É falso que o homem responsável pelo atentado na creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau (SC), que matou quatro crianças no dia 5 de abril, apareça na foto de um comício de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no ano passado, fazendo o L com uma das mãos. A imagem que passou a circular nas redes sociais nos últimos dias é uma montagem: o rosto do homem — que não será identificado aqui nem pelo nome, nem por foto — foi inserido digitalmente sobre a imagem de um comício de Rogério Carvalho, então candidato do PT ao governo de Sergipe, registrada em 17 de setembro de 2022.
Ao fazer uma busca reversa de imagens no Google, o Estadão Verifica localizou a foto original do comício de Rogério Carvalho no site oficial da campanha do petista. A fotografia foi publicada no dia 18 de setembro de 2022 e, segundo o site, foi feita na véspera, durante uma carreata que percorreu municípios do sul sergipano. As pessoas que aparecem na imagem original são as mesmas vistas na foto que viralizou, exceto pela presença do rosto do autor do atentado.
A montagem é facilmente identificada: há luz do sol incidindo de frente e na lateral esquerda do rosto das pessoas que aparecem na imagem original, diferentemente do rosto do autor do atentado, cuja foto parece ter sido feita em um local com sombra. A imagem é a mesma que foi publicada por alguns sites após a identidade do autor do atentado ser revelada. O Estadão optou por não publicar imagens ou nome do autor do atentado (leia mais abaixo).
Ao longo do vídeo aqui investigado, o autor do conteúdo, que se identifica como “locutor de direita”, afirma ainda que o homem tem quatro passagens pela polícia. Isso é verdade.
Entenda
Mentira sobre relógio
O autor do vídeo afirma que a imagem usada na publicação foi resgatada da internet, sem especificar qual a origem da desinformação. Para tentar reforçar o argumento de que o autor do atentado em Blumenau é apoiador do presidente Lula, e não do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ele resgata outra informação falsa: a de que um homem que destruiu um relógio histórico no Palácio do Planalto, no dia 8 de janeiro, em Brasília, era integrante do MST.
O Estadão Verifica já desmentiu este boato: o relógio de Balthazar Martinot, peça do século XVII trazida ao Brasil pelo rei Dom João VI, foi vandalizado por homem durante a invasão às sedes dos Três Poderes em Brasília no dia 8 de janeiro deste ano, mas o homem que aparece nas imagens não era um militante do MST. A Polícia Federal descartou a participação do militante, um estudante do Paraná, no caso.
Na época, o Verifica também mostrou que era falso que o horário mostrado no visor do relógio indicava a participação de infiltrados: na realidade, o relógio de 400 anos estava parado.
NOTA DA REDAÇÃO: O Estadão decidiu não publicar foto, vídeo, nome ou outras informações sobre o autor do ataque, embora ele seja maior de idade. Essa decisão segue recomendações de estudiosos em comunicação e violência. Pesquisas mostram que essa exposição pode levar a um efeito de contágio, de valorização e de estímulo do ato de violência em indivíduos e comunidades de ódio, o que resulta em novos casos. A visibilidade dos agressores é considerada como um “troféu” dentro dessas redes. Pelo mesmo motivo, também não foram divulgados vídeos do ataque em uma escola estadual na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo, no último dia 27 de março.