Postagens falsas nas redes sociais mentem ao dizer que um sobrinho do deputado estadual Zeca do PT e filho do ex-prefeito de Porto Murtinho (MS) Heitor Miranda teria se infiltrado em atos terroristas em Brasília. O Estadão Verifica apurou que a informação não procede ao comparar o rosto do homem que aparece nas imagens e contatar um integrante da família, que negou o boato.
O vídeo em questão circula em aplicativos de mensagens, como WhatsApp e Telegram, e acumulou mais de 20 mil visualizações em apenas um post no Twitter. Na gravação, um homem de óculos escuros e chapéu caminha em meio a grupos bolsonaristas — que invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em protesto contra a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — e grita repetidamente a frase “Não para!”.
O Estadão não conseguiu identificar quem seria realmente o homem, mas é fato de que não se trata de um sobrinho de Zeca do PT e filho de Heitor Miranda. O ex-prefeito, falecido em novembro do ano passado, tem três filhos, sendo dois homens. Nenhum deles parece com o integrante do grupo radical em Brasília, segundo fotos encontradas em contas de familiares no Facebook.
Marcelo Heitor, o filho mais velho, negou a informação em contato com a reportagem. Ele disse que passava o dia na cidade de Bonito quando foi surpreendido pela história. À noite, gravou um vídeo para desmentir a suposta participação nos atos golpistas. “Condeno o que aconteceu em Brasília. Estou de um lado totalmente contrário, sou um democrata, acredito na justiça social e estou na trincheira do governo Lula”, declarou.
Desde ontem, influenciadores e aliados bolsonaristas, como o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), tentam emplacar a tese de que a invasão e a depredação de prédios públicos em Brasília teria sido obra de supostos “infiltrados” de esquerda. No entanto, dezenas de fotos e vídeos mostram o quebra-quebra de grupos radicais vestidos de verde e amarelo, e a ação foi organizada e posteriormente elogiada em grupos de Telegram bolsonaristas monitorados pelo Estadão.
A mesma ideia conspiratória dos “infiltrados” foi usada depois que apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) invadiram a sede da Polícia Federal e promoveram atos de vandalismo pelas ruas da capital federal, em 12 de dezembro. Na época, o relato foi desmentido pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, que confirmou a participação de pessoas acampadas em frente ao QG do Exército.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.