Atenção: este texto contém descrição de cenas de violência explícita.
O que estão compartilhando: vídeo de pessoas mortas em um chão ensanguentado, enquanto pessoas uniformizadas circulam pelo local. Uma legenda publicada junto com as imagens diz: “Veja como está hoje na Venezuela”.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: está fora de contexto porque o vídeo é antigo. Ele foi postado na internet pelo menos desde outubro de 2018. Naquele mês, integrantes de uma gangue venezuelana chamada “Tren de Aragua” foram mortos em um confronto com militares da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) após tentativa frustrada de sequestro do motorista de uma van. Há notícias sobre as mortes dos criminosos em pelo menos quatro sites de notícias da Venezuela. Nenhum deles mostra as imagens dos corpos, como as que aparecem no vídeo.
O Estadão Verifica não conseguiu comprovar se o vídeo foi gravado no contexto do confronto entre os criminosos e os agentes de segurança. Mas as imagens não são atuais, e não podem ser atribuídas a um ataque do governo de Maduro contra opositores que questionam o resultado eleitoral no país.
A Venezuela enfrenta uma onda de manifestações. Os protestos eclodiram após o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), aparelhado pelo chavismo, declarar Maduro vencedor com 52% dos votos. Edmundo González Urrutia, candidato oposicionista, teria recebido 43%. A oposição alega que o pleito foi fraudado, bem como fontes independentes.
A ida da população às ruas é marcada por repressão policial e tumultos violentos. As mortes registradas nos protestos já passam de 10, e mais de 1.200 pessoas foram detidas.
Saiba mais: O vídeo mostra ao menos cinco corpos de homens sendo retirados de uma caminhonete e colocados no chão. As pessoas que tiram os corpos do veículo usam macacões e botas de borracha, mas não fica claro em que local os corpos são colocados. Aparentemente, uma sexta pessoa está sendo retirada da caminhonete quando o vídeo se encerra. Não é possível identificar se há mais pessoas na carroceria.
A checagem deste conteúdo foi pedida por leitores do Verifica através do WhatsApp, no número (11) 97683-7490. Ele também circula no YouTube como se mostrasse uma cena registrada em 3 de agosto de 2024, o que é falso.
Vídeo é de outubro de 2018
Há quase seis anos, em 30 de outubro de 2018, um perfil na Espanha postou dois frames do vídeo no Twitter (atual X). Eles correspondem às imagens do vídeo investigado, que também não será publicado por conter cenas fortes.
O autor do post disse ter recebido um vídeo que não iria publicar, mas que mostrava cadáveres nus sendo retirados de um caminhão e que seriam mortos de um confronto em Tumeremo, no estado venezuelano de Bolívar. A cidade foi palco de um massacre de mineiros em fevereiro de 2018.
Logo abaixo da postagem, um perfil chamado Informaciòn Veraz afirma que os registros não são de Tumeremo, e sim de San Mateo, no estado de Aragua. Em seguida, o responsável pelo post original pergunta por que razão os homens foram mortos. O outro usuário responde que eles haviam sequestrado o dono de uma van e morreram em um confronto com militares da GNB.
Reportagens sobre o assunto
O Estadão Verifica buscou reportagens sobre a morte de sequestradores na cidade de San Mateo, em Aragua, em outubro de 2018. Há pelo menos quatro notícias publicadas em sites venezuelanos. O jornal Diario La Nación publicou uma matéria em 27 de outubro de 2018 sobre a morte de oito integrantes da gangue conhecida como “Tren Aragua” em San Mateo.
Segundo o jornal, o grupo estava em uma van e, ao passar por um posto de controle da GNB, chamou a atenção dos militares. Eles pediram que o veículo reduzisse a velocidade e os ocupantes teriam começado a atirar contra os policiais. No confronto, oito integrantes da gangue ficaram feridos, além do dono da van, que tinha sido sequestrado pelo grupo.
De acordo com a matéria, os oito sequestradores foram socorridos, mas morreram em um centro de saúde. O dono da van, segundo o Diario Contraste Noticias, identificado como Miguel Eloy Moreno Barrueta, 41 anos, tinha quadro estável.
Os sites El Siglo e La Patilla também noticiaram o episódio. Segundo eles, entre os mortos estava o líder do “Tren de Aragua”, Pedrito Flores.