Uma postagem viral no Facebook engana ao comparar imagens de rodovias diferentes, com o objetivo de atribuir a conclusão de obras de infraestrutura ao governo federal. A figura mostra uma foto de veículos em uma via enlameada, seguida de outra que retrata um trecho asfaltado. Há também duas imagens do ministro da Infraestrutura, Tarcisio de Freitas, acompanhadas das mensagens "como a gente recebe" e "como a gente entrega".
As fotos, entretanto, representam rodovias distintas e o trecho asfaltado não é resultado de uma obra do ministério. A imagem da rodovia enlameada mostra um trecho da BR-158 no Vale do Araguaia, no Mato Grosso, após fortes chuvas que atingiram a região no início do ano. Apuração da Agência Lupa indica que o material é de autoria do site Agência da Notícia e foi publicado em 2020.
O traçado dessa rodovia ainda é provisório. O governo federal planeja executar obras para que o percurso da BR-158, que atualmente corta as terras indígenas Marãiwatsédé, passe a contornar o território protegido. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) fez, recentemente, obras emergenciais para evitar atoleiros na região. Em março, durante reunião com prefeitos e deputados mato-grossenses, o ministro Tarcísio de Freitas indicou que as obras do empreendimento definitivo deve ser iniciadas somente em 2022.
A imagem da via asfaltada, por sua vez, representa um trecho da rodovia PI-301, no Piauí, que liga as cidades de Cocal e Barra Grande. A figura aparece destacada em notícia de junho de 2018, publicada em um site antigo do governo estadual. O artigo informa que 88% do projeto já havia sido concluído na época. Por WhatsApp, uma representante da Coordenadoria de Comunicação Social piauiense confirmou ao Estadão que a imagem retrata a rodovia PI-301 e foi registrada naquele ano.
Segundo o Instituto de Desenvolvimento do Piauí (Idepi), órgão responsável pelo empreendimento, o governo estadual liberou trechos da PI-301 em 2018, mas as obras foram concluídas em junho de 2019. A rodovia integra uma rota estadual que liga uma parte da BR-343, próxima à cidade de Piracuruca, ao município de Barra Grande, junto com a PI-309. O último trecho foi inaugurado em janeiro de 2020.
Além de ter sido liberado antes do mandato de Jair Bolsonaro, o trecho da PI-301 representado no meme enganoso não foi financiad0 pelo Ministério da Infraestrutura. A assessoria do Idepi informou que as obras da rodovia custaram R$ 29 milhões em recursos do Tesouro estadual, com apoio de um financiamento do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O Estadão Verifica já desmentiu uma série de conteúdos com falsas atribuições de obras de rodovias à gestão de Bolsonaro. Uma montagem sobre a BR-163, verificada em julho do ano passado, utilizava fotos que não correspondiam à rodovia federal. Também verificamos vídeos que distorciam informações sobre o asfaltamento da Transamazônica para exaltar o presidente. Por outro lado, uma checagem do projeto Comprova confirmou que um trecho da BR-163 entre Novo Progresso e Moraes de Almeida, no Pará, foi de fato asfaltado durante o governo atual.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.