Não há comprovação de eficácia da ivermectina no tratamento de câncer


Estudos sobre uso do medicamento ainda estão em fase inicial; artigo que sugere protocolo com uso do remédio é chamado de ‘temerário’ por especialista

Por Bernardo Costa

O que estão compartilhando: que foi revisado por pares e publicado o primeiro protocolo do mundo para o tratamento de câncer que utiliza ivermectina combinada a outros medicamentos, como mebendazol e fenbendazol. A legenda da postagem diz que a notícia pode mudar o rumo da terapia do câncer.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Especialistas consultados pela reportagem afirmam que o estudo não tem fundamento científico e que a revista que o publicou não tem reconhecimento no meio médico. A sugestão de um protocolo contra câncer é considerada “temerária” pelos estudiosos ouvidos. Eles afirmam que as pesquisas sobre ivermectina, mebendazol e fenbendazol para o tratamento de câncer estão em fase inicial. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer (Inca) afirmam não haver comprovação científica do uso de ivermectina para o tratamento de câncer.

Captura de tela da postagem verificada Foto: Reprodução/Instagram
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Saiba mais: a postagem faz referência a um artigo publicado em 19 de setembro no Journal of Orthomolecular Medicine, publicação da International Society for Orthomolecular Medicine (Isom), criada em 1994, em Vancouver, Canadá. A ivermectina é incluída em um protocolo associada a outros medicamentos, como mebendazol e fenbendazol, além de algumas vitaminas. O protocolo para o tratamento de câncer, inclusive com dosagens estipuladas, é sugerido a partir da análise de estudos consultados pelos autores do texto.

No entanto, segundo o oncologista Henrique Helber, do Hospital Israelita Albert Einstein, esses estudos são pré-clínicos, realizados em compostos celulares ou animais, em laboratório. Ou seja, não há comprovação científica de eficácia em testes em humanos.

“O estudo mostra, de uma forma geral, que essas medicações foram estudadas apenas em estudos pré-clínicos”, explicou Helber. “A gente até vê uma descrição por esses estudos de que há alguma atividade antitumoral relacionada a essas medicações e vitaminas, mas isso in vitro (fora de organismo vivos)”.

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O oncologista explica que para que um medicamento seja aprovado por órgãos regulatórios para o tratamento de uma doença é necessário que haja uma série de estudos clínicos em humanos, o que pode levar anos. “E a gente vê que medicações que até funcionam na fase pré-clínica, na maioria das vezes, nas fases clínicas, nos estudos maiores em pessoas, acabam falhando”, disse Helber.

A professora de Farmacologia Aislan Pascoal, do Departamento de Ciências Básicas da Universidade Federal Fluminense (UFF), analisou os ensaios referentes a ivermectina mencionados no estudo que sugere o protocolo de tratamento. Ela também confirmou que são pré-clínicos, sem comprovação de eficácia em humanos.

“São estudos iniciais, feitos em laboratório, in vitro, em culturas de células”, disse a professora. “É o primeiro passo de uma longa caminhada. Ainda é preciso fazer análises em animais e depois em humanos. Para que um medicamento seja aprovado para o tratamento de câncer, as pesquisas levam de 10 a 15 anos, e começam nos ensaios pré-clínicos”.

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Helber classifica como temerário o estudo que aponta protocolo com utilização de ivermectina associada a outras drogas para tratamento de câncer. “A gente não tem evidências individuais de eficácia dessas medicações e muito menos com elas dadas em conjunto com essas doses específicas que o estudo sugere”, detalhou o oncologista do Hospital Albert Einstein.

O professor Harley Francisco de Oliveira, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP), afirma que o estudo não tem nenhum fundamento científico. E que a revista que o publicou não tem credibilidade no meio. Segundo Oliveira, há estudos sobre o uso de ivermectina em combinação com imunoterapia para o câncer, mas todos em caráter experimental.

“Há resultados interessantes. No entanto, esses estudos não provam que o medicamento sequer funciona em humanos”, explicou. “Não conheço nenhum relato de ensaio clínico sério que tenha produzido resultados adequados em pessoas com câncer. Ainda há um longo caminho a se percorrer nesse sentido”, detalhou o professor, acrescentando que o mesmo pode ser dito em relação ao mebendazol e fenbendazol.

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Anvisa: ivermectina não é indicada para câncer

Postagens em redes sociais têm associado o uso de ivermectina ao tratamento de câncer. Assim como os profissionais consultados, a Anvisa, a Sboc, o Ministério da Saúde e o Inca afirmam que não há nenhuma evidência científica de que o medicamento tenha eficácia no tratamento contra o câncer.

Segundo a Anvisa, a ivermectina tem indicação aprovada para o tratamento de várias condições causadas por vermes ou parasitas. De acordo com a agência, os estudos demonstram que a ivermectina funciona no tratamento das seguintes infecções:

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  • Estrongiloidíase intestinal: causada por um parasita denominado Strongyloides stercoralis.
  • Oncocercose: causada por um parasita denominado Onchocerca volvulus.
  • Filariose (elefantíase): causada pelo parasita Wuchereria bancrofti.
  • Ascaridíase (lombriga): causada pelo parasita Ascaris lumbricoides.
  • Escabiose (sarna): causada pelo parasita Sarcoptes scabiei.
  • Pediculose (piolho): causada pelo parasita Pediculus humanus capitis

A Anvisa afirma que não há qualquer indicação aprovada para uso da ivermectina em outras situações. “Não foram apresentados dados de segurança ou eficácia para outras finalidades”, disse o órgão.

Em nota enviada ao Verifica, a Sboc afirma que não há embasamento científico em relação à utilização da ivermectina como tratamento alternativo contra o câncer. “Pacientes e seus familiares frequentemente recebem informações sobre tratamentos que não são respaldados pela comunidade científica”, diz a nota. “Vivemos uma grande crise em relação a divulgação de tratamentos alternativos sem fundamento científico, causando impacto significativo na população e levando pessoas a buscarem essas medicações ou substituírem seus tratamentos”.

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A Sboc acrescenta que disponibiliza, em seu site, uma página especial com infográficos que destacam os principais métodos cientificamente comprovados para reduzir o risco de câncer.

O Inca informou que “não existe nenhuma evidência científica que comprove que a ivermectina é eficaz no tratamento de câncer”. Já o Ministério da Saúde enfatiza que “a ivermectina não deve ser usada para tratar câncer”.

O que estão compartilhando: que foi revisado por pares e publicado o primeiro protocolo do mundo para o tratamento de câncer que utiliza ivermectina combinada a outros medicamentos, como mebendazol e fenbendazol. A legenda da postagem diz que a notícia pode mudar o rumo da terapia do câncer.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Especialistas consultados pela reportagem afirmam que o estudo não tem fundamento científico e que a revista que o publicou não tem reconhecimento no meio médico. A sugestão de um protocolo contra câncer é considerada “temerária” pelos estudiosos ouvidos. Eles afirmam que as pesquisas sobre ivermectina, mebendazol e fenbendazol para o tratamento de câncer estão em fase inicial. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer (Inca) afirmam não haver comprovação científica do uso de ivermectina para o tratamento de câncer.

Captura de tela da postagem verificada Foto: Reprodução/Instagram

Saiba mais: a postagem faz referência a um artigo publicado em 19 de setembro no Journal of Orthomolecular Medicine, publicação da International Society for Orthomolecular Medicine (Isom), criada em 1994, em Vancouver, Canadá. A ivermectina é incluída em um protocolo associada a outros medicamentos, como mebendazol e fenbendazol, além de algumas vitaminas. O protocolo para o tratamento de câncer, inclusive com dosagens estipuladas, é sugerido a partir da análise de estudos consultados pelos autores do texto.

No entanto, segundo o oncologista Henrique Helber, do Hospital Israelita Albert Einstein, esses estudos são pré-clínicos, realizados em compostos celulares ou animais, em laboratório. Ou seja, não há comprovação científica de eficácia em testes em humanos.

“O estudo mostra, de uma forma geral, que essas medicações foram estudadas apenas em estudos pré-clínicos”, explicou Helber. “A gente até vê uma descrição por esses estudos de que há alguma atividade antitumoral relacionada a essas medicações e vitaminas, mas isso in vitro (fora de organismo vivos)”.

O oncologista explica que para que um medicamento seja aprovado por órgãos regulatórios para o tratamento de uma doença é necessário que haja uma série de estudos clínicos em humanos, o que pode levar anos. “E a gente vê que medicações que até funcionam na fase pré-clínica, na maioria das vezes, nas fases clínicas, nos estudos maiores em pessoas, acabam falhando”, disse Helber.

A professora de Farmacologia Aislan Pascoal, do Departamento de Ciências Básicas da Universidade Federal Fluminense (UFF), analisou os ensaios referentes a ivermectina mencionados no estudo que sugere o protocolo de tratamento. Ela também confirmou que são pré-clínicos, sem comprovação de eficácia em humanos.

“São estudos iniciais, feitos em laboratório, in vitro, em culturas de células”, disse a professora. “É o primeiro passo de uma longa caminhada. Ainda é preciso fazer análises em animais e depois em humanos. Para que um medicamento seja aprovado para o tratamento de câncer, as pesquisas levam de 10 a 15 anos, e começam nos ensaios pré-clínicos”.

Helber classifica como temerário o estudo que aponta protocolo com utilização de ivermectina associada a outras drogas para tratamento de câncer. “A gente não tem evidências individuais de eficácia dessas medicações e muito menos com elas dadas em conjunto com essas doses específicas que o estudo sugere”, detalhou o oncologista do Hospital Albert Einstein.

O professor Harley Francisco de Oliveira, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP), afirma que o estudo não tem nenhum fundamento científico. E que a revista que o publicou não tem credibilidade no meio. Segundo Oliveira, há estudos sobre o uso de ivermectina em combinação com imunoterapia para o câncer, mas todos em caráter experimental.

“Há resultados interessantes. No entanto, esses estudos não provam que o medicamento sequer funciona em humanos”, explicou. “Não conheço nenhum relato de ensaio clínico sério que tenha produzido resultados adequados em pessoas com câncer. Ainda há um longo caminho a se percorrer nesse sentido”, detalhou o professor, acrescentando que o mesmo pode ser dito em relação ao mebendazol e fenbendazol.

Anvisa: ivermectina não é indicada para câncer

Postagens em redes sociais têm associado o uso de ivermectina ao tratamento de câncer. Assim como os profissionais consultados, a Anvisa, a Sboc, o Ministério da Saúde e o Inca afirmam que não há nenhuma evidência científica de que o medicamento tenha eficácia no tratamento contra o câncer.

Segundo a Anvisa, a ivermectina tem indicação aprovada para o tratamento de várias condições causadas por vermes ou parasitas. De acordo com a agência, os estudos demonstram que a ivermectina funciona no tratamento das seguintes infecções:

  • Estrongiloidíase intestinal: causada por um parasita denominado Strongyloides stercoralis.
  • Oncocercose: causada por um parasita denominado Onchocerca volvulus.
  • Filariose (elefantíase): causada pelo parasita Wuchereria bancrofti.
  • Ascaridíase (lombriga): causada pelo parasita Ascaris lumbricoides.
  • Escabiose (sarna): causada pelo parasita Sarcoptes scabiei.
  • Pediculose (piolho): causada pelo parasita Pediculus humanus capitis

A Anvisa afirma que não há qualquer indicação aprovada para uso da ivermectina em outras situações. “Não foram apresentados dados de segurança ou eficácia para outras finalidades”, disse o órgão.

Em nota enviada ao Verifica, a Sboc afirma que não há embasamento científico em relação à utilização da ivermectina como tratamento alternativo contra o câncer. “Pacientes e seus familiares frequentemente recebem informações sobre tratamentos que não são respaldados pela comunidade científica”, diz a nota. “Vivemos uma grande crise em relação a divulgação de tratamentos alternativos sem fundamento científico, causando impacto significativo na população e levando pessoas a buscarem essas medicações ou substituírem seus tratamentos”.

A Sboc acrescenta que disponibiliza, em seu site, uma página especial com infográficos que destacam os principais métodos cientificamente comprovados para reduzir o risco de câncer.

O Inca informou que “não existe nenhuma evidência científica que comprove que a ivermectina é eficaz no tratamento de câncer”. Já o Ministério da Saúde enfatiza que “a ivermectina não deve ser usada para tratar câncer”.

O que estão compartilhando: que foi revisado por pares e publicado o primeiro protocolo do mundo para o tratamento de câncer que utiliza ivermectina combinada a outros medicamentos, como mebendazol e fenbendazol. A legenda da postagem diz que a notícia pode mudar o rumo da terapia do câncer.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Especialistas consultados pela reportagem afirmam que o estudo não tem fundamento científico e que a revista que o publicou não tem reconhecimento no meio médico. A sugestão de um protocolo contra câncer é considerada “temerária” pelos estudiosos ouvidos. Eles afirmam que as pesquisas sobre ivermectina, mebendazol e fenbendazol para o tratamento de câncer estão em fase inicial. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer (Inca) afirmam não haver comprovação científica do uso de ivermectina para o tratamento de câncer.

Captura de tela da postagem verificada Foto: Reprodução/Instagram

Saiba mais: a postagem faz referência a um artigo publicado em 19 de setembro no Journal of Orthomolecular Medicine, publicação da International Society for Orthomolecular Medicine (Isom), criada em 1994, em Vancouver, Canadá. A ivermectina é incluída em um protocolo associada a outros medicamentos, como mebendazol e fenbendazol, além de algumas vitaminas. O protocolo para o tratamento de câncer, inclusive com dosagens estipuladas, é sugerido a partir da análise de estudos consultados pelos autores do texto.

No entanto, segundo o oncologista Henrique Helber, do Hospital Israelita Albert Einstein, esses estudos são pré-clínicos, realizados em compostos celulares ou animais, em laboratório. Ou seja, não há comprovação científica de eficácia em testes em humanos.

“O estudo mostra, de uma forma geral, que essas medicações foram estudadas apenas em estudos pré-clínicos”, explicou Helber. “A gente até vê uma descrição por esses estudos de que há alguma atividade antitumoral relacionada a essas medicações e vitaminas, mas isso in vitro (fora de organismo vivos)”.

O oncologista explica que para que um medicamento seja aprovado por órgãos regulatórios para o tratamento de uma doença é necessário que haja uma série de estudos clínicos em humanos, o que pode levar anos. “E a gente vê que medicações que até funcionam na fase pré-clínica, na maioria das vezes, nas fases clínicas, nos estudos maiores em pessoas, acabam falhando”, disse Helber.

A professora de Farmacologia Aislan Pascoal, do Departamento de Ciências Básicas da Universidade Federal Fluminense (UFF), analisou os ensaios referentes a ivermectina mencionados no estudo que sugere o protocolo de tratamento. Ela também confirmou que são pré-clínicos, sem comprovação de eficácia em humanos.

“São estudos iniciais, feitos em laboratório, in vitro, em culturas de células”, disse a professora. “É o primeiro passo de uma longa caminhada. Ainda é preciso fazer análises em animais e depois em humanos. Para que um medicamento seja aprovado para o tratamento de câncer, as pesquisas levam de 10 a 15 anos, e começam nos ensaios pré-clínicos”.

Helber classifica como temerário o estudo que aponta protocolo com utilização de ivermectina associada a outras drogas para tratamento de câncer. “A gente não tem evidências individuais de eficácia dessas medicações e muito menos com elas dadas em conjunto com essas doses específicas que o estudo sugere”, detalhou o oncologista do Hospital Albert Einstein.

O professor Harley Francisco de Oliveira, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP), afirma que o estudo não tem nenhum fundamento científico. E que a revista que o publicou não tem credibilidade no meio. Segundo Oliveira, há estudos sobre o uso de ivermectina em combinação com imunoterapia para o câncer, mas todos em caráter experimental.

“Há resultados interessantes. No entanto, esses estudos não provam que o medicamento sequer funciona em humanos”, explicou. “Não conheço nenhum relato de ensaio clínico sério que tenha produzido resultados adequados em pessoas com câncer. Ainda há um longo caminho a se percorrer nesse sentido”, detalhou o professor, acrescentando que o mesmo pode ser dito em relação ao mebendazol e fenbendazol.

Anvisa: ivermectina não é indicada para câncer

Postagens em redes sociais têm associado o uso de ivermectina ao tratamento de câncer. Assim como os profissionais consultados, a Anvisa, a Sboc, o Ministério da Saúde e o Inca afirmam que não há nenhuma evidência científica de que o medicamento tenha eficácia no tratamento contra o câncer.

Segundo a Anvisa, a ivermectina tem indicação aprovada para o tratamento de várias condições causadas por vermes ou parasitas. De acordo com a agência, os estudos demonstram que a ivermectina funciona no tratamento das seguintes infecções:

  • Estrongiloidíase intestinal: causada por um parasita denominado Strongyloides stercoralis.
  • Oncocercose: causada por um parasita denominado Onchocerca volvulus.
  • Filariose (elefantíase): causada pelo parasita Wuchereria bancrofti.
  • Ascaridíase (lombriga): causada pelo parasita Ascaris lumbricoides.
  • Escabiose (sarna): causada pelo parasita Sarcoptes scabiei.
  • Pediculose (piolho): causada pelo parasita Pediculus humanus capitis

A Anvisa afirma que não há qualquer indicação aprovada para uso da ivermectina em outras situações. “Não foram apresentados dados de segurança ou eficácia para outras finalidades”, disse o órgão.

Em nota enviada ao Verifica, a Sboc afirma que não há embasamento científico em relação à utilização da ivermectina como tratamento alternativo contra o câncer. “Pacientes e seus familiares frequentemente recebem informações sobre tratamentos que não são respaldados pela comunidade científica”, diz a nota. “Vivemos uma grande crise em relação a divulgação de tratamentos alternativos sem fundamento científico, causando impacto significativo na população e levando pessoas a buscarem essas medicações ou substituírem seus tratamentos”.

A Sboc acrescenta que disponibiliza, em seu site, uma página especial com infográficos que destacam os principais métodos cientificamente comprovados para reduzir o risco de câncer.

O Inca informou que “não existe nenhuma evidência científica que comprove que a ivermectina é eficaz no tratamento de câncer”. Já o Ministério da Saúde enfatiza que “a ivermectina não deve ser usada para tratar câncer”.

O que estão compartilhando: que foi revisado por pares e publicado o primeiro protocolo do mundo para o tratamento de câncer que utiliza ivermectina combinada a outros medicamentos, como mebendazol e fenbendazol. A legenda da postagem diz que a notícia pode mudar o rumo da terapia do câncer.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Especialistas consultados pela reportagem afirmam que o estudo não tem fundamento científico e que a revista que o publicou não tem reconhecimento no meio médico. A sugestão de um protocolo contra câncer é considerada “temerária” pelos estudiosos ouvidos. Eles afirmam que as pesquisas sobre ivermectina, mebendazol e fenbendazol para o tratamento de câncer estão em fase inicial. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer (Inca) afirmam não haver comprovação científica do uso de ivermectina para o tratamento de câncer.

Captura de tela da postagem verificada Foto: Reprodução/Instagram

Saiba mais: a postagem faz referência a um artigo publicado em 19 de setembro no Journal of Orthomolecular Medicine, publicação da International Society for Orthomolecular Medicine (Isom), criada em 1994, em Vancouver, Canadá. A ivermectina é incluída em um protocolo associada a outros medicamentos, como mebendazol e fenbendazol, além de algumas vitaminas. O protocolo para o tratamento de câncer, inclusive com dosagens estipuladas, é sugerido a partir da análise de estudos consultados pelos autores do texto.

No entanto, segundo o oncologista Henrique Helber, do Hospital Israelita Albert Einstein, esses estudos são pré-clínicos, realizados em compostos celulares ou animais, em laboratório. Ou seja, não há comprovação científica de eficácia em testes em humanos.

“O estudo mostra, de uma forma geral, que essas medicações foram estudadas apenas em estudos pré-clínicos”, explicou Helber. “A gente até vê uma descrição por esses estudos de que há alguma atividade antitumoral relacionada a essas medicações e vitaminas, mas isso in vitro (fora de organismo vivos)”.

O oncologista explica que para que um medicamento seja aprovado por órgãos regulatórios para o tratamento de uma doença é necessário que haja uma série de estudos clínicos em humanos, o que pode levar anos. “E a gente vê que medicações que até funcionam na fase pré-clínica, na maioria das vezes, nas fases clínicas, nos estudos maiores em pessoas, acabam falhando”, disse Helber.

A professora de Farmacologia Aislan Pascoal, do Departamento de Ciências Básicas da Universidade Federal Fluminense (UFF), analisou os ensaios referentes a ivermectina mencionados no estudo que sugere o protocolo de tratamento. Ela também confirmou que são pré-clínicos, sem comprovação de eficácia em humanos.

“São estudos iniciais, feitos em laboratório, in vitro, em culturas de células”, disse a professora. “É o primeiro passo de uma longa caminhada. Ainda é preciso fazer análises em animais e depois em humanos. Para que um medicamento seja aprovado para o tratamento de câncer, as pesquisas levam de 10 a 15 anos, e começam nos ensaios pré-clínicos”.

Helber classifica como temerário o estudo que aponta protocolo com utilização de ivermectina associada a outras drogas para tratamento de câncer. “A gente não tem evidências individuais de eficácia dessas medicações e muito menos com elas dadas em conjunto com essas doses específicas que o estudo sugere”, detalhou o oncologista do Hospital Albert Einstein.

O professor Harley Francisco de Oliveira, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP), afirma que o estudo não tem nenhum fundamento científico. E que a revista que o publicou não tem credibilidade no meio. Segundo Oliveira, há estudos sobre o uso de ivermectina em combinação com imunoterapia para o câncer, mas todos em caráter experimental.

“Há resultados interessantes. No entanto, esses estudos não provam que o medicamento sequer funciona em humanos”, explicou. “Não conheço nenhum relato de ensaio clínico sério que tenha produzido resultados adequados em pessoas com câncer. Ainda há um longo caminho a se percorrer nesse sentido”, detalhou o professor, acrescentando que o mesmo pode ser dito em relação ao mebendazol e fenbendazol.

Anvisa: ivermectina não é indicada para câncer

Postagens em redes sociais têm associado o uso de ivermectina ao tratamento de câncer. Assim como os profissionais consultados, a Anvisa, a Sboc, o Ministério da Saúde e o Inca afirmam que não há nenhuma evidência científica de que o medicamento tenha eficácia no tratamento contra o câncer.

Segundo a Anvisa, a ivermectina tem indicação aprovada para o tratamento de várias condições causadas por vermes ou parasitas. De acordo com a agência, os estudos demonstram que a ivermectina funciona no tratamento das seguintes infecções:

  • Estrongiloidíase intestinal: causada por um parasita denominado Strongyloides stercoralis.
  • Oncocercose: causada por um parasita denominado Onchocerca volvulus.
  • Filariose (elefantíase): causada pelo parasita Wuchereria bancrofti.
  • Ascaridíase (lombriga): causada pelo parasita Ascaris lumbricoides.
  • Escabiose (sarna): causada pelo parasita Sarcoptes scabiei.
  • Pediculose (piolho): causada pelo parasita Pediculus humanus capitis

A Anvisa afirma que não há qualquer indicação aprovada para uso da ivermectina em outras situações. “Não foram apresentados dados de segurança ou eficácia para outras finalidades”, disse o órgão.

Em nota enviada ao Verifica, a Sboc afirma que não há embasamento científico em relação à utilização da ivermectina como tratamento alternativo contra o câncer. “Pacientes e seus familiares frequentemente recebem informações sobre tratamentos que não são respaldados pela comunidade científica”, diz a nota. “Vivemos uma grande crise em relação a divulgação de tratamentos alternativos sem fundamento científico, causando impacto significativo na população e levando pessoas a buscarem essas medicações ou substituírem seus tratamentos”.

A Sboc acrescenta que disponibiliza, em seu site, uma página especial com infográficos que destacam os principais métodos cientificamente comprovados para reduzir o risco de câncer.

O Inca informou que “não existe nenhuma evidência científica que comprove que a ivermectina é eficaz no tratamento de câncer”. Já o Ministério da Saúde enfatiza que “a ivermectina não deve ser usada para tratar câncer”.

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