Não, arroz importado pelo governo federal não contém lombriga geneticamente modificada


Parasita se prolifera em frutas e vegetais frescos, e não aparece em cereais; alimento passa por fiscalização

Por Clarissa Pacheco

O que estão compartilhando: que dentro de cada grão de arroz importado pelo governo brasileiro existe “a maior lombriga já vista, geneticamente modificada para crescer exponencialmente dentro dos corpos humanos”.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A lombriga, nome popular do parasita Ascaris lumbricoides, não é uma das pragas que atacam o arroz. Seus ovos não são encontrados em cereais, e sim em frutas e legumes frescos. Há maiores chances de contaminação se esses alimentos são consumidos crus e com casca, o que não é o caso do arroz – um cereal consumido cozido. Outras versões do mesmo conteúdo alegam que o alerta sobre a lombriga teria sido feito pelo ator Will Smith, o que também é falso.

Áudio viral inventa que arroz a ser importado pelo governo federal tem lombriga. Foto: Reprodução/TikTok Foto: Reprodução/TikTok
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Saiba mais: O conteúdo usa uma foto da embalagem que será utilizada no arroz a ser importado pelo governo brasileiro por conta da enchente no Rio Grande do Sul e insere um áudio com a teoria conspiratória de que o alimento abriga um verme capaz de crescer dentro do corpo humano.

Conteúdos como este têm se multiplicado nos últimos dias, desde que o governo federal anunciou, em 10 de maio, uma medida provisória autorizando a importação de 1 milhão de toneladas de arroz ao longo de 2024, em decorrência dos eventos climáticos extremos no Rio Grande do Sul.

A compra, a ser feita Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é apontada pelo governo como uma forma de garantir o suprimento de arroz no mercado doméstico e evitar alta no preço, já que o Rio Grande do Sul, Estado vítima de fortes chuvas e enchentes desde o final de abril, é responsável por 70% do arroz consumido no País. Por outro lado, produtores de arroz negam haver necessidade de importação e tratam a medida do governo como precipitada (leia mais abaixo).

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Nas redes, diversas postagens estimulam um boicote ao “arroz do governo” e utilizam o áudio falso sobre a lombriga geneticamente modificada para convencer a população. Também espalham a alegação falsa de que o Brasil vai importar arroz “de plástico” da China.

Leitores do Verifica pediram a checagem deste conteúdo pelo WhatsApp, no número (11) 97683-7490.

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Lombriga se prolifera em frutas e vegetais, não em arroz

A alegação de que cada grão de arroz importado pelo Brasil terá uma “lombriga geneticamente modificada” não tem qualquer base factual. O conteúdo é inventado com o intuito de assustar as pessoas e desestimular o consumo do produto a ser importado pela Conab. O arroz sequer é citado em publicações científicas como um alimento onde o parasita Ascaris lumbricoides se prolifera.

Na realidade, a transmissão da doença chamada ascaridíase se dá pelo contato com fezes humanas contaminadas ou pelo contato com alimentos contaminados por ovos e fezes no solo, além de poeira e insetos e até água contaminada. Os alimentos mais comumente contaminados são vegetais e frutas frescas, principalmente aqueles consumidos com casca e crus. Uma das formas de evitar a contaminação é lavar bem esses alimentos antes de comê-los, descascá-los ou fervê-los, se for o caso.

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O Ascaris lumbricoides não é uma das pragas que afetam o arroz. Segundo a Embrapa Arroz e Feijão, o arroz do Brasil é atingido pelos seguintes insetos-praga: broca-do-colo, também conhecida como lagarta-elasmo; cupim; percevejo-castanho; cigarrinha-das-pastagens; cochonilha-das-raízes; cascudo-preto; lagarta desfolhadora; broca-do-colmo; percevejo-do-colmo; e percevejo-do-grão.

O arroz importado, assim como outros alimentos, estão sujeitos à aprovação do serviço de Sanidade Vegetal do Ministério da Agricultura e Pecuária. Atualmente, o Brasil autoriza a importação de arroz dos Estados Unidos, Argentina, Dinamarca, Guiana, Itália, Paraguai, Uruguai, Vietnã e Índia. Todos os produtos precisam cumprir requisitos fitossanitários e precisam passar por inspeção desde o local de ingresso da carga.

O Brasil pode, mesmo, ficar sem arroz?

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Desde o início das chuvas no Rio Grande do Sul, que produz a maior parte do arroz consumido no Brasil, passaram a circular nas redes sociais publicações em tom alarmista afirmando que o Brasil corria o risco de ficar desabastecido do alimento. Por isso, consumidores correram aos supermercados, que acabaram limitando a compra do produto por consumidor para evitar um efeito manada.

Tanta disputa em torno do arroz tem explicação: o alimento é um dos principais itens da cesta básica e é considerado um alimento essencial na dieta do brasileiro. No Brasil, são consumidos cerca de 10,5 milhões de toneladas de arroz todos os anos. Mas, não é insubstituível.

“Em termos econômicos, o produto pode ser considerado como um bem de baixa elasticidade e sujeito ao ‘efeito substituição’“, explicou Felipe Queiroz, economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (Apas). “Ou seja, o consumo médio de arroz tende a se manter relativamente estável ao longo do tempo. No entanto, é certo que ele pode ser, em certa medida, substituído por outros bens, conforme a mudança na renda média familiar, os hábitos de consumo e a inflação”.

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Brasileiros consomem, em média, 10,5 milhões de toneladas de arroz por ano. FOTO: ALEX SILVA/ESTADÃO  Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Entre especialistas ouvidos pelo Estadão Verifica, há um consenso: existe um risco de que o preço aumente, inclusive por conta da especulação em torno do assunto, mas o desabastecimento é algo menos provável. Ele pode ocorrer não por uma eventual estocagem da produção pelos fornecedores, mas pelo temor da população de que o produto realmente falte.

“O desabastecimento tende a ocorrer muito mais pelo pânico das pessoas do que pelo caso de fornecedores estarem estocando“, observou o economista Luciano Nakabashi, professor do Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP). “Acho que o maior risco é esse, da corrida aos supermercados, e acho que isso é uma coisa que precisa de fato estar atento”.

Queiroz é enfático ao dizer que o Brasil não corre risco de desabastecimento de arroz, e que o cenário é diferente do que aquele que faz as pessoas tentarem comprar produtos em excesso. “Tanto os distribuidores quanto os supermercados têm oferta de produto. Porém, inegavelmente, as cheias no Estado gaúcho e o comprometimento da infraestrutura de alguns municípios e a corrida aos supermercados produziram uma quebra na cadeia de suprimento do produto no curto prazo”, explicou.

Para Nakabashi, a decisão do governo federal de importar arroz neste momento é importante, inclusive para deixar a população mais calma em relação à disponibilidade do produto. “Se as pessoas correrem para estocar, aí sim pode faltar. A medida do governo é importante porque já fica em vista que, se der algum problema, mesmo que seja um risco baixo, vai ter importação e não ter uma falta do produto”, explicou

Queiroz, da Apas, considera que a medida do governo federal teve duplo objetivo. “Por um lado, transmitir a mensagem de que não há e não haverá a falta do produto no País e reforçar as ações de combate ao alarmismo e à especulação de preço do produto no mercado doméstico”, disse. “Por outro lado, garantir o suprimento com preço acessível, especialmente, às famílias de menor renda”.

Medida visa recompor estoques, diz governo

Quando publicou, em 10 de maio, a medida provisória que autoriza a importação de arroz, em caráter excepcional, por meio de leilões públicos, o governo federal informou que o objetivo era “recompor os estoques públicos para o enfrentamento das consequências sociais e econômicas decorrentes dos eventos climáticos extremos ocorridos no Rio Grande do Sul”.

Segundo o governo, os estoques públicos serão destinados, preferencialmente, à venda para pequenos varejistas das regiões metropolitanas. Nas redes sociais, o presidente da Conab, Edegar Pretto, disse que a medida garantiria que não faltasse arroz no País e, também, que o preço não subisse “em função da especulação de alguém que queira se aproveitar da situação que vive o Rio Grande do Sul”.

Ele tratou como desinformação as alegações nas redes sociais de que o País estava à beira do desabastecimento, levando as pessoas a correrem aos supermercado para estocar o alimento. Segundo Pretto, as importações serão feitas de forma gradativa para não gerar competição com o mercado local e para proteger os pequenos agricultores.

Ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, participou de debate sobre importação de arroz na Câmara dos Deputados em 22 de maio de 2024. Foto: Renato Araujo/Câmara dos Deputados Foto: Renato Araujo/Câmara dos Deputados

Na última quarta-feira, 22, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, participou de um debate sobre o assunto na Câmara dos Deputados e disse que, apesar da suspensão do leilão, ocorrida na véspera por causa da alta no preço, o governo irá manter a compra. Segundo ele, a medida visa facilitar a importação do produto, já que a enchente afetou lavouras, estoques e a logística de distribuição.

Fávaro acrescentou que a decisão de zerar o imposto para a importação, em caráter extraordinário, foi acordada com produtores brasileiros, e que o governo tem dinheiro para comprar 1 milhão de toneladas, mas não pretende usar todo o recurso. O volume importado vai depender de uma avaliação das perdas do Rio Grande do Sul.

“É triste, mas tem gente querendo ganhar dinheiro nas costas dessa tragédia”, criticou o ministro, afirmando que alguns fornecedores elevaram os preços em até 30% após o governo anunciar a compra de 100 mil toneladas para estoque.

Produtores garantem ter produto para abastecer o mercado interno

Em nota oficial publicada em seu site no dia 10 de maio, quando a medida provisória do governo federal foi anunciada, a Federação das Associações de Produtores de Arroz do Rio Grande do Sul (Federarroz) disse que, apesar das enchentes no Rio Grande do Sul, “inexiste risco de desabastecimento de arroz ao mercado consumidor”.

Para a Federação, a apreensão em relação às condições de abastecimento de arroz no Brasil é natural diante da enchente no Rio Grande do Sul. “Todavia, conforme dados oficiais, tem-se que 84% da área cultivada no Estado foi colhida antes do início das chuvas, de modo que a projeção da safra 2023/2024 atinge aproximadamente 7.150 mil toneladas, o que representa uma redução de cerca 1,24% em relação ao volume produzido na safra anterior”, diz a nota.

No que diz respeito aos prejuízos dos produtores afetados pela enchente, a Abiarroz diz que “a possível diminuição da disponibilidade de arroz será, inevitavelmente, compensada pelo incremento da importação e perda de competitividade do arroz brasileiro no Mercado externo”.

Em relação à chegada do produto às mãos do consumidor, a Federarroz acredita que as dificuldades de escoamento da produção por conta do estado das rodovias serão brevemente superadas. A Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) foi procurada, mas não respondeu até a publicação desta checagem. Uma publicação nas redes sociais da entidade aponta que, por causa das chuvas, as perdas no Rio Grande do Sul devem chegar a 8%.

O que estão compartilhando: que dentro de cada grão de arroz importado pelo governo brasileiro existe “a maior lombriga já vista, geneticamente modificada para crescer exponencialmente dentro dos corpos humanos”.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A lombriga, nome popular do parasita Ascaris lumbricoides, não é uma das pragas que atacam o arroz. Seus ovos não são encontrados em cereais, e sim em frutas e legumes frescos. Há maiores chances de contaminação se esses alimentos são consumidos crus e com casca, o que não é o caso do arroz – um cereal consumido cozido. Outras versões do mesmo conteúdo alegam que o alerta sobre a lombriga teria sido feito pelo ator Will Smith, o que também é falso.

Áudio viral inventa que arroz a ser importado pelo governo federal tem lombriga. Foto: Reprodução/TikTok Foto: Reprodução/TikTok

Saiba mais: O conteúdo usa uma foto da embalagem que será utilizada no arroz a ser importado pelo governo brasileiro por conta da enchente no Rio Grande do Sul e insere um áudio com a teoria conspiratória de que o alimento abriga um verme capaz de crescer dentro do corpo humano.

Conteúdos como este têm se multiplicado nos últimos dias, desde que o governo federal anunciou, em 10 de maio, uma medida provisória autorizando a importação de 1 milhão de toneladas de arroz ao longo de 2024, em decorrência dos eventos climáticos extremos no Rio Grande do Sul.

A compra, a ser feita Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é apontada pelo governo como uma forma de garantir o suprimento de arroz no mercado doméstico e evitar alta no preço, já que o Rio Grande do Sul, Estado vítima de fortes chuvas e enchentes desde o final de abril, é responsável por 70% do arroz consumido no País. Por outro lado, produtores de arroz negam haver necessidade de importação e tratam a medida do governo como precipitada (leia mais abaixo).

Nas redes, diversas postagens estimulam um boicote ao “arroz do governo” e utilizam o áudio falso sobre a lombriga geneticamente modificada para convencer a população. Também espalham a alegação falsa de que o Brasil vai importar arroz “de plástico” da China.

Leitores do Verifica pediram a checagem deste conteúdo pelo WhatsApp, no número (11) 97683-7490.

Lombriga se prolifera em frutas e vegetais, não em arroz

A alegação de que cada grão de arroz importado pelo Brasil terá uma “lombriga geneticamente modificada” não tem qualquer base factual. O conteúdo é inventado com o intuito de assustar as pessoas e desestimular o consumo do produto a ser importado pela Conab. O arroz sequer é citado em publicações científicas como um alimento onde o parasita Ascaris lumbricoides se prolifera.

Na realidade, a transmissão da doença chamada ascaridíase se dá pelo contato com fezes humanas contaminadas ou pelo contato com alimentos contaminados por ovos e fezes no solo, além de poeira e insetos e até água contaminada. Os alimentos mais comumente contaminados são vegetais e frutas frescas, principalmente aqueles consumidos com casca e crus. Uma das formas de evitar a contaminação é lavar bem esses alimentos antes de comê-los, descascá-los ou fervê-los, se for o caso.

O Ascaris lumbricoides não é uma das pragas que afetam o arroz. Segundo a Embrapa Arroz e Feijão, o arroz do Brasil é atingido pelos seguintes insetos-praga: broca-do-colo, também conhecida como lagarta-elasmo; cupim; percevejo-castanho; cigarrinha-das-pastagens; cochonilha-das-raízes; cascudo-preto; lagarta desfolhadora; broca-do-colmo; percevejo-do-colmo; e percevejo-do-grão.

O arroz importado, assim como outros alimentos, estão sujeitos à aprovação do serviço de Sanidade Vegetal do Ministério da Agricultura e Pecuária. Atualmente, o Brasil autoriza a importação de arroz dos Estados Unidos, Argentina, Dinamarca, Guiana, Itália, Paraguai, Uruguai, Vietnã e Índia. Todos os produtos precisam cumprir requisitos fitossanitários e precisam passar por inspeção desde o local de ingresso da carga.

O Brasil pode, mesmo, ficar sem arroz?

Desde o início das chuvas no Rio Grande do Sul, que produz a maior parte do arroz consumido no Brasil, passaram a circular nas redes sociais publicações em tom alarmista afirmando que o Brasil corria o risco de ficar desabastecido do alimento. Por isso, consumidores correram aos supermercados, que acabaram limitando a compra do produto por consumidor para evitar um efeito manada.

Tanta disputa em torno do arroz tem explicação: o alimento é um dos principais itens da cesta básica e é considerado um alimento essencial na dieta do brasileiro. No Brasil, são consumidos cerca de 10,5 milhões de toneladas de arroz todos os anos. Mas, não é insubstituível.

“Em termos econômicos, o produto pode ser considerado como um bem de baixa elasticidade e sujeito ao ‘efeito substituição’“, explicou Felipe Queiroz, economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (Apas). “Ou seja, o consumo médio de arroz tende a se manter relativamente estável ao longo do tempo. No entanto, é certo que ele pode ser, em certa medida, substituído por outros bens, conforme a mudança na renda média familiar, os hábitos de consumo e a inflação”.

Brasileiros consomem, em média, 10,5 milhões de toneladas de arroz por ano. FOTO: ALEX SILVA/ESTADÃO  Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Entre especialistas ouvidos pelo Estadão Verifica, há um consenso: existe um risco de que o preço aumente, inclusive por conta da especulação em torno do assunto, mas o desabastecimento é algo menos provável. Ele pode ocorrer não por uma eventual estocagem da produção pelos fornecedores, mas pelo temor da população de que o produto realmente falte.

“O desabastecimento tende a ocorrer muito mais pelo pânico das pessoas do que pelo caso de fornecedores estarem estocando“, observou o economista Luciano Nakabashi, professor do Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP). “Acho que o maior risco é esse, da corrida aos supermercados, e acho que isso é uma coisa que precisa de fato estar atento”.

Queiroz é enfático ao dizer que o Brasil não corre risco de desabastecimento de arroz, e que o cenário é diferente do que aquele que faz as pessoas tentarem comprar produtos em excesso. “Tanto os distribuidores quanto os supermercados têm oferta de produto. Porém, inegavelmente, as cheias no Estado gaúcho e o comprometimento da infraestrutura de alguns municípios e a corrida aos supermercados produziram uma quebra na cadeia de suprimento do produto no curto prazo”, explicou.

Para Nakabashi, a decisão do governo federal de importar arroz neste momento é importante, inclusive para deixar a população mais calma em relação à disponibilidade do produto. “Se as pessoas correrem para estocar, aí sim pode faltar. A medida do governo é importante porque já fica em vista que, se der algum problema, mesmo que seja um risco baixo, vai ter importação e não ter uma falta do produto”, explicou

Queiroz, da Apas, considera que a medida do governo federal teve duplo objetivo. “Por um lado, transmitir a mensagem de que não há e não haverá a falta do produto no País e reforçar as ações de combate ao alarmismo e à especulação de preço do produto no mercado doméstico”, disse. “Por outro lado, garantir o suprimento com preço acessível, especialmente, às famílias de menor renda”.

Medida visa recompor estoques, diz governo

Quando publicou, em 10 de maio, a medida provisória que autoriza a importação de arroz, em caráter excepcional, por meio de leilões públicos, o governo federal informou que o objetivo era “recompor os estoques públicos para o enfrentamento das consequências sociais e econômicas decorrentes dos eventos climáticos extremos ocorridos no Rio Grande do Sul”.

Segundo o governo, os estoques públicos serão destinados, preferencialmente, à venda para pequenos varejistas das regiões metropolitanas. Nas redes sociais, o presidente da Conab, Edegar Pretto, disse que a medida garantiria que não faltasse arroz no País e, também, que o preço não subisse “em função da especulação de alguém que queira se aproveitar da situação que vive o Rio Grande do Sul”.

Ele tratou como desinformação as alegações nas redes sociais de que o País estava à beira do desabastecimento, levando as pessoas a correrem aos supermercado para estocar o alimento. Segundo Pretto, as importações serão feitas de forma gradativa para não gerar competição com o mercado local e para proteger os pequenos agricultores.

Ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, participou de debate sobre importação de arroz na Câmara dos Deputados em 22 de maio de 2024. Foto: Renato Araujo/Câmara dos Deputados Foto: Renato Araujo/Câmara dos Deputados

Na última quarta-feira, 22, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, participou de um debate sobre o assunto na Câmara dos Deputados e disse que, apesar da suspensão do leilão, ocorrida na véspera por causa da alta no preço, o governo irá manter a compra. Segundo ele, a medida visa facilitar a importação do produto, já que a enchente afetou lavouras, estoques e a logística de distribuição.

Fávaro acrescentou que a decisão de zerar o imposto para a importação, em caráter extraordinário, foi acordada com produtores brasileiros, e que o governo tem dinheiro para comprar 1 milhão de toneladas, mas não pretende usar todo o recurso. O volume importado vai depender de uma avaliação das perdas do Rio Grande do Sul.

“É triste, mas tem gente querendo ganhar dinheiro nas costas dessa tragédia”, criticou o ministro, afirmando que alguns fornecedores elevaram os preços em até 30% após o governo anunciar a compra de 100 mil toneladas para estoque.

Produtores garantem ter produto para abastecer o mercado interno

Em nota oficial publicada em seu site no dia 10 de maio, quando a medida provisória do governo federal foi anunciada, a Federação das Associações de Produtores de Arroz do Rio Grande do Sul (Federarroz) disse que, apesar das enchentes no Rio Grande do Sul, “inexiste risco de desabastecimento de arroz ao mercado consumidor”.

Para a Federação, a apreensão em relação às condições de abastecimento de arroz no Brasil é natural diante da enchente no Rio Grande do Sul. “Todavia, conforme dados oficiais, tem-se que 84% da área cultivada no Estado foi colhida antes do início das chuvas, de modo que a projeção da safra 2023/2024 atinge aproximadamente 7.150 mil toneladas, o que representa uma redução de cerca 1,24% em relação ao volume produzido na safra anterior”, diz a nota.

No que diz respeito aos prejuízos dos produtores afetados pela enchente, a Abiarroz diz que “a possível diminuição da disponibilidade de arroz será, inevitavelmente, compensada pelo incremento da importação e perda de competitividade do arroz brasileiro no Mercado externo”.

Em relação à chegada do produto às mãos do consumidor, a Federarroz acredita que as dificuldades de escoamento da produção por conta do estado das rodovias serão brevemente superadas. A Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) foi procurada, mas não respondeu até a publicação desta checagem. Uma publicação nas redes sociais da entidade aponta que, por causa das chuvas, as perdas no Rio Grande do Sul devem chegar a 8%.

O que estão compartilhando: que dentro de cada grão de arroz importado pelo governo brasileiro existe “a maior lombriga já vista, geneticamente modificada para crescer exponencialmente dentro dos corpos humanos”.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A lombriga, nome popular do parasita Ascaris lumbricoides, não é uma das pragas que atacam o arroz. Seus ovos não são encontrados em cereais, e sim em frutas e legumes frescos. Há maiores chances de contaminação se esses alimentos são consumidos crus e com casca, o que não é o caso do arroz – um cereal consumido cozido. Outras versões do mesmo conteúdo alegam que o alerta sobre a lombriga teria sido feito pelo ator Will Smith, o que também é falso.

Áudio viral inventa que arroz a ser importado pelo governo federal tem lombriga. Foto: Reprodução/TikTok Foto: Reprodução/TikTok

Saiba mais: O conteúdo usa uma foto da embalagem que será utilizada no arroz a ser importado pelo governo brasileiro por conta da enchente no Rio Grande do Sul e insere um áudio com a teoria conspiratória de que o alimento abriga um verme capaz de crescer dentro do corpo humano.

Conteúdos como este têm se multiplicado nos últimos dias, desde que o governo federal anunciou, em 10 de maio, uma medida provisória autorizando a importação de 1 milhão de toneladas de arroz ao longo de 2024, em decorrência dos eventos climáticos extremos no Rio Grande do Sul.

A compra, a ser feita Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é apontada pelo governo como uma forma de garantir o suprimento de arroz no mercado doméstico e evitar alta no preço, já que o Rio Grande do Sul, Estado vítima de fortes chuvas e enchentes desde o final de abril, é responsável por 70% do arroz consumido no País. Por outro lado, produtores de arroz negam haver necessidade de importação e tratam a medida do governo como precipitada (leia mais abaixo).

Nas redes, diversas postagens estimulam um boicote ao “arroz do governo” e utilizam o áudio falso sobre a lombriga geneticamente modificada para convencer a população. Também espalham a alegação falsa de que o Brasil vai importar arroz “de plástico” da China.

Leitores do Verifica pediram a checagem deste conteúdo pelo WhatsApp, no número (11) 97683-7490.

Lombriga se prolifera em frutas e vegetais, não em arroz

A alegação de que cada grão de arroz importado pelo Brasil terá uma “lombriga geneticamente modificada” não tem qualquer base factual. O conteúdo é inventado com o intuito de assustar as pessoas e desestimular o consumo do produto a ser importado pela Conab. O arroz sequer é citado em publicações científicas como um alimento onde o parasita Ascaris lumbricoides se prolifera.

Na realidade, a transmissão da doença chamada ascaridíase se dá pelo contato com fezes humanas contaminadas ou pelo contato com alimentos contaminados por ovos e fezes no solo, além de poeira e insetos e até água contaminada. Os alimentos mais comumente contaminados são vegetais e frutas frescas, principalmente aqueles consumidos com casca e crus. Uma das formas de evitar a contaminação é lavar bem esses alimentos antes de comê-los, descascá-los ou fervê-los, se for o caso.

O Ascaris lumbricoides não é uma das pragas que afetam o arroz. Segundo a Embrapa Arroz e Feijão, o arroz do Brasil é atingido pelos seguintes insetos-praga: broca-do-colo, também conhecida como lagarta-elasmo; cupim; percevejo-castanho; cigarrinha-das-pastagens; cochonilha-das-raízes; cascudo-preto; lagarta desfolhadora; broca-do-colmo; percevejo-do-colmo; e percevejo-do-grão.

O arroz importado, assim como outros alimentos, estão sujeitos à aprovação do serviço de Sanidade Vegetal do Ministério da Agricultura e Pecuária. Atualmente, o Brasil autoriza a importação de arroz dos Estados Unidos, Argentina, Dinamarca, Guiana, Itália, Paraguai, Uruguai, Vietnã e Índia. Todos os produtos precisam cumprir requisitos fitossanitários e precisam passar por inspeção desde o local de ingresso da carga.

O Brasil pode, mesmo, ficar sem arroz?

Desde o início das chuvas no Rio Grande do Sul, que produz a maior parte do arroz consumido no Brasil, passaram a circular nas redes sociais publicações em tom alarmista afirmando que o Brasil corria o risco de ficar desabastecido do alimento. Por isso, consumidores correram aos supermercados, que acabaram limitando a compra do produto por consumidor para evitar um efeito manada.

Tanta disputa em torno do arroz tem explicação: o alimento é um dos principais itens da cesta básica e é considerado um alimento essencial na dieta do brasileiro. No Brasil, são consumidos cerca de 10,5 milhões de toneladas de arroz todos os anos. Mas, não é insubstituível.

“Em termos econômicos, o produto pode ser considerado como um bem de baixa elasticidade e sujeito ao ‘efeito substituição’“, explicou Felipe Queiroz, economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (Apas). “Ou seja, o consumo médio de arroz tende a se manter relativamente estável ao longo do tempo. No entanto, é certo que ele pode ser, em certa medida, substituído por outros bens, conforme a mudança na renda média familiar, os hábitos de consumo e a inflação”.

Brasileiros consomem, em média, 10,5 milhões de toneladas de arroz por ano. FOTO: ALEX SILVA/ESTADÃO  Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Entre especialistas ouvidos pelo Estadão Verifica, há um consenso: existe um risco de que o preço aumente, inclusive por conta da especulação em torno do assunto, mas o desabastecimento é algo menos provável. Ele pode ocorrer não por uma eventual estocagem da produção pelos fornecedores, mas pelo temor da população de que o produto realmente falte.

“O desabastecimento tende a ocorrer muito mais pelo pânico das pessoas do que pelo caso de fornecedores estarem estocando“, observou o economista Luciano Nakabashi, professor do Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP). “Acho que o maior risco é esse, da corrida aos supermercados, e acho que isso é uma coisa que precisa de fato estar atento”.

Queiroz é enfático ao dizer que o Brasil não corre risco de desabastecimento de arroz, e que o cenário é diferente do que aquele que faz as pessoas tentarem comprar produtos em excesso. “Tanto os distribuidores quanto os supermercados têm oferta de produto. Porém, inegavelmente, as cheias no Estado gaúcho e o comprometimento da infraestrutura de alguns municípios e a corrida aos supermercados produziram uma quebra na cadeia de suprimento do produto no curto prazo”, explicou.

Para Nakabashi, a decisão do governo federal de importar arroz neste momento é importante, inclusive para deixar a população mais calma em relação à disponibilidade do produto. “Se as pessoas correrem para estocar, aí sim pode faltar. A medida do governo é importante porque já fica em vista que, se der algum problema, mesmo que seja um risco baixo, vai ter importação e não ter uma falta do produto”, explicou

Queiroz, da Apas, considera que a medida do governo federal teve duplo objetivo. “Por um lado, transmitir a mensagem de que não há e não haverá a falta do produto no País e reforçar as ações de combate ao alarmismo e à especulação de preço do produto no mercado doméstico”, disse. “Por outro lado, garantir o suprimento com preço acessível, especialmente, às famílias de menor renda”.

Medida visa recompor estoques, diz governo

Quando publicou, em 10 de maio, a medida provisória que autoriza a importação de arroz, em caráter excepcional, por meio de leilões públicos, o governo federal informou que o objetivo era “recompor os estoques públicos para o enfrentamento das consequências sociais e econômicas decorrentes dos eventos climáticos extremos ocorridos no Rio Grande do Sul”.

Segundo o governo, os estoques públicos serão destinados, preferencialmente, à venda para pequenos varejistas das regiões metropolitanas. Nas redes sociais, o presidente da Conab, Edegar Pretto, disse que a medida garantiria que não faltasse arroz no País e, também, que o preço não subisse “em função da especulação de alguém que queira se aproveitar da situação que vive o Rio Grande do Sul”.

Ele tratou como desinformação as alegações nas redes sociais de que o País estava à beira do desabastecimento, levando as pessoas a correrem aos supermercado para estocar o alimento. Segundo Pretto, as importações serão feitas de forma gradativa para não gerar competição com o mercado local e para proteger os pequenos agricultores.

Ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, participou de debate sobre importação de arroz na Câmara dos Deputados em 22 de maio de 2024. Foto: Renato Araujo/Câmara dos Deputados Foto: Renato Araujo/Câmara dos Deputados

Na última quarta-feira, 22, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, participou de um debate sobre o assunto na Câmara dos Deputados e disse que, apesar da suspensão do leilão, ocorrida na véspera por causa da alta no preço, o governo irá manter a compra. Segundo ele, a medida visa facilitar a importação do produto, já que a enchente afetou lavouras, estoques e a logística de distribuição.

Fávaro acrescentou que a decisão de zerar o imposto para a importação, em caráter extraordinário, foi acordada com produtores brasileiros, e que o governo tem dinheiro para comprar 1 milhão de toneladas, mas não pretende usar todo o recurso. O volume importado vai depender de uma avaliação das perdas do Rio Grande do Sul.

“É triste, mas tem gente querendo ganhar dinheiro nas costas dessa tragédia”, criticou o ministro, afirmando que alguns fornecedores elevaram os preços em até 30% após o governo anunciar a compra de 100 mil toneladas para estoque.

Produtores garantem ter produto para abastecer o mercado interno

Em nota oficial publicada em seu site no dia 10 de maio, quando a medida provisória do governo federal foi anunciada, a Federação das Associações de Produtores de Arroz do Rio Grande do Sul (Federarroz) disse que, apesar das enchentes no Rio Grande do Sul, “inexiste risco de desabastecimento de arroz ao mercado consumidor”.

Para a Federação, a apreensão em relação às condições de abastecimento de arroz no Brasil é natural diante da enchente no Rio Grande do Sul. “Todavia, conforme dados oficiais, tem-se que 84% da área cultivada no Estado foi colhida antes do início das chuvas, de modo que a projeção da safra 2023/2024 atinge aproximadamente 7.150 mil toneladas, o que representa uma redução de cerca 1,24% em relação ao volume produzido na safra anterior”, diz a nota.

No que diz respeito aos prejuízos dos produtores afetados pela enchente, a Abiarroz diz que “a possível diminuição da disponibilidade de arroz será, inevitavelmente, compensada pelo incremento da importação e perda de competitividade do arroz brasileiro no Mercado externo”.

Em relação à chegada do produto às mãos do consumidor, a Federarroz acredita que as dificuldades de escoamento da produção por conta do estado das rodovias serão brevemente superadas. A Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) foi procurada, mas não respondeu até a publicação desta checagem. Uma publicação nas redes sociais da entidade aponta que, por causa das chuvas, as perdas no Rio Grande do Sul devem chegar a 8%.

O que estão compartilhando: que dentro de cada grão de arroz importado pelo governo brasileiro existe “a maior lombriga já vista, geneticamente modificada para crescer exponencialmente dentro dos corpos humanos”.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A lombriga, nome popular do parasita Ascaris lumbricoides, não é uma das pragas que atacam o arroz. Seus ovos não são encontrados em cereais, e sim em frutas e legumes frescos. Há maiores chances de contaminação se esses alimentos são consumidos crus e com casca, o que não é o caso do arroz – um cereal consumido cozido. Outras versões do mesmo conteúdo alegam que o alerta sobre a lombriga teria sido feito pelo ator Will Smith, o que também é falso.

Áudio viral inventa que arroz a ser importado pelo governo federal tem lombriga. Foto: Reprodução/TikTok Foto: Reprodução/TikTok

Saiba mais: O conteúdo usa uma foto da embalagem que será utilizada no arroz a ser importado pelo governo brasileiro por conta da enchente no Rio Grande do Sul e insere um áudio com a teoria conspiratória de que o alimento abriga um verme capaz de crescer dentro do corpo humano.

Conteúdos como este têm se multiplicado nos últimos dias, desde que o governo federal anunciou, em 10 de maio, uma medida provisória autorizando a importação de 1 milhão de toneladas de arroz ao longo de 2024, em decorrência dos eventos climáticos extremos no Rio Grande do Sul.

A compra, a ser feita Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é apontada pelo governo como uma forma de garantir o suprimento de arroz no mercado doméstico e evitar alta no preço, já que o Rio Grande do Sul, Estado vítima de fortes chuvas e enchentes desde o final de abril, é responsável por 70% do arroz consumido no País. Por outro lado, produtores de arroz negam haver necessidade de importação e tratam a medida do governo como precipitada (leia mais abaixo).

Nas redes, diversas postagens estimulam um boicote ao “arroz do governo” e utilizam o áudio falso sobre a lombriga geneticamente modificada para convencer a população. Também espalham a alegação falsa de que o Brasil vai importar arroz “de plástico” da China.

Leitores do Verifica pediram a checagem deste conteúdo pelo WhatsApp, no número (11) 97683-7490.

Lombriga se prolifera em frutas e vegetais, não em arroz

A alegação de que cada grão de arroz importado pelo Brasil terá uma “lombriga geneticamente modificada” não tem qualquer base factual. O conteúdo é inventado com o intuito de assustar as pessoas e desestimular o consumo do produto a ser importado pela Conab. O arroz sequer é citado em publicações científicas como um alimento onde o parasita Ascaris lumbricoides se prolifera.

Na realidade, a transmissão da doença chamada ascaridíase se dá pelo contato com fezes humanas contaminadas ou pelo contato com alimentos contaminados por ovos e fezes no solo, além de poeira e insetos e até água contaminada. Os alimentos mais comumente contaminados são vegetais e frutas frescas, principalmente aqueles consumidos com casca e crus. Uma das formas de evitar a contaminação é lavar bem esses alimentos antes de comê-los, descascá-los ou fervê-los, se for o caso.

O Ascaris lumbricoides não é uma das pragas que afetam o arroz. Segundo a Embrapa Arroz e Feijão, o arroz do Brasil é atingido pelos seguintes insetos-praga: broca-do-colo, também conhecida como lagarta-elasmo; cupim; percevejo-castanho; cigarrinha-das-pastagens; cochonilha-das-raízes; cascudo-preto; lagarta desfolhadora; broca-do-colmo; percevejo-do-colmo; e percevejo-do-grão.

O arroz importado, assim como outros alimentos, estão sujeitos à aprovação do serviço de Sanidade Vegetal do Ministério da Agricultura e Pecuária. Atualmente, o Brasil autoriza a importação de arroz dos Estados Unidos, Argentina, Dinamarca, Guiana, Itália, Paraguai, Uruguai, Vietnã e Índia. Todos os produtos precisam cumprir requisitos fitossanitários e precisam passar por inspeção desde o local de ingresso da carga.

O Brasil pode, mesmo, ficar sem arroz?

Desde o início das chuvas no Rio Grande do Sul, que produz a maior parte do arroz consumido no Brasil, passaram a circular nas redes sociais publicações em tom alarmista afirmando que o Brasil corria o risco de ficar desabastecido do alimento. Por isso, consumidores correram aos supermercados, que acabaram limitando a compra do produto por consumidor para evitar um efeito manada.

Tanta disputa em torno do arroz tem explicação: o alimento é um dos principais itens da cesta básica e é considerado um alimento essencial na dieta do brasileiro. No Brasil, são consumidos cerca de 10,5 milhões de toneladas de arroz todos os anos. Mas, não é insubstituível.

“Em termos econômicos, o produto pode ser considerado como um bem de baixa elasticidade e sujeito ao ‘efeito substituição’“, explicou Felipe Queiroz, economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (Apas). “Ou seja, o consumo médio de arroz tende a se manter relativamente estável ao longo do tempo. No entanto, é certo que ele pode ser, em certa medida, substituído por outros bens, conforme a mudança na renda média familiar, os hábitos de consumo e a inflação”.

Brasileiros consomem, em média, 10,5 milhões de toneladas de arroz por ano. FOTO: ALEX SILVA/ESTADÃO  Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Entre especialistas ouvidos pelo Estadão Verifica, há um consenso: existe um risco de que o preço aumente, inclusive por conta da especulação em torno do assunto, mas o desabastecimento é algo menos provável. Ele pode ocorrer não por uma eventual estocagem da produção pelos fornecedores, mas pelo temor da população de que o produto realmente falte.

“O desabastecimento tende a ocorrer muito mais pelo pânico das pessoas do que pelo caso de fornecedores estarem estocando“, observou o economista Luciano Nakabashi, professor do Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP). “Acho que o maior risco é esse, da corrida aos supermercados, e acho que isso é uma coisa que precisa de fato estar atento”.

Queiroz é enfático ao dizer que o Brasil não corre risco de desabastecimento de arroz, e que o cenário é diferente do que aquele que faz as pessoas tentarem comprar produtos em excesso. “Tanto os distribuidores quanto os supermercados têm oferta de produto. Porém, inegavelmente, as cheias no Estado gaúcho e o comprometimento da infraestrutura de alguns municípios e a corrida aos supermercados produziram uma quebra na cadeia de suprimento do produto no curto prazo”, explicou.

Para Nakabashi, a decisão do governo federal de importar arroz neste momento é importante, inclusive para deixar a população mais calma em relação à disponibilidade do produto. “Se as pessoas correrem para estocar, aí sim pode faltar. A medida do governo é importante porque já fica em vista que, se der algum problema, mesmo que seja um risco baixo, vai ter importação e não ter uma falta do produto”, explicou

Queiroz, da Apas, considera que a medida do governo federal teve duplo objetivo. “Por um lado, transmitir a mensagem de que não há e não haverá a falta do produto no País e reforçar as ações de combate ao alarmismo e à especulação de preço do produto no mercado doméstico”, disse. “Por outro lado, garantir o suprimento com preço acessível, especialmente, às famílias de menor renda”.

Medida visa recompor estoques, diz governo

Quando publicou, em 10 de maio, a medida provisória que autoriza a importação de arroz, em caráter excepcional, por meio de leilões públicos, o governo federal informou que o objetivo era “recompor os estoques públicos para o enfrentamento das consequências sociais e econômicas decorrentes dos eventos climáticos extremos ocorridos no Rio Grande do Sul”.

Segundo o governo, os estoques públicos serão destinados, preferencialmente, à venda para pequenos varejistas das regiões metropolitanas. Nas redes sociais, o presidente da Conab, Edegar Pretto, disse que a medida garantiria que não faltasse arroz no País e, também, que o preço não subisse “em função da especulação de alguém que queira se aproveitar da situação que vive o Rio Grande do Sul”.

Ele tratou como desinformação as alegações nas redes sociais de que o País estava à beira do desabastecimento, levando as pessoas a correrem aos supermercado para estocar o alimento. Segundo Pretto, as importações serão feitas de forma gradativa para não gerar competição com o mercado local e para proteger os pequenos agricultores.

Ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, participou de debate sobre importação de arroz na Câmara dos Deputados em 22 de maio de 2024. Foto: Renato Araujo/Câmara dos Deputados Foto: Renato Araujo/Câmara dos Deputados

Na última quarta-feira, 22, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, participou de um debate sobre o assunto na Câmara dos Deputados e disse que, apesar da suspensão do leilão, ocorrida na véspera por causa da alta no preço, o governo irá manter a compra. Segundo ele, a medida visa facilitar a importação do produto, já que a enchente afetou lavouras, estoques e a logística de distribuição.

Fávaro acrescentou que a decisão de zerar o imposto para a importação, em caráter extraordinário, foi acordada com produtores brasileiros, e que o governo tem dinheiro para comprar 1 milhão de toneladas, mas não pretende usar todo o recurso. O volume importado vai depender de uma avaliação das perdas do Rio Grande do Sul.

“É triste, mas tem gente querendo ganhar dinheiro nas costas dessa tragédia”, criticou o ministro, afirmando que alguns fornecedores elevaram os preços em até 30% após o governo anunciar a compra de 100 mil toneladas para estoque.

Produtores garantem ter produto para abastecer o mercado interno

Em nota oficial publicada em seu site no dia 10 de maio, quando a medida provisória do governo federal foi anunciada, a Federação das Associações de Produtores de Arroz do Rio Grande do Sul (Federarroz) disse que, apesar das enchentes no Rio Grande do Sul, “inexiste risco de desabastecimento de arroz ao mercado consumidor”.

Para a Federação, a apreensão em relação às condições de abastecimento de arroz no Brasil é natural diante da enchente no Rio Grande do Sul. “Todavia, conforme dados oficiais, tem-se que 84% da área cultivada no Estado foi colhida antes do início das chuvas, de modo que a projeção da safra 2023/2024 atinge aproximadamente 7.150 mil toneladas, o que representa uma redução de cerca 1,24% em relação ao volume produzido na safra anterior”, diz a nota.

No que diz respeito aos prejuízos dos produtores afetados pela enchente, a Abiarroz diz que “a possível diminuição da disponibilidade de arroz será, inevitavelmente, compensada pelo incremento da importação e perda de competitividade do arroz brasileiro no Mercado externo”.

Em relação à chegada do produto às mãos do consumidor, a Federarroz acredita que as dificuldades de escoamento da produção por conta do estado das rodovias serão brevemente superadas. A Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) foi procurada, mas não respondeu até a publicação desta checagem. Uma publicação nas redes sociais da entidade aponta que, por causa das chuvas, as perdas no Rio Grande do Sul devem chegar a 8%.

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