O que estão compartilhando: que o ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que desde março está liberado que médicos receitem cloroquina, azitromicina e ivermectina para a covid-19.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Flávio Dino disse que médicos têm liberdade para receitar remédios sem comprovação científica para prevenir ou tratar a covid-19, como a cloroquina, azitromicina e ivermectina, em maio de 2020. A afirmação foi feita em entrevista durante os primeiros meses da pandemia, quando ainda não havia um consenso entre cientistas sobre a ineficácia desses medicamentos. Dino era governador do Maranhão naquele ano.
Saiba mais: Postagem no Instagram trata como recente uma afirmação feita por Flávio Dino quando era governador, em entrevista concedida à TV Mirante em 19 maio de 2020. Na ocasião, o atual ministro disse que médicos têm liberdade para receitar os medicamentos, considerados atualmente ineficazes contra a covid-19. A fala foi retirada de contexto como uma suposta prova de que agora o governo federal estaria recomendando as substâncias para o tratamento e prevenção da doença, o que não é verdade.
Na gravação original, disponível no site da Globo, o ministro responde ao repórter que o havia questionado sobre a “polêmica nacional” de médicos receitarem cloroquina para tratar o coronavírus.
Dino disse: “Polêmica completamente desnecessária, porque, desde o meio de março, eu afirmo e reitero que a cloroquina pode ser receitada pelos médicos. Nós sempre oferecemos aos médicos a oportunidade de receitar cloroquina, azitromicina, ivermectina. Se o médico achar necessário administrar o medicamento, ele será administrado. Se o médico não considerar cabível, ou que há riscos para os pacientes, é claro que não serei eu nem nenhuma autoridade externa que vai influenciar no conteúdo do trabalho do médico”.
A entrevista foi feita nos primeiros meses da pandemia, quando não havia consenso entre cientistas sobre a ineficácia dos medicamentos. Em junho de 2020, depois da declaração Dino à TV Mirante, a Secretaria de Saúde (SES) do Maranhão divulgou novas diretrizes de tratamento que desaconselharam o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina.
Diferentemente do que alega o post, o governo federal não recomenda o uso dos remédios. Em 10 de janeiro, poucos dias após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, informou ao Valor Econômico que “medidas sem base científica ou sem amparo legal, entre elas nota técnica sobre cloroquina, serão revogadas imediatamente”.
Apesar de o ex-presidente Jair Bolsonaro, citado como referência na peça analisada, ter aconselhado durante a pandemia o uso dos medicamentos, estudos comprovam que cloroquina ou hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina não possuem eficácia contra a covid-19.
O Estadão Verifica tentou contato com a página que postou o conteúdo, mas não obteve resposta.
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A última orientação do Ministério da Saúde, de maio de 2021, não recomenda o uso de medicamentos como a hidroxicloroquina, cloroquina, azitromicina, ivermectina e outros para tratamento de pacientes hospitalizados com covid-19.
O documento diz que “não há evidência de benefício” da cloroquina “seja no seu uso de forma isolada ou em associação com outros medicamentos”. O texto ainda contraindica o uso de azitromicina para pacientes hospitalizados com covid-19, a menos que haja suspeita ou presença de infecção bacteriana. A recomendação é apenas que pacientes que já usavam cloroquina ou hidroxicloroquina devido a outras condições de saúde devem manter o tratamento.
O Ministério da Saúde pontuou que as recomendações foram emitidas com base em avaliações técnicas e científicas, e devem ser seguidas pelos profissionais de saúde que atuam no tratamento de pacientes hospitalizados com covid-19.
Como lidar com postagens do tipo: O conteúdo usa uma fala de Flávio Dino para apoiar uma narrativa enganosa e espalhar desinformação sobre a covid-19. A tática é citar uma afirmação do ministro sem explicar o contexto em que foi dita e, assim, enganar aquele que assiste. É importante ficar atento com posts que citam decisões ou recomendações de saúde sem identificá-las ou citar a fonte, como acontece na peça analisada.