempladas, elas precisam apresentar renda classificada como situação de pobreza ou de extrema pobreza. Com a nova legislação, têm acesso ao programa as famílias com renda de até R$ 218 por pessoa. Os dados precisam estar atualizados junto ao Cadastro Único (CADÚnico).

A seleção considera a estimativa de pobreza, a quantidade de famílias atendidas em cada município e o limite orçamentário.

Bolsa Família e UBS

Segundo as regras do Bolsa Família, alguns beneficiários devem comparecer duas vezes ao ano, sendo uma a cada semestre, às UBSs de seus municípios para comprovar ao governo federal que fazem o acompanhamento de saúde. No entanto, essa necessidade atinge apenas as pessoas grávidas, puérperas e crianças menores de 7 anos.

A ida à UBS consiste em realizar o monitoramento da situação vacinal das crianças e a medição de peso e altura, além do pré-natal das gestantes. Cada município deve nomear um responsável técnico pelo programa Bolsa Família na secretaria de saúde municipal. Ele deve acessar uma plataforma online e verificar quais famílias beneficiadas precisam do acompanhamento de saúde e se ele está sendo realizado.

Há risco de perder o benefício em caso de não realização do acompanhamento. Em abril, uma portaria do governo federal definiu que a repercussão pelo acompanhamento das condicionalidades será retomada a partir de julho, com aplicação de advertência aos beneficiários que descumprirem qualquer critério. Neste caso, o benefício ainda é mantido, mas trata-se de um sinal de alerta.

Regra semelhante existe na educação, em que é necessário ter frequência escolar mensal mínima de 60% para os beneficiários de 4 a 6 anos incompletos de idade; e frequência escolar mensal mínima de 75% para os beneficiários de 6 a 18 anos incompletos que não tenham concluído a educação básica.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova entrou em contato pelo Twitter com a conta @mspbra, responsável pelo post verificado. Na bio, o perfil se apresenta como um espaço de “notícias, humor, paródia, ironia e sátira”. Não houve retorno até a publicação desta checagem.

O que podemos aprender com esta verificação: Ao se deparar com uma publicação que usa imagens sem mencionar data, local, ou mesmo crédito, desconfie. Olhe o vídeo com atenção e busque pistas que ajudem na contextualização. Neste caso, o letreiro, por exemplo, e a própria estrutura do prédio, indicava se tratar de uma unidade de saúde.

Antes de compartilhar um post, pesquise sobre o tema abordado e procure fazer questionamentos. Em relação à publicação em questão, houve mesmo cancelamento de auxílio? Quando, em qual contexto e por qual motivo? Esse cancelamento tem gerado filas? Qual a eventual relação do benefício social com uma UBS? Notícias provavelmente o ajudarão a compreender o cenário.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já desmentiu outras peças de desinformação envolvendo Lula. Recentemente, mostrou ser falso que ele tenha reconduzido Nestor Cerveró a cargo na Petrobras e que o petista esteja implementando banheiros unissex no país.

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