É falso que o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenha chamado os próprios apoiadores de "marginais" e "terroristas". Uma legenda fazendo essa afirmação acompanha vídeo que circula fora de contexto. Bolsonaro, na verdade, criticava mobilizações contra o governo dele.
Em 2020, manifestações ocorreram no Brasil por influência de protestos norte-americanos decorrentes do caso George Floyd, um homem negro morto por um policial branco, Derek Chauvin, durante uma ocorrência policial em Minneapolis, gravada em vídeo.
No dia 31 de maio tiveram início os atos contra o governo Bolsonaro, autointitulados pró-democracia e antifascistas, organizados por grupos ligados a torcidas de futebol. Na Avenida Paulista, em São Paulo, houve confronto entre manifestantes e apoiadores do presidente e também com a Polícia Militar. Dois dias depois, em 2 de junho, ao falar com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, Jair Bolsonaro chamou os manifestantes contrários ao seu governo de "marginais" e "terroristas" ao comparar os atos realizados no Brasil e nos Estados Unidos.
Ele defendia, na ocasião, que os atos brasileiros tinham motivação política, diferentemente dos norte-americanos, motivados por racismo. "Começou aqui com os antifas (movimento antifacista) em campo. O motivo, no meu entender, político, é diferente. (Aqui) são marginais, no meu entender, terroristas", disse. O vídeo foi publicado no dia seguinte e pode ser conferido em canais da imprensa profissional no YouTube (1 e 2). No dia 1º, o presidente havia solicitado que apoiadores evitassem realizar atos nas mesmas datas que o movimento contrário a ele.
O conteúdo disseminado no Facebook alcançou 207 mil visualizações e teve 2,6 mil reações e 2,4 mil comentários até esta quarta-feira, 9. A peça desinformativa circula no contexto das manifestações antidemocráticas realizadas em todo o País por bolsonaristas que não aceitam o resultado das eleições que elegeram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) presidente. A divulgação do vídeo fora de contexto e com a legenda falsa dá a entender que Bolsonaro esteja se referindo ao cenário atual.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.