É falso que chá da casca da árvore da graviola trate e cure câncer


Vídeo publicado no Facebook reproduz alegações falsas sobre ação da graviola no combate a doença; especialistas consultados pelo ‘Verifica’ desmentem o conteúdo

Por Maria Eduarda Nascimento

O que estão compartilhando: vídeo que recomenda tomar chá da casca da árvore da graviola para curar, tratar e prevenir diferentes tipos de câncer em estágio inicial.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Não há comprovação científica de que o chá da casca da árvore da graviola possa curar, tratar ou prevenir o câncer. O Verifica consultou especialistas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), que descartaram que a bebida tenha eficácia no combate a diferentes tipos de câncer. As profissionais ressaltaram que o câncer não é uma doença só e que cientistas trabalham para desenvolver tratamentos e aprimorar o diagnóstico precoce. Por isso, é improvável que um chá seja capaz de tratar diversos tipos de câncer e ainda evitar que eles aconteçam.

Não há comprovação científica de que o chá da casca da árvore da graviola possa curar, tratar ou prevenir o câncer Foto: Reprodução
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Saiba mais: o vídeo aqui verificado ensina uma receita caseira de chá utilizando a casca da árvore da graviola. A alegação é de que já existe um estudo que comprova que a casca da graviola, a raiz e a folha da fruta são “remédios poderosos” no combate ao câncer, o que não é verdade. De acordo com a oncologista clínica Laura Testa, que é chefe do grupo de oncologia mamária do Icesp, a maioria das receitas populares que prometem controlar o câncer não têm nenhuma comprovação científica de benefício para o paciente que está em tratamento oncológico.

A oncologista explicou que a comprovação científica se dá quando há estudos que avaliam os efeitos de um medicamento, uma fruta ou outra substância no organismo dos pacientes. “Para avaliar a eficácia, a gente costuma utilizar estudos randomizados para poder comparar com alguém que não está usando [o medicamento, por exemplo] naquela mesma situação clínica. Então habitualmente não tem esse tipo de comprovação [nas receitas populares]”.

Além da falta de comprovação científica, não há dados de segurança para o consumo de receitas populares. “Muitas das frutas que a gente encontra na natureza podem ter efeitos colaterais e podem interferir na eficácia de outros remédios que a pessoa esteja eventualmente tomando”, disse Laura. “Quando temos um paciente que está tomando um remédio e alguém vai prescrever um outro, a gente tem que checar a interação medicamentosa. Para essas substâncias que não foram bem estudadas, nós não conseguimos determinar a segurança de a pessoa usar isso junto com outra coisa”.

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A falta de segurança também é ressaltada pela oncologista Andreia Melo, chefe da Divisão de Pesquisa Clínica e Desenvolvimento Tecnológico do INCA. Segundo ela, combinar o tratamento oncológico com um chá no qual não se sabe exatamente qual é a concentração de determinados compostos e qual o impacto que esses compostos vão trazer ao metabolismo hepático e renal não é uma boa ideia.

Fruta da graviola plantada no Ceará. Foto: ANTONIO CARLOS VIEIRA

“Tomar chás que a gente usa no nosso dia a dia não vai interferir em nada em quimioterapia, em tratamento oncológico, mas esse chás naturais com essa proposta de tratar e de curar o câncer, é preciso ter muito cuidado”, alertou Andreia. A oncologista explicou que em sachês de chás é possível ter noção da concentração de substâncias liberadas por determinada erva, o que não acontece quando o chá é preparado com a casca de uma árvore.

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“Quando uma pessoa pega um pedaço de uma casca de árvore e ferve para tomar, eu não sei quanto da casca a pessoa colocou, qual foi a quantidade e o que isso liberou, então isso pode causar um problema à saúde do paciente, principalmente para os pacientes com doença oncológica em tratamento”, afirmou Andreia. “É preciso conversar com o médico oncologista caso a pessoa queira de alguma maneira tomar algum chá ou partir para alguma outra opção nesse contexto”.

O Verifica também procurou a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), que em nota reiterou que não há embasamento científico a respeito da associação feita com a graviola. “A SBOC desencoraja a população a fazer uso de tal substância como método preventivo ou terapêutico contra o câncer”, informou a sociedade.

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Desinformação envolvendo graviola não é atual

Em 2018, uma cartilha produzida pelo INCA classificou como mito a alegação de que o chá de graviola cura o câncer. O documento de orientação ao paciente desmente alegações sobre dietas restritivas e alimentos milagrosos que prometem tratar e curar o câncer.

Segundo a oncologista Laura, a graviola é citada com frequência em boatos de receitas que prometem curar o câncer. “A graviola, especificamente, tem alguns estudos in vitro que [apontam que] potencialmente poderia matar as células cancerígenas”, disse. “Mas tem tantas e tantas substâncias que conseguem matar as células cancerígenas in vitro e que, essencialmente, são tão tóxicas para o organismo que a gente não poderia usar, ou que quando utilizadas não são efetivas in vivo, no corpo”, disse.

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Ao explicar a diferença entre uma conclusão in vitro e in vivo, a especialista faz uma analogia. “Uma coisa é você pegar células soltas numa plaquinha de vidro e colocar uma substância lá. Tem um milhão de substâncias que a gente consegue fazer isso, vide o Covid. Se você jogar álcool 70 no vírus, ele morre? Sim. Significa que eu tenho que tomar álcool 70? Claro que não”, comentou Laura.

Para a oncologista Andreia, é importante ressaltar que a pesquisa sobre o câncer é bastante detalhada e, além do investimento financeiro, existe um investimento intelectual intenso das sociedades médicas para que se entenda cada vez mais porque o câncer acontece, como ter um diagnóstico precoce, como tratar a doença e reduzir os riscos.

“O câncer, as neoplasias, são doenças muito complexas. Imagina que hoje você tem diversos subtipos moleculares reconhecidos, identificados, que os cientistas trabalham com muita intensidade para desenvolver tratamentos e diagnóstico precoce. Seria muito inocente da nossa parte acreditar que uma casca de uma árvore ou de uma fruta seja bom para a gente controlar e tratar todos os tipos de câncer ou evitar que eles aconteçam. De maneira nenhuma isso é algo que deve ser considerado”, pontuou Andreia.

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Como lidar com postagens do tipo: receitas naturais que prometem curar, prevenir e tratar o câncer circulam com frequência nas redes sociais. Nesses casos, é importante checar a alegação em fontes confiáveis como em veículos de notícias tradicionais, INCA e nas próprias agências de checagem.

O fato de o vídeo aqui verificado apresentar o chá da casca da árvore da graviola como uma solução para todos os tipos de câncer é um sinal de alerta, uma vez que, segundo as oncologistas entrevistadas, dificilmente vai existir uma receita de chá que resolva todos os tipos de tumores.

O que estão compartilhando: vídeo que recomenda tomar chá da casca da árvore da graviola para curar, tratar e prevenir diferentes tipos de câncer em estágio inicial.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Não há comprovação científica de que o chá da casca da árvore da graviola possa curar, tratar ou prevenir o câncer. O Verifica consultou especialistas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), que descartaram que a bebida tenha eficácia no combate a diferentes tipos de câncer. As profissionais ressaltaram que o câncer não é uma doença só e que cientistas trabalham para desenvolver tratamentos e aprimorar o diagnóstico precoce. Por isso, é improvável que um chá seja capaz de tratar diversos tipos de câncer e ainda evitar que eles aconteçam.

Não há comprovação científica de que o chá da casca da árvore da graviola possa curar, tratar ou prevenir o câncer Foto: Reprodução

Saiba mais: o vídeo aqui verificado ensina uma receita caseira de chá utilizando a casca da árvore da graviola. A alegação é de que já existe um estudo que comprova que a casca da graviola, a raiz e a folha da fruta são “remédios poderosos” no combate ao câncer, o que não é verdade. De acordo com a oncologista clínica Laura Testa, que é chefe do grupo de oncologia mamária do Icesp, a maioria das receitas populares que prometem controlar o câncer não têm nenhuma comprovação científica de benefício para o paciente que está em tratamento oncológico.

A oncologista explicou que a comprovação científica se dá quando há estudos que avaliam os efeitos de um medicamento, uma fruta ou outra substância no organismo dos pacientes. “Para avaliar a eficácia, a gente costuma utilizar estudos randomizados para poder comparar com alguém que não está usando [o medicamento, por exemplo] naquela mesma situação clínica. Então habitualmente não tem esse tipo de comprovação [nas receitas populares]”.

Além da falta de comprovação científica, não há dados de segurança para o consumo de receitas populares. “Muitas das frutas que a gente encontra na natureza podem ter efeitos colaterais e podem interferir na eficácia de outros remédios que a pessoa esteja eventualmente tomando”, disse Laura. “Quando temos um paciente que está tomando um remédio e alguém vai prescrever um outro, a gente tem que checar a interação medicamentosa. Para essas substâncias que não foram bem estudadas, nós não conseguimos determinar a segurança de a pessoa usar isso junto com outra coisa”.

A falta de segurança também é ressaltada pela oncologista Andreia Melo, chefe da Divisão de Pesquisa Clínica e Desenvolvimento Tecnológico do INCA. Segundo ela, combinar o tratamento oncológico com um chá no qual não se sabe exatamente qual é a concentração de determinados compostos e qual o impacto que esses compostos vão trazer ao metabolismo hepático e renal não é uma boa ideia.

Fruta da graviola plantada no Ceará. Foto: ANTONIO CARLOS VIEIRA

“Tomar chás que a gente usa no nosso dia a dia não vai interferir em nada em quimioterapia, em tratamento oncológico, mas esse chás naturais com essa proposta de tratar e de curar o câncer, é preciso ter muito cuidado”, alertou Andreia. A oncologista explicou que em sachês de chás é possível ter noção da concentração de substâncias liberadas por determinada erva, o que não acontece quando o chá é preparado com a casca de uma árvore.

“Quando uma pessoa pega um pedaço de uma casca de árvore e ferve para tomar, eu não sei quanto da casca a pessoa colocou, qual foi a quantidade e o que isso liberou, então isso pode causar um problema à saúde do paciente, principalmente para os pacientes com doença oncológica em tratamento”, afirmou Andreia. “É preciso conversar com o médico oncologista caso a pessoa queira de alguma maneira tomar algum chá ou partir para alguma outra opção nesse contexto”.

O Verifica também procurou a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), que em nota reiterou que não há embasamento científico a respeito da associação feita com a graviola. “A SBOC desencoraja a população a fazer uso de tal substância como método preventivo ou terapêutico contra o câncer”, informou a sociedade.

Desinformação envolvendo graviola não é atual

Em 2018, uma cartilha produzida pelo INCA classificou como mito a alegação de que o chá de graviola cura o câncer. O documento de orientação ao paciente desmente alegações sobre dietas restritivas e alimentos milagrosos que prometem tratar e curar o câncer.

Segundo a oncologista Laura, a graviola é citada com frequência em boatos de receitas que prometem curar o câncer. “A graviola, especificamente, tem alguns estudos in vitro que [apontam que] potencialmente poderia matar as células cancerígenas”, disse. “Mas tem tantas e tantas substâncias que conseguem matar as células cancerígenas in vitro e que, essencialmente, são tão tóxicas para o organismo que a gente não poderia usar, ou que quando utilizadas não são efetivas in vivo, no corpo”, disse.

Ao explicar a diferença entre uma conclusão in vitro e in vivo, a especialista faz uma analogia. “Uma coisa é você pegar células soltas numa plaquinha de vidro e colocar uma substância lá. Tem um milhão de substâncias que a gente consegue fazer isso, vide o Covid. Se você jogar álcool 70 no vírus, ele morre? Sim. Significa que eu tenho que tomar álcool 70? Claro que não”, comentou Laura.

Para a oncologista Andreia, é importante ressaltar que a pesquisa sobre o câncer é bastante detalhada e, além do investimento financeiro, existe um investimento intelectual intenso das sociedades médicas para que se entenda cada vez mais porque o câncer acontece, como ter um diagnóstico precoce, como tratar a doença e reduzir os riscos.

“O câncer, as neoplasias, são doenças muito complexas. Imagina que hoje você tem diversos subtipos moleculares reconhecidos, identificados, que os cientistas trabalham com muita intensidade para desenvolver tratamentos e diagnóstico precoce. Seria muito inocente da nossa parte acreditar que uma casca de uma árvore ou de uma fruta seja bom para a gente controlar e tratar todos os tipos de câncer ou evitar que eles aconteçam. De maneira nenhuma isso é algo que deve ser considerado”, pontuou Andreia.

Como lidar com postagens do tipo: receitas naturais que prometem curar, prevenir e tratar o câncer circulam com frequência nas redes sociais. Nesses casos, é importante checar a alegação em fontes confiáveis como em veículos de notícias tradicionais, INCA e nas próprias agências de checagem.

O fato de o vídeo aqui verificado apresentar o chá da casca da árvore da graviola como uma solução para todos os tipos de câncer é um sinal de alerta, uma vez que, segundo as oncologistas entrevistadas, dificilmente vai existir uma receita de chá que resolva todos os tipos de tumores.

O que estão compartilhando: vídeo que recomenda tomar chá da casca da árvore da graviola para curar, tratar e prevenir diferentes tipos de câncer em estágio inicial.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Não há comprovação científica de que o chá da casca da árvore da graviola possa curar, tratar ou prevenir o câncer. O Verifica consultou especialistas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), que descartaram que a bebida tenha eficácia no combate a diferentes tipos de câncer. As profissionais ressaltaram que o câncer não é uma doença só e que cientistas trabalham para desenvolver tratamentos e aprimorar o diagnóstico precoce. Por isso, é improvável que um chá seja capaz de tratar diversos tipos de câncer e ainda evitar que eles aconteçam.

Não há comprovação científica de que o chá da casca da árvore da graviola possa curar, tratar ou prevenir o câncer Foto: Reprodução

Saiba mais: o vídeo aqui verificado ensina uma receita caseira de chá utilizando a casca da árvore da graviola. A alegação é de que já existe um estudo que comprova que a casca da graviola, a raiz e a folha da fruta são “remédios poderosos” no combate ao câncer, o que não é verdade. De acordo com a oncologista clínica Laura Testa, que é chefe do grupo de oncologia mamária do Icesp, a maioria das receitas populares que prometem controlar o câncer não têm nenhuma comprovação científica de benefício para o paciente que está em tratamento oncológico.

A oncologista explicou que a comprovação científica se dá quando há estudos que avaliam os efeitos de um medicamento, uma fruta ou outra substância no organismo dos pacientes. “Para avaliar a eficácia, a gente costuma utilizar estudos randomizados para poder comparar com alguém que não está usando [o medicamento, por exemplo] naquela mesma situação clínica. Então habitualmente não tem esse tipo de comprovação [nas receitas populares]”.

Além da falta de comprovação científica, não há dados de segurança para o consumo de receitas populares. “Muitas das frutas que a gente encontra na natureza podem ter efeitos colaterais e podem interferir na eficácia de outros remédios que a pessoa esteja eventualmente tomando”, disse Laura. “Quando temos um paciente que está tomando um remédio e alguém vai prescrever um outro, a gente tem que checar a interação medicamentosa. Para essas substâncias que não foram bem estudadas, nós não conseguimos determinar a segurança de a pessoa usar isso junto com outra coisa”.

A falta de segurança também é ressaltada pela oncologista Andreia Melo, chefe da Divisão de Pesquisa Clínica e Desenvolvimento Tecnológico do INCA. Segundo ela, combinar o tratamento oncológico com um chá no qual não se sabe exatamente qual é a concentração de determinados compostos e qual o impacto que esses compostos vão trazer ao metabolismo hepático e renal não é uma boa ideia.

Fruta da graviola plantada no Ceará. Foto: ANTONIO CARLOS VIEIRA

“Tomar chás que a gente usa no nosso dia a dia não vai interferir em nada em quimioterapia, em tratamento oncológico, mas esse chás naturais com essa proposta de tratar e de curar o câncer, é preciso ter muito cuidado”, alertou Andreia. A oncologista explicou que em sachês de chás é possível ter noção da concentração de substâncias liberadas por determinada erva, o que não acontece quando o chá é preparado com a casca de uma árvore.

“Quando uma pessoa pega um pedaço de uma casca de árvore e ferve para tomar, eu não sei quanto da casca a pessoa colocou, qual foi a quantidade e o que isso liberou, então isso pode causar um problema à saúde do paciente, principalmente para os pacientes com doença oncológica em tratamento”, afirmou Andreia. “É preciso conversar com o médico oncologista caso a pessoa queira de alguma maneira tomar algum chá ou partir para alguma outra opção nesse contexto”.

O Verifica também procurou a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), que em nota reiterou que não há embasamento científico a respeito da associação feita com a graviola. “A SBOC desencoraja a população a fazer uso de tal substância como método preventivo ou terapêutico contra o câncer”, informou a sociedade.

Desinformação envolvendo graviola não é atual

Em 2018, uma cartilha produzida pelo INCA classificou como mito a alegação de que o chá de graviola cura o câncer. O documento de orientação ao paciente desmente alegações sobre dietas restritivas e alimentos milagrosos que prometem tratar e curar o câncer.

Segundo a oncologista Laura, a graviola é citada com frequência em boatos de receitas que prometem curar o câncer. “A graviola, especificamente, tem alguns estudos in vitro que [apontam que] potencialmente poderia matar as células cancerígenas”, disse. “Mas tem tantas e tantas substâncias que conseguem matar as células cancerígenas in vitro e que, essencialmente, são tão tóxicas para o organismo que a gente não poderia usar, ou que quando utilizadas não são efetivas in vivo, no corpo”, disse.

Ao explicar a diferença entre uma conclusão in vitro e in vivo, a especialista faz uma analogia. “Uma coisa é você pegar células soltas numa plaquinha de vidro e colocar uma substância lá. Tem um milhão de substâncias que a gente consegue fazer isso, vide o Covid. Se você jogar álcool 70 no vírus, ele morre? Sim. Significa que eu tenho que tomar álcool 70? Claro que não”, comentou Laura.

Para a oncologista Andreia, é importante ressaltar que a pesquisa sobre o câncer é bastante detalhada e, além do investimento financeiro, existe um investimento intelectual intenso das sociedades médicas para que se entenda cada vez mais porque o câncer acontece, como ter um diagnóstico precoce, como tratar a doença e reduzir os riscos.

“O câncer, as neoplasias, são doenças muito complexas. Imagina que hoje você tem diversos subtipos moleculares reconhecidos, identificados, que os cientistas trabalham com muita intensidade para desenvolver tratamentos e diagnóstico precoce. Seria muito inocente da nossa parte acreditar que uma casca de uma árvore ou de uma fruta seja bom para a gente controlar e tratar todos os tipos de câncer ou evitar que eles aconteçam. De maneira nenhuma isso é algo que deve ser considerado”, pontuou Andreia.

Como lidar com postagens do tipo: receitas naturais que prometem curar, prevenir e tratar o câncer circulam com frequência nas redes sociais. Nesses casos, é importante checar a alegação em fontes confiáveis como em veículos de notícias tradicionais, INCA e nas próprias agências de checagem.

O fato de o vídeo aqui verificado apresentar o chá da casca da árvore da graviola como uma solução para todos os tipos de câncer é um sinal de alerta, uma vez que, segundo as oncologistas entrevistadas, dificilmente vai existir uma receita de chá que resolva todos os tipos de tumores.

O que estão compartilhando: vídeo que recomenda tomar chá da casca da árvore da graviola para curar, tratar e prevenir diferentes tipos de câncer em estágio inicial.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Não há comprovação científica de que o chá da casca da árvore da graviola possa curar, tratar ou prevenir o câncer. O Verifica consultou especialistas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), que descartaram que a bebida tenha eficácia no combate a diferentes tipos de câncer. As profissionais ressaltaram que o câncer não é uma doença só e que cientistas trabalham para desenvolver tratamentos e aprimorar o diagnóstico precoce. Por isso, é improvável que um chá seja capaz de tratar diversos tipos de câncer e ainda evitar que eles aconteçam.

Não há comprovação científica de que o chá da casca da árvore da graviola possa curar, tratar ou prevenir o câncer Foto: Reprodução

Saiba mais: o vídeo aqui verificado ensina uma receita caseira de chá utilizando a casca da árvore da graviola. A alegação é de que já existe um estudo que comprova que a casca da graviola, a raiz e a folha da fruta são “remédios poderosos” no combate ao câncer, o que não é verdade. De acordo com a oncologista clínica Laura Testa, que é chefe do grupo de oncologia mamária do Icesp, a maioria das receitas populares que prometem controlar o câncer não têm nenhuma comprovação científica de benefício para o paciente que está em tratamento oncológico.

A oncologista explicou que a comprovação científica se dá quando há estudos que avaliam os efeitos de um medicamento, uma fruta ou outra substância no organismo dos pacientes. “Para avaliar a eficácia, a gente costuma utilizar estudos randomizados para poder comparar com alguém que não está usando [o medicamento, por exemplo] naquela mesma situação clínica. Então habitualmente não tem esse tipo de comprovação [nas receitas populares]”.

Além da falta de comprovação científica, não há dados de segurança para o consumo de receitas populares. “Muitas das frutas que a gente encontra na natureza podem ter efeitos colaterais e podem interferir na eficácia de outros remédios que a pessoa esteja eventualmente tomando”, disse Laura. “Quando temos um paciente que está tomando um remédio e alguém vai prescrever um outro, a gente tem que checar a interação medicamentosa. Para essas substâncias que não foram bem estudadas, nós não conseguimos determinar a segurança de a pessoa usar isso junto com outra coisa”.

A falta de segurança também é ressaltada pela oncologista Andreia Melo, chefe da Divisão de Pesquisa Clínica e Desenvolvimento Tecnológico do INCA. Segundo ela, combinar o tratamento oncológico com um chá no qual não se sabe exatamente qual é a concentração de determinados compostos e qual o impacto que esses compostos vão trazer ao metabolismo hepático e renal não é uma boa ideia.

Fruta da graviola plantada no Ceará. Foto: ANTONIO CARLOS VIEIRA

“Tomar chás que a gente usa no nosso dia a dia não vai interferir em nada em quimioterapia, em tratamento oncológico, mas esse chás naturais com essa proposta de tratar e de curar o câncer, é preciso ter muito cuidado”, alertou Andreia. A oncologista explicou que em sachês de chás é possível ter noção da concentração de substâncias liberadas por determinada erva, o que não acontece quando o chá é preparado com a casca de uma árvore.

“Quando uma pessoa pega um pedaço de uma casca de árvore e ferve para tomar, eu não sei quanto da casca a pessoa colocou, qual foi a quantidade e o que isso liberou, então isso pode causar um problema à saúde do paciente, principalmente para os pacientes com doença oncológica em tratamento”, afirmou Andreia. “É preciso conversar com o médico oncologista caso a pessoa queira de alguma maneira tomar algum chá ou partir para alguma outra opção nesse contexto”.

O Verifica também procurou a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), que em nota reiterou que não há embasamento científico a respeito da associação feita com a graviola. “A SBOC desencoraja a população a fazer uso de tal substância como método preventivo ou terapêutico contra o câncer”, informou a sociedade.

Desinformação envolvendo graviola não é atual

Em 2018, uma cartilha produzida pelo INCA classificou como mito a alegação de que o chá de graviola cura o câncer. O documento de orientação ao paciente desmente alegações sobre dietas restritivas e alimentos milagrosos que prometem tratar e curar o câncer.

Segundo a oncologista Laura, a graviola é citada com frequência em boatos de receitas que prometem curar o câncer. “A graviola, especificamente, tem alguns estudos in vitro que [apontam que] potencialmente poderia matar as células cancerígenas”, disse. “Mas tem tantas e tantas substâncias que conseguem matar as células cancerígenas in vitro e que, essencialmente, são tão tóxicas para o organismo que a gente não poderia usar, ou que quando utilizadas não são efetivas in vivo, no corpo”, disse.

Ao explicar a diferença entre uma conclusão in vitro e in vivo, a especialista faz uma analogia. “Uma coisa é você pegar células soltas numa plaquinha de vidro e colocar uma substância lá. Tem um milhão de substâncias que a gente consegue fazer isso, vide o Covid. Se você jogar álcool 70 no vírus, ele morre? Sim. Significa que eu tenho que tomar álcool 70? Claro que não”, comentou Laura.

Para a oncologista Andreia, é importante ressaltar que a pesquisa sobre o câncer é bastante detalhada e, além do investimento financeiro, existe um investimento intelectual intenso das sociedades médicas para que se entenda cada vez mais porque o câncer acontece, como ter um diagnóstico precoce, como tratar a doença e reduzir os riscos.

“O câncer, as neoplasias, são doenças muito complexas. Imagina que hoje você tem diversos subtipos moleculares reconhecidos, identificados, que os cientistas trabalham com muita intensidade para desenvolver tratamentos e diagnóstico precoce. Seria muito inocente da nossa parte acreditar que uma casca de uma árvore ou de uma fruta seja bom para a gente controlar e tratar todos os tipos de câncer ou evitar que eles aconteçam. De maneira nenhuma isso é algo que deve ser considerado”, pontuou Andreia.

Como lidar com postagens do tipo: receitas naturais que prometem curar, prevenir e tratar o câncer circulam com frequência nas redes sociais. Nesses casos, é importante checar a alegação em fontes confiáveis como em veículos de notícias tradicionais, INCA e nas próprias agências de checagem.

O fato de o vídeo aqui verificado apresentar o chá da casca da árvore da graviola como uma solução para todos os tipos de câncer é um sinal de alerta, uma vez que, segundo as oncologistas entrevistadas, dificilmente vai existir uma receita de chá que resolva todos os tipos de tumores.

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