O que estão compartilhando: que o Rio Grande do Sul está sofrendo com falta de vacinas e insulina.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: não há desabastecimento, segundo os governos federal e estadual e a prefeitura de Porto Alegre. Uma organização da sociedade civil que atua no atendimento aos atingidos pela tragédia confirmou ter vacinas para aplicação.
O Ministério da Saúde confirmou a reposição de diversos insumos e medicamentos de rotina, incluindo diferentes vacinas e insulina, no Rio Grande do Sul. A pasta enviou ao Estado mais de 300 mil doses de vacinas, 73 mil frascos de insulina, 617 mil canetas e 2,8 milhões de agulhas de aplicação.
A Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul afirmou não haver desabastecimento, mas ressaltou a possibilidade de faltas pontuais causadas pelo estado de calamidade de determinadas regiões. As vacinas e a insulina estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) do Estado.
Saiba mais: Diferentes postagens nas redes sociais afirmam que há falta de insulina e vacinas no Rio Grande do Sul, Estado assolado por um desastre climático e ambiental. Uma das publicações foi feita pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e já alcançou mais de 561,2 mil visualizações no X. Ele foi procurado pelo Estadão Verifica, mas não respondeu.
No conteúdo viral, Nikolas afirma ter conversado com governos estaduais, que teriam dito que somente o Ministério da Saúde poderia liberar medicamentos em falta no Rio Grande do Sul. Ele não especifica quais governos foram consultados. O parlamentar afirma que os gaúchos sofrem com falta de vacinas, como antitetânica e antirrábica, e insulina no SUS.
Como suposta prova do desabastecimento de insulina, Nikolas citou uma reportagem publicada pela revista Veja, em 8 de maio deste ano, com o título “Saúde não compra insulina e provoca falta do remédio no SUS”. Ocorre que a notícia não menciona a catástrofe climática no Rio Grande do Sul e não fala em desabastecimento de insulina no Estado.
Na realidade, a reportagem explica sobre um tipo específico de produto: as insulinas análogas de ação prolongada. Elas se assemelham às insulinas humanas indicadas para o tratamento da diabetes Mellitus tipo 1 e foram incorporadas pelo SUS em 2019, mas não estão disponíveis nos postos e unidades de saúde. A notícia detalha uma campanha que solicita a compra e a disponibilização deste tratamento em particular, sem relação com as enchentes no Rio Grande do Sul.
Cabe ressaltar que a reivindicação para compra dessas insulinas não é de agora. Em 2022, entidades que representam pacientes com diabetes participaram de um debate na Câmara dos Deputados para defender as insulinas análogas de ação prolongada.
O Verifica entrou em contato com o deputado federal e questionou quais governos estaduais foram consultados para alegar a falta de insumos na região Sul do País, mas ele não respondeu.
Governo federal afirma que repôs vacinas perdidas; secretarias e organização da sociedade civil dizem que não há desabastecimento
O Ministério da Saúde informou ter enviado no dia 5 de maio ao Rio Grande do Sul 200 mil doses das vacinas contra tétano, difteria, hepatites A e B, coqueluche, meningite, rotavírus, sarampo, caxumba, rubéola, raiva e picadas de animais, por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI). Nesta segunda-feira, 13, a região Sul do País recebeu mais 560 mil doses emergenciais de imunizantes, além de 926 mil vacinas que já estavam previstas, segundo o ministério.
O diretor do PNI, Eder Gatti, afirmou que o governo federal está enviando recursos para repor estoques perdidos pelas enchentes. Além dos imunizantes, há ainda a disponibilização da rede de frio para armazenamento dos produtos. “Esta semana, estamos enviando por via terrestre mais 200 caixas térmicas de alta qualidade, além de 4,8 mil bobinas de resfriamento”, afirmou Gatti.
A Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul confirmou que não há desabastecimento de vacinas no Estado. O órgão explicou que o que pode ocorrer são faltas pontuais pela situação de catástrofes de determinadas regiões.
“A Secretaria Estadual da Saúde informa que não existe desabastecimento de imunizante ou insulinas. O que pode ocorrer são faltas pontuais causadas pelo estado de calamidade em que se encontram algumas localidade. Mas mesmo assim os insumos têm sido enviados com apoio aéreo e terrestre”, informou.
A Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, capital gaúcha, ressaltou que as vacinas antirrábica e antitetânica estão disponíveis no município. Os imunizantes foram citados por Nikolas Ferreira como escassos no Estado.
A organização da sociedade civil SOS RS, que conta com mais de 2.100 voluntários, informou que, em Porto Alegre, as pessoas que estão nos abrigos serão vacinadas contra influenza até sexta-feira, dia 17 de maio. A iniciativa informou que as vacinas antirrábica e antitetânica também estão sendo aplicadas para os casos indicados.
Insulina tem abastecimento garantido, dizem governos e organização da sociedade civil
A pasta chefiada pela ministra Nísia Trindade afirmou ter enviado, somente na semana passada, cerca de 30 mil frascos de insulina, 287 mil canetas e 1,8 milhão de agulhas de aplicação. Nesta segunda-feira, 13, Porto Alegre recebeu mais 43 mil frascos, 330 mil canetas e 1 milhão de agulhas.
Como efeito comparativo, é possível observar que, em maio de 2023, foram adquiridos 26,4 mil frascos de insulina pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, além dos 5 mil que vieram do Amazonas após remanejamento feito pelo Ministério da Saúde. À época, foi estimado que esse estoque poderia atender pacientes por cerca de 45 dias.
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A Secretaria Estadual de Saúde negou o desabastecimento de insulinas no Rio Grande do Sul. Da mesma forma que os imunizantes, o órgão ressaltou a possibilidade de faltas pontuais causadas pela tragédia ambiental. Os insumos têm sido enviados com apoio aéreo e terrestre.
À reportagem, a organização SOS RS afirmou que, em Porto Alegre, a insulina está chegando aos abrigos por meio do trabalho das equipes. De acordo com a iniciativa civil, o abastecimento está garantido.
Houve ainda uma grande mobilização por parte de instituições especializadas para arrecadação de insumos para tratamento do diabetes. As doações foram centralizadas no Instituto da Criança com Diabetes do Rio Grande do Sul (ICD-RS).
O ICD informou que a distribuição de insulina pode estar prejudicada em razão do desastre ambiental que assola a região. “Pelo que temos visto o Ministério da Saúde publicou que não há desabastecimento de insulinas no Rio Grande do Sul, o que pode acontecer é a distribuição para o interior estar prejudicada pela situação das enchentes no RS”, comunicou o instituto.
De acordo com posicionamento do ICD, há um grande abastecimento de insulinas após as arrecadações destinadas à organização. O instituto afirmou estar focando na distribuição dos insumos às localidades afetadas, além de prestar assistência às pessoas com diabetes.
“Estamos usando redes de apoio e fazendo chegar aos abrigos, às cidades e aos pacientes que necessitam, através de helicópteros, barcos, caminhões e automóveis, e atendendo na sede do ICD àqueles que nos procuram”, afirmou o ICD.
De acordo com um informe técnico publicado pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS) do Rio Grande do Sul, indivíduos com doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes e hipertensão, que tenham necessidade de medicamentos contínuos devem informar suas condições de saúde ao gerente do abrigo ou profissional da saúde do local. De acordo com a nota, a comunicação é necessária para que se consiga providenciar os encaminhamentos necessários.
Quais são as medidas da área de saúde no RS
Nesta segunda, 13, o Ministério da Saúde disse que enviou um total de 25 toneladas de medicamentos e insumos para o Rio Grande do Sul. A pasta explicou que 100 kits de medicamentos e insumos chegaram na região.
O kit emergencial, como é conhecido, é composto por oito caixas, que incluem remédios, luvas, seringas, ataduras, dentre outros itens. Somadas, as caixas pesam 250 kg. Segundo o ministério, esse volume não considera repasses de medicamentos, vacinas e outros insumos que estão sendo enviados com intuito de repor o estoque perdido e os que já estavam previstos. Como comparação, a pasta afirmou que 106 kits para emergência foram distribuídos no Brasil durante todo o ano de 2023.
O ministério ressalta que, caso pacientes não encontrem os produtos nas unidades de saúde que estão habituados, é necessário procurar autoridades locais para receberem informação sobre onde os medicamentos e insumos estão sendo disponibilizados. A pasta abriga um espaço específico no site para detalhar as ações do ministério com foco no Rio Grande do Sul.
Como lidar com postagens do tipo: por se tratar de um assunto em evidência, o desastre ambiental no Rio Grande do Sul vem sendo alvo de desinformação nas redes sociais. A imprensa local e nacional está noticiando diariamente os desdobramentos da tragédia climática. Por isso, antes de compartilhar um conteúdo duvidoso, procure a informação em fontes confiáveis e seguras. Se receber algum conteúdo suspeito sobre a situação no Estado, envie para o WhatsApp do Estadão Verifica pelo número (11) 97683-7490.