O que estão compartilhando: vídeo no qual homem diz que uma base militar para 360 mil soldados estaria sendo construída entre o Tocantins e o Maranhão. Ele afirma que a “Amazônia inteira foi vendida na época do Lula” para países como Irã, Espanha, França, Groenlândia, Suíça e Suécia e o efetivo militar seria usado para garantir a entrega das terras aos compradores estrangeiros.
O Estadão investigou e concluiu que: Não há qualquer registro de anúncio do Ministério da Defesa sobre uma nova base na região. A alegação de que a Amazônia teria sido vendida é antiga e foi desmentida pelo Verifica. As imagens do vídeo, na verdade, mostram o momento em que uma produtora rural recebe uma notificação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Desde o início de abril, o órgão tem apreendido gado criado em áreas embargadas por desmatamento ilegal.
Saiba mais: Uma busca no Google com as palavras-chave “base militar”, “Amazônia” e “construção” não retorna notícias sobre a suposta obra. Também não há qualquer anúncio recente com essas palavras no site do Ministério da Defesa. O Estadão Verifica entrou em contato com a pasta, mas não recebeu resposta.
Mesmo que houvesse uma base militar em construção na Amazônia é improvável que ela tivesse capacidade para comportar 360 mil soldados, porque tal efetivo extrapola a quantidade total de militares das Forças Armadas que atualmente estão em atividade no País. Segundo dados da Defesa, o Brasil conta com 356 mil militares na ativa (são 215 mil no Exército, 76 mil na Marinha e 65 mil na Aeronáutica).
Também não é verdade que a Amazônia foi vendida no passado por governos do Partido dos Trabalhadores (PT). Em setembro de 2020, viralizaram no Facebook postagens de que o então presidente Jair Bolsonaro teria descoberto a suposta venda, firmada durante o governo de Dilma Rousseff. Na realidade, as publicações na rede social faziam referência a um acordo – que nunca foi secreto – para aumentar a área florestal sob proteção no bioma brasileiro.
O vídeo alvo dessa checagem sofreu uma edição que distorceu o sentido original do conteúdo. As imagens mostram o momento em que uma produtora rural do estado do Pará recebe uma notificação do Ibama. No lugar do áudio, foi inserida a fala de um homem sobre a supostas venda da Amazônia e construção da base militar na divisa do Maranhão com o Tocantins. Ele também diz que forças de segurança estariam sendo mobilizadas para fechar as fazendas. Nada disso é verdade. Apesar de as imagens de uma pessoa recebendo uma notificação serem verdadeiras, o que torna o conteúdo falso é o áudio que foi inserido posteriormente.
Operação Retomada
O que, de fato, está acontecendo na região da Amazônia é a Operação Retomada, uma investida do Ibama, em curso desde o início deste mês, para impedir atividade produtora em áreas que sofreram desmatamento ilegal. De acordo com a nota publicada pelo órgão ambiental, até o dia 13 de abril, 27 pessoas haviam sido notificadas a retirar o gado dessas localidades, num prazo de cinco dias.
O vídeo alvo desta checagem mostra o momento em que uma dessas pessoas recebe a notificação. Ela filma um helicóptero levantando voo de uma fazenda, em seguida, entra dentro de uma casa e coloca o papel de notificação em cima de uma mesa. A gravação foi enviada ao Ibama, que confirmou a origem do vídeo. “O voo ocorreu na região de Uruará, no Pará, durante Operação Retomada, no início do mês de abril”, explicou o órgão ao Verifica.
A Mídia Ninja postou o vídeo original (sem a inserção do áudio do homem sobre a suposta base militar e a venda da Amazônia). No momento em que o documento do Ibama é filmado é possível ler que a notificação ocorreu no dia 4 de abril, em Pacajá, município diferente do informado pelo Ibama. 405 quilômetros separam Uruará e Pacajá. A imagem abaixo estima qual teria sido o local da notificação segundo as coordenadas geográficas da fazenda que constam no documento filmado pela pessoa que recebeu a notificação.
A operação do Ibama nas terras embargadas sofreu outras distorções nas redes sociais. Uma checagem da Agência Lupa mostrou que Lula não confiscou 2,4 mil cabeças de gado na Amazônia.
Como lidar com postagens do tipo: Uma das evidências de que as alegações são falsas é a ausência de notícias sobre o tema. Veículos de imprensa cobrem questões envolvendo a Amazônia e não há qualquer matéria sobre a suposta venda da região para países estrangeiros. Outra dica é procurar informações dos site dos órgãos públicos: o Ibama divulgou nota explicando o propósito das operações em curso.