O que estão compartilhando: vídeo divulgado pelo deputado estadual de Minas Gerais Bim da Ambulância (Avante) em que ele alega que aeronaves civis envolvidas na ajuda humanitária ao Rio Grande do Sul estavam carregadas com donativos mas não tinham autorização para abastecer combustível.
O Estadão Verifica apurou e concluiu que: falta contexto ao vídeo. As imagens foram gravadas na Academia de Polícia de Porto Alegre, capital gaúcha. Segundo a empresa que fornecia o combustível no local, não houve proibição do abastecimento dos helicópteros particulares, mas sim a comunicação da Defesa Civil do RS de que não poderia mais arcar com o combustível para as aeronaves civis.
Procurada, a Defesa Civil afirmou que abasteceu o helicóptero do deputado no dia em que o vídeo em questão foi gravado. A Academia de Polícia negou que aeronaves civis estejam proibidas de pousar no local. Bim da Ambulância reafirmou ter tido dificuldades de abastecer seu helicóptero e informou que passou a operar em outro ponto de ajuda de Porto Alegre.
Saiba mais: No vídeo, o deputado está com uniforme de aviação em um campo gramado. Enquanto faz a gravação, ele sinaliza para dois helicópteros civis e dois caminhões de abastecimento atrás dele, e diz: “O que acontece é a não autorização de abastecimento das aeronaves civis”. Em seguida, questiona: “Por que o nosso trabalho não é tão importante quanto o executado pelas aeronaves militares do Estado como um todo?”. Na tela do vídeo, está escrito: “Não estão autorizando nem mesmo com nosso recurso!”.
Bim da Ambulância confirmou ao Verifica que o vídeo foi gravado no domingo, dia 12 de maio, no campo da Academia de Polícia Militar de Porto Alegre. O local é utilizado para pouso e carga e descarga de donativos por aeronaves civis, além das militares e de órgão públicos. No local, havia dois caminhões para abastecimento até aquele momento: um da Brigada Militar do RS e outro da empresa privada TRI Aviation.
A alegação do deputado é de que houve a proibição de abastecimento das aeronaves civis no domingo. Segundo ele, nem com recursos próprios foi possível abastecer – situação que, segundo afirmou ao Verifica, teria durado “meio turno”. “Na segunda, autorizaram o abastecimento com recurso próprio pelo caminhão privado que estava lá”, disse. “No final do dia, veio a ordem da gente retirar a aeronave de lá. Ontem (terça-feira, 14), a gente veio para um outro ponto”.
O parlamentar afirmou que passou a usar o Centro Estadual de Treinamento Esportivo (Cete) de Porto Alegre: “Foi meio turno, mais ou menos, sem autorização (para abastecer) e depois veio a proibição de permanência”.
Segundo a TRI Aviation, até o domingo, dia 12, a empresa estava abastecendo os helicópteros civis envolvidos na ajuda humanitária e direcionando as ordens de pagamento do combustível para a Defesa Civil do Rio Grande do Sul. Ainda de acordo com a empresa, naquela data, o órgão público comunicou que não poderia mais arcar com o abastecimento.
“Na data em que o deputado Bim postou, foi a data em que a Defesa Civil do Estado do Rio Grande do Sul nos comunicou que não forneceria mais combustível para as aeronaves civis, tendo em vista, segundo informações deles, que não teriam meios jurídicos para poder pagar“, afirmou Marcio Irion, que coordenava as operações de abastecimento da TRI Aviation na Academia de Polícia Militar. “Do dia seguinte em diante, as aeronaves civis passaram a operar em outro local, com subsídios da iniciativa privada”.
A Defesa Civil do RS contesta que tenha havido proibição de abastecimento dos helicópteros particulares de voluntários. Segundo o órgão, o helicóptero do deputado, com código PR-BPR, foi abastecido nas seguintes datas e quantidades relacionadas abaixo:
- 09/05: 120 litros
- 09/05: 120 litros
- 09/05: 100 litros
- 12/05: 120 litros
“O total abastecido foi de 460 litros, evidenciando que não houve qualquer impedimento ao abastecimento da aeronave mencionada”, destacou a Defesa Civil.
Segundo o diretor de operações da TRI Aviation, os abastecimentos mencionados tiveram ordem de pagamento direcionada à Defesa Civil do RS. “Até o dia 12, o Estado estava subsidiando o combustível. A partir do dia 13 em diante, o Estado comunicou que não forneceria mais combustível para as aeronaves civis”, disse Marcio.
O diretor da Tri Aviation também afirma que não houve proibição de abastecimento dos helicópteros particulares. Segundo ele, a informação inicial de que as aeronaves estavam impedidas de abastecer mesmo com recursos próprios circulou de forma distorcida. “As aeronaves poderiam continuar pousando lá (Academia de Polícia Militar), só não teriam o subsídio de combustível por parte do governo do Estado. Então, quem quisesse pagar, poderia pagar, como houve alguns casos”, explicou Marcio.
Após o comunicado da Defesa Civil, Marcio explica que, em conversa com o secretário de Esporte do Rio Grande do Sul, ficou acordado que os helicópteros civis passariam a operar no Centro Estadual de Treinamento Esportivo (Cete), em Porto Alegre, o que começou a ser feito no dia 14: “Optamos por deixar a Academia de Polícia Militar para não misturar as aeronaves, assim poderíamos dar uma atenção maior as aeronaves civis”, disse Marcio.
De acordo com ele, não houve determinação de nenhum órgão do governo do RS para que os helicópteros civis deixassem a Academia de Polícia Militar: “Foi uma organização ali na hora. O campo da Academia já tinha muita aeronave militar e, como não haveria mais suprimento para os civis, a opção foi organizar uma nova base para focar nos civis”.
O Departamento de Ensino da Brigada Militar, responsável pela Academia de Polícia de Porto Alegre, informou que nunca partiu do órgão qualquer ordem sobre proibição de pernoite ou operação de aeronave. “A pessoa, piloto (Bim da Ambulância), que postou vídeo que circula em redes sociais, em nenhum momento procurou este Diretor de Ensino, para solicitar operação com sua aeronave, nem permissão para pernoite de sua aeronave, na mesma medida nunca, expressamente ou de forma subentendida, recebeu orientação ou determinação deste Diretor sobre não poder operar ou manter estacionada aeronave em nossos campos”, informou a nota.
O Departamento de Ensino acrescentou que aeronaves particulares seguem utilizando o espaço da Academia de Polícia Militar de Porto Alegre e que não tem ingerência sobre o abastecimento de helicópteros no local.
Questionado sobre a interrupção do custeio de combustível para as aeronaves civis, o governo do RS não se posicionou.