Relatório não indica que Imane Khelif é do sexo masculino; médico negou autoria à imprensa


Documento foi divulgado por veículo independente francês, mas reportagem tem várias inconsistências; endocrinologista citado no texto afirmou que seu nome foi usado para espalhar informação falsa sobre boxeadora argelina

Por Bernardo Costa
Atualização:

O que estão compartilhando: que a boxeadora argelina Imane Khelif, medalhista de ouro nas Olimpíadas de Paris 2024, foi considerada biologicamente do sexo masculino por um relatório médico divulgado por um jornalista francês.

O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é enganoso. O quadro clínico descrito no suposto relatório não é suficiente para afirmar que Imane Khelif é geneticamente do sexo masculino, segundo endocrinologista consultada pelo Verifica. Além disso, há inconsistências na reportagem que levantam suspeitas sobre a legitimidade do documento. A veículos de imprensa, um dos médicos ao qual é atribuída a autoria do suposto relatório nega que o tenha produzido e afirma que seu nome está sendo usado para espalhar informação falsa.

Ao Verifica, o Comitê Olímpico Internacional (COI) levantou dúvidas sobre a autenticidade do documento e reforçou que a boxeadora cumpriu com as regras de elegibilidade e inscrição dos Jogos Olímpicos de 2024, juntamente com todas as regulamentações médicas aplicáveis promulgadas pela Unidade de Boxe Paris 2024 (PBU). Imane entrou com uma ação judicial contra a divulgação do relatório.

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Relatório não confirma que Imane Khelif é homem; médico negou à imprensa autoria de documento Foto: Reprodução/Instagram

Saiba mais: a postagem estampa uma foto da boxeadora argelina no ringue e, acima, a frase: “Relatório aponta que medalhista de ouro no boxe feminino nos Jogos de Paris é um homem”. A legenda da postagem reproduz um texto creditado ao jornal O Globo. Ele aponta que, segundo matéria do jornalista francês Djaffar Ait Aoudia, que teria tido acesso a um laudo médico, Khelif teria uma doença genética caracterizada pela deficiência de 5-alfa-redutase, o que teria resultado em ausência de útero e presença do que foi descrito como um “micropênis”. O texto ainda destaca que o relatório apontou que a boxeadora tem testículos “internos” e uma composição cromossômica XY (masculina).

Em uma pesquisa no Google, encontra-se um link de O Globo com a manchete que estampa a postagem. No entanto, a matéria está fora do ar. Sobre Imane Khelif, a reportagem mais recente do jornal diz que a boxeadora “acionará a Justiça após artigo afirmar que laudo médico aponta que ela era homem”. A matéria traz a repercussão da publicação original do suposto relatório divulgado pelo jornalista francês no veículo independente que ele preside, Le Correspondant.

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Uma análise da publicação original, assim como outras divulgadas e posteriormente retiradas do ar pelo veículo francês trazem inconsistências em relação à conclusão de que a boxeadora argelina seria um homem.

As inconsistências do suposto relatório médico

O texto original, que continua no ar, intitulado “Imane Khelif: nem ovários nem útero, mas testículos…” foi publicado em 25 de outubro. O suposto relatório médico, segundo a publicação, teria sido assinado pelos endocrinologistas Soumaya Fedala e Jacques Young, dos hospitais Mohamed Lamine Debaghine, em Argel, capital da Argélia, e Bicêtre, em Paris.

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Em textos publicados em 11 de setembro (”Não, Imane Khelif não é uma mulher”) e em 8 de setembro (”Imane Khelif: mulher até às bolas), e que hoje estão fora do ar, o conteúdo é semelhante, porém os nome dos médicos que assinam o suposto relatório são diferentes: Soumaya Fedad e David Joung. Os textos haviam sido compartilhados por Djaffar Ait Aoudia no X (1, 2) e foram recuperados com auxílio da ferramenta Wayback Machine (aqui e aqui).

O nome correto do médico é Jacques Young, como aparece no texto de Aoudia que continua no ar. O Verifica entrou em contato com o endocrinologista, mas não obteve retorno. O hospital ao qual ele é vinculado respondeu que ”não fornece nenhuma informação relacionada ao sigilo médico e, em particular, não especifica se uma pessoa se consultou ou não na unidade”.

Em relação à endocrinologista do hospital argelino, seu nome correto é Soumeya Fedala, e não Soumaya, como aparece no texto do Le Correspondant que ainda está no ar. O Verifica não conseguiu contato com ela, e nem com o hospital.

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Outros veículos de imprensa que repercutiram a publicação do Le Correspondant conseguiram contato com Young. Ao portal alemão Deutsche Welle (DW), o médico afirmou que seu nome estava sendo usado para espalhar informações falsas e uma agenda antitrans. Já à agência de checagens portuguesa Polígrafo, Young garantiu que nunca escreveu ou publicou nada sobre Imane Khelif.

Há ainda outro ponto controverso. Em uma reprodução do que seria um trecho do relatório médico, que ilustra a publicação do Le Correspondant, lê-se o seguinte:

“Com efeito, nestas formas diagnosticadas tardiamente, face à história clínica, aos dados hormonais biológicos, aos dados radiológicos e à perícia psicológica e neuropsiquiátrica, o sexo feminino é sempre favorecido. É o caso de Imane, que se identifica plenamente como uma menina”.

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Ou seja, o próprio relatório contradiria o texto do Le Correspondant, que afirma que “Imane Khelif é um homem na concha de uma mulher”.

Sobre a divulgação do suposto relatório médico, o COI informou que Imane está tomando providências legais sobre o caso. O comitê levantou dúvidas sobre a autenticidade do documento que, segundo o texto do Le Correspondant, teria sido enviado ao órgão em junho de 2023. “O COI não comentará enquanto ações legais estiverem em andamento, ou sobre reportagens da mídia acerca de documentos não verificados cuja origem não pode ser confirmada”, disse o COI em nota enviada ao Verifica.

A nota do COI ainda afirma que Imane cumpriu com as regras de elegibilidade e inscrição dos Jogos Olímpicos de 2024, juntamente com todas as regulamentações médicas aplicáveis. “Imane Khelif vem competindo na categoria feminina em competições internacionais de boxe há muitos anos, incluindo os Jogos Olímpicos Tóquio 2020, Campeonatos Mundiais da Associação Internacional de Boxe (IBA) e torneios sancionados pela IBA”, acrescentou a nota do COI, concluindo da seguinte forma: “O COI está entristecido pelo abuso que Imane Khelif está recebendo atualmente”.

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Endocrinologista diz que quadro descrito em relatório não caracteriza gênero masculino

A pedido do Verifica, a endocrinologista Luciana Barros Oliveira, membro do Departamento de Endocrinologia Básica da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), analisou as informações que constam do texto publicado pelo Le Correspondant. Segundo ela, apesar de as características clínicas descritas estarem de acordo com um suposto quadro de deficiência de 5-alfa-redutase, referido no texto, isso não bastaria para se afirmar que Imane é uma pessoa do gênero masculino.

“Existem condições médicas chamadas de diferenças do desenvolvimento sexual e que a população em geral conhece como intersexo”, explicou. “Apesar de a pessoa (citada no relatório do Le Correspondant) ter essas características, ela não é homem”.

“Em situações de intersexo e em algumas condições endocrinológicas específicas, você não pode afirmar que pela característica hormonal da pessoa, defeito de sexo, deficiência de 5 alfa-redutase, ela é um homem”, continuou. “Ela pode ter sido criada como mulher e ter uma identidade feminina”.

Imane Khelif foi alvo de campanha de desinformação

Em agosto de 2024, o Estadão Verifica, assim como diversas outras agências de checagens, desmentiram boatos de que Imane Khelif seria um “homem biológico”, e que sua atuação na categoria feminina no boxe olímpico nos Jogos de Paris 2924 seria uma trapaça.

A campanha de desinformação teve início quando a atleta italiana Angela Carini desistiu de uma luta contra Khelif aos 46 segundos, alegando não ter resistido à intensidade dos golpes da adversária. Os boatos se basearm em uma decisão da Associação Internacional de Boxe (IBA), que desclassificou Imane do Campeonato Mundial Feminino em 2023 por não atender critérios de elegibilidade. A associação não detalhou quais regras foram descumpridas.

Ainda em 2023, o COI descredenciou a associação por problemas de governança. Sendo assim, os critérios de elegibilidade da atleta para os Jogos de Paris 2024 foram os do COI, que veio a público afirmar que Imane seguiu os regulamentos de elegibilidade e inscrição da competição, assim como os critérios médicos aplicáveis.

Em coletiva de imprensa, Mark Adams, porta-voz oficial do COI, afirmou que a boxeadora argelina “nasceu mulher, foi registrada como mulher, viveu sua vida como mulher e lutou boxe como mulher”. Ele destacou que este “não é um caso transgênero”.

O que estão compartilhando: que a boxeadora argelina Imane Khelif, medalhista de ouro nas Olimpíadas de Paris 2024, foi considerada biologicamente do sexo masculino por um relatório médico divulgado por um jornalista francês.

O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é enganoso. O quadro clínico descrito no suposto relatório não é suficiente para afirmar que Imane Khelif é geneticamente do sexo masculino, segundo endocrinologista consultada pelo Verifica. Além disso, há inconsistências na reportagem que levantam suspeitas sobre a legitimidade do documento. A veículos de imprensa, um dos médicos ao qual é atribuída a autoria do suposto relatório nega que o tenha produzido e afirma que seu nome está sendo usado para espalhar informação falsa.

Ao Verifica, o Comitê Olímpico Internacional (COI) levantou dúvidas sobre a autenticidade do documento e reforçou que a boxeadora cumpriu com as regras de elegibilidade e inscrição dos Jogos Olímpicos de 2024, juntamente com todas as regulamentações médicas aplicáveis promulgadas pela Unidade de Boxe Paris 2024 (PBU). Imane entrou com uma ação judicial contra a divulgação do relatório.

Relatório não confirma que Imane Khelif é homem; médico negou à imprensa autoria de documento Foto: Reprodução/Instagram

Saiba mais: a postagem estampa uma foto da boxeadora argelina no ringue e, acima, a frase: “Relatório aponta que medalhista de ouro no boxe feminino nos Jogos de Paris é um homem”. A legenda da postagem reproduz um texto creditado ao jornal O Globo. Ele aponta que, segundo matéria do jornalista francês Djaffar Ait Aoudia, que teria tido acesso a um laudo médico, Khelif teria uma doença genética caracterizada pela deficiência de 5-alfa-redutase, o que teria resultado em ausência de útero e presença do que foi descrito como um “micropênis”. O texto ainda destaca que o relatório apontou que a boxeadora tem testículos “internos” e uma composição cromossômica XY (masculina).

Em uma pesquisa no Google, encontra-se um link de O Globo com a manchete que estampa a postagem. No entanto, a matéria está fora do ar. Sobre Imane Khelif, a reportagem mais recente do jornal diz que a boxeadora “acionará a Justiça após artigo afirmar que laudo médico aponta que ela era homem”. A matéria traz a repercussão da publicação original do suposto relatório divulgado pelo jornalista francês no veículo independente que ele preside, Le Correspondant.

Uma análise da publicação original, assim como outras divulgadas e posteriormente retiradas do ar pelo veículo francês trazem inconsistências em relação à conclusão de que a boxeadora argelina seria um homem.

As inconsistências do suposto relatório médico

O texto original, que continua no ar, intitulado “Imane Khelif: nem ovários nem útero, mas testículos…” foi publicado em 25 de outubro. O suposto relatório médico, segundo a publicação, teria sido assinado pelos endocrinologistas Soumaya Fedala e Jacques Young, dos hospitais Mohamed Lamine Debaghine, em Argel, capital da Argélia, e Bicêtre, em Paris.

Em textos publicados em 11 de setembro (”Não, Imane Khelif não é uma mulher”) e em 8 de setembro (”Imane Khelif: mulher até às bolas), e que hoje estão fora do ar, o conteúdo é semelhante, porém os nome dos médicos que assinam o suposto relatório são diferentes: Soumaya Fedad e David Joung. Os textos haviam sido compartilhados por Djaffar Ait Aoudia no X (1, 2) e foram recuperados com auxílio da ferramenta Wayback Machine (aqui e aqui).

O nome correto do médico é Jacques Young, como aparece no texto de Aoudia que continua no ar. O Verifica entrou em contato com o endocrinologista, mas não obteve retorno. O hospital ao qual ele é vinculado respondeu que ”não fornece nenhuma informação relacionada ao sigilo médico e, em particular, não especifica se uma pessoa se consultou ou não na unidade”.

Em relação à endocrinologista do hospital argelino, seu nome correto é Soumeya Fedala, e não Soumaya, como aparece no texto do Le Correspondant que ainda está no ar. O Verifica não conseguiu contato com ela, e nem com o hospital.

Outros veículos de imprensa que repercutiram a publicação do Le Correspondant conseguiram contato com Young. Ao portal alemão Deutsche Welle (DW), o médico afirmou que seu nome estava sendo usado para espalhar informações falsas e uma agenda antitrans. Já à agência de checagens portuguesa Polígrafo, Young garantiu que nunca escreveu ou publicou nada sobre Imane Khelif.

Há ainda outro ponto controverso. Em uma reprodução do que seria um trecho do relatório médico, que ilustra a publicação do Le Correspondant, lê-se o seguinte:

“Com efeito, nestas formas diagnosticadas tardiamente, face à história clínica, aos dados hormonais biológicos, aos dados radiológicos e à perícia psicológica e neuropsiquiátrica, o sexo feminino é sempre favorecido. É o caso de Imane, que se identifica plenamente como uma menina”.

Ou seja, o próprio relatório contradiria o texto do Le Correspondant, que afirma que “Imane Khelif é um homem na concha de uma mulher”.

Sobre a divulgação do suposto relatório médico, o COI informou que Imane está tomando providências legais sobre o caso. O comitê levantou dúvidas sobre a autenticidade do documento que, segundo o texto do Le Correspondant, teria sido enviado ao órgão em junho de 2023. “O COI não comentará enquanto ações legais estiverem em andamento, ou sobre reportagens da mídia acerca de documentos não verificados cuja origem não pode ser confirmada”, disse o COI em nota enviada ao Verifica.

A nota do COI ainda afirma que Imane cumpriu com as regras de elegibilidade e inscrição dos Jogos Olímpicos de 2024, juntamente com todas as regulamentações médicas aplicáveis. “Imane Khelif vem competindo na categoria feminina em competições internacionais de boxe há muitos anos, incluindo os Jogos Olímpicos Tóquio 2020, Campeonatos Mundiais da Associação Internacional de Boxe (IBA) e torneios sancionados pela IBA”, acrescentou a nota do COI, concluindo da seguinte forma: “O COI está entristecido pelo abuso que Imane Khelif está recebendo atualmente”.

Endocrinologista diz que quadro descrito em relatório não caracteriza gênero masculino

A pedido do Verifica, a endocrinologista Luciana Barros Oliveira, membro do Departamento de Endocrinologia Básica da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), analisou as informações que constam do texto publicado pelo Le Correspondant. Segundo ela, apesar de as características clínicas descritas estarem de acordo com um suposto quadro de deficiência de 5-alfa-redutase, referido no texto, isso não bastaria para se afirmar que Imane é uma pessoa do gênero masculino.

“Existem condições médicas chamadas de diferenças do desenvolvimento sexual e que a população em geral conhece como intersexo”, explicou. “Apesar de a pessoa (citada no relatório do Le Correspondant) ter essas características, ela não é homem”.

“Em situações de intersexo e em algumas condições endocrinológicas específicas, você não pode afirmar que pela característica hormonal da pessoa, defeito de sexo, deficiência de 5 alfa-redutase, ela é um homem”, continuou. “Ela pode ter sido criada como mulher e ter uma identidade feminina”.

Imane Khelif foi alvo de campanha de desinformação

Em agosto de 2024, o Estadão Verifica, assim como diversas outras agências de checagens, desmentiram boatos de que Imane Khelif seria um “homem biológico”, e que sua atuação na categoria feminina no boxe olímpico nos Jogos de Paris 2924 seria uma trapaça.

A campanha de desinformação teve início quando a atleta italiana Angela Carini desistiu de uma luta contra Khelif aos 46 segundos, alegando não ter resistido à intensidade dos golpes da adversária. Os boatos se basearm em uma decisão da Associação Internacional de Boxe (IBA), que desclassificou Imane do Campeonato Mundial Feminino em 2023 por não atender critérios de elegibilidade. A associação não detalhou quais regras foram descumpridas.

Ainda em 2023, o COI descredenciou a associação por problemas de governança. Sendo assim, os critérios de elegibilidade da atleta para os Jogos de Paris 2024 foram os do COI, que veio a público afirmar que Imane seguiu os regulamentos de elegibilidade e inscrição da competição, assim como os critérios médicos aplicáveis.

Em coletiva de imprensa, Mark Adams, porta-voz oficial do COI, afirmou que a boxeadora argelina “nasceu mulher, foi registrada como mulher, viveu sua vida como mulher e lutou boxe como mulher”. Ele destacou que este “não é um caso transgênero”.

O que estão compartilhando: que a boxeadora argelina Imane Khelif, medalhista de ouro nas Olimpíadas de Paris 2024, foi considerada biologicamente do sexo masculino por um relatório médico divulgado por um jornalista francês.

O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é enganoso. O quadro clínico descrito no suposto relatório não é suficiente para afirmar que Imane Khelif é geneticamente do sexo masculino, segundo endocrinologista consultada pelo Verifica. Além disso, há inconsistências na reportagem que levantam suspeitas sobre a legitimidade do documento. A veículos de imprensa, um dos médicos ao qual é atribuída a autoria do suposto relatório nega que o tenha produzido e afirma que seu nome está sendo usado para espalhar informação falsa.

Ao Verifica, o Comitê Olímpico Internacional (COI) levantou dúvidas sobre a autenticidade do documento e reforçou que a boxeadora cumpriu com as regras de elegibilidade e inscrição dos Jogos Olímpicos de 2024, juntamente com todas as regulamentações médicas aplicáveis promulgadas pela Unidade de Boxe Paris 2024 (PBU). Imane entrou com uma ação judicial contra a divulgação do relatório.

Relatório não confirma que Imane Khelif é homem; médico negou à imprensa autoria de documento Foto: Reprodução/Instagram

Saiba mais: a postagem estampa uma foto da boxeadora argelina no ringue e, acima, a frase: “Relatório aponta que medalhista de ouro no boxe feminino nos Jogos de Paris é um homem”. A legenda da postagem reproduz um texto creditado ao jornal O Globo. Ele aponta que, segundo matéria do jornalista francês Djaffar Ait Aoudia, que teria tido acesso a um laudo médico, Khelif teria uma doença genética caracterizada pela deficiência de 5-alfa-redutase, o que teria resultado em ausência de útero e presença do que foi descrito como um “micropênis”. O texto ainda destaca que o relatório apontou que a boxeadora tem testículos “internos” e uma composição cromossômica XY (masculina).

Em uma pesquisa no Google, encontra-se um link de O Globo com a manchete que estampa a postagem. No entanto, a matéria está fora do ar. Sobre Imane Khelif, a reportagem mais recente do jornal diz que a boxeadora “acionará a Justiça após artigo afirmar que laudo médico aponta que ela era homem”. A matéria traz a repercussão da publicação original do suposto relatório divulgado pelo jornalista francês no veículo independente que ele preside, Le Correspondant.

Uma análise da publicação original, assim como outras divulgadas e posteriormente retiradas do ar pelo veículo francês trazem inconsistências em relação à conclusão de que a boxeadora argelina seria um homem.

As inconsistências do suposto relatório médico

O texto original, que continua no ar, intitulado “Imane Khelif: nem ovários nem útero, mas testículos…” foi publicado em 25 de outubro. O suposto relatório médico, segundo a publicação, teria sido assinado pelos endocrinologistas Soumaya Fedala e Jacques Young, dos hospitais Mohamed Lamine Debaghine, em Argel, capital da Argélia, e Bicêtre, em Paris.

Em textos publicados em 11 de setembro (”Não, Imane Khelif não é uma mulher”) e em 8 de setembro (”Imane Khelif: mulher até às bolas), e que hoje estão fora do ar, o conteúdo é semelhante, porém os nome dos médicos que assinam o suposto relatório são diferentes: Soumaya Fedad e David Joung. Os textos haviam sido compartilhados por Djaffar Ait Aoudia no X (1, 2) e foram recuperados com auxílio da ferramenta Wayback Machine (aqui e aqui).

O nome correto do médico é Jacques Young, como aparece no texto de Aoudia que continua no ar. O Verifica entrou em contato com o endocrinologista, mas não obteve retorno. O hospital ao qual ele é vinculado respondeu que ”não fornece nenhuma informação relacionada ao sigilo médico e, em particular, não especifica se uma pessoa se consultou ou não na unidade”.

Em relação à endocrinologista do hospital argelino, seu nome correto é Soumeya Fedala, e não Soumaya, como aparece no texto do Le Correspondant que ainda está no ar. O Verifica não conseguiu contato com ela, e nem com o hospital.

Outros veículos de imprensa que repercutiram a publicação do Le Correspondant conseguiram contato com Young. Ao portal alemão Deutsche Welle (DW), o médico afirmou que seu nome estava sendo usado para espalhar informações falsas e uma agenda antitrans. Já à agência de checagens portuguesa Polígrafo, Young garantiu que nunca escreveu ou publicou nada sobre Imane Khelif.

Há ainda outro ponto controverso. Em uma reprodução do que seria um trecho do relatório médico, que ilustra a publicação do Le Correspondant, lê-se o seguinte:

“Com efeito, nestas formas diagnosticadas tardiamente, face à história clínica, aos dados hormonais biológicos, aos dados radiológicos e à perícia psicológica e neuropsiquiátrica, o sexo feminino é sempre favorecido. É o caso de Imane, que se identifica plenamente como uma menina”.

Ou seja, o próprio relatório contradiria o texto do Le Correspondant, que afirma que “Imane Khelif é um homem na concha de uma mulher”.

Sobre a divulgação do suposto relatório médico, o COI informou que Imane está tomando providências legais sobre o caso. O comitê levantou dúvidas sobre a autenticidade do documento que, segundo o texto do Le Correspondant, teria sido enviado ao órgão em junho de 2023. “O COI não comentará enquanto ações legais estiverem em andamento, ou sobre reportagens da mídia acerca de documentos não verificados cuja origem não pode ser confirmada”, disse o COI em nota enviada ao Verifica.

A nota do COI ainda afirma que Imane cumpriu com as regras de elegibilidade e inscrição dos Jogos Olímpicos de 2024, juntamente com todas as regulamentações médicas aplicáveis. “Imane Khelif vem competindo na categoria feminina em competições internacionais de boxe há muitos anos, incluindo os Jogos Olímpicos Tóquio 2020, Campeonatos Mundiais da Associação Internacional de Boxe (IBA) e torneios sancionados pela IBA”, acrescentou a nota do COI, concluindo da seguinte forma: “O COI está entristecido pelo abuso que Imane Khelif está recebendo atualmente”.

Endocrinologista diz que quadro descrito em relatório não caracteriza gênero masculino

A pedido do Verifica, a endocrinologista Luciana Barros Oliveira, membro do Departamento de Endocrinologia Básica da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), analisou as informações que constam do texto publicado pelo Le Correspondant. Segundo ela, apesar de as características clínicas descritas estarem de acordo com um suposto quadro de deficiência de 5-alfa-redutase, referido no texto, isso não bastaria para se afirmar que Imane é uma pessoa do gênero masculino.

“Existem condições médicas chamadas de diferenças do desenvolvimento sexual e que a população em geral conhece como intersexo”, explicou. “Apesar de a pessoa (citada no relatório do Le Correspondant) ter essas características, ela não é homem”.

“Em situações de intersexo e em algumas condições endocrinológicas específicas, você não pode afirmar que pela característica hormonal da pessoa, defeito de sexo, deficiência de 5 alfa-redutase, ela é um homem”, continuou. “Ela pode ter sido criada como mulher e ter uma identidade feminina”.

Imane Khelif foi alvo de campanha de desinformação

Em agosto de 2024, o Estadão Verifica, assim como diversas outras agências de checagens, desmentiram boatos de que Imane Khelif seria um “homem biológico”, e que sua atuação na categoria feminina no boxe olímpico nos Jogos de Paris 2924 seria uma trapaça.

A campanha de desinformação teve início quando a atleta italiana Angela Carini desistiu de uma luta contra Khelif aos 46 segundos, alegando não ter resistido à intensidade dos golpes da adversária. Os boatos se basearm em uma decisão da Associação Internacional de Boxe (IBA), que desclassificou Imane do Campeonato Mundial Feminino em 2023 por não atender critérios de elegibilidade. A associação não detalhou quais regras foram descumpridas.

Ainda em 2023, o COI descredenciou a associação por problemas de governança. Sendo assim, os critérios de elegibilidade da atleta para os Jogos de Paris 2024 foram os do COI, que veio a público afirmar que Imane seguiu os regulamentos de elegibilidade e inscrição da competição, assim como os critérios médicos aplicáveis.

Em coletiva de imprensa, Mark Adams, porta-voz oficial do COI, afirmou que a boxeadora argelina “nasceu mulher, foi registrada como mulher, viveu sua vida como mulher e lutou boxe como mulher”. Ele destacou que este “não é um caso transgênero”.

O que estão compartilhando: que a boxeadora argelina Imane Khelif, medalhista de ouro nas Olimpíadas de Paris 2024, foi considerada biologicamente do sexo masculino por um relatório médico divulgado por um jornalista francês.

O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é enganoso. O quadro clínico descrito no suposto relatório não é suficiente para afirmar que Imane Khelif é geneticamente do sexo masculino, segundo endocrinologista consultada pelo Verifica. Além disso, há inconsistências na reportagem que levantam suspeitas sobre a legitimidade do documento. A veículos de imprensa, um dos médicos ao qual é atribuída a autoria do suposto relatório nega que o tenha produzido e afirma que seu nome está sendo usado para espalhar informação falsa.

Ao Verifica, o Comitê Olímpico Internacional (COI) levantou dúvidas sobre a autenticidade do documento e reforçou que a boxeadora cumpriu com as regras de elegibilidade e inscrição dos Jogos Olímpicos de 2024, juntamente com todas as regulamentações médicas aplicáveis promulgadas pela Unidade de Boxe Paris 2024 (PBU). Imane entrou com uma ação judicial contra a divulgação do relatório.

Relatório não confirma que Imane Khelif é homem; médico negou à imprensa autoria de documento Foto: Reprodução/Instagram

Saiba mais: a postagem estampa uma foto da boxeadora argelina no ringue e, acima, a frase: “Relatório aponta que medalhista de ouro no boxe feminino nos Jogos de Paris é um homem”. A legenda da postagem reproduz um texto creditado ao jornal O Globo. Ele aponta que, segundo matéria do jornalista francês Djaffar Ait Aoudia, que teria tido acesso a um laudo médico, Khelif teria uma doença genética caracterizada pela deficiência de 5-alfa-redutase, o que teria resultado em ausência de útero e presença do que foi descrito como um “micropênis”. O texto ainda destaca que o relatório apontou que a boxeadora tem testículos “internos” e uma composição cromossômica XY (masculina).

Em uma pesquisa no Google, encontra-se um link de O Globo com a manchete que estampa a postagem. No entanto, a matéria está fora do ar. Sobre Imane Khelif, a reportagem mais recente do jornal diz que a boxeadora “acionará a Justiça após artigo afirmar que laudo médico aponta que ela era homem”. A matéria traz a repercussão da publicação original do suposto relatório divulgado pelo jornalista francês no veículo independente que ele preside, Le Correspondant.

Uma análise da publicação original, assim como outras divulgadas e posteriormente retiradas do ar pelo veículo francês trazem inconsistências em relação à conclusão de que a boxeadora argelina seria um homem.

As inconsistências do suposto relatório médico

O texto original, que continua no ar, intitulado “Imane Khelif: nem ovários nem útero, mas testículos…” foi publicado em 25 de outubro. O suposto relatório médico, segundo a publicação, teria sido assinado pelos endocrinologistas Soumaya Fedala e Jacques Young, dos hospitais Mohamed Lamine Debaghine, em Argel, capital da Argélia, e Bicêtre, em Paris.

Em textos publicados em 11 de setembro (”Não, Imane Khelif não é uma mulher”) e em 8 de setembro (”Imane Khelif: mulher até às bolas), e que hoje estão fora do ar, o conteúdo é semelhante, porém os nome dos médicos que assinam o suposto relatório são diferentes: Soumaya Fedad e David Joung. Os textos haviam sido compartilhados por Djaffar Ait Aoudia no X (1, 2) e foram recuperados com auxílio da ferramenta Wayback Machine (aqui e aqui).

O nome correto do médico é Jacques Young, como aparece no texto de Aoudia que continua no ar. O Verifica entrou em contato com o endocrinologista, mas não obteve retorno. O hospital ao qual ele é vinculado respondeu que ”não fornece nenhuma informação relacionada ao sigilo médico e, em particular, não especifica se uma pessoa se consultou ou não na unidade”.

Em relação à endocrinologista do hospital argelino, seu nome correto é Soumeya Fedala, e não Soumaya, como aparece no texto do Le Correspondant que ainda está no ar. O Verifica não conseguiu contato com ela, e nem com o hospital.

Outros veículos de imprensa que repercutiram a publicação do Le Correspondant conseguiram contato com Young. Ao portal alemão Deutsche Welle (DW), o médico afirmou que seu nome estava sendo usado para espalhar informações falsas e uma agenda antitrans. Já à agência de checagens portuguesa Polígrafo, Young garantiu que nunca escreveu ou publicou nada sobre Imane Khelif.

Há ainda outro ponto controverso. Em uma reprodução do que seria um trecho do relatório médico, que ilustra a publicação do Le Correspondant, lê-se o seguinte:

“Com efeito, nestas formas diagnosticadas tardiamente, face à história clínica, aos dados hormonais biológicos, aos dados radiológicos e à perícia psicológica e neuropsiquiátrica, o sexo feminino é sempre favorecido. É o caso de Imane, que se identifica plenamente como uma menina”.

Ou seja, o próprio relatório contradiria o texto do Le Correspondant, que afirma que “Imane Khelif é um homem na concha de uma mulher”.

Sobre a divulgação do suposto relatório médico, o COI informou que Imane está tomando providências legais sobre o caso. O comitê levantou dúvidas sobre a autenticidade do documento que, segundo o texto do Le Correspondant, teria sido enviado ao órgão em junho de 2023. “O COI não comentará enquanto ações legais estiverem em andamento, ou sobre reportagens da mídia acerca de documentos não verificados cuja origem não pode ser confirmada”, disse o COI em nota enviada ao Verifica.

A nota do COI ainda afirma que Imane cumpriu com as regras de elegibilidade e inscrição dos Jogos Olímpicos de 2024, juntamente com todas as regulamentações médicas aplicáveis. “Imane Khelif vem competindo na categoria feminina em competições internacionais de boxe há muitos anos, incluindo os Jogos Olímpicos Tóquio 2020, Campeonatos Mundiais da Associação Internacional de Boxe (IBA) e torneios sancionados pela IBA”, acrescentou a nota do COI, concluindo da seguinte forma: “O COI está entristecido pelo abuso que Imane Khelif está recebendo atualmente”.

Endocrinologista diz que quadro descrito em relatório não caracteriza gênero masculino

A pedido do Verifica, a endocrinologista Luciana Barros Oliveira, membro do Departamento de Endocrinologia Básica da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), analisou as informações que constam do texto publicado pelo Le Correspondant. Segundo ela, apesar de as características clínicas descritas estarem de acordo com um suposto quadro de deficiência de 5-alfa-redutase, referido no texto, isso não bastaria para se afirmar que Imane é uma pessoa do gênero masculino.

“Existem condições médicas chamadas de diferenças do desenvolvimento sexual e que a população em geral conhece como intersexo”, explicou. “Apesar de a pessoa (citada no relatório do Le Correspondant) ter essas características, ela não é homem”.

“Em situações de intersexo e em algumas condições endocrinológicas específicas, você não pode afirmar que pela característica hormonal da pessoa, defeito de sexo, deficiência de 5 alfa-redutase, ela é um homem”, continuou. “Ela pode ter sido criada como mulher e ter uma identidade feminina”.

Imane Khelif foi alvo de campanha de desinformação

Em agosto de 2024, o Estadão Verifica, assim como diversas outras agências de checagens, desmentiram boatos de que Imane Khelif seria um “homem biológico”, e que sua atuação na categoria feminina no boxe olímpico nos Jogos de Paris 2924 seria uma trapaça.

A campanha de desinformação teve início quando a atleta italiana Angela Carini desistiu de uma luta contra Khelif aos 46 segundos, alegando não ter resistido à intensidade dos golpes da adversária. Os boatos se basearm em uma decisão da Associação Internacional de Boxe (IBA), que desclassificou Imane do Campeonato Mundial Feminino em 2023 por não atender critérios de elegibilidade. A associação não detalhou quais regras foram descumpridas.

Ainda em 2023, o COI descredenciou a associação por problemas de governança. Sendo assim, os critérios de elegibilidade da atleta para os Jogos de Paris 2024 foram os do COI, que veio a público afirmar que Imane seguiu os regulamentos de elegibilidade e inscrição da competição, assim como os critérios médicos aplicáveis.

Em coletiva de imprensa, Mark Adams, porta-voz oficial do COI, afirmou que a boxeadora argelina “nasceu mulher, foi registrada como mulher, viveu sua vida como mulher e lutou boxe como mulher”. Ele destacou que este “não é um caso transgênero”.

O que estão compartilhando: que a boxeadora argelina Imane Khelif, medalhista de ouro nas Olimpíadas de Paris 2024, foi considerada biologicamente do sexo masculino por um relatório médico divulgado por um jornalista francês.

O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é enganoso. O quadro clínico descrito no suposto relatório não é suficiente para afirmar que Imane Khelif é geneticamente do sexo masculino, segundo endocrinologista consultada pelo Verifica. Além disso, há inconsistências na reportagem que levantam suspeitas sobre a legitimidade do documento. A veículos de imprensa, um dos médicos ao qual é atribuída a autoria do suposto relatório nega que o tenha produzido e afirma que seu nome está sendo usado para espalhar informação falsa.

Ao Verifica, o Comitê Olímpico Internacional (COI) levantou dúvidas sobre a autenticidade do documento e reforçou que a boxeadora cumpriu com as regras de elegibilidade e inscrição dos Jogos Olímpicos de 2024, juntamente com todas as regulamentações médicas aplicáveis promulgadas pela Unidade de Boxe Paris 2024 (PBU). Imane entrou com uma ação judicial contra a divulgação do relatório.

Relatório não confirma que Imane Khelif é homem; médico negou à imprensa autoria de documento Foto: Reprodução/Instagram

Saiba mais: a postagem estampa uma foto da boxeadora argelina no ringue e, acima, a frase: “Relatório aponta que medalhista de ouro no boxe feminino nos Jogos de Paris é um homem”. A legenda da postagem reproduz um texto creditado ao jornal O Globo. Ele aponta que, segundo matéria do jornalista francês Djaffar Ait Aoudia, que teria tido acesso a um laudo médico, Khelif teria uma doença genética caracterizada pela deficiência de 5-alfa-redutase, o que teria resultado em ausência de útero e presença do que foi descrito como um “micropênis”. O texto ainda destaca que o relatório apontou que a boxeadora tem testículos “internos” e uma composição cromossômica XY (masculina).

Em uma pesquisa no Google, encontra-se um link de O Globo com a manchete que estampa a postagem. No entanto, a matéria está fora do ar. Sobre Imane Khelif, a reportagem mais recente do jornal diz que a boxeadora “acionará a Justiça após artigo afirmar que laudo médico aponta que ela era homem”. A matéria traz a repercussão da publicação original do suposto relatório divulgado pelo jornalista francês no veículo independente que ele preside, Le Correspondant.

Uma análise da publicação original, assim como outras divulgadas e posteriormente retiradas do ar pelo veículo francês trazem inconsistências em relação à conclusão de que a boxeadora argelina seria um homem.

As inconsistências do suposto relatório médico

O texto original, que continua no ar, intitulado “Imane Khelif: nem ovários nem útero, mas testículos…” foi publicado em 25 de outubro. O suposto relatório médico, segundo a publicação, teria sido assinado pelos endocrinologistas Soumaya Fedala e Jacques Young, dos hospitais Mohamed Lamine Debaghine, em Argel, capital da Argélia, e Bicêtre, em Paris.

Em textos publicados em 11 de setembro (”Não, Imane Khelif não é uma mulher”) e em 8 de setembro (”Imane Khelif: mulher até às bolas), e que hoje estão fora do ar, o conteúdo é semelhante, porém os nome dos médicos que assinam o suposto relatório são diferentes: Soumaya Fedad e David Joung. Os textos haviam sido compartilhados por Djaffar Ait Aoudia no X (1, 2) e foram recuperados com auxílio da ferramenta Wayback Machine (aqui e aqui).

O nome correto do médico é Jacques Young, como aparece no texto de Aoudia que continua no ar. O Verifica entrou em contato com o endocrinologista, mas não obteve retorno. O hospital ao qual ele é vinculado respondeu que ”não fornece nenhuma informação relacionada ao sigilo médico e, em particular, não especifica se uma pessoa se consultou ou não na unidade”.

Em relação à endocrinologista do hospital argelino, seu nome correto é Soumeya Fedala, e não Soumaya, como aparece no texto do Le Correspondant que ainda está no ar. O Verifica não conseguiu contato com ela, e nem com o hospital.

Outros veículos de imprensa que repercutiram a publicação do Le Correspondant conseguiram contato com Young. Ao portal alemão Deutsche Welle (DW), o médico afirmou que seu nome estava sendo usado para espalhar informações falsas e uma agenda antitrans. Já à agência de checagens portuguesa Polígrafo, Young garantiu que nunca escreveu ou publicou nada sobre Imane Khelif.

Há ainda outro ponto controverso. Em uma reprodução do que seria um trecho do relatório médico, que ilustra a publicação do Le Correspondant, lê-se o seguinte:

“Com efeito, nestas formas diagnosticadas tardiamente, face à história clínica, aos dados hormonais biológicos, aos dados radiológicos e à perícia psicológica e neuropsiquiátrica, o sexo feminino é sempre favorecido. É o caso de Imane, que se identifica plenamente como uma menina”.

Ou seja, o próprio relatório contradiria o texto do Le Correspondant, que afirma que “Imane Khelif é um homem na concha de uma mulher”.

Sobre a divulgação do suposto relatório médico, o COI informou que Imane está tomando providências legais sobre o caso. O comitê levantou dúvidas sobre a autenticidade do documento que, segundo o texto do Le Correspondant, teria sido enviado ao órgão em junho de 2023. “O COI não comentará enquanto ações legais estiverem em andamento, ou sobre reportagens da mídia acerca de documentos não verificados cuja origem não pode ser confirmada”, disse o COI em nota enviada ao Verifica.

A nota do COI ainda afirma que Imane cumpriu com as regras de elegibilidade e inscrição dos Jogos Olímpicos de 2024, juntamente com todas as regulamentações médicas aplicáveis. “Imane Khelif vem competindo na categoria feminina em competições internacionais de boxe há muitos anos, incluindo os Jogos Olímpicos Tóquio 2020, Campeonatos Mundiais da Associação Internacional de Boxe (IBA) e torneios sancionados pela IBA”, acrescentou a nota do COI, concluindo da seguinte forma: “O COI está entristecido pelo abuso que Imane Khelif está recebendo atualmente”.

Endocrinologista diz que quadro descrito em relatório não caracteriza gênero masculino

A pedido do Verifica, a endocrinologista Luciana Barros Oliveira, membro do Departamento de Endocrinologia Básica da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), analisou as informações que constam do texto publicado pelo Le Correspondant. Segundo ela, apesar de as características clínicas descritas estarem de acordo com um suposto quadro de deficiência de 5-alfa-redutase, referido no texto, isso não bastaria para se afirmar que Imane é uma pessoa do gênero masculino.

“Existem condições médicas chamadas de diferenças do desenvolvimento sexual e que a população em geral conhece como intersexo”, explicou. “Apesar de a pessoa (citada no relatório do Le Correspondant) ter essas características, ela não é homem”.

“Em situações de intersexo e em algumas condições endocrinológicas específicas, você não pode afirmar que pela característica hormonal da pessoa, defeito de sexo, deficiência de 5 alfa-redutase, ela é um homem”, continuou. “Ela pode ter sido criada como mulher e ter uma identidade feminina”.

Imane Khelif foi alvo de campanha de desinformação

Em agosto de 2024, o Estadão Verifica, assim como diversas outras agências de checagens, desmentiram boatos de que Imane Khelif seria um “homem biológico”, e que sua atuação na categoria feminina no boxe olímpico nos Jogos de Paris 2924 seria uma trapaça.

A campanha de desinformação teve início quando a atleta italiana Angela Carini desistiu de uma luta contra Khelif aos 46 segundos, alegando não ter resistido à intensidade dos golpes da adversária. Os boatos se basearm em uma decisão da Associação Internacional de Boxe (IBA), que desclassificou Imane do Campeonato Mundial Feminino em 2023 por não atender critérios de elegibilidade. A associação não detalhou quais regras foram descumpridas.

Ainda em 2023, o COI descredenciou a associação por problemas de governança. Sendo assim, os critérios de elegibilidade da atleta para os Jogos de Paris 2024 foram os do COI, que veio a público afirmar que Imane seguiu os regulamentos de elegibilidade e inscrição da competição, assim como os critérios médicos aplicáveis.

Em coletiva de imprensa, Mark Adams, porta-voz oficial do COI, afirmou que a boxeadora argelina “nasceu mulher, foi registrada como mulher, viveu sua vida como mulher e lutou boxe como mulher”. Ele destacou que este “não é um caso transgênero”.

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