Não é verdade que o homem que sentou na cadeira do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes durante os atos golpistas de 8 de janeiro tenha sido preso com a mulher em uma agência da Caixa. A alegação circula junto a um vídeo viral na internet que mostra, na realidade, a prisão de duas pessoas suspeitas de tentarem aplicar um golpe em Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Segundo a polícia, uma mulher tentou sacar R$ 40 mil do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em nome de outra pessoa, com documentos falsos. O homem que a estava acompanhando também foi detido pela Polícia Federal. O caso ocorreu em 6 de janeiro, dois dias antes dos ataques às sedes dos Três Poderes. Os suspeitos não tiveram seus nomes divulgados.
O extremista que se sentou na cadeira de Moraes, por sua vez, foi identificado pela TV Globo como sendo Fábio Alexandre de Oliveira. Ele atua como mecânico em Penápolis, em São Paulo. Durante o ato golpista de 8 de janeiro, ele é filmado na cadeira pelo amigo e servidor público municipal Erlon Paliotta Ferrite. “O povo é quem manda nessa p****”, gritava Oliveira, enquanto dava socos no assento. O Estadão não encontrou registros de que ele tenha sido preso até o momento.
Como encontramos o vídeo
O Estadão Verifica descobriu o real contexto a partir de dicas de usuários do TikTok em um post de uma conta que depois foi usado para espalhar o vídeo na internet com a falsa legenda. O blog pesquisou o @ do usuário que aparece na peça de desinformação e chegou ao material, que foi compartilhado sem legenda e teve mais de 39 mil curtidas na plataforma.
Até então, o vídeo mostrava apenas um homem e uma mulher sendo levados de uma agência da Caixa Econômica Federal por dois policiais militares e outros dois agentes que não puderam ser identificados. As pessoas questionam o responsável pela conta sobre o que estava acontecendo, enquanto outras relatam que o episódio provavelmente se referia a uma suposta tentativa de golpe envolvendo saques ao FGTS..
A partir dessa dica, a reportagem procurou mais informações no Google, por meio da sequência de palavras-chave “casal preso agência caixa fgts”, e chegou ao conteúdo original. O mesmo vídeo aparece em uma reportagem de um canal de notícias policiais no YouTube, explicando que se trata da prisão de duas pessoas em Mossoró, no Rio Grande do Norte, em 6 de janeiro deste ano.
O site G1 e o jornal Tribuna do Norte também noticiaram o caso. Segundo essas notícias, o casal foi preso em flagrante após uma tentativa frustrada de sacar R$ 40 mil do FGTS. Os funcionários do banco suspeitaram que os documentos apresentados pela mulher eram de terceiros. Ela e o homem que a acompanhava foram detidos pela Polícia Federal, com apoio do 2º Batalhão de Polícia Militar, na tarde do dia 6 de janeiro.
Os nomes dos envolvidos não foram divulgados. Porém, não há qualquer indício de que o episódio tenha alguma relação com o ataque a Brasília. O ato golpista ocorreu apenas dois dias depois, em 8 de janeiro.
Extremista é morador de São Paulo
O manifestante golpista que sentou na cadeira do ministro Alexandre de Moraes foi identificado pela TV Globo como sendo Fábio Alexandre de Oliveira, um mecânico de Penápolis, cidade do interior de São Paulo. O município fica a 2.634 quilômetros de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Ele foi gravado na cadeira enquanto dava socos no assento e gritava ofensas. O responsável pela filmagem é o amigo e servidor público municipal Erlon Ferrite, chefe do Serviço de Transporte de Ambulância de Penápolis. O Estadão não encontrou registros de quem algum deles tenha sido preso até o momento.
Os nomes de Oliveira e Ferrite não constam na lista de 1.395 pessoas detidas entre os dias 8 e 11 de janeiro, divulgada pela Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape/DF). O órgão estadual deu publicidade aos nomes a pedido da Vara de Execuções Penais do DF. Procurada pelo blog, a pasta informou que “não há preso no sistema penitenciário do DF” com o nome de Oliveira.
Eles também não aparecem na relação de 1.397 pessoas que tiveram audiência de custódia com o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJ-DFT) e o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). O documento foi disponibilizado pela Corregedoria Nacional de Justiça, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
A Polícia Federal deflagrou a Operação Lesa Pátria para cumprir, até 7 de fevereiro, 37 mandados de busca e apreensão e efetuar 20 prisões preventivas ou temporárias. Em tese, é possível que Fábio Alexandre de Oliveira esteja entre os alvos, mas o seu nome não é citado em nenhuma notícia sobre as ações.
O Estadão questionou a PF se Oliveira faz parte dos detidos. A instituição respondeu que “não divulga/comenta nomes de pessoas investigadas”.
Campanha de desinformação
A tese de que havia infiltrados no local dos ataques, difundida por bolsonaristas desde as primeiras horas após a destruição nas sedes dos Três Poderes, é facilmente desmentida a partir das próprias imagens feitas pelos golpistas que participaram das ações. O Estadão mostrou como os ataques foram premeditados, o que fica evidente pela quantidade de mensagens públicas convocando para a invasão do dia 8. Os golpistas criaram até um código para o ataque em Brasília, batizado de “Festa da Selma”. Também reproduziram frases literais de Bolsonaro.
O Estadão Verifica já mostrou que o horário das imagens feitas por câmeras de segurança não prova a tese dos infiltrados. Também mostramos que um homem filmado segurando uma bandeira do PT em meio ao vandalismo na verdade furtou o objetivo de uma sala do partido no Congresso Nacional.