Carta falsa do PCC sobre diálogo 'cabuloso' com PT é usada para atacar o partido


Segundo promotor Lincoln Gakiya, que investiga a organização desde 2005, não há nenhum indicativo que facção tenha escrito a mensagem; 'nota de repúdio' falsa foi publicada após reportagem do 'Estado' obter áudios de liderança do grupo

Por Paulo Roberto Netto
Marcos Camacho, o Marcola, apontado como líder da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), em 2006. Foto: Paulo Liebert / Estadão (08/06/06)

Uma carta apócrifa atribuída a Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder do Primeiro Comando da Capital (PCC) foi publicada nas redes sociais para atacar o Partido dos Trabalhadores (PT). A mensagem é uma "nota de repúdio" à divulgação de áudio interceptado em que um membro da facção dizia ter um "diálogo cabuloso" com o partido.

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O Estadão Verifica consultou a veracidade da mensagem com o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que investiga o PCC desde 2005 e é considerado um dos principais especialistas no combate ao grupo criminoso. Gakiya foi o responsável pelo pedido de remoção de Marcola para um presídio federal, no fim do ano passado.

A reportagem também entrevistou a socióloga Camila Nunes Dias, professora da Universidade Federal do ABC e autora do livro "A Guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil".

Segundo Gakiya, a carta "tem todo indicativo de ser falsa". "Não tem nenhum setor específico que faria esse tipo de coisa no PCC, temos várias investigações em andamento e a gente não apurou nada que pudesse concluir que eles mandassem fazer essa resposta", afirmou.

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O promotor explica que esse tipo de mensagem, se fosse real, possivelmente apareceria em comunicação entre presos, o que não foi detectado pelos investigadores. "É muito pouco provável que isso possa circular na mídia e em redes sociais e não nos meios dos criminosos."

A carta apócrifa cita ainda o "Estatuto do PCC", o "conjunto de regras" da organização criminosa. O texto afirma que a facção "rouba dos ricos", mas não busca ferir "o trabalhador que pega ônibus e trens lotados". No ano passado, o PCC foi o responsável por ordenar a queima de ônibus em Minas Gerais e no Rio Grande do Norte.

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O promotor de Justiça Lincoln Gakiya, integrante do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado. Foto: Marcio Oliveira / Estadão (12/07/18)

Gakiya explica que o uso do "Estatuto" se dá pelo fato de ele ser "praticamente de conhecimento público", visto que foi divulgado por veículos de comunicação e denúncias do Ministério Público. "Não se trata de um estatuto de uma organização regular ou pública, é uma organização criminosa."

Em 14 anos de investigação contra o PCC, Gakiya afirma que já se deparou com diversos "salves", os comunicados internos da facção. "O PCC é uma organização criminosa que age na clandestinidade, e não costuma anunciar previamente o que vai fazer ou vir à opinião pública para esclarecer uma situação", afirmou.

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Linguagem e assinatura. De acordo com a socióloga Camila Nunes Dias, que pesquisa sobre violência e facções criminosas, a "nota de repúdio" tem indícios de ter sido feita por uma pessoa que "não sabe absolutamente nada" a respeito do PCC.

"Primeiro, não é uma linguagem que é utilizada pelos integrantes da facção", afirmou. "Não dá pra ver nenhuma gíria e nada do que é utilizado ali tem qualquer embasamento em documentos que circulam [sobre o PCC] ou na maneira que eles [integrantes do PCC] se expressam. Segundo, é assinado supostamente com o nome do Marcola. Eles não se comunicam com as assinaturas pessoais e de pessoas específicas, e sim com assinaturas e documentos que remetem ao setor do PCC que emitiu aquele comunicado."

Outro trecho claramente falso no documento, segundo a socióloga, é a citação ao Cartel de Cali e aos princípios do PCC de "roubar dos ricos". "Não tem nada a ver. O PCC não tem qualquer relação com carteis colombianos no sentido de adotar a mesma cartilha, não existe isso."

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Entre os transferidos, está Marcola, chefe da facção

Assim como Gakiya, Dias afirma que é incomum o PCC fazer comunicados públicos. A exceção mais recente ocorreu em 2006, quando a facção sequestrou um repórter da TV Globo e exigiu, em contrapartida, a veiculação de uma mensagem do grupo na emissora. O caso, no entanto, é visto como um ponto fora da curva na atuação da organização.

Na última sexta, 9, áudios interceptados pela Polícia Federal na Operação Cravada e obtidos pelo 'Estado' registraram um integrante da facção afirmando ter "um diálogo cabuloso" com o partido.

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Reprodução de grampo telefônico interceptado pela Polícia Federal e obtido pelo 'Estado'  

Este boato foi selecionado para checagens por meio de parceira entre o Estadão Verifica e o Facebook. O Boatos.org também desmentiu este conteúdo. Para sugerir verificações, encaminhe o boato para o WhatsApp (11) 99263-7900.

Marcos Camacho, o Marcola, apontado como líder da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), em 2006. Foto: Paulo Liebert / Estadão (08/06/06)

Uma carta apócrifa atribuída a Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder do Primeiro Comando da Capital (PCC) foi publicada nas redes sociais para atacar o Partido dos Trabalhadores (PT). A mensagem é uma "nota de repúdio" à divulgação de áudio interceptado em que um membro da facção dizia ter um "diálogo cabuloso" com o partido.

O Estadão Verifica consultou a veracidade da mensagem com o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que investiga o PCC desde 2005 e é considerado um dos principais especialistas no combate ao grupo criminoso. Gakiya foi o responsável pelo pedido de remoção de Marcola para um presídio federal, no fim do ano passado.

A reportagem também entrevistou a socióloga Camila Nunes Dias, professora da Universidade Federal do ABC e autora do livro "A Guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil".

Segundo Gakiya, a carta "tem todo indicativo de ser falsa". "Não tem nenhum setor específico que faria esse tipo de coisa no PCC, temos várias investigações em andamento e a gente não apurou nada que pudesse concluir que eles mandassem fazer essa resposta", afirmou.

O promotor explica que esse tipo de mensagem, se fosse real, possivelmente apareceria em comunicação entre presos, o que não foi detectado pelos investigadores. "É muito pouco provável que isso possa circular na mídia e em redes sociais e não nos meios dos criminosos."

A carta apócrifa cita ainda o "Estatuto do PCC", o "conjunto de regras" da organização criminosa. O texto afirma que a facção "rouba dos ricos", mas não busca ferir "o trabalhador que pega ônibus e trens lotados". No ano passado, o PCC foi o responsável por ordenar a queima de ônibus em Minas Gerais e no Rio Grande do Norte.

O promotor de Justiça Lincoln Gakiya, integrante do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado. Foto: Marcio Oliveira / Estadão (12/07/18)

Gakiya explica que o uso do "Estatuto" se dá pelo fato de ele ser "praticamente de conhecimento público", visto que foi divulgado por veículos de comunicação e denúncias do Ministério Público. "Não se trata de um estatuto de uma organização regular ou pública, é uma organização criminosa."

Em 14 anos de investigação contra o PCC, Gakiya afirma que já se deparou com diversos "salves", os comunicados internos da facção. "O PCC é uma organização criminosa que age na clandestinidade, e não costuma anunciar previamente o que vai fazer ou vir à opinião pública para esclarecer uma situação", afirmou.

Linguagem e assinatura. De acordo com a socióloga Camila Nunes Dias, que pesquisa sobre violência e facções criminosas, a "nota de repúdio" tem indícios de ter sido feita por uma pessoa que "não sabe absolutamente nada" a respeito do PCC.

"Primeiro, não é uma linguagem que é utilizada pelos integrantes da facção", afirmou. "Não dá pra ver nenhuma gíria e nada do que é utilizado ali tem qualquer embasamento em documentos que circulam [sobre o PCC] ou na maneira que eles [integrantes do PCC] se expressam. Segundo, é assinado supostamente com o nome do Marcola. Eles não se comunicam com as assinaturas pessoais e de pessoas específicas, e sim com assinaturas e documentos que remetem ao setor do PCC que emitiu aquele comunicado."

Outro trecho claramente falso no documento, segundo a socióloga, é a citação ao Cartel de Cali e aos princípios do PCC de "roubar dos ricos". "Não tem nada a ver. O PCC não tem qualquer relação com carteis colombianos no sentido de adotar a mesma cartilha, não existe isso."

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Assim como Gakiya, Dias afirma que é incomum o PCC fazer comunicados públicos. A exceção mais recente ocorreu em 2006, quando a facção sequestrou um repórter da TV Globo e exigiu, em contrapartida, a veiculação de uma mensagem do grupo na emissora. O caso, no entanto, é visto como um ponto fora da curva na atuação da organização.

Na última sexta, 9, áudios interceptados pela Polícia Federal na Operação Cravada e obtidos pelo 'Estado' registraram um integrante da facção afirmando ter "um diálogo cabuloso" com o partido.

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Marcos Camacho, o Marcola, apontado como líder da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), em 2006. Foto: Paulo Liebert / Estadão (08/06/06)

Uma carta apócrifa atribuída a Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder do Primeiro Comando da Capital (PCC) foi publicada nas redes sociais para atacar o Partido dos Trabalhadores (PT). A mensagem é uma "nota de repúdio" à divulgação de áudio interceptado em que um membro da facção dizia ter um "diálogo cabuloso" com o partido.

O Estadão Verifica consultou a veracidade da mensagem com o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que investiga o PCC desde 2005 e é considerado um dos principais especialistas no combate ao grupo criminoso. Gakiya foi o responsável pelo pedido de remoção de Marcola para um presídio federal, no fim do ano passado.

A reportagem também entrevistou a socióloga Camila Nunes Dias, professora da Universidade Federal do ABC e autora do livro "A Guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil".

Segundo Gakiya, a carta "tem todo indicativo de ser falsa". "Não tem nenhum setor específico que faria esse tipo de coisa no PCC, temos várias investigações em andamento e a gente não apurou nada que pudesse concluir que eles mandassem fazer essa resposta", afirmou.

O promotor explica que esse tipo de mensagem, se fosse real, possivelmente apareceria em comunicação entre presos, o que não foi detectado pelos investigadores. "É muito pouco provável que isso possa circular na mídia e em redes sociais e não nos meios dos criminosos."

A carta apócrifa cita ainda o "Estatuto do PCC", o "conjunto de regras" da organização criminosa. O texto afirma que a facção "rouba dos ricos", mas não busca ferir "o trabalhador que pega ônibus e trens lotados". No ano passado, o PCC foi o responsável por ordenar a queima de ônibus em Minas Gerais e no Rio Grande do Norte.

O promotor de Justiça Lincoln Gakiya, integrante do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado. Foto: Marcio Oliveira / Estadão (12/07/18)

Gakiya explica que o uso do "Estatuto" se dá pelo fato de ele ser "praticamente de conhecimento público", visto que foi divulgado por veículos de comunicação e denúncias do Ministério Público. "Não se trata de um estatuto de uma organização regular ou pública, é uma organização criminosa."

Em 14 anos de investigação contra o PCC, Gakiya afirma que já se deparou com diversos "salves", os comunicados internos da facção. "O PCC é uma organização criminosa que age na clandestinidade, e não costuma anunciar previamente o que vai fazer ou vir à opinião pública para esclarecer uma situação", afirmou.

Linguagem e assinatura. De acordo com a socióloga Camila Nunes Dias, que pesquisa sobre violência e facções criminosas, a "nota de repúdio" tem indícios de ter sido feita por uma pessoa que "não sabe absolutamente nada" a respeito do PCC.

"Primeiro, não é uma linguagem que é utilizada pelos integrantes da facção", afirmou. "Não dá pra ver nenhuma gíria e nada do que é utilizado ali tem qualquer embasamento em documentos que circulam [sobre o PCC] ou na maneira que eles [integrantes do PCC] se expressam. Segundo, é assinado supostamente com o nome do Marcola. Eles não se comunicam com as assinaturas pessoais e de pessoas específicas, e sim com assinaturas e documentos que remetem ao setor do PCC que emitiu aquele comunicado."

Outro trecho claramente falso no documento, segundo a socióloga, é a citação ao Cartel de Cali e aos princípios do PCC de "roubar dos ricos". "Não tem nada a ver. O PCC não tem qualquer relação com carteis colombianos no sentido de adotar a mesma cartilha, não existe isso."

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Entre os transferidos, está Marcola, chefe da facção

Assim como Gakiya, Dias afirma que é incomum o PCC fazer comunicados públicos. A exceção mais recente ocorreu em 2006, quando a facção sequestrou um repórter da TV Globo e exigiu, em contrapartida, a veiculação de uma mensagem do grupo na emissora. O caso, no entanto, é visto como um ponto fora da curva na atuação da organização.

Na última sexta, 9, áudios interceptados pela Polícia Federal na Operação Cravada e obtidos pelo 'Estado' registraram um integrante da facção afirmando ter "um diálogo cabuloso" com o partido.

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