Mensagens no WhatsApp e nas redes sociais espalham um documento falso com supostas diretrizes da Rede Globo para a cobertura jornalística da pandemia de covid-19. Com informações vagas e tom alarmista, as mensagens afirmam que uma "pauta sinistra" foi vazada por um apresentador demitido da emissora. Porém, nada disso é verdade.
Leitores enviaram este conteúdo para checagem ao WhatsApp do Estadão Verifica, 11 97683-7490.
Em nota divulgada neste sábado, 24, a Rede Globo desmentiu o boato. "[A Globo] reforça que é falso o documento supostamente vazado que está sendo compartilhado nas redes sociais com o que seriam recomendações de pauta sobre a covid-19 assinadas pelo editor-chefe do Jornal Hoje, Cláudio Marques", disse a emissora.
As mensagens enganosas apresentam uma captura de tela com dez orientações. Elas sugerem que a diretoria da emissora atua para superdimensionar a pandemia e produzir notícias desfavoráveis ao governo Bolsonaro. Entretanto, além da ausência de elementos que confirmem a autenticidade do "documento sigiloso", alguns detalhes indicam erros factuais no material.
O conteúdo utiliza um logotipo antigo da Rede Globo, que foi substituído em 2014. Uma verificação do site Boatos.org pontua que o documento recebe a data de abril de 2020, mas cita problemas que ganharam destaque na história mais recente da pandemia, como a escassez de oxigênio e medicamentos para intubação em unidades. A crise nacional no estoque de sedativos para ventilação mecânica ocorreu em 2021.
Também vale ressaltar que, ao contrário do que sugere a diretriz número cinco do documento falso, não existem "kits de medicamentos" eficazes para a prevenção da covid-19.
O boato ainda compartilha de características comuns de conteúdos enganosos em plataformas digitais. O teor alarmista gerado pela referência a documentos sensíveis e sigilosos, por exemplo, busca despertar um senso de urgência nos usuários para incentivar o compartilhamento do material nas redes. Também já desmentimos outros boatos envolvendo a Rede Globo, como postagens que tiravam do contexto um vídeo de uma apresentadora da emissora festejando com torcedores do Flamengo antes da pandemia.