Em vídeo que viralizou nas redes sociais, uma candidata à Câmara dos Deputados afirma ter sido entrevistada pelo Datafolha e alega que a funcionária do instituto não permitiu que ela conferisse se suas respostas foram marcadas corretamente -- ela insinua que haveria algo de errado com essa conduta, o que não é verdade. O Datafolha negou ter relação com a entrevista mostrada na gravação. O questionário feito pela pesquisadora não condiz com o registrado pelo instituto no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) -- por regra, todas as empresas de pesquisa devem cadastrar informações no sistema PesqEle para poder divulgar resultados de levantamentos de intenção de voto.
O Datafolha informou que os entrevistadores não são autorizados a abordarem pessoas paradas, em horário de lazer ou de almoço, como é o caso da gravação. Os entrevistadores atuam apenas em pontos de fluxo, como ruas. Além disso, o crachá da pessoa que faz a abordagem não é o mesmo daqueles que trabalham para o Datafolha. O instituto enviou ao Estadão Verifica uma foto da identificação usada por pesquisadores.
Diferentemente do que é mostrado no vídeo, os entrevistadores do instituto não dizem o nome dos candidatos. Eles apresentam um cartão circular com os nomes disponíveis. É possível verificar o disco apresentado a entrevistados no sistema PesqEle, procurando pelo registro BR-04180/2022 -- trata-se da pesquisa Datafolha que foi a campo entre 20 e 22 de setembro, dois dias antes da postagem no Instagram da candidata.
Este cartão serve para que os entrevistados não fiquem enviesados por uma sequência hierarquizada dos nomes. Segundo o Datafolha é também por isso os respondentes da pesquisa não podem ver a tela do tablet do entrevistador. Algumas perguntas pedem respostas espontâneas, o que significa que o entrevistado deve responder sem consultar os nomes dos candidatos.
No vídeo, logo após a resposta da candidata sobre quem votaria no primeiro turno, a entrevistadora questiona qual seria o voto caso o segundo turno fosse entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT). Mas no questionário do Datafolha essas perguntas não são feitas em sequência. Depois de perguntar qual candidato o entrevistado votará em primeiro turno, o pesquisador deve questionar: "Qual número você vai digitar na urna eletrônica para confirmar/anular seu voto para presidente?"
Além de indicar com uma frase inserida sobre o vídeo que a entrevistadora seria do Datafolha, as primeiras imagens da postagem mostram um corte do Jornal Nacional anunciando a diferença entre Lula e Bolsonaro em pesquisa Datafolha da última semana. Na semana passada, o petista tinha 47% das intenções totais de voto, contra 33% do atual presidente. Nesta semana, nova rodada da pesquisa indicou que Lula tem 50% dos votos válidos (excluídos brancos, nulos e indecisos), contra 36% de Bolsonaro.
Ipec (antigo Ibope) e Quaest, outros dos principais institutos de pesquisa do Brasil, também não fazem pesquisas como a mostrada no vídeo. No caso da pesquisa Quaest, um cartão circular também é apresentado ao entrevistado, assim como ocorre com o Datafolha. Depois que o pesquisador faz a pergunta sobre a intenção de voto no 1º turno, ele questiona se a escolha do eleitor é definitiva ou se pode mudar. É possível consultar o registro BR-04459/2022 no PesqEle.
Também no Ipec apresenta-se um disco com os nomes dos candidatos. No questionário do instituto, após a pergunta estimulada, caso a resposta seja por algum candidato -- como ocorreu no vídeo --, o questionamento seguinte seria sobre o número do presidenciável na urna. A lista de perguntas pode ser consultada pesquisando pelo registro BR-01640/2022 no PesqEle.
As últimas pesquisas FSB, Atlas, Exame/Ideia e MDA registradas no TSE também não apresentam formulários condizentes com a sequência de perguntas feita no vídeo. Não foi possível identificar de qual instituto a entrevistadora fazia parte. Todas pesquisas eleitorais registradas no TSE podem ser acessadas pela plataforma do próprio Tribunal.
A candidata responsável pela publicação é Edianne Abreu (PL-RJ). O Estadão Verifica entrou em contato com a candidata por e-mail e telefone, mas não teve respostas.