Interferência de Lula em nomeação de coronel Cid não é inédita na história do Brasil


Texto que circula nas redes sociais diz que ‘nunca antes na história do País presidente interferiu na escolha interna do Exército para os seus comandantes’, o que é falso

Por Flavio Lobo
Atualização:

Circula nas redes sociais um texto que afirma que “nunca antes na história deste País um presidente resolveu interferir na escolha interna do Exército para os seus comandantes”. Trata-se de uma alegação falsa. São vários os exemplos que desmentem essa afirmação, incluindo presidentes da ditadura militar – Médici e Geisel – e do atual período democrático – Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma.

Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exonerou o comandante do Exército, Júlio César de Arruda. Um dos motivos para a demissão, conforme esclarece reportagem do Estadão, é o da contrariedade de Lula em relação à perspectiva de efetivação do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid como chefe do 1.º Batalhão de Ações de Comando do Exército em Goiânia.

Tenente Coronel Cid em foto de 2021. Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO
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O “coronel Cid”, como é conhecido, foi nomeado para esse comando em 2022, quando já adquirira notoriedade para além dos quartéis como ajudante de ordens e “fiel escudeiro” do então presidente Jair Bolsonaro (PL). De acordo com reportagem do site Metrópoles, o coronel Cid consta no Supremo Tribunal Federal (STF) como investigado em razão de transações financeiras que supostamente realizava para Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Em seus primeiros dias no cargo, o novo comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, atendeu à demanda presidencial e divulgou que, em conversa com o próprio coronel Cid, conseguiu demovê-lo da intenção de assumir o comando do batalhão. No texto que circula nas redes, é dito que Lula teria “pedido a cabeça” de Cid, algo inédito na história brasileira, e que o comandante Arruda teria se recusado a cumprir uma “decisão estapafúrdia”.

O que dizem a Constituição e a história

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A Constituição Federal atribui ao presidente da República a chefia suprema das Forças Armadas. Isso inclui prerrogativa de decisões discricionárias, que, desde que não firam impedimento legal, não precisam ser justificadas. Isso inclui a nomeação dos comandantes das três Forças e do ministro da Defesa.

Não há impedimento legal para que o exercício da chefia das Forças Armadas pelo presidente da República possa incluir influência sobre a designação e manutenção de comandos de unidades, órgãos ou tropas. Segundo o colunista do Estadão Marcelo Godoy, escritor e pesquisador da história do Brasil e das Forças Armadas, também não existe uma regra tácita quanto a isso.

Godoy enumera uma série de exemplos históricos anteriores em que presidentes interferiram na escolha de comandos, começando por presidentes da ditadura militar – Emilio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel – e passando por vários do atual período democrático – José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff. “Na história da república, antes e depois de 1964, tivemos milhares de militares que perderam seus postos em razão da política”, lembra Godoy. “Como consequência do golpe de 64, o regime militar cassou mais de 5 mil militares e dezenas de generais e coronéis perderam seus comandos e foram cassados”.

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PORAO S1 ARQUIVO 28/11/78 ESPECIAL PORAO POL EST ERNESTO GEISEL REPRODUCAO FOTO Foto: Reprodução

Entre os vários exemplos específicos de destituição de comandos por decisão presidencial politicamente motivada, o jornalista cita que o presidente Ernesto Geisel retirou o general Ednardo Mello do comando do 2º Exército em 1976, após um episódio iniciado em 1975. Geisel e seu grupo disputavam o poder com setores mais “linha dura” da oficialidade, que se opunham à rota de abertura política traçada sob a liderança do então general-presidente. A disputa chegou ao ápice em 1977, quando Geisel demitiu o então ministro do Exército, general Sílvio Frota. Nas palavras de Godoy, com Frota “caíram quase todo os ajudantes e auxiliares do ministro, bem como os oficiais do Centro de Informações do Exército – cerca de 80″.

João Figueiredo, Dilma e Mourão

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Exemplo do mesmo gênero, ainda que de menor envergadura, envolveu o general João Baptista Figueiredo. Em 1978, Figueiredo e Euler Bentes Monteiro disputavam a sucessão de Geisel na Presidência. Eles foram igualmente recepcionados, com as mesmas honras, pelo general Rosalvo Eduardo Jansen, comandante militar da Amazônia, que era contrário à política nos quartéis. Esse ato de isenção desagradou a Geisel, que trabalhava para emplacar Figueiredo como seu sucessor. Jansen perdeu uma promoção e, em 1979, Figueiredo assumiu a Presidência.

Entre os vários episódios semelhantes – de destituição de comando militar por discordância com a Presidência – acontecidos no atual período democrático lembrados por Godoy, destaca-se o que envolveu o general Hamilton Mourão e a presidente Dilma Rousseff. Em outubro de 2015, Mourão, que depois se tornaria vice-presidente da República e hoje é senador eleito, foi exonerado do Comando Militar do Sul por ter criticado o governo federal e permitido, num quartel sob sua chefia, uma homenagem póstuma a um chefe da repressão da ditadura.

O texto que circula nas redes é atribuído ao comentarista político Paulo Figueiredo. Até recentemente, ele atuava como comentarista político da Jovem Pan, mas foi desligado da emissora juntamente com outros comentaristas logo após a abertura, pelo Ministério Público Federal, de investigação acerca de possível envolvimento do canal com apoio aos atos golpistas do dia 8 de janeiro, em Brasília. O Estadão Verifica tentou contato com Figueiredo por e-mail, mas não obteve resposta.

Circula nas redes sociais um texto que afirma que “nunca antes na história deste País um presidente resolveu interferir na escolha interna do Exército para os seus comandantes”. Trata-se de uma alegação falsa. São vários os exemplos que desmentem essa afirmação, incluindo presidentes da ditadura militar – Médici e Geisel – e do atual período democrático – Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma.

Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exonerou o comandante do Exército, Júlio César de Arruda. Um dos motivos para a demissão, conforme esclarece reportagem do Estadão, é o da contrariedade de Lula em relação à perspectiva de efetivação do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid como chefe do 1.º Batalhão de Ações de Comando do Exército em Goiânia.

Tenente Coronel Cid em foto de 2021. Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO

O “coronel Cid”, como é conhecido, foi nomeado para esse comando em 2022, quando já adquirira notoriedade para além dos quartéis como ajudante de ordens e “fiel escudeiro” do então presidente Jair Bolsonaro (PL). De acordo com reportagem do site Metrópoles, o coronel Cid consta no Supremo Tribunal Federal (STF) como investigado em razão de transações financeiras que supostamente realizava para Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Em seus primeiros dias no cargo, o novo comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, atendeu à demanda presidencial e divulgou que, em conversa com o próprio coronel Cid, conseguiu demovê-lo da intenção de assumir o comando do batalhão. No texto que circula nas redes, é dito que Lula teria “pedido a cabeça” de Cid, algo inédito na história brasileira, e que o comandante Arruda teria se recusado a cumprir uma “decisão estapafúrdia”.

O que dizem a Constituição e a história

A Constituição Federal atribui ao presidente da República a chefia suprema das Forças Armadas. Isso inclui prerrogativa de decisões discricionárias, que, desde que não firam impedimento legal, não precisam ser justificadas. Isso inclui a nomeação dos comandantes das três Forças e do ministro da Defesa.

Não há impedimento legal para que o exercício da chefia das Forças Armadas pelo presidente da República possa incluir influência sobre a designação e manutenção de comandos de unidades, órgãos ou tropas. Segundo o colunista do Estadão Marcelo Godoy, escritor e pesquisador da história do Brasil e das Forças Armadas, também não existe uma regra tácita quanto a isso.

Godoy enumera uma série de exemplos históricos anteriores em que presidentes interferiram na escolha de comandos, começando por presidentes da ditadura militar – Emilio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel – e passando por vários do atual período democrático – José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff. “Na história da república, antes e depois de 1964, tivemos milhares de militares que perderam seus postos em razão da política”, lembra Godoy. “Como consequência do golpe de 64, o regime militar cassou mais de 5 mil militares e dezenas de generais e coronéis perderam seus comandos e foram cassados”.

PORAO S1 ARQUIVO 28/11/78 ESPECIAL PORAO POL EST ERNESTO GEISEL REPRODUCAO FOTO Foto: Reprodução

Entre os vários exemplos específicos de destituição de comandos por decisão presidencial politicamente motivada, o jornalista cita que o presidente Ernesto Geisel retirou o general Ednardo Mello do comando do 2º Exército em 1976, após um episódio iniciado em 1975. Geisel e seu grupo disputavam o poder com setores mais “linha dura” da oficialidade, que se opunham à rota de abertura política traçada sob a liderança do então general-presidente. A disputa chegou ao ápice em 1977, quando Geisel demitiu o então ministro do Exército, general Sílvio Frota. Nas palavras de Godoy, com Frota “caíram quase todo os ajudantes e auxiliares do ministro, bem como os oficiais do Centro de Informações do Exército – cerca de 80″.

João Figueiredo, Dilma e Mourão

Exemplo do mesmo gênero, ainda que de menor envergadura, envolveu o general João Baptista Figueiredo. Em 1978, Figueiredo e Euler Bentes Monteiro disputavam a sucessão de Geisel na Presidência. Eles foram igualmente recepcionados, com as mesmas honras, pelo general Rosalvo Eduardo Jansen, comandante militar da Amazônia, que era contrário à política nos quartéis. Esse ato de isenção desagradou a Geisel, que trabalhava para emplacar Figueiredo como seu sucessor. Jansen perdeu uma promoção e, em 1979, Figueiredo assumiu a Presidência.

Entre os vários episódios semelhantes – de destituição de comando militar por discordância com a Presidência – acontecidos no atual período democrático lembrados por Godoy, destaca-se o que envolveu o general Hamilton Mourão e a presidente Dilma Rousseff. Em outubro de 2015, Mourão, que depois se tornaria vice-presidente da República e hoje é senador eleito, foi exonerado do Comando Militar do Sul por ter criticado o governo federal e permitido, num quartel sob sua chefia, uma homenagem póstuma a um chefe da repressão da ditadura.

O texto que circula nas redes é atribuído ao comentarista político Paulo Figueiredo. Até recentemente, ele atuava como comentarista político da Jovem Pan, mas foi desligado da emissora juntamente com outros comentaristas logo após a abertura, pelo Ministério Público Federal, de investigação acerca de possível envolvimento do canal com apoio aos atos golpistas do dia 8 de janeiro, em Brasília. O Estadão Verifica tentou contato com Figueiredo por e-mail, mas não obteve resposta.

Circula nas redes sociais um texto que afirma que “nunca antes na história deste País um presidente resolveu interferir na escolha interna do Exército para os seus comandantes”. Trata-se de uma alegação falsa. São vários os exemplos que desmentem essa afirmação, incluindo presidentes da ditadura militar – Médici e Geisel – e do atual período democrático – Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma.

Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exonerou o comandante do Exército, Júlio César de Arruda. Um dos motivos para a demissão, conforme esclarece reportagem do Estadão, é o da contrariedade de Lula em relação à perspectiva de efetivação do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid como chefe do 1.º Batalhão de Ações de Comando do Exército em Goiânia.

Tenente Coronel Cid em foto de 2021. Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO

O “coronel Cid”, como é conhecido, foi nomeado para esse comando em 2022, quando já adquirira notoriedade para além dos quartéis como ajudante de ordens e “fiel escudeiro” do então presidente Jair Bolsonaro (PL). De acordo com reportagem do site Metrópoles, o coronel Cid consta no Supremo Tribunal Federal (STF) como investigado em razão de transações financeiras que supostamente realizava para Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Em seus primeiros dias no cargo, o novo comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, atendeu à demanda presidencial e divulgou que, em conversa com o próprio coronel Cid, conseguiu demovê-lo da intenção de assumir o comando do batalhão. No texto que circula nas redes, é dito que Lula teria “pedido a cabeça” de Cid, algo inédito na história brasileira, e que o comandante Arruda teria se recusado a cumprir uma “decisão estapafúrdia”.

O que dizem a Constituição e a história

A Constituição Federal atribui ao presidente da República a chefia suprema das Forças Armadas. Isso inclui prerrogativa de decisões discricionárias, que, desde que não firam impedimento legal, não precisam ser justificadas. Isso inclui a nomeação dos comandantes das três Forças e do ministro da Defesa.

Não há impedimento legal para que o exercício da chefia das Forças Armadas pelo presidente da República possa incluir influência sobre a designação e manutenção de comandos de unidades, órgãos ou tropas. Segundo o colunista do Estadão Marcelo Godoy, escritor e pesquisador da história do Brasil e das Forças Armadas, também não existe uma regra tácita quanto a isso.

Godoy enumera uma série de exemplos históricos anteriores em que presidentes interferiram na escolha de comandos, começando por presidentes da ditadura militar – Emilio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel – e passando por vários do atual período democrático – José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff. “Na história da república, antes e depois de 1964, tivemos milhares de militares que perderam seus postos em razão da política”, lembra Godoy. “Como consequência do golpe de 64, o regime militar cassou mais de 5 mil militares e dezenas de generais e coronéis perderam seus comandos e foram cassados”.

PORAO S1 ARQUIVO 28/11/78 ESPECIAL PORAO POL EST ERNESTO GEISEL REPRODUCAO FOTO Foto: Reprodução

Entre os vários exemplos específicos de destituição de comandos por decisão presidencial politicamente motivada, o jornalista cita que o presidente Ernesto Geisel retirou o general Ednardo Mello do comando do 2º Exército em 1976, após um episódio iniciado em 1975. Geisel e seu grupo disputavam o poder com setores mais “linha dura” da oficialidade, que se opunham à rota de abertura política traçada sob a liderança do então general-presidente. A disputa chegou ao ápice em 1977, quando Geisel demitiu o então ministro do Exército, general Sílvio Frota. Nas palavras de Godoy, com Frota “caíram quase todo os ajudantes e auxiliares do ministro, bem como os oficiais do Centro de Informações do Exército – cerca de 80″.

João Figueiredo, Dilma e Mourão

Exemplo do mesmo gênero, ainda que de menor envergadura, envolveu o general João Baptista Figueiredo. Em 1978, Figueiredo e Euler Bentes Monteiro disputavam a sucessão de Geisel na Presidência. Eles foram igualmente recepcionados, com as mesmas honras, pelo general Rosalvo Eduardo Jansen, comandante militar da Amazônia, que era contrário à política nos quartéis. Esse ato de isenção desagradou a Geisel, que trabalhava para emplacar Figueiredo como seu sucessor. Jansen perdeu uma promoção e, em 1979, Figueiredo assumiu a Presidência.

Entre os vários episódios semelhantes – de destituição de comando militar por discordância com a Presidência – acontecidos no atual período democrático lembrados por Godoy, destaca-se o que envolveu o general Hamilton Mourão e a presidente Dilma Rousseff. Em outubro de 2015, Mourão, que depois se tornaria vice-presidente da República e hoje é senador eleito, foi exonerado do Comando Militar do Sul por ter criticado o governo federal e permitido, num quartel sob sua chefia, uma homenagem póstuma a um chefe da repressão da ditadura.

O texto que circula nas redes é atribuído ao comentarista político Paulo Figueiredo. Até recentemente, ele atuava como comentarista político da Jovem Pan, mas foi desligado da emissora juntamente com outros comentaristas logo após a abertura, pelo Ministério Público Federal, de investigação acerca de possível envolvimento do canal com apoio aos atos golpistas do dia 8 de janeiro, em Brasília. O Estadão Verifica tentou contato com Figueiredo por e-mail, mas não obteve resposta.

Circula nas redes sociais um texto que afirma que “nunca antes na história deste País um presidente resolveu interferir na escolha interna do Exército para os seus comandantes”. Trata-se de uma alegação falsa. São vários os exemplos que desmentem essa afirmação, incluindo presidentes da ditadura militar – Médici e Geisel – e do atual período democrático – Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma.

Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exonerou o comandante do Exército, Júlio César de Arruda. Um dos motivos para a demissão, conforme esclarece reportagem do Estadão, é o da contrariedade de Lula em relação à perspectiva de efetivação do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid como chefe do 1.º Batalhão de Ações de Comando do Exército em Goiânia.

Tenente Coronel Cid em foto de 2021. Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO

O “coronel Cid”, como é conhecido, foi nomeado para esse comando em 2022, quando já adquirira notoriedade para além dos quartéis como ajudante de ordens e “fiel escudeiro” do então presidente Jair Bolsonaro (PL). De acordo com reportagem do site Metrópoles, o coronel Cid consta no Supremo Tribunal Federal (STF) como investigado em razão de transações financeiras que supostamente realizava para Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Em seus primeiros dias no cargo, o novo comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, atendeu à demanda presidencial e divulgou que, em conversa com o próprio coronel Cid, conseguiu demovê-lo da intenção de assumir o comando do batalhão. No texto que circula nas redes, é dito que Lula teria “pedido a cabeça” de Cid, algo inédito na história brasileira, e que o comandante Arruda teria se recusado a cumprir uma “decisão estapafúrdia”.

O que dizem a Constituição e a história

A Constituição Federal atribui ao presidente da República a chefia suprema das Forças Armadas. Isso inclui prerrogativa de decisões discricionárias, que, desde que não firam impedimento legal, não precisam ser justificadas. Isso inclui a nomeação dos comandantes das três Forças e do ministro da Defesa.

Não há impedimento legal para que o exercício da chefia das Forças Armadas pelo presidente da República possa incluir influência sobre a designação e manutenção de comandos de unidades, órgãos ou tropas. Segundo o colunista do Estadão Marcelo Godoy, escritor e pesquisador da história do Brasil e das Forças Armadas, também não existe uma regra tácita quanto a isso.

Godoy enumera uma série de exemplos históricos anteriores em que presidentes interferiram na escolha de comandos, começando por presidentes da ditadura militar – Emilio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel – e passando por vários do atual período democrático – José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff. “Na história da república, antes e depois de 1964, tivemos milhares de militares que perderam seus postos em razão da política”, lembra Godoy. “Como consequência do golpe de 64, o regime militar cassou mais de 5 mil militares e dezenas de generais e coronéis perderam seus comandos e foram cassados”.

PORAO S1 ARQUIVO 28/11/78 ESPECIAL PORAO POL EST ERNESTO GEISEL REPRODUCAO FOTO Foto: Reprodução

Entre os vários exemplos específicos de destituição de comandos por decisão presidencial politicamente motivada, o jornalista cita que o presidente Ernesto Geisel retirou o general Ednardo Mello do comando do 2º Exército em 1976, após um episódio iniciado em 1975. Geisel e seu grupo disputavam o poder com setores mais “linha dura” da oficialidade, que se opunham à rota de abertura política traçada sob a liderança do então general-presidente. A disputa chegou ao ápice em 1977, quando Geisel demitiu o então ministro do Exército, general Sílvio Frota. Nas palavras de Godoy, com Frota “caíram quase todo os ajudantes e auxiliares do ministro, bem como os oficiais do Centro de Informações do Exército – cerca de 80″.

João Figueiredo, Dilma e Mourão

Exemplo do mesmo gênero, ainda que de menor envergadura, envolveu o general João Baptista Figueiredo. Em 1978, Figueiredo e Euler Bentes Monteiro disputavam a sucessão de Geisel na Presidência. Eles foram igualmente recepcionados, com as mesmas honras, pelo general Rosalvo Eduardo Jansen, comandante militar da Amazônia, que era contrário à política nos quartéis. Esse ato de isenção desagradou a Geisel, que trabalhava para emplacar Figueiredo como seu sucessor. Jansen perdeu uma promoção e, em 1979, Figueiredo assumiu a Presidência.

Entre os vários episódios semelhantes – de destituição de comando militar por discordância com a Presidência – acontecidos no atual período democrático lembrados por Godoy, destaca-se o que envolveu o general Hamilton Mourão e a presidente Dilma Rousseff. Em outubro de 2015, Mourão, que depois se tornaria vice-presidente da República e hoje é senador eleito, foi exonerado do Comando Militar do Sul por ter criticado o governo federal e permitido, num quartel sob sua chefia, uma homenagem póstuma a um chefe da repressão da ditadura.

O texto que circula nas redes é atribuído ao comentarista político Paulo Figueiredo. Até recentemente, ele atuava como comentarista político da Jovem Pan, mas foi desligado da emissora juntamente com outros comentaristas logo após a abertura, pelo Ministério Público Federal, de investigação acerca de possível envolvimento do canal com apoio aos atos golpistas do dia 8 de janeiro, em Brasília. O Estadão Verifica tentou contato com Figueiredo por e-mail, mas não obteve resposta.

Circula nas redes sociais um texto que afirma que “nunca antes na história deste País um presidente resolveu interferir na escolha interna do Exército para os seus comandantes”. Trata-se de uma alegação falsa. São vários os exemplos que desmentem essa afirmação, incluindo presidentes da ditadura militar – Médici e Geisel – e do atual período democrático – Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma.

Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exonerou o comandante do Exército, Júlio César de Arruda. Um dos motivos para a demissão, conforme esclarece reportagem do Estadão, é o da contrariedade de Lula em relação à perspectiva de efetivação do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid como chefe do 1.º Batalhão de Ações de Comando do Exército em Goiânia.

Tenente Coronel Cid em foto de 2021. Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO

O “coronel Cid”, como é conhecido, foi nomeado para esse comando em 2022, quando já adquirira notoriedade para além dos quartéis como ajudante de ordens e “fiel escudeiro” do então presidente Jair Bolsonaro (PL). De acordo com reportagem do site Metrópoles, o coronel Cid consta no Supremo Tribunal Federal (STF) como investigado em razão de transações financeiras que supostamente realizava para Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Em seus primeiros dias no cargo, o novo comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, atendeu à demanda presidencial e divulgou que, em conversa com o próprio coronel Cid, conseguiu demovê-lo da intenção de assumir o comando do batalhão. No texto que circula nas redes, é dito que Lula teria “pedido a cabeça” de Cid, algo inédito na história brasileira, e que o comandante Arruda teria se recusado a cumprir uma “decisão estapafúrdia”.

O que dizem a Constituição e a história

A Constituição Federal atribui ao presidente da República a chefia suprema das Forças Armadas. Isso inclui prerrogativa de decisões discricionárias, que, desde que não firam impedimento legal, não precisam ser justificadas. Isso inclui a nomeação dos comandantes das três Forças e do ministro da Defesa.

Não há impedimento legal para que o exercício da chefia das Forças Armadas pelo presidente da República possa incluir influência sobre a designação e manutenção de comandos de unidades, órgãos ou tropas. Segundo o colunista do Estadão Marcelo Godoy, escritor e pesquisador da história do Brasil e das Forças Armadas, também não existe uma regra tácita quanto a isso.

Godoy enumera uma série de exemplos históricos anteriores em que presidentes interferiram na escolha de comandos, começando por presidentes da ditadura militar – Emilio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel – e passando por vários do atual período democrático – José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff. “Na história da república, antes e depois de 1964, tivemos milhares de militares que perderam seus postos em razão da política”, lembra Godoy. “Como consequência do golpe de 64, o regime militar cassou mais de 5 mil militares e dezenas de generais e coronéis perderam seus comandos e foram cassados”.

PORAO S1 ARQUIVO 28/11/78 ESPECIAL PORAO POL EST ERNESTO GEISEL REPRODUCAO FOTO Foto: Reprodução

Entre os vários exemplos específicos de destituição de comandos por decisão presidencial politicamente motivada, o jornalista cita que o presidente Ernesto Geisel retirou o general Ednardo Mello do comando do 2º Exército em 1976, após um episódio iniciado em 1975. Geisel e seu grupo disputavam o poder com setores mais “linha dura” da oficialidade, que se opunham à rota de abertura política traçada sob a liderança do então general-presidente. A disputa chegou ao ápice em 1977, quando Geisel demitiu o então ministro do Exército, general Sílvio Frota. Nas palavras de Godoy, com Frota “caíram quase todo os ajudantes e auxiliares do ministro, bem como os oficiais do Centro de Informações do Exército – cerca de 80″.

João Figueiredo, Dilma e Mourão

Exemplo do mesmo gênero, ainda que de menor envergadura, envolveu o general João Baptista Figueiredo. Em 1978, Figueiredo e Euler Bentes Monteiro disputavam a sucessão de Geisel na Presidência. Eles foram igualmente recepcionados, com as mesmas honras, pelo general Rosalvo Eduardo Jansen, comandante militar da Amazônia, que era contrário à política nos quartéis. Esse ato de isenção desagradou a Geisel, que trabalhava para emplacar Figueiredo como seu sucessor. Jansen perdeu uma promoção e, em 1979, Figueiredo assumiu a Presidência.

Entre os vários episódios semelhantes – de destituição de comando militar por discordância com a Presidência – acontecidos no atual período democrático lembrados por Godoy, destaca-se o que envolveu o general Hamilton Mourão e a presidente Dilma Rousseff. Em outubro de 2015, Mourão, que depois se tornaria vice-presidente da República e hoje é senador eleito, foi exonerado do Comando Militar do Sul por ter criticado o governo federal e permitido, num quartel sob sua chefia, uma homenagem póstuma a um chefe da repressão da ditadura.

O texto que circula nas redes é atribuído ao comentarista político Paulo Figueiredo. Até recentemente, ele atuava como comentarista político da Jovem Pan, mas foi desligado da emissora juntamente com outros comentaristas logo após a abertura, pelo Ministério Público Federal, de investigação acerca de possível envolvimento do canal com apoio aos atos golpistas do dia 8 de janeiro, em Brasília. O Estadão Verifica tentou contato com Figueiredo por e-mail, mas não obteve resposta.

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