O Estadão Verifica checou as declarações dos presidenciáveis no debate Estadão/Gazeta/Jovem Pan neste domingo, 9. Com base no grau de veracidade ou ausência de compromisso com os fatos, declarações receberam uma "nota", expressa em uma escala de um a quatro "pinocchios", nos casos em que não foram consideradas totalmente verdadeiras. Para aplicar essa gradação, o Estado se inspirou na sessão Fact Checker do jornal The Washington Post, publicada desde 2007.
O Pinocchio - boneco de madeira cujo nariz cresce quando conta uma mentira, segundo a história infantil criada pelo italiano Carlo Collodi- também recupera capas históricas do antigo Jornal da Tarde, do Grupo Estado, que em 1982 publicou em diversas edições imagens de Paulo Maluf com o nariz dilatado, apontando inverdades do então governador.
Álvaro Dias (Podemos)
"Em 2016, chegamos a 542% na taxa do juro de cartão de crédito. Em Portugal, é o Banco Central que define e é 16% ao ano."
Meia verdade.
Alvaro Dias errou ao dizer que o Brasil chegou a 542% de juros do cartão de crédito em 2016. O recorde naquele período, registrado em dezembro, foi de 482,1% ao ano, segundo o Banco Central. No janeiro seguinte, alcançou 486,8%. Atualmente, está em 271,4%, menor taxa desde outubro de 2013.
O candidato do Podemos acerta, porém, ao citar o dado do cartão em Portugal, onde o juro máximo ao ano é de 16,1%.
Procurada, a assessoria do candidato informou que Dias se referia ao American Express Green, que chegou a 542% ao ano.
Ciro Gomes (PDT)
"Essa é minha proposta: educação em tempo integral no ensino médio, profissionalizante, estágio pago pelo governo. Alguém pode achar uma proposta generosa. No Ceará, um estado pobre, uma em cada três escolas já é assim."
Meia verdade.
De fato, consideradas as escolas de tempo integral, a proporção é bem próxima de uma a cada três: 31,8%, de acordo com a Secretaria de Educação: de 716 unidades da rede estadual no Estado, 228 são de tempo integral. No entanto, só parte delas (116) são profissionalizantes, e o restante (112), de ensino médio regular. Ou seja, apenas 16,2% são profissionalizantes.
"O baronato do Brasil mantém mais de US$ 500 bilhões no estrangeiro."
Verdade.
De acordo com dados divulgados pelo Banco Central no Censo de Capitais Brasileiros no Exterior, o montante de dinheiro brasileiro no exterior foi de US$ 498,8 bilhões em 2017. No entanto, o levantamento considera apenas os valores declarados.
Geraldo Alckmin (PSDB)
"Em 2001, tínhamos 11 mil assassinatos. Caiu para 3.503 no ano passado."
Verdade.
Dados da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo apontam que houve 12,475 homicídios dolosos em 2001. Em todo o ano passado, a pasta registrou 3.294. No entanto, dados da secretaria apontam para uma fragilidade do governo paulista: o aumento no número de roubos. De 2007 a 2017, houve aumento de 39,9%.
"As Santas Casas de Misericórdia representam 51% do atendimento do SUS do País."
Verdade.
A informação citada pelo candidato é divulgada pela Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB) e diz respeito ao ano de 2017. Segundo o Ministério da Saúde, unidades filantrópicas criam 990 postos de trabalho no País, com 160 mil médicos e 132,5 mil leitos.
Guilherme Boulos (PSOL)
"O Banco Santander para uma linha de crédito na Espanha cobra juro zero. Aqui, cobra 140%."
Falso.
Guilherme Boulos está correto em citar o alto patamar dos juros no Brasil -- e até subestimou o do Santander no País, que está com 249,75% de juros ao ano no cartão de crédito rotativo, de acordo com o Banco Central, e com 419,84 no cheque especial. No entanto, exagerou ao dizer que, na Espanha, o juro é zero. Em consulta ao site do Banco Santander, todas as opções de cartão de crédito oferecidas têm 12% de taxa nominal e 17,51% de taxa equivalente de juros ao ano.
Procurada, a assessoria do candidato disse que não conseguiria dizer responder, a tempo do fechamento desta checagem, a que modalidade de crédito ele se referia.
"Juros custam R$ 400 bilhões ao ano."
Verdade.
Em 2017, o pagamento de juros da dívida pública -- da União, de Estados, municípios e estatais -- tirou dos cofres R$ 400,8 bilhões em 2017, o equivalente a 6,11% do Produto Interno Bruto (PIB). O auge desse tipo de gasto foi em 2015, quando os juros da dívida representaram 8,37% do PIB, num valor de R$ 501,8 bilhões.
Henrique Meirelles (MDB)
"Quando fui presidente do Banco Central no governo do Lula, criamos 10 milhões de empregos em 8 anos. Criamos também um aumento de arrecadação que permitiu a criação do Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida. Quando entrei no governo Temer, criei as condições para criação de 2 milhões de empregos e as condições de aumentar o Bolsa Família."
Majoritariamente verdade.
Nos oito anos do governo Lula foram criadas 10,8 milhões de vagas com carteira assinada, segundo as estatísticas do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, que se referem a trabalhadores regidos pela CLT. A Relação Anual das Informações Sociais (RAIS), que traz estatísticas de estatutários, temporários e avulsos, além dos celetistas, indica uma quantidade ainda maior: 15,4 milhões de vagas a mais entre 2003 e 2010.
No entanto, vale ressaltar que Meirelles era presidente do Banco Central, não ministro da Fazenda -- cargo que ocupou no governo de Michel Temer. As funções do BC incluem o controle da inflação e a preocupação com a estabilidade financeira. A autarquia, vinculada à Fazenda, conduz as políticas monetária, cambial, de crédito e as relações financeiras com o exterior.
Em número de vagas formais, o saldo de empregos em 2017 foi negativo: foram fechados 20,8 mil postos de trabalho, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. O dado citado por Meirelles só faz sentido quando incluídos os empregos informais. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) mostra aumento de 1,8 milhão no número de pessoas ocupadas em dezembro de 2017, em relação ao mesmo mês do ano anterior. Ou seja, a estatística de Temer não pode ser comparada à geração de empregos de Lula, que criou 15 milhões de vagas formais.
A assessoria de Meirelles explicou que o dado citado pelo ex-ministro diz respeito a um comparativo entre março de 2017 e dezembro do mesmo ano, já que o início de um ano costuma ter resultados fracos. Nesse caso, o número está correto. De fato, o dado inclui empregos com carteira, sem carteira e por conta própria.
"Não existe um teto para os gastos em saúde, existe um piso."
Majoritariamente verdade.
A Constituição de 1988 previu, no artigo 198, que pelo menos 13,7% das receitas correntes líquidas do governo sejam destinadas à Saúde. Portanto, de fato há um piso para os gastos. Quanto ao teto, a afirmação é mais complexa. O texto da Emenda Constitucional 95 (a 'PEC do Teto'), aprovada em 2016, estipulou limites para o gasto público, que não pode crescer mais que a inflação (IPCA).
Na prática, a emenda congela a possibilidade de o País ampliar os investimentos em temas como saúde e educação para além do índice. O Planalto alega que o texto não vai prejudicar essas áreas. Em 2016, o governo do qual Meirelles era ministro da Fazenda anunciou que o piso constitucional para a Saúde passaria dos 13,7% das receitas para 15%, o que antes só estava previsto para 2020.
De 2017 para 2018, porém, o orçamento para a área cresceu apenas R$ 1,5 bilhão, segundo a plataforma Siga Brasil, do Senado Federal. De 2016 para 2017, havia crescido cerca de R$ 8 bilhões.
Marina Silva (Rede)
"No Estado do Ceará, o número de homicídios dobrou nos últimos dez anos."
Verdade.
Segundo o Atlas da Violência 2018, o número de homicídios no Estado de Ciro Gomes passou de 1.792 em 2006 para 3.642 em 2016, último ano com dados disponíveis pelo estudo. Ou seja, mais que dobrou. Depois, Marina ainda acertou ao dizer que 63 mil pessoas morreram no País em 2016, com um pequeno exagero: foram, na verdade, 62,5 mil mortes.
"Em 30 anos de vida pública, não tive uma denúncia de corrupção."
Verdade.
Marina nunca foi denunciada por corrupção. Ela foi citada em delação de um executivo da Odebrecht, que aponta relação da candidata com o presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht. Marina confirmou que se encontrou com ele, mas negou que tenha tratado de financiamento de campanha, como propôs o delator. Não houve denúncia contra a candidata.