Uma montagem falsa imita a identidade visual do portal de notícias G1 para afirmar que banqueiros teriam apoiado a candidatura do ex-presidente Lula (PT) em troca de revogação do Pix, sistema de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central. O site de jornalismo profissional divulgou uma matéria em que nega ter publicado reportagem com essa afirmação. Já Lula disse ser uma invenção que ele pretenda descontinuar o Pix.
O conteúdo foi propagado em um vídeo compartilhado nas redes sociais de Netinho, cantor e pré-candidato a deputado federal na Bahia. Enquanto mostra a montagem no plano de fundo, ele faz uma alegação imprecisa de que o Pix foi criado pelo governo Bolsonaro. A plataforma de fato foi lançada durante a atual gestão, em novembro de 2020, mas o desenvolvimento começou no mandato de Michel Temer (MDB). A primeira reunião do grupo de trabalho do Banco Central sobre o projeto ocorreu em maio de 2018.
Além de o próprio G1 desmentir o boato, há outros sinais que permitem identificar que o conteúdo que imita o site noticioso é fraudulento. As fontes e espaçamento empregados na montagem são diferentes do padrão observado nas matérias do portal e o título fabricado ainda contém erros gramaticais, uma característica muito comum de boatos na internet.
A estratégia de fazer alusão a veículos de imprensa é recorrente e tem objetivo de atribuir, de forma enganosa, a credibilidade do site de notícias ao conteúdo falso. A identidade visual do Estadão, por exemplo, já foi usada por produtores de desinformação para simular notícias sobre falsas candidaturas e acidentes com figuras públicas.
O vídeo com a montagem falsa chegou a mais de 10 mil visualizações no TikTok, mas foi removido da plataforma. O material também foi divulgado no Facebook, Instagram e Telegram. O Estadão Verifica procurou a assessoria de Netinho, mas ele preferiu não se manifestar.
Contexto político
Boatos de que Lula planeja extinguir o Pix ganharam força após a notícia de que a Febraban, entidade que representa instituições financeiras, decidiu assinar um manifesto em defesa da democracia que está sendo elaborado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados citaram o episódio como uma represália à criação da plataforma de pagamentos, que não cobra taxas do usuário e impactou a arrecadação de bancos com transferências financeiras.
Apoiadores de Bolsonaro repercutiram nas redes que, caso eleito, Lula poderia cancelar o Pix, mas especialistas esclareceram ao Estadão Verifica que a autonomia do Banco Central impediria que o próximo presidente determine a desativação do sistema de pagamentos sozinho, embora o Poder Executivo ainda pudesse exercer uma influência política sobre o tema. No Twitter, Lula">" target="_blank" rel="noopener">classificou
O Estadão Verifica também já desmentiu conteúdos que exageram o impacto do Pix sobre o balanço financeiro dos bancos tradicionais. Um deles citava a cifra exorbitante de R$ 400 bilhões. Uma matéria do Estadão indica que, em 2021, a perda de receita com tarifas bancárias devido à concorrência do Pix foi estimada em R$ 1,5 bilhão, a partir de dados financeiros do Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil e Santander.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.