É falso que laqueadura cause ‘morte dos ovários’ e interrupção na produção de hormônios


Especialistas explicam que o procedimento não altera o funcionamento dos órgãos; procurado, autor da postagem defendeu alegações do vídeo e afirmou que outros profissionais de saúde concordam com ele

Por Giovana Frioli
Atualização:

Atualizada em 30 de janeiro com a resposta do responsável pela postagem verificada.

O que estão compartilhando: que a laqueadura pode causar a morte dos ovários, com a interrupção da circulação sanguínea na região e a produção de hormônios. Homem que aparece em vídeo ainda diz que o procedimento de esterilização envelhece, causa doenças e problemas psicológicos.

O Estadão Verifica checou e concluiu que: é falso. O método contraceptivo de laqueadura não causa a morte dos ovários, diferentemente do que alega um coach de emagrecimento em vídeo. De acordo com especialistas em ginecologia consultados pelo Estadão, a cirurgia não interrompe a circulação sanguínea para os órgãos, que continuam funcionando normalmente e produzindo hormônios. O envelhecimento também não é influenciado pela laqueadura. Segundo os médicos ouvidos pela reportagem, problemas psicológicos podem surgir naquelas pessoas que se arrependem do procedimento, visto que a laqueadura é considerada um método definitivo.

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Procurado, o coach responsável pela publicação verificada aqui repetiu as alegações ditas no vídeo e afirmou que “existem outros profissionais de saúde e médicos que também falam as mesmas coisas.”

É falso que a laqueadura causa a morte dos ovários e interrupção na produção de hormônios Foto: Foto

Saiba mais: Em vídeo viral, um homem identificado como coach em emagrecimento e sem cadastro no Conselho Federal de Medicina (CFM) incentiva que pessoas não realizem a laqueadura, com o argumento de que o procedimento “pode causar a morte dos ovários”. Ele sustenta que a cirurgia interrompe a circulação sanguínea para os órgãos e a produção de hormônios sexuais femininos, o que não é verdadeiro. Especialistas consultados pelo Estadão Verifica informaram que os ovários continuam funcionando normalmente.

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O que é a laqueadura?

A publicação espalha desinformação sobre a laqueadura, que é um método contraceptivo permanente e realizado por meio de cirurgia. O procedimento é feito a partir de um corte ou amarração nas trompas (tubas) – o canal que liga o útero aos ovários –, impedindo o contato do espermatozoide com o óvulo e, portanto, a fecundação.

Ao invés do que diz o homem no vídeo analisado, o procedimento não é sinônimo de “retirada do útero”. A histerectomia é uma operação indicada em caso de doenças uterinas, como o câncer, em que é retirado o corpo e o colo do útero. O método contraceptivo da laqueadura, como explicado acima, é realizado apenas nas trompas do sistema reprodutor.

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O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece laqueadura para pessoas a partir dos 21 anos ou que tenham, no mínimo, dois filhos vivos. Em 2023, a legislação foi alterada para permitir que mulheres realizem o procedimento sem autorização prévia do cônjuge, já que o consentimento antes era obrigatório. Os pedidos são feitos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e encaminhados ao planejamento familiar.

O procedimento cirúrgico é caracterizado pelo ligamento ou corte das tubas uterinas, que ligam o ovário ao útero. Foto: Pixabay

Laqueadura não causa morte dos ovários

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A médica Ilza Maria Urbano, vice-presidente da Comissão de Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), afirma que os ovários não morrem com a realização da laqueadura. Segundo ela, “não é verdade que após o procedimento ocorra a interrupção da circulação sanguínea para os ovários”. A especialista explica que a principal nutrição de sangue para os órgãos vem da artéria ovariana, que não está envolvida na técnica.

O conteúdo viral também foi analisado pelo ginecologista Fernando Sansone Rodrigues, membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp), que classificou como “inverídicas” as alegações sobre a morte dos ovários. “Mesmo que ocorra a interrupção de uma das artérias que também compartilhe a circulação com os ovários, existem outras suficientemente adequadas para mantê-los em boas condições e não haver necrose”, explicou.

Produção de hormônios não é interrompida com a cirurgia

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Os especialistas apontam que também é falso que a produção de hormônios sexuais femininos, como a progesterona e o estrógeno, seja interrompida após o procedimento. “Quando você preserva o ovário, também é mantida a sua função. O órgão continua produzindo os hormônios e amadurecendo os folículos responsáveis pela ovulação”, diz Rodrigues. Estudos científicos apontam que a menstruação após a laqueadura continua similar ao período anterior ao procedimento.

A publicação feita pelo coach ainda mente ao citar que pessoas submetidas a laqueadura devem realizar reposição hormonal. Segundo Rodrigues, a terapia é indicada quando, por alguma circunstância, há a necessidade de retirada dos ovários ou tratamentos mais agressivos, como um indivíduo que passa por radioterapia abdominal ou quimioterapia.

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A reposição de hormônios pode ser indicada para uma pessoa que apresentava falência dos ovários antes da laqueadura e não sabia. “Por exemplo, se uma mulher tomava pílulas e interrompe para a realização do procedimento. Aí descobre que a contracepção estava mascarando uma falência dos ovários já instalada. Nesse caso, apenas o médico pode indicar o tratamento”, explica Ilza.

A ginecologista ainda cita que, quando a laqueadura é realizada ao redor dos 40 anos, algumas pessoas podem apresentar alterações ovulatórias da própria idade, como ciclos irregulares da menstruação. Caso que, de acordo com a especialista, também ocorre com aquelas que não realizaram o procedimento, em um período chamado climatério – transição do período reprodutivo para o não reprodutivo. “É necessário uma boa orientação nesse momento, com a indicação de métodos contraceptivos tão eficazes quanto à laqueadura”, diz ela.

Segundo a médica Ilza Maria Urbano, estudos que compararam mulheres que fizeram laqueadura com as que não fizeram mostram que a idade da menopausa não foi diferente.  Foto: Pixabay

Envelhecimento e doenças causadas pela laqueadura

No vídeo ainda é dito que o procedimento de esterilização tem riscos e pode envelhecer a mulher, o que foi desmentido pelos especialistas. “O envelhecimento é um processo natural, que não é influenciado pela realização de laqueadura”, afirma a especialista Ilza Maria Urbano. O ginecologista Fernando Rodrigues explica que os perigos são restritos à cirurgia, como outros procedimentos. “Com um profissional habilitado é plenamente possível prever os riscos cirúrgicos e, a partir de protocolos, evitar que eles aconteçam”, pontua.

As doenças psicológicas citadas pelo coach no vídeo estão relacionadas àquelas pessoas que se arrependem da laqueadura e não por conta do procedimento. “É importante afirmar que a laqueadura deve ser considerada um método definitivo. Algumas mulheres não estão cientes disso e decidem pelo método sem ter certeza que ainda desejam filhos. Mais tarde se arrependem e sintomas emocionais podem aflorar”, diz Ilza. Neste caso, ansiedade e depressão são associadas ao arrependimento.

Segundo a especialista, em pacientes seguros com a escolha não é observado o aumento nas queixas de problemas psicológicos. “Vale lembrar que esses sintomas se acentuam com a idade e podem aparecer mesmo em pessoas que não fizeram laqueadura tubária”, pontua a médica. Ela cita que um estudo feito com mais de 5 mil mulheres mostrou que aquelas submetidas à laqueadura tem quase 50% de chance menor de ter sintomas depressivos após a menopausa.

Para evitar o arrependimento, é indicado que haja orientação e informação sobre métodos contraceptivos reversíveis, tão eficazes quanto a esterilização. “Se, após um aconselhamento completo, a pessoa ainda assim escolher a laqueadura, a chance de satisfação vai ser maior”, complementa a ginecologista.

A Febrasgo lançou em 2023 um material com orientações para gestantes e não-gestantes sobre a laqueadura tubária. O Ministério da Saúde afirma que os pedidos de laqueadura são acompanhados por diferentes profissionais de saúde, que apresentam as opções de métodos contraceptivos existentes e orientações sobre o procedimento.

Procurado, o autor do vídeo, Diogo Deja, afirmou que não é coach, apesar de se identificar dessa forma em seus perfis nas redes sociais TikTok e Kwai. “Sou formado em nutrição e sou educador físico há mais de 20 anos, trabalhando com saúde e emagrecimento”, afirmou.

Apesar de citar no vídeo morte e necrose de ovários, Deja disse que em nenhum momento falou que os procedimentos médicos causam morte de ovários. Ele repetiu que a laqueadura resulta em “corte de vasos sanguíneos e nervos que levam nutrientes para o funcionamento dos ovários”. “Isso é o que eu falo no meu canal e recebo de comentários das pessoas todos os dias. Existem outros profissionais de saúde e médicos que também falam as mesmas coisas”, declarou.

Como lidar com postagens do tipo: Antes de acreditar em publicações sobre saúde na internet, consulte as informações dos órgãos de saúde para checar se elas procedem. Neste caso, ainda é possível consultar no site do Conselho Federal de Medicina que o homem responsável pela postagem não está cadastrado como médico. Uma conversa com um profissional especialista também ajudaria a checar as alegações do vídeo.

Atualizada em 30 de janeiro com a resposta do responsável pela postagem verificada.

O que estão compartilhando: que a laqueadura pode causar a morte dos ovários, com a interrupção da circulação sanguínea na região e a produção de hormônios. Homem que aparece em vídeo ainda diz que o procedimento de esterilização envelhece, causa doenças e problemas psicológicos.

O Estadão Verifica checou e concluiu que: é falso. O método contraceptivo de laqueadura não causa a morte dos ovários, diferentemente do que alega um coach de emagrecimento em vídeo. De acordo com especialistas em ginecologia consultados pelo Estadão, a cirurgia não interrompe a circulação sanguínea para os órgãos, que continuam funcionando normalmente e produzindo hormônios. O envelhecimento também não é influenciado pela laqueadura. Segundo os médicos ouvidos pela reportagem, problemas psicológicos podem surgir naquelas pessoas que se arrependem do procedimento, visto que a laqueadura é considerada um método definitivo.

Procurado, o coach responsável pela publicação verificada aqui repetiu as alegações ditas no vídeo e afirmou que “existem outros profissionais de saúde e médicos que também falam as mesmas coisas.”

É falso que a laqueadura causa a morte dos ovários e interrupção na produção de hormônios Foto: Foto

Saiba mais: Em vídeo viral, um homem identificado como coach em emagrecimento e sem cadastro no Conselho Federal de Medicina (CFM) incentiva que pessoas não realizem a laqueadura, com o argumento de que o procedimento “pode causar a morte dos ovários”. Ele sustenta que a cirurgia interrompe a circulação sanguínea para os órgãos e a produção de hormônios sexuais femininos, o que não é verdadeiro. Especialistas consultados pelo Estadão Verifica informaram que os ovários continuam funcionando normalmente.

O que é a laqueadura?

A publicação espalha desinformação sobre a laqueadura, que é um método contraceptivo permanente e realizado por meio de cirurgia. O procedimento é feito a partir de um corte ou amarração nas trompas (tubas) – o canal que liga o útero aos ovários –, impedindo o contato do espermatozoide com o óvulo e, portanto, a fecundação.

Ao invés do que diz o homem no vídeo analisado, o procedimento não é sinônimo de “retirada do útero”. A histerectomia é uma operação indicada em caso de doenças uterinas, como o câncer, em que é retirado o corpo e o colo do útero. O método contraceptivo da laqueadura, como explicado acima, é realizado apenas nas trompas do sistema reprodutor.

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece laqueadura para pessoas a partir dos 21 anos ou que tenham, no mínimo, dois filhos vivos. Em 2023, a legislação foi alterada para permitir que mulheres realizem o procedimento sem autorização prévia do cônjuge, já que o consentimento antes era obrigatório. Os pedidos são feitos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e encaminhados ao planejamento familiar.

O procedimento cirúrgico é caracterizado pelo ligamento ou corte das tubas uterinas, que ligam o ovário ao útero. Foto: Pixabay

Laqueadura não causa morte dos ovários

A médica Ilza Maria Urbano, vice-presidente da Comissão de Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), afirma que os ovários não morrem com a realização da laqueadura. Segundo ela, “não é verdade que após o procedimento ocorra a interrupção da circulação sanguínea para os ovários”. A especialista explica que a principal nutrição de sangue para os órgãos vem da artéria ovariana, que não está envolvida na técnica.

O conteúdo viral também foi analisado pelo ginecologista Fernando Sansone Rodrigues, membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp), que classificou como “inverídicas” as alegações sobre a morte dos ovários. “Mesmo que ocorra a interrupção de uma das artérias que também compartilhe a circulação com os ovários, existem outras suficientemente adequadas para mantê-los em boas condições e não haver necrose”, explicou.

Produção de hormônios não é interrompida com a cirurgia

Os especialistas apontam que também é falso que a produção de hormônios sexuais femininos, como a progesterona e o estrógeno, seja interrompida após o procedimento. “Quando você preserva o ovário, também é mantida a sua função. O órgão continua produzindo os hormônios e amadurecendo os folículos responsáveis pela ovulação”, diz Rodrigues. Estudos científicos apontam que a menstruação após a laqueadura continua similar ao período anterior ao procedimento.

A publicação feita pelo coach ainda mente ao citar que pessoas submetidas a laqueadura devem realizar reposição hormonal. Segundo Rodrigues, a terapia é indicada quando, por alguma circunstância, há a necessidade de retirada dos ovários ou tratamentos mais agressivos, como um indivíduo que passa por radioterapia abdominal ou quimioterapia.

A reposição de hormônios pode ser indicada para uma pessoa que apresentava falência dos ovários antes da laqueadura e não sabia. “Por exemplo, se uma mulher tomava pílulas e interrompe para a realização do procedimento. Aí descobre que a contracepção estava mascarando uma falência dos ovários já instalada. Nesse caso, apenas o médico pode indicar o tratamento”, explica Ilza.

A ginecologista ainda cita que, quando a laqueadura é realizada ao redor dos 40 anos, algumas pessoas podem apresentar alterações ovulatórias da própria idade, como ciclos irregulares da menstruação. Caso que, de acordo com a especialista, também ocorre com aquelas que não realizaram o procedimento, em um período chamado climatério – transição do período reprodutivo para o não reprodutivo. “É necessário uma boa orientação nesse momento, com a indicação de métodos contraceptivos tão eficazes quanto à laqueadura”, diz ela.

Segundo a médica Ilza Maria Urbano, estudos que compararam mulheres que fizeram laqueadura com as que não fizeram mostram que a idade da menopausa não foi diferente.  Foto: Pixabay

Envelhecimento e doenças causadas pela laqueadura

No vídeo ainda é dito que o procedimento de esterilização tem riscos e pode envelhecer a mulher, o que foi desmentido pelos especialistas. “O envelhecimento é um processo natural, que não é influenciado pela realização de laqueadura”, afirma a especialista Ilza Maria Urbano. O ginecologista Fernando Rodrigues explica que os perigos são restritos à cirurgia, como outros procedimentos. “Com um profissional habilitado é plenamente possível prever os riscos cirúrgicos e, a partir de protocolos, evitar que eles aconteçam”, pontua.

As doenças psicológicas citadas pelo coach no vídeo estão relacionadas àquelas pessoas que se arrependem da laqueadura e não por conta do procedimento. “É importante afirmar que a laqueadura deve ser considerada um método definitivo. Algumas mulheres não estão cientes disso e decidem pelo método sem ter certeza que ainda desejam filhos. Mais tarde se arrependem e sintomas emocionais podem aflorar”, diz Ilza. Neste caso, ansiedade e depressão são associadas ao arrependimento.

Segundo a especialista, em pacientes seguros com a escolha não é observado o aumento nas queixas de problemas psicológicos. “Vale lembrar que esses sintomas se acentuam com a idade e podem aparecer mesmo em pessoas que não fizeram laqueadura tubária”, pontua a médica. Ela cita que um estudo feito com mais de 5 mil mulheres mostrou que aquelas submetidas à laqueadura tem quase 50% de chance menor de ter sintomas depressivos após a menopausa.

Para evitar o arrependimento, é indicado que haja orientação e informação sobre métodos contraceptivos reversíveis, tão eficazes quanto a esterilização. “Se, após um aconselhamento completo, a pessoa ainda assim escolher a laqueadura, a chance de satisfação vai ser maior”, complementa a ginecologista.

A Febrasgo lançou em 2023 um material com orientações para gestantes e não-gestantes sobre a laqueadura tubária. O Ministério da Saúde afirma que os pedidos de laqueadura são acompanhados por diferentes profissionais de saúde, que apresentam as opções de métodos contraceptivos existentes e orientações sobre o procedimento.

Procurado, o autor do vídeo, Diogo Deja, afirmou que não é coach, apesar de se identificar dessa forma em seus perfis nas redes sociais TikTok e Kwai. “Sou formado em nutrição e sou educador físico há mais de 20 anos, trabalhando com saúde e emagrecimento”, afirmou.

Apesar de citar no vídeo morte e necrose de ovários, Deja disse que em nenhum momento falou que os procedimentos médicos causam morte de ovários. Ele repetiu que a laqueadura resulta em “corte de vasos sanguíneos e nervos que levam nutrientes para o funcionamento dos ovários”. “Isso é o que eu falo no meu canal e recebo de comentários das pessoas todos os dias. Existem outros profissionais de saúde e médicos que também falam as mesmas coisas”, declarou.

Como lidar com postagens do tipo: Antes de acreditar em publicações sobre saúde na internet, consulte as informações dos órgãos de saúde para checar se elas procedem. Neste caso, ainda é possível consultar no site do Conselho Federal de Medicina que o homem responsável pela postagem não está cadastrado como médico. Uma conversa com um profissional especialista também ajudaria a checar as alegações do vídeo.

Atualizada em 30 de janeiro com a resposta do responsável pela postagem verificada.

O que estão compartilhando: que a laqueadura pode causar a morte dos ovários, com a interrupção da circulação sanguínea na região e a produção de hormônios. Homem que aparece em vídeo ainda diz que o procedimento de esterilização envelhece, causa doenças e problemas psicológicos.

O Estadão Verifica checou e concluiu que: é falso. O método contraceptivo de laqueadura não causa a morte dos ovários, diferentemente do que alega um coach de emagrecimento em vídeo. De acordo com especialistas em ginecologia consultados pelo Estadão, a cirurgia não interrompe a circulação sanguínea para os órgãos, que continuam funcionando normalmente e produzindo hormônios. O envelhecimento também não é influenciado pela laqueadura. Segundo os médicos ouvidos pela reportagem, problemas psicológicos podem surgir naquelas pessoas que se arrependem do procedimento, visto que a laqueadura é considerada um método definitivo.

Procurado, o coach responsável pela publicação verificada aqui repetiu as alegações ditas no vídeo e afirmou que “existem outros profissionais de saúde e médicos que também falam as mesmas coisas.”

É falso que a laqueadura causa a morte dos ovários e interrupção na produção de hormônios Foto: Foto

Saiba mais: Em vídeo viral, um homem identificado como coach em emagrecimento e sem cadastro no Conselho Federal de Medicina (CFM) incentiva que pessoas não realizem a laqueadura, com o argumento de que o procedimento “pode causar a morte dos ovários”. Ele sustenta que a cirurgia interrompe a circulação sanguínea para os órgãos e a produção de hormônios sexuais femininos, o que não é verdadeiro. Especialistas consultados pelo Estadão Verifica informaram que os ovários continuam funcionando normalmente.

O que é a laqueadura?

A publicação espalha desinformação sobre a laqueadura, que é um método contraceptivo permanente e realizado por meio de cirurgia. O procedimento é feito a partir de um corte ou amarração nas trompas (tubas) – o canal que liga o útero aos ovários –, impedindo o contato do espermatozoide com o óvulo e, portanto, a fecundação.

Ao invés do que diz o homem no vídeo analisado, o procedimento não é sinônimo de “retirada do útero”. A histerectomia é uma operação indicada em caso de doenças uterinas, como o câncer, em que é retirado o corpo e o colo do útero. O método contraceptivo da laqueadura, como explicado acima, é realizado apenas nas trompas do sistema reprodutor.

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece laqueadura para pessoas a partir dos 21 anos ou que tenham, no mínimo, dois filhos vivos. Em 2023, a legislação foi alterada para permitir que mulheres realizem o procedimento sem autorização prévia do cônjuge, já que o consentimento antes era obrigatório. Os pedidos são feitos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e encaminhados ao planejamento familiar.

O procedimento cirúrgico é caracterizado pelo ligamento ou corte das tubas uterinas, que ligam o ovário ao útero. Foto: Pixabay

Laqueadura não causa morte dos ovários

A médica Ilza Maria Urbano, vice-presidente da Comissão de Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), afirma que os ovários não morrem com a realização da laqueadura. Segundo ela, “não é verdade que após o procedimento ocorra a interrupção da circulação sanguínea para os ovários”. A especialista explica que a principal nutrição de sangue para os órgãos vem da artéria ovariana, que não está envolvida na técnica.

O conteúdo viral também foi analisado pelo ginecologista Fernando Sansone Rodrigues, membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp), que classificou como “inverídicas” as alegações sobre a morte dos ovários. “Mesmo que ocorra a interrupção de uma das artérias que também compartilhe a circulação com os ovários, existem outras suficientemente adequadas para mantê-los em boas condições e não haver necrose”, explicou.

Produção de hormônios não é interrompida com a cirurgia

Os especialistas apontam que também é falso que a produção de hormônios sexuais femininos, como a progesterona e o estrógeno, seja interrompida após o procedimento. “Quando você preserva o ovário, também é mantida a sua função. O órgão continua produzindo os hormônios e amadurecendo os folículos responsáveis pela ovulação”, diz Rodrigues. Estudos científicos apontam que a menstruação após a laqueadura continua similar ao período anterior ao procedimento.

A publicação feita pelo coach ainda mente ao citar que pessoas submetidas a laqueadura devem realizar reposição hormonal. Segundo Rodrigues, a terapia é indicada quando, por alguma circunstância, há a necessidade de retirada dos ovários ou tratamentos mais agressivos, como um indivíduo que passa por radioterapia abdominal ou quimioterapia.

A reposição de hormônios pode ser indicada para uma pessoa que apresentava falência dos ovários antes da laqueadura e não sabia. “Por exemplo, se uma mulher tomava pílulas e interrompe para a realização do procedimento. Aí descobre que a contracepção estava mascarando uma falência dos ovários já instalada. Nesse caso, apenas o médico pode indicar o tratamento”, explica Ilza.

A ginecologista ainda cita que, quando a laqueadura é realizada ao redor dos 40 anos, algumas pessoas podem apresentar alterações ovulatórias da própria idade, como ciclos irregulares da menstruação. Caso que, de acordo com a especialista, também ocorre com aquelas que não realizaram o procedimento, em um período chamado climatério – transição do período reprodutivo para o não reprodutivo. “É necessário uma boa orientação nesse momento, com a indicação de métodos contraceptivos tão eficazes quanto à laqueadura”, diz ela.

Segundo a médica Ilza Maria Urbano, estudos que compararam mulheres que fizeram laqueadura com as que não fizeram mostram que a idade da menopausa não foi diferente.  Foto: Pixabay

Envelhecimento e doenças causadas pela laqueadura

No vídeo ainda é dito que o procedimento de esterilização tem riscos e pode envelhecer a mulher, o que foi desmentido pelos especialistas. “O envelhecimento é um processo natural, que não é influenciado pela realização de laqueadura”, afirma a especialista Ilza Maria Urbano. O ginecologista Fernando Rodrigues explica que os perigos são restritos à cirurgia, como outros procedimentos. “Com um profissional habilitado é plenamente possível prever os riscos cirúrgicos e, a partir de protocolos, evitar que eles aconteçam”, pontua.

As doenças psicológicas citadas pelo coach no vídeo estão relacionadas àquelas pessoas que se arrependem da laqueadura e não por conta do procedimento. “É importante afirmar que a laqueadura deve ser considerada um método definitivo. Algumas mulheres não estão cientes disso e decidem pelo método sem ter certeza que ainda desejam filhos. Mais tarde se arrependem e sintomas emocionais podem aflorar”, diz Ilza. Neste caso, ansiedade e depressão são associadas ao arrependimento.

Segundo a especialista, em pacientes seguros com a escolha não é observado o aumento nas queixas de problemas psicológicos. “Vale lembrar que esses sintomas se acentuam com a idade e podem aparecer mesmo em pessoas que não fizeram laqueadura tubária”, pontua a médica. Ela cita que um estudo feito com mais de 5 mil mulheres mostrou que aquelas submetidas à laqueadura tem quase 50% de chance menor de ter sintomas depressivos após a menopausa.

Para evitar o arrependimento, é indicado que haja orientação e informação sobre métodos contraceptivos reversíveis, tão eficazes quanto a esterilização. “Se, após um aconselhamento completo, a pessoa ainda assim escolher a laqueadura, a chance de satisfação vai ser maior”, complementa a ginecologista.

A Febrasgo lançou em 2023 um material com orientações para gestantes e não-gestantes sobre a laqueadura tubária. O Ministério da Saúde afirma que os pedidos de laqueadura são acompanhados por diferentes profissionais de saúde, que apresentam as opções de métodos contraceptivos existentes e orientações sobre o procedimento.

Procurado, o autor do vídeo, Diogo Deja, afirmou que não é coach, apesar de se identificar dessa forma em seus perfis nas redes sociais TikTok e Kwai. “Sou formado em nutrição e sou educador físico há mais de 20 anos, trabalhando com saúde e emagrecimento”, afirmou.

Apesar de citar no vídeo morte e necrose de ovários, Deja disse que em nenhum momento falou que os procedimentos médicos causam morte de ovários. Ele repetiu que a laqueadura resulta em “corte de vasos sanguíneos e nervos que levam nutrientes para o funcionamento dos ovários”. “Isso é o que eu falo no meu canal e recebo de comentários das pessoas todos os dias. Existem outros profissionais de saúde e médicos que também falam as mesmas coisas”, declarou.

Como lidar com postagens do tipo: Antes de acreditar em publicações sobre saúde na internet, consulte as informações dos órgãos de saúde para checar se elas procedem. Neste caso, ainda é possível consultar no site do Conselho Federal de Medicina que o homem responsável pela postagem não está cadastrado como médico. Uma conversa com um profissional especialista também ajudaria a checar as alegações do vídeo.

Atualizada em 30 de janeiro com a resposta do responsável pela postagem verificada.

O que estão compartilhando: que a laqueadura pode causar a morte dos ovários, com a interrupção da circulação sanguínea na região e a produção de hormônios. Homem que aparece em vídeo ainda diz que o procedimento de esterilização envelhece, causa doenças e problemas psicológicos.

O Estadão Verifica checou e concluiu que: é falso. O método contraceptivo de laqueadura não causa a morte dos ovários, diferentemente do que alega um coach de emagrecimento em vídeo. De acordo com especialistas em ginecologia consultados pelo Estadão, a cirurgia não interrompe a circulação sanguínea para os órgãos, que continuam funcionando normalmente e produzindo hormônios. O envelhecimento também não é influenciado pela laqueadura. Segundo os médicos ouvidos pela reportagem, problemas psicológicos podem surgir naquelas pessoas que se arrependem do procedimento, visto que a laqueadura é considerada um método definitivo.

Procurado, o coach responsável pela publicação verificada aqui repetiu as alegações ditas no vídeo e afirmou que “existem outros profissionais de saúde e médicos que também falam as mesmas coisas.”

É falso que a laqueadura causa a morte dos ovários e interrupção na produção de hormônios Foto: Foto

Saiba mais: Em vídeo viral, um homem identificado como coach em emagrecimento e sem cadastro no Conselho Federal de Medicina (CFM) incentiva que pessoas não realizem a laqueadura, com o argumento de que o procedimento “pode causar a morte dos ovários”. Ele sustenta que a cirurgia interrompe a circulação sanguínea para os órgãos e a produção de hormônios sexuais femininos, o que não é verdadeiro. Especialistas consultados pelo Estadão Verifica informaram que os ovários continuam funcionando normalmente.

O que é a laqueadura?

A publicação espalha desinformação sobre a laqueadura, que é um método contraceptivo permanente e realizado por meio de cirurgia. O procedimento é feito a partir de um corte ou amarração nas trompas (tubas) – o canal que liga o útero aos ovários –, impedindo o contato do espermatozoide com o óvulo e, portanto, a fecundação.

Ao invés do que diz o homem no vídeo analisado, o procedimento não é sinônimo de “retirada do útero”. A histerectomia é uma operação indicada em caso de doenças uterinas, como o câncer, em que é retirado o corpo e o colo do útero. O método contraceptivo da laqueadura, como explicado acima, é realizado apenas nas trompas do sistema reprodutor.

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece laqueadura para pessoas a partir dos 21 anos ou que tenham, no mínimo, dois filhos vivos. Em 2023, a legislação foi alterada para permitir que mulheres realizem o procedimento sem autorização prévia do cônjuge, já que o consentimento antes era obrigatório. Os pedidos são feitos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e encaminhados ao planejamento familiar.

O procedimento cirúrgico é caracterizado pelo ligamento ou corte das tubas uterinas, que ligam o ovário ao útero. Foto: Pixabay

Laqueadura não causa morte dos ovários

A médica Ilza Maria Urbano, vice-presidente da Comissão de Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), afirma que os ovários não morrem com a realização da laqueadura. Segundo ela, “não é verdade que após o procedimento ocorra a interrupção da circulação sanguínea para os ovários”. A especialista explica que a principal nutrição de sangue para os órgãos vem da artéria ovariana, que não está envolvida na técnica.

O conteúdo viral também foi analisado pelo ginecologista Fernando Sansone Rodrigues, membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp), que classificou como “inverídicas” as alegações sobre a morte dos ovários. “Mesmo que ocorra a interrupção de uma das artérias que também compartilhe a circulação com os ovários, existem outras suficientemente adequadas para mantê-los em boas condições e não haver necrose”, explicou.

Produção de hormônios não é interrompida com a cirurgia

Os especialistas apontam que também é falso que a produção de hormônios sexuais femininos, como a progesterona e o estrógeno, seja interrompida após o procedimento. “Quando você preserva o ovário, também é mantida a sua função. O órgão continua produzindo os hormônios e amadurecendo os folículos responsáveis pela ovulação”, diz Rodrigues. Estudos científicos apontam que a menstruação após a laqueadura continua similar ao período anterior ao procedimento.

A publicação feita pelo coach ainda mente ao citar que pessoas submetidas a laqueadura devem realizar reposição hormonal. Segundo Rodrigues, a terapia é indicada quando, por alguma circunstância, há a necessidade de retirada dos ovários ou tratamentos mais agressivos, como um indivíduo que passa por radioterapia abdominal ou quimioterapia.

A reposição de hormônios pode ser indicada para uma pessoa que apresentava falência dos ovários antes da laqueadura e não sabia. “Por exemplo, se uma mulher tomava pílulas e interrompe para a realização do procedimento. Aí descobre que a contracepção estava mascarando uma falência dos ovários já instalada. Nesse caso, apenas o médico pode indicar o tratamento”, explica Ilza.

A ginecologista ainda cita que, quando a laqueadura é realizada ao redor dos 40 anos, algumas pessoas podem apresentar alterações ovulatórias da própria idade, como ciclos irregulares da menstruação. Caso que, de acordo com a especialista, também ocorre com aquelas que não realizaram o procedimento, em um período chamado climatério – transição do período reprodutivo para o não reprodutivo. “É necessário uma boa orientação nesse momento, com a indicação de métodos contraceptivos tão eficazes quanto à laqueadura”, diz ela.

Segundo a médica Ilza Maria Urbano, estudos que compararam mulheres que fizeram laqueadura com as que não fizeram mostram que a idade da menopausa não foi diferente.  Foto: Pixabay

Envelhecimento e doenças causadas pela laqueadura

No vídeo ainda é dito que o procedimento de esterilização tem riscos e pode envelhecer a mulher, o que foi desmentido pelos especialistas. “O envelhecimento é um processo natural, que não é influenciado pela realização de laqueadura”, afirma a especialista Ilza Maria Urbano. O ginecologista Fernando Rodrigues explica que os perigos são restritos à cirurgia, como outros procedimentos. “Com um profissional habilitado é plenamente possível prever os riscos cirúrgicos e, a partir de protocolos, evitar que eles aconteçam”, pontua.

As doenças psicológicas citadas pelo coach no vídeo estão relacionadas àquelas pessoas que se arrependem da laqueadura e não por conta do procedimento. “É importante afirmar que a laqueadura deve ser considerada um método definitivo. Algumas mulheres não estão cientes disso e decidem pelo método sem ter certeza que ainda desejam filhos. Mais tarde se arrependem e sintomas emocionais podem aflorar”, diz Ilza. Neste caso, ansiedade e depressão são associadas ao arrependimento.

Segundo a especialista, em pacientes seguros com a escolha não é observado o aumento nas queixas de problemas psicológicos. “Vale lembrar que esses sintomas se acentuam com a idade e podem aparecer mesmo em pessoas que não fizeram laqueadura tubária”, pontua a médica. Ela cita que um estudo feito com mais de 5 mil mulheres mostrou que aquelas submetidas à laqueadura tem quase 50% de chance menor de ter sintomas depressivos após a menopausa.

Para evitar o arrependimento, é indicado que haja orientação e informação sobre métodos contraceptivos reversíveis, tão eficazes quanto a esterilização. “Se, após um aconselhamento completo, a pessoa ainda assim escolher a laqueadura, a chance de satisfação vai ser maior”, complementa a ginecologista.

A Febrasgo lançou em 2023 um material com orientações para gestantes e não-gestantes sobre a laqueadura tubária. O Ministério da Saúde afirma que os pedidos de laqueadura são acompanhados por diferentes profissionais de saúde, que apresentam as opções de métodos contraceptivos existentes e orientações sobre o procedimento.

Procurado, o autor do vídeo, Diogo Deja, afirmou que não é coach, apesar de se identificar dessa forma em seus perfis nas redes sociais TikTok e Kwai. “Sou formado em nutrição e sou educador físico há mais de 20 anos, trabalhando com saúde e emagrecimento”, afirmou.

Apesar de citar no vídeo morte e necrose de ovários, Deja disse que em nenhum momento falou que os procedimentos médicos causam morte de ovários. Ele repetiu que a laqueadura resulta em “corte de vasos sanguíneos e nervos que levam nutrientes para o funcionamento dos ovários”. “Isso é o que eu falo no meu canal e recebo de comentários das pessoas todos os dias. Existem outros profissionais de saúde e médicos que também falam as mesmas coisas”, declarou.

Como lidar com postagens do tipo: Antes de acreditar em publicações sobre saúde na internet, consulte as informações dos órgãos de saúde para checar se elas procedem. Neste caso, ainda é possível consultar no site do Conselho Federal de Medicina que o homem responsável pela postagem não está cadastrado como médico. Uma conversa com um profissional especialista também ajudaria a checar as alegações do vídeo.

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