O que estão compartilhando: que o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, posou para foto na Faixa de Gaza ao lado de membros do Hamas.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. A imagem compartilhada nas redes sociais mostra Boulos acompanhado de dois outros dirigentes do PSOL, Juliano Medeiros e Frederico Henriques, e não de membros da organização palestina Hamas.
A foto, registrada na Cisjordânia, em 2018, foi publicada pela Folha de S.Paulo, em maio daquele ano, e também está no Facebook de Frederico Henriques, em uma publicação de junho. Além disso, Juliano Medeiros publicou no Instagram, em abril de 2018, uma foto feita no mesmo local onde a imagem aqui checada foi registrada, mas sem o trio.
No X (ex-Twitter), em outubro de 2023, quando as peças desinformativas começaram a circular, Boulos confirmou ter estado na Cisjordânia em 2018 e disse que imagens da viagem estão sendo utilizadas “para propagar fake news”.
Saiba mais: Postagens no Facebook e no WhatsApp apresentam uma foto em que Boulos aparece na companhia de dois homens, em frente a um muro e em torno de uma pedra na qual está escrito “PSOL with Palestine” (PSOL com a Palestina, em inglês). Junto da imagem é compartilhada uma legenda que diz: “olha o candidato a Prefeito de São Paulo na Faixa de Gaza com seus amiguinhos do grupo Hamas. Todos terroristas”.
Os homens que estão na imagem junto do pré-candidato não são terroristas do Hamas, mas sim dois brasileiros: o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, posicionado ao meio, e outro dirigente do partido, Frederico Henriques, que está do lado direito da pedra.
Essas informações foram divulgadas junto da imagem, em 2018, e estão disponíveis na internet. Ao realizar uma busca reversa pela foto, a reportagem chegou a uma publicação da coluna Orientalíssimo, da Folha de S. Paulo, que em maio daquele ano usou o registro fotográfico para ilustrar a notícia de que Guilherme Boulos, à época pré-candidato do PSOL à Presidência da República, havia viajado para a Cisjordânia em abril. Na ocasião, a coluna informava que os dois homens que acompanhavam Boulos na foto eram Juliano Medeiros e Fred Henriques, como Frederico é mais conhecido.
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Em junho daquele ano, Frederico Henriques publicou a foto em sua conta no Facebook. Na mesma plataforma, Boulos publicou outras fotos da viagem. Em 27 de abril, junto de uma delas, informou ter desembarcado naquela data em Ramalah, situada no centro da Cisjordânia, com o objetivo de levar solidariedade ao povo palestino e apoio a uma solução pacífica do conflito na região. O Hamas não é citado nas postagens do político.
Juliano Medeiros, por sua vez, publicou no Instagram, em 28 de abril de 2018, uma foto onde aparece a mesma pedra, com a mensagem de apoio do PSOL à Palestina, mas sem os outros colegas. No post, ele afirma que o registro ocorreu em Belém, na Cisjordânia, em visita ao “muro da vergonha”, uma barreira construída em 2004 por Israel para impedir a infiltração de extremistas no território israelense. “Aproveitei para deixar nosso recado: o PSOL apoia os direitos e a luta do povo palestino por soberania”, escreveu no post o presidente do partido, confirmando, assim, ser o autor da mensagem gravada na pedra que aparece na foto em que os três estão juntos.
Em outro post, um dia depois, em 29 de abril, Medeiros informa estar na Palestina acompanhado de Guilherme Boulos e de Frederico Henriques. Os usuários de Instagram dos dois colegas de sigla estão marcados nas postagens. Nessa mesma publicação, ao contrário do que alegam as postagens aqui checadas, Medeiros informa que o grupo não esteve em Gaza porque o território não era acessível em decorrência de um bloqueio imposto pelo governo israelense.
Em outubro de 2023, quando a foto começou a circular com as alegações falsas, Boulos publicou no X (ex-Twitter) um post afirmando defender os direitos do povo palestino e condenando a circulação das peças desinformativas. “Cheguei inclusive a realizar uma visita à Cisjordânia em 2018, da qual os bolsonaristas estão utilizando imagens para propagar Fake News”, disse. Ele condenou ataques violentos a civis israelenses e palestinos e defendeu uma solução pacífica e duradoura para o conflito. O Hamas não foi citado.
Alegações semelhantes a essa foram checadas anteriormente por Lupa, IG Confirma, Reuters e Aos Fatos. O assunto também foi tema de publicação de O Globo.