O que estão compartilhando: que os pais da vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, não eram americanos, portanto ela não é elegível para assumir o cargo de presidente.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A nacionalidade dos pais de Kamala não impede que ela assuma o cargo de presidente. Ela nasceu em Oakland, Califórnia, o que a torna uma cidadã americana. Uma pessoa que nasce no país é considerada cidadã, independente da nacionalidade dos pais.
Saiba mais: A postagem mostra uma certidão de nascimento atribuída a Kamala Harris. A legenda afirma: “A menos que seja comprovado por documentos judiciais, os pais de Kamala não eram cidadãos americanos na época de seu nascimento. Eles eram estudantes estrangeiros. Na época de seu nascimento, ela era filha de não cidadãos. Isso a torna uma criança-âncora. Ela não é elegível para ocupar o cargo de presidente.”
É verdade que os pais de Kamala são imigrantes: a mãe de Kamala é indiana e seu pai, jamaicano. Essas informações constam na biografia da vice-presidente disponível no site da Casa Branca, assim como estão disponíveis na certidão de nascimento usada para divulgar a desinformação aqui analisada.
A ancestralidade de Harris, no entanto, não a impede de assumir um cargo de presidente, já que nos Estados Unidos um cidadão nascido no país pode ser candidato à presidência. Este é o caso de Kamala, que nasceu em Oakland, na Califórnia, em 1964. Outros requisitos a serem cumpridos para o cargo são ter pelo menos 35 anos de idade e ter vivido nos Estados Unidos por pelo menos 14 anos.
O país segue a lógica conhecida como “jus soli”, expressão em latim que significa “direito do solo”. Quer dizer que, se uma pessoa nasce em um país, ela é considerada cidadã, independentemente da nacionalidade dos pais. É o que explica o pesquisador Leonardo Paz, do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional (NPII) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e professor de Relações Internacionais no Ibmec.
“Os Estados Unidos operam pelo jus soli sem restrição. Você nasce lá, você é cidadão e acabou”, explicou. “Outros países seguem a lógica do direito romano chamada jus sanguinis, o direito do sangue. Aí sim, você teria que ser filho de americanos para poder ser americano. Não é o caso dos Estados Unidos”.
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Boato contra Kamala circulou em 2020 e teve versão contra Obama em 2008
Essa alegação falsa não é nova. Em 2020, o boato foi endossado pelo então presidente Donald Trump, quando Harris foi anunciada como vice na chapa de Joe Biden.
Uma versão da mesma alegação, tendo como alvo o ex-presidente Barack Obama, circulou durante a campanha presidencial do democrata em 2008. Em 2011, durante a campanha que o levaria ao segundo mandato, ele divulgou a certidão de nascimento que mostra que ele nasceu no estado do Havaí. À época, Trump também foi uma das personalidades que ampliou a discussão em torno da nacionalidade de Obama.
Para Leonardo Leite, a questão racial pode ser um peso para a desinformação que coloca a nacionalidade dos dois políticos em questão. “O Obama é preto e tem nomes que remetem a uma ascendência árabe”, lembrou.”Ele tem o nome de Hussein e o nome de Obama, que remetia aos principais inimigos dos Estados Unidos naquele momento. O Obama certamente enfrentou mais preconceitos nesse aspecto. Kamala obviamente, na minha opinião, sofre esse preconceito”.
Kamala deve ser candidata após desistência de Biden
Boatos contra Kamala começaram a viralizar nas redes depois que Biden anunciou que desistiu de concorrer à reeleição. Ao fazer o anúncio, o presidente demonstrou apoio público à vice para concorrer contra Trump. Como mostrou o Estadão, Harris obteve o apoio da maioria dos delegados do partido Democrata, mas antes de ser oficialmente candidata precisa ser eleita em uma convenção partidária que deve ocorrer entre 1º e 7 de agosto.
Esse conteúdo também foi checado por AFP e Aos Fatos.