Lollapalooza: é falso que produtora usou recursos da Lei Rouanet para realizar festival


Postagem diz que empresa T4F embolsava metade do valor captado para o evento, mas festival não recebeu financiamento por meio da Lei de Incentivo à Cultura

Por Victor Pinheiro e Samuel Lima

Conteúdo compartilhado nas redes sociais pelo deputado federal Filipe Barros (PL-PR) desinforma ao sugerir que a produtora T4F Entretenimento recebeu verbas da Lei Rouanet para produzir o festival de música Lollapalooza. Embora a companhia tenha captado recursos do mecanismo de fomento cultural para executar outros projetos, no portal de transparência da Secretaria da Cultura não constam incentivos ao evento em São Paulo. A empresa também afirmou ao Estadão Verifica nunca ter recebido verbas por meio da Rouanet para produzir o Lollapalooza.

O material divulgado por Barros tira de contexto um

" target="_blank" rel="noopener">tuíte do ex-secretário especial da Cultura Mário Frias e diz que ele teria denunciado que a "empresa produtora do Lollapalooza ficava com metade do valor destinado ao evento". Frias comentou no Twitter que a T4F se beneficiava de um dispositivo que permitia a proponentes designarem até 50% do orçamento de projetos apoiados pela Lei Rouanet para remuneração própria. Mas o ex-secretário não afirma que a empresa teria captado recursos para o Lollapalooza. 

 Foto: Estadão
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No tuíte citado, Frias diz que sua gestão reduziu em 70% o teto de remuneração para empresas que utilizam o mecanismo da Rouanet. Ele se refere a uma instrução normativa, assinada em fevereiro de 2022, que reduziu o limite de 50% para 15% por projeto. Frias especula que, por conta dessa alteração, a T4F teria sido conivente com manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) no Lollapalooza 2022. Essa associação não é verificável.

Conforme informações do Portal Versalic, que reúne dados de projetos apoiados pela Secretaria da Cultura, a T4F Entretenimento captou cerca de R$ 186 milhões em incentivos da Lei Rouanet, desde 2009. A legislação estabelece que empresas privadas podem apoiar financeiramente projetos submetidos por produtoras culturais e aprovados pela equipe técnica do órgão federal de cultura. Em compensação, o valor do apoio é integral ou parcialmente abatido da cobrança do imposto de renda. 

A T4F Entretenimento, por exemplo, levantou pouco mais de R$ 24 milhões para produzir a peça teatral Fantasma da Ópera entre 2017 e 2019. A principal apoiadora do projeto foi a empresa Bradesco Previdência, que destinou R$ 8 milhões ao espetáculo. A produtora também realizou musicais da Família Addams, do clássico Mamma Mia e organizou exposições de artes e apresentações de circo. 

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Em nota ao Estadão Verifica, a empresa afirmou que, "desde 2014, quando começou a ser promovido pela T4F, o Festival Lollapalooza Brasil nunca recebeu verba decorrente de nenhuma lei de incentivo à cultura, seja na esfera federal, estadual ou municipal." Para verificar se a companhia ficava com 50% do valor destinado às obras, seria necessário acessar o relatório de prestação de contas de cada um dos 33 projetos identificados no portal Versalic, mas a plataforma não disponibiliza esses documentos.

A reportagem procurou a Secretaria Especial de Cultura e a assessoria de imprensa do deputado Filipe Barros, que não responderam até a publicação desta checagem 

Críticas a Bolsonaro e ação judicial

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A postagem do deputado federal Filipe Barros, que faz parte da base aliada do governo, ocorre em meio a críticas de apoiadores de Jair Bolsonaro ao Lollapalooza. A edição mais recente do festival, que ocorreu entre os dias 25 e 27 de março, em São Paulo, contou com diversas manifestações de artistas contra o chefe do Executivo ou a favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A cantora Pabllo Vittar, por exemplo, fez um gesto de "L" com as mãos no palco -- em alusão ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal adversário hoje de Bolsonaro nas eleições de outubro -- e carregou uma bandeira do petista oferecida pelos fãs. A britânica Marina Diamandis também xingou Bolsonaro e o presidente da Rússia, Vladimir Putin.

Ainda na sexta-feira, 25, o PL, partido de Bolsonaro, entrou com uma ação judicial no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para proibir manifestações políticas no Lollapalooza. O ministro Raul Araújo acolheu o pedido, em decisão liminar, alegando que a postura dos artistas caracterizaria "propaganda político-eleitoral". A Justiça fixou multa de R$ 50 mil à organizadora do evento em caso de descumprimento. 

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Artistas e políticos reagiram contra o que entenderam como ato de censura, e a decisão  também foi criticada por especialistas em direito eleitoral ouvidos pelo Estadão. Mesmo com a multa estipulada, outras apresentações do festival tiveram protestos contra Bolsonaro, a exemplo de Emicida, Fresno, Jão, Gloria Groove e Planet Hemp. 

Em 28 de março, o PL resolveu retirar a ação e desistir do processo no TSE -- a pedido do próprio Bolsonaro, irritado com a repercussão do caso, segundo apurou o jornal Folha de S.Paulo. O ministro Raul Araújo derrubou a própria liminar e arquivou o caso no mesmo dia.

Quem é o parlamentar que assina a postagem

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O deputado Filipe Barros faz parte da base aliada do presidente Jair Bolsonaro e se tornou o relator da matéria que ficou conhecida como "PEC do voto impresso" na comissão especial da Câmara dos Deputados. A proposta, de autoria da deputada Bia Kicis (PSL-DF), pedia a adoção de uma espécie de comprovante do voto para as eleições de 2022. 

Barros recomendou a medida em seu parecer, mas a proposta acabou rejeitada na comissão e também no plenário. Na época, Barros compartilhou desinformação a respeito de um ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e teve a postagem checada pelo Estadão Verifica.

Lei Rouanet e desinformação

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A Lei Rouanet é alvo frequente de desinformação nas redes sociais. O Estadão Verifica já desmentiu boatos que distorciam a finalidade de recursos do mecanismo de fomento à cultura destinados a projetos da Fundação FHC. Outro conteúdo espalhava uma lista desatualizada de projetos da Lei Rouanet para inventar desvios de dinheiro na saúde

Conteúdo compartilhado nas redes sociais pelo deputado federal Filipe Barros (PL-PR) desinforma ao sugerir que a produtora T4F Entretenimento recebeu verbas da Lei Rouanet para produzir o festival de música Lollapalooza. Embora a companhia tenha captado recursos do mecanismo de fomento cultural para executar outros projetos, no portal de transparência da Secretaria da Cultura não constam incentivos ao evento em São Paulo. A empresa também afirmou ao Estadão Verifica nunca ter recebido verbas por meio da Rouanet para produzir o Lollapalooza.

O material divulgado por Barros tira de contexto um

" target="_blank" rel="noopener">tuíte do ex-secretário especial da Cultura Mário Frias e diz que ele teria denunciado que a "empresa produtora do Lollapalooza ficava com metade do valor destinado ao evento". Frias comentou no Twitter que a T4F se beneficiava de um dispositivo que permitia a proponentes designarem até 50% do orçamento de projetos apoiados pela Lei Rouanet para remuneração própria. Mas o ex-secretário não afirma que a empresa teria captado recursos para o Lollapalooza. 

 Foto: Estadão

No tuíte citado, Frias diz que sua gestão reduziu em 70% o teto de remuneração para empresas que utilizam o mecanismo da Rouanet. Ele se refere a uma instrução normativa, assinada em fevereiro de 2022, que reduziu o limite de 50% para 15% por projeto. Frias especula que, por conta dessa alteração, a T4F teria sido conivente com manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) no Lollapalooza 2022. Essa associação não é verificável.

Conforme informações do Portal Versalic, que reúne dados de projetos apoiados pela Secretaria da Cultura, a T4F Entretenimento captou cerca de R$ 186 milhões em incentivos da Lei Rouanet, desde 2009. A legislação estabelece que empresas privadas podem apoiar financeiramente projetos submetidos por produtoras culturais e aprovados pela equipe técnica do órgão federal de cultura. Em compensação, o valor do apoio é integral ou parcialmente abatido da cobrança do imposto de renda. 

A T4F Entretenimento, por exemplo, levantou pouco mais de R$ 24 milhões para produzir a peça teatral Fantasma da Ópera entre 2017 e 2019. A principal apoiadora do projeto foi a empresa Bradesco Previdência, que destinou R$ 8 milhões ao espetáculo. A produtora também realizou musicais da Família Addams, do clássico Mamma Mia e organizou exposições de artes e apresentações de circo. 

Em nota ao Estadão Verifica, a empresa afirmou que, "desde 2014, quando começou a ser promovido pela T4F, o Festival Lollapalooza Brasil nunca recebeu verba decorrente de nenhuma lei de incentivo à cultura, seja na esfera federal, estadual ou municipal." Para verificar se a companhia ficava com 50% do valor destinado às obras, seria necessário acessar o relatório de prestação de contas de cada um dos 33 projetos identificados no portal Versalic, mas a plataforma não disponibiliza esses documentos.

A reportagem procurou a Secretaria Especial de Cultura e a assessoria de imprensa do deputado Filipe Barros, que não responderam até a publicação desta checagem 

Críticas a Bolsonaro e ação judicial

A postagem do deputado federal Filipe Barros, que faz parte da base aliada do governo, ocorre em meio a críticas de apoiadores de Jair Bolsonaro ao Lollapalooza. A edição mais recente do festival, que ocorreu entre os dias 25 e 27 de março, em São Paulo, contou com diversas manifestações de artistas contra o chefe do Executivo ou a favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A cantora Pabllo Vittar, por exemplo, fez um gesto de "L" com as mãos no palco -- em alusão ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal adversário hoje de Bolsonaro nas eleições de outubro -- e carregou uma bandeira do petista oferecida pelos fãs. A britânica Marina Diamandis também xingou Bolsonaro e o presidente da Rússia, Vladimir Putin.

Ainda na sexta-feira, 25, o PL, partido de Bolsonaro, entrou com uma ação judicial no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para proibir manifestações políticas no Lollapalooza. O ministro Raul Araújo acolheu o pedido, em decisão liminar, alegando que a postura dos artistas caracterizaria "propaganda político-eleitoral". A Justiça fixou multa de R$ 50 mil à organizadora do evento em caso de descumprimento. 

Artistas e políticos reagiram contra o que entenderam como ato de censura, e a decisão  também foi criticada por especialistas em direito eleitoral ouvidos pelo Estadão. Mesmo com a multa estipulada, outras apresentações do festival tiveram protestos contra Bolsonaro, a exemplo de Emicida, Fresno, Jão, Gloria Groove e Planet Hemp. 

Em 28 de março, o PL resolveu retirar a ação e desistir do processo no TSE -- a pedido do próprio Bolsonaro, irritado com a repercussão do caso, segundo apurou o jornal Folha de S.Paulo. O ministro Raul Araújo derrubou a própria liminar e arquivou o caso no mesmo dia.

Quem é o parlamentar que assina a postagem

O deputado Filipe Barros faz parte da base aliada do presidente Jair Bolsonaro e se tornou o relator da matéria que ficou conhecida como "PEC do voto impresso" na comissão especial da Câmara dos Deputados. A proposta, de autoria da deputada Bia Kicis (PSL-DF), pedia a adoção de uma espécie de comprovante do voto para as eleições de 2022. 

Barros recomendou a medida em seu parecer, mas a proposta acabou rejeitada na comissão e também no plenário. Na época, Barros compartilhou desinformação a respeito de um ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e teve a postagem checada pelo Estadão Verifica.

Lei Rouanet e desinformação

A Lei Rouanet é alvo frequente de desinformação nas redes sociais. O Estadão Verifica já desmentiu boatos que distorciam a finalidade de recursos do mecanismo de fomento à cultura destinados a projetos da Fundação FHC. Outro conteúdo espalhava uma lista desatualizada de projetos da Lei Rouanet para inventar desvios de dinheiro na saúde

Conteúdo compartilhado nas redes sociais pelo deputado federal Filipe Barros (PL-PR) desinforma ao sugerir que a produtora T4F Entretenimento recebeu verbas da Lei Rouanet para produzir o festival de música Lollapalooza. Embora a companhia tenha captado recursos do mecanismo de fomento cultural para executar outros projetos, no portal de transparência da Secretaria da Cultura não constam incentivos ao evento em São Paulo. A empresa também afirmou ao Estadão Verifica nunca ter recebido verbas por meio da Rouanet para produzir o Lollapalooza.

O material divulgado por Barros tira de contexto um

" target="_blank" rel="noopener">tuíte do ex-secretário especial da Cultura Mário Frias e diz que ele teria denunciado que a "empresa produtora do Lollapalooza ficava com metade do valor destinado ao evento". Frias comentou no Twitter que a T4F se beneficiava de um dispositivo que permitia a proponentes designarem até 50% do orçamento de projetos apoiados pela Lei Rouanet para remuneração própria. Mas o ex-secretário não afirma que a empresa teria captado recursos para o Lollapalooza. 

 Foto: Estadão

No tuíte citado, Frias diz que sua gestão reduziu em 70% o teto de remuneração para empresas que utilizam o mecanismo da Rouanet. Ele se refere a uma instrução normativa, assinada em fevereiro de 2022, que reduziu o limite de 50% para 15% por projeto. Frias especula que, por conta dessa alteração, a T4F teria sido conivente com manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) no Lollapalooza 2022. Essa associação não é verificável.

Conforme informações do Portal Versalic, que reúne dados de projetos apoiados pela Secretaria da Cultura, a T4F Entretenimento captou cerca de R$ 186 milhões em incentivos da Lei Rouanet, desde 2009. A legislação estabelece que empresas privadas podem apoiar financeiramente projetos submetidos por produtoras culturais e aprovados pela equipe técnica do órgão federal de cultura. Em compensação, o valor do apoio é integral ou parcialmente abatido da cobrança do imposto de renda. 

A T4F Entretenimento, por exemplo, levantou pouco mais de R$ 24 milhões para produzir a peça teatral Fantasma da Ópera entre 2017 e 2019. A principal apoiadora do projeto foi a empresa Bradesco Previdência, que destinou R$ 8 milhões ao espetáculo. A produtora também realizou musicais da Família Addams, do clássico Mamma Mia e organizou exposições de artes e apresentações de circo. 

Em nota ao Estadão Verifica, a empresa afirmou que, "desde 2014, quando começou a ser promovido pela T4F, o Festival Lollapalooza Brasil nunca recebeu verba decorrente de nenhuma lei de incentivo à cultura, seja na esfera federal, estadual ou municipal." Para verificar se a companhia ficava com 50% do valor destinado às obras, seria necessário acessar o relatório de prestação de contas de cada um dos 33 projetos identificados no portal Versalic, mas a plataforma não disponibiliza esses documentos.

A reportagem procurou a Secretaria Especial de Cultura e a assessoria de imprensa do deputado Filipe Barros, que não responderam até a publicação desta checagem 

Críticas a Bolsonaro e ação judicial

A postagem do deputado federal Filipe Barros, que faz parte da base aliada do governo, ocorre em meio a críticas de apoiadores de Jair Bolsonaro ao Lollapalooza. A edição mais recente do festival, que ocorreu entre os dias 25 e 27 de março, em São Paulo, contou com diversas manifestações de artistas contra o chefe do Executivo ou a favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A cantora Pabllo Vittar, por exemplo, fez um gesto de "L" com as mãos no palco -- em alusão ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal adversário hoje de Bolsonaro nas eleições de outubro -- e carregou uma bandeira do petista oferecida pelos fãs. A britânica Marina Diamandis também xingou Bolsonaro e o presidente da Rússia, Vladimir Putin.

Ainda na sexta-feira, 25, o PL, partido de Bolsonaro, entrou com uma ação judicial no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para proibir manifestações políticas no Lollapalooza. O ministro Raul Araújo acolheu o pedido, em decisão liminar, alegando que a postura dos artistas caracterizaria "propaganda político-eleitoral". A Justiça fixou multa de R$ 50 mil à organizadora do evento em caso de descumprimento. 

Artistas e políticos reagiram contra o que entenderam como ato de censura, e a decisão  também foi criticada por especialistas em direito eleitoral ouvidos pelo Estadão. Mesmo com a multa estipulada, outras apresentações do festival tiveram protestos contra Bolsonaro, a exemplo de Emicida, Fresno, Jão, Gloria Groove e Planet Hemp. 

Em 28 de março, o PL resolveu retirar a ação e desistir do processo no TSE -- a pedido do próprio Bolsonaro, irritado com a repercussão do caso, segundo apurou o jornal Folha de S.Paulo. O ministro Raul Araújo derrubou a própria liminar e arquivou o caso no mesmo dia.

Quem é o parlamentar que assina a postagem

O deputado Filipe Barros faz parte da base aliada do presidente Jair Bolsonaro e se tornou o relator da matéria que ficou conhecida como "PEC do voto impresso" na comissão especial da Câmara dos Deputados. A proposta, de autoria da deputada Bia Kicis (PSL-DF), pedia a adoção de uma espécie de comprovante do voto para as eleições de 2022. 

Barros recomendou a medida em seu parecer, mas a proposta acabou rejeitada na comissão e também no plenário. Na época, Barros compartilhou desinformação a respeito de um ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e teve a postagem checada pelo Estadão Verifica.

Lei Rouanet e desinformação

A Lei Rouanet é alvo frequente de desinformação nas redes sociais. O Estadão Verifica já desmentiu boatos que distorciam a finalidade de recursos do mecanismo de fomento à cultura destinados a projetos da Fundação FHC. Outro conteúdo espalhava uma lista desatualizada de projetos da Lei Rouanet para inventar desvios de dinheiro na saúde

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