Não é verdade que o jornalista César Tralli tenha rido de uma “mentira” do comentarista político Gerson Camarotti ao vivo. Postagens nas redes sociais manipulam trechos do noticiário da GloboNews para parecer que Tralli deu risada de uma informação dita pelo colega de trabalho.
Uma postagem que circula no Facebook alega que “Camarotti mente tanto, que Tralli caiu na risada”. O vídeo se inicia com uma reportagem do Jornal Hoje, da TV Globo, exibida no dia 23 de março deste ano, a respeito da alta de preços de peixes e chocolates. Em seguida, a peça checada faz uma montagem com o telejornal Edição das 18h, da GloboNews, exibido no mesmo dia e que conta com a participação dos dois jornalistas. No trecho, o responsável pela edição do vídeo faz parecer que Tralli estava rindo dos comentários de Camarotti.
Na verdade, o vídeo na íntegra mostra uma brincadeira de Camarotti, que fez com que Tralli desse risada no momento. Durante seu comentário, Camarotti detalhou uma entrevista com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, sobre a taxa de juros, mantida em 13,75% pelo Banco Central (BC). Em determinado momento, o jornalista diz que anotou algumas frases para ressaltar no programa. Depois, Camarotti brinca: “Eu também anoto, como a Natuza [Nery], tá?”. É nesse momento que Tralli sorri.
No vídeo manipulado, a risada de Tralli foi antecipada. A postagem viral no Facebook mostra o jornalista rindo no momento em que Camarotti explica que, para o ministro da Casa Civil, há um movimento político na elevação da taxa Selic. Contudo, no trecho original, é possível ver que Tralli estava sério durante este comentário do colega (minuto 1:11). O jornalista dá risada em um momento posterior (minuto 1:24), quando Camarotti faz uma brincadeira em referência à jornalista Natuza Nery, que também é comentarista na GloboNews.
Além disso, a legenda da postagem verificada afirma que “o mentiroso tenta passar pano para o desgoverno”, referindo-se à gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, o comentário de Gerson Camarotti é baseado em uma entrevista com Rui Costa, com aspas do ministro. Portanto, as declarações feitas não refletem, necessariamente, a posição política do jornalista.
Há alguns indícios que mostram que a peça verificada foi manipulada. É possível identificar que o vídeo é cortado para parecer que Tralli era mostrado pelas câmeras durante todo comentário de Gerson. Na versão original, o comentarista fala durante cerca de um minuto sem que a imagem de Tralli apareça para o espectador. Por isso, o editor da postagem enganosa necessitou “aumentar” a presença do apresentador no vídeo, o que fica evidente por mudanças na posição do jornalista e cortes bruscos.
Outro sinal que levanta suspeitas sobre a veracidade do vídeo é que há outras intervenções no conteúdo. O responsável pela edição adicionou uma trilha sonora, trechos de vídeos de humor e legendas acima das imagens do telejornal. Na versão original, Tralli aparece à direita da imagem de Gerson. Na versão manipulada, ele aparece à esquerda do comentarista. No minuto inicial, a imagem de Tralli é substituída pela reportagem do Jornal Hoje, exibida no mesmo dia. Já no minuto final, sua imagem é preenchida por vídeos de pessoas rindo, como se estivessem rindo do comentário feito por Camarotti.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.