Vídeo em que Lula fala sobre desoneração fiscal de Dilma circula fora de contexto


Gravada durante jantar com correligionários em 2016, filmagem não foi 'vazada'; ex-presidente criticou política econômica da sucessora e citou outras razões para a crise

Por Alessandra Monnerat e Victor Pinheiro

Circula fora de contexto nas redes sociais um vídeo em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fala sobre a crise econômica no País. Durante um jantar com correligionários em dezembro de 2016, Lula criticou a política de desoneração fiscal de sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), e disse a União estava falida. Nesta última semana, um trecho da gravação viralizou com a alegação enganosa de que as imagens teriam sido "vazadas".

Mas o vídeo em questão não é secreto -- sua versão completa, de 1h15 de duração, foi transmitida pela página do ex-presidente no Facebook em 2016. Vários veículos de imprensa, como o Estadão, repercutiram as falas de Lula na ocasião.

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Agora, no Facebook e no TikTok, a fala foi compartilhada com a frase "Lula assume que PT quebrou o País". Durante o jantar, o ex-presidente disse que a política de desonerações de Dilma "significou R$ 500 bilhões a menos de entrada de dinheiro no cofre do Estado". Ele não culpa explicitamente a sucessora pela crise econômica, cassada cerca de sete meses antes das declarações. 

As críticas de Lula às reduções de impostos a empresas são públicas. Em julho de 2016, ao jornal francês Libération, o ex-presidente havia dito que Dilma tinha errado na área econômica. Na mesma entrevista, ele citou outros fatores que teriam contribuído para a crise -- segundo o petista, o Congresso aprovou leis para aumentar as despesas, rejeitando uma tentativa de ajuste fiscal. "O Parlamento parece ter apostado na crise até que surgisse a ideia do golpe", disse.

 Foto: Estadão
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Durante o jantar de dezembro de 2016, Lula repetiu a ideia de que um "golpe" teria prejudicado o País. Ele afirmou ainda que o ex-presidente Michel Temer (MDB) não saberia "resolver o problema da economia".

O petista repetiria a tese do golpe em nova entrevista, de 2021. "O governo da Dilma fez coisas fantásticas, mas em 2014 adotou uma política de exoneração, na minha opinião, exagerada", disse, segundo o Diário de Pernambuco

"Depois ela tentou corrigir, e aí já tinha uma figura chamada Eduardo Cunha, que, em vez de ajudar, como Temer fez com Fernando Henrique (Cardoso), em 1999 -- que ajudou a fazer as mudanças no Congresso para melhorar a governabilidade --, o Eduardo Cunha começou a lançar pautas bombas para impedir a Dilma de governar", afirmou.

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Em 2015, o Estadão mostrou que os benefícios fiscais haviam dobrado desde 2011. Nesse período, a renúncia fiscal saltou de R$ 209 bilhões para R$ 409 bilhões. Este último valor equivalia a 6,2% do PIB da época. Segundo um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Economia do Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), a crescente dispensa de grande volume de recursos havia desorganizado as finanças públicas e reduzido o poder de investimento do governo. 

"O excesso de benefícios abalou a geração de recursos do governo e ajudou a empurrar o País para o abismo da pior recessão do pós-guerra", disse um dos autores da pesquisa, o economista José Roberto Afonso, em 2015.

Lula citou outras razões para crise durante jantar de 2016 

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Em outro ponto de seu discurso no jantar de 2016 -- que não é mostrado no vídeo que viralizou recentemente nas redes -- Lula disse acreditar que a Operação Lava Jato prejudicou a economia brasileira. "Eles têm noção de quanto a Operação Lava Jato já causou de prejuízo na economia desse País?, ao PIB desse País? Eles têm noção de quanto desemprego (a Lava Jato) já causou?", disse.

Vale citar ainda que, em entrevistas mais recentes, Lula disse acreditar que o "País só não quebrou por causa do PT". "Há quatro anos eles estão dizendo que o PT quebrou o Brasil", disse em maio de 2020, segundo texto no site do partido. "O Brasil só está de pé por causa do PT. Eu ontem vi o (Paulo) Guedes dizendo que as reservas internacionais deixadas pelo PT vão render R$ 500 bilhões de reais ao Tesouro. Se não fosse isso, o País não estava conseguindo importar um palito de dente".

Veja, abaixo, a transcrição da fala de Lula durante o jantar de 2016:

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Nós estamos vivendo um momento em que a União, ela não tem nenhuma capacidade de arrecadação, não tem capacidade de investimento. Para ela aumentar a arrecadação, teria que ter um grupo de gente com coragem de aumentar o imposto. Não tem. Ou a gente teria que ter coragem de acabar com as desonerações que a Dilma fez de 2011 a 2010 (?), uma desoneração que significou R$ 500 bilhões a menos de entrada de dinheiro no cofre do estado. O Estado está falido, a União. Os Estados estão todos quebrados. Rio de Janeiro, tem um déficit de R4 20 bilhões. São Paulo tem um déficit de R$ 16 bilhões. Minas Gerais tem um déficit de R$ 14 bilhões e os outros vão daí pra mais. Eles não vão conseguir pagar décimo terceiro, pagar salário, e só tem uma solução, cortar benefício do povo mais pobre. A União não investe, os Estados não investem, as prefeituras estão todas quebradas. Os bancos não emprestam dinheiro. Os bancos privados, porque ganham na Selic. Os bancos públicos -- que deveriam servir de exemplo, como nós fizemos em 2008 -- estão seguindo os bancos privados. Antigamente, a gente usava os bancos públicos para baixar os juros, pro banco privado baixar. Hoje, o banco privado aumenta os juros e aumenta a régua. Acabou os bancos públicos (sic).  A função deles. Foi anunciado essa semana que vai fechar 400 agências do Banco do Brasil. Então você tem assim: União não funciona, Estado não funciona, município não funciona, bancos não oferecem crédito nem financiamento. Os empresários não investem porque não têm nenhuma garantia de política para fazer investimento. [...] Então, a desgraça que nós estamos é essa. Além dos processos contra mim, você tem a economia quebrada, você tem tudo não funcionando. A roda gigante está parada. Como a gente retoma isso?

O Estadão Verifica entrou em contato com a assessoria de Lula, mas não obteve resposta.

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Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

Circula fora de contexto nas redes sociais um vídeo em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fala sobre a crise econômica no País. Durante um jantar com correligionários em dezembro de 2016, Lula criticou a política de desoneração fiscal de sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), e disse a União estava falida. Nesta última semana, um trecho da gravação viralizou com a alegação enganosa de que as imagens teriam sido "vazadas".

Mas o vídeo em questão não é secreto -- sua versão completa, de 1h15 de duração, foi transmitida pela página do ex-presidente no Facebook em 2016. Vários veículos de imprensa, como o Estadão, repercutiram as falas de Lula na ocasião.

Agora, no Facebook e no TikTok, a fala foi compartilhada com a frase "Lula assume que PT quebrou o País". Durante o jantar, o ex-presidente disse que a política de desonerações de Dilma "significou R$ 500 bilhões a menos de entrada de dinheiro no cofre do Estado". Ele não culpa explicitamente a sucessora pela crise econômica, cassada cerca de sete meses antes das declarações. 

As críticas de Lula às reduções de impostos a empresas são públicas. Em julho de 2016, ao jornal francês Libération, o ex-presidente havia dito que Dilma tinha errado na área econômica. Na mesma entrevista, ele citou outros fatores que teriam contribuído para a crise -- segundo o petista, o Congresso aprovou leis para aumentar as despesas, rejeitando uma tentativa de ajuste fiscal. "O Parlamento parece ter apostado na crise até que surgisse a ideia do golpe", disse.

 Foto: Estadão

Durante o jantar de dezembro de 2016, Lula repetiu a ideia de que um "golpe" teria prejudicado o País. Ele afirmou ainda que o ex-presidente Michel Temer (MDB) não saberia "resolver o problema da economia".

O petista repetiria a tese do golpe em nova entrevista, de 2021. "O governo da Dilma fez coisas fantásticas, mas em 2014 adotou uma política de exoneração, na minha opinião, exagerada", disse, segundo o Diário de Pernambuco

"Depois ela tentou corrigir, e aí já tinha uma figura chamada Eduardo Cunha, que, em vez de ajudar, como Temer fez com Fernando Henrique (Cardoso), em 1999 -- que ajudou a fazer as mudanças no Congresso para melhorar a governabilidade --, o Eduardo Cunha começou a lançar pautas bombas para impedir a Dilma de governar", afirmou.

Em 2015, o Estadão mostrou que os benefícios fiscais haviam dobrado desde 2011. Nesse período, a renúncia fiscal saltou de R$ 209 bilhões para R$ 409 bilhões. Este último valor equivalia a 6,2% do PIB da época. Segundo um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Economia do Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), a crescente dispensa de grande volume de recursos havia desorganizado as finanças públicas e reduzido o poder de investimento do governo. 

"O excesso de benefícios abalou a geração de recursos do governo e ajudou a empurrar o País para o abismo da pior recessão do pós-guerra", disse um dos autores da pesquisa, o economista José Roberto Afonso, em 2015.

Lula citou outras razões para crise durante jantar de 2016 

Em outro ponto de seu discurso no jantar de 2016 -- que não é mostrado no vídeo que viralizou recentemente nas redes -- Lula disse acreditar que a Operação Lava Jato prejudicou a economia brasileira. "Eles têm noção de quanto a Operação Lava Jato já causou de prejuízo na economia desse País?, ao PIB desse País? Eles têm noção de quanto desemprego (a Lava Jato) já causou?", disse.

Vale citar ainda que, em entrevistas mais recentes, Lula disse acreditar que o "País só não quebrou por causa do PT". "Há quatro anos eles estão dizendo que o PT quebrou o Brasil", disse em maio de 2020, segundo texto no site do partido. "O Brasil só está de pé por causa do PT. Eu ontem vi o (Paulo) Guedes dizendo que as reservas internacionais deixadas pelo PT vão render R$ 500 bilhões de reais ao Tesouro. Se não fosse isso, o País não estava conseguindo importar um palito de dente".

Veja, abaixo, a transcrição da fala de Lula durante o jantar de 2016:

Nós estamos vivendo um momento em que a União, ela não tem nenhuma capacidade de arrecadação, não tem capacidade de investimento. Para ela aumentar a arrecadação, teria que ter um grupo de gente com coragem de aumentar o imposto. Não tem. Ou a gente teria que ter coragem de acabar com as desonerações que a Dilma fez de 2011 a 2010 (?), uma desoneração que significou R$ 500 bilhões a menos de entrada de dinheiro no cofre do estado. O Estado está falido, a União. Os Estados estão todos quebrados. Rio de Janeiro, tem um déficit de R4 20 bilhões. São Paulo tem um déficit de R$ 16 bilhões. Minas Gerais tem um déficit de R$ 14 bilhões e os outros vão daí pra mais. Eles não vão conseguir pagar décimo terceiro, pagar salário, e só tem uma solução, cortar benefício do povo mais pobre. A União não investe, os Estados não investem, as prefeituras estão todas quebradas. Os bancos não emprestam dinheiro. Os bancos privados, porque ganham na Selic. Os bancos públicos -- que deveriam servir de exemplo, como nós fizemos em 2008 -- estão seguindo os bancos privados. Antigamente, a gente usava os bancos públicos para baixar os juros, pro banco privado baixar. Hoje, o banco privado aumenta os juros e aumenta a régua. Acabou os bancos públicos (sic).  A função deles. Foi anunciado essa semana que vai fechar 400 agências do Banco do Brasil. Então você tem assim: União não funciona, Estado não funciona, município não funciona, bancos não oferecem crédito nem financiamento. Os empresários não investem porque não têm nenhuma garantia de política para fazer investimento. [...] Então, a desgraça que nós estamos é essa. Além dos processos contra mim, você tem a economia quebrada, você tem tudo não funcionando. A roda gigante está parada. Como a gente retoma isso?

O Estadão Verifica entrou em contato com a assessoria de Lula, mas não obteve resposta.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

Circula fora de contexto nas redes sociais um vídeo em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fala sobre a crise econômica no País. Durante um jantar com correligionários em dezembro de 2016, Lula criticou a política de desoneração fiscal de sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), e disse a União estava falida. Nesta última semana, um trecho da gravação viralizou com a alegação enganosa de que as imagens teriam sido "vazadas".

Mas o vídeo em questão não é secreto -- sua versão completa, de 1h15 de duração, foi transmitida pela página do ex-presidente no Facebook em 2016. Vários veículos de imprensa, como o Estadão, repercutiram as falas de Lula na ocasião.

Agora, no Facebook e no TikTok, a fala foi compartilhada com a frase "Lula assume que PT quebrou o País". Durante o jantar, o ex-presidente disse que a política de desonerações de Dilma "significou R$ 500 bilhões a menos de entrada de dinheiro no cofre do Estado". Ele não culpa explicitamente a sucessora pela crise econômica, cassada cerca de sete meses antes das declarações. 

As críticas de Lula às reduções de impostos a empresas são públicas. Em julho de 2016, ao jornal francês Libération, o ex-presidente havia dito que Dilma tinha errado na área econômica. Na mesma entrevista, ele citou outros fatores que teriam contribuído para a crise -- segundo o petista, o Congresso aprovou leis para aumentar as despesas, rejeitando uma tentativa de ajuste fiscal. "O Parlamento parece ter apostado na crise até que surgisse a ideia do golpe", disse.

 Foto: Estadão

Durante o jantar de dezembro de 2016, Lula repetiu a ideia de que um "golpe" teria prejudicado o País. Ele afirmou ainda que o ex-presidente Michel Temer (MDB) não saberia "resolver o problema da economia".

O petista repetiria a tese do golpe em nova entrevista, de 2021. "O governo da Dilma fez coisas fantásticas, mas em 2014 adotou uma política de exoneração, na minha opinião, exagerada", disse, segundo o Diário de Pernambuco

"Depois ela tentou corrigir, e aí já tinha uma figura chamada Eduardo Cunha, que, em vez de ajudar, como Temer fez com Fernando Henrique (Cardoso), em 1999 -- que ajudou a fazer as mudanças no Congresso para melhorar a governabilidade --, o Eduardo Cunha começou a lançar pautas bombas para impedir a Dilma de governar", afirmou.

Em 2015, o Estadão mostrou que os benefícios fiscais haviam dobrado desde 2011. Nesse período, a renúncia fiscal saltou de R$ 209 bilhões para R$ 409 bilhões. Este último valor equivalia a 6,2% do PIB da época. Segundo um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Economia do Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), a crescente dispensa de grande volume de recursos havia desorganizado as finanças públicas e reduzido o poder de investimento do governo. 

"O excesso de benefícios abalou a geração de recursos do governo e ajudou a empurrar o País para o abismo da pior recessão do pós-guerra", disse um dos autores da pesquisa, o economista José Roberto Afonso, em 2015.

Lula citou outras razões para crise durante jantar de 2016 

Em outro ponto de seu discurso no jantar de 2016 -- que não é mostrado no vídeo que viralizou recentemente nas redes -- Lula disse acreditar que a Operação Lava Jato prejudicou a economia brasileira. "Eles têm noção de quanto a Operação Lava Jato já causou de prejuízo na economia desse País?, ao PIB desse País? Eles têm noção de quanto desemprego (a Lava Jato) já causou?", disse.

Vale citar ainda que, em entrevistas mais recentes, Lula disse acreditar que o "País só não quebrou por causa do PT". "Há quatro anos eles estão dizendo que o PT quebrou o Brasil", disse em maio de 2020, segundo texto no site do partido. "O Brasil só está de pé por causa do PT. Eu ontem vi o (Paulo) Guedes dizendo que as reservas internacionais deixadas pelo PT vão render R$ 500 bilhões de reais ao Tesouro. Se não fosse isso, o País não estava conseguindo importar um palito de dente".

Veja, abaixo, a transcrição da fala de Lula durante o jantar de 2016:

Nós estamos vivendo um momento em que a União, ela não tem nenhuma capacidade de arrecadação, não tem capacidade de investimento. Para ela aumentar a arrecadação, teria que ter um grupo de gente com coragem de aumentar o imposto. Não tem. Ou a gente teria que ter coragem de acabar com as desonerações que a Dilma fez de 2011 a 2010 (?), uma desoneração que significou R$ 500 bilhões a menos de entrada de dinheiro no cofre do estado. O Estado está falido, a União. Os Estados estão todos quebrados. Rio de Janeiro, tem um déficit de R4 20 bilhões. São Paulo tem um déficit de R$ 16 bilhões. Minas Gerais tem um déficit de R$ 14 bilhões e os outros vão daí pra mais. Eles não vão conseguir pagar décimo terceiro, pagar salário, e só tem uma solução, cortar benefício do povo mais pobre. A União não investe, os Estados não investem, as prefeituras estão todas quebradas. Os bancos não emprestam dinheiro. Os bancos privados, porque ganham na Selic. Os bancos públicos -- que deveriam servir de exemplo, como nós fizemos em 2008 -- estão seguindo os bancos privados. Antigamente, a gente usava os bancos públicos para baixar os juros, pro banco privado baixar. Hoje, o banco privado aumenta os juros e aumenta a régua. Acabou os bancos públicos (sic).  A função deles. Foi anunciado essa semana que vai fechar 400 agências do Banco do Brasil. Então você tem assim: União não funciona, Estado não funciona, município não funciona, bancos não oferecem crédito nem financiamento. Os empresários não investem porque não têm nenhuma garantia de política para fazer investimento. [...] Então, a desgraça que nós estamos é essa. Além dos processos contra mim, você tem a economia quebrada, você tem tudo não funcionando. A roda gigante está parada. Como a gente retoma isso?

O Estadão Verifica entrou em contato com a assessoria de Lula, mas não obteve resposta.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

Circula fora de contexto nas redes sociais um vídeo em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fala sobre a crise econômica no País. Durante um jantar com correligionários em dezembro de 2016, Lula criticou a política de desoneração fiscal de sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), e disse a União estava falida. Nesta última semana, um trecho da gravação viralizou com a alegação enganosa de que as imagens teriam sido "vazadas".

Mas o vídeo em questão não é secreto -- sua versão completa, de 1h15 de duração, foi transmitida pela página do ex-presidente no Facebook em 2016. Vários veículos de imprensa, como o Estadão, repercutiram as falas de Lula na ocasião.

Agora, no Facebook e no TikTok, a fala foi compartilhada com a frase "Lula assume que PT quebrou o País". Durante o jantar, o ex-presidente disse que a política de desonerações de Dilma "significou R$ 500 bilhões a menos de entrada de dinheiro no cofre do Estado". Ele não culpa explicitamente a sucessora pela crise econômica, cassada cerca de sete meses antes das declarações. 

As críticas de Lula às reduções de impostos a empresas são públicas. Em julho de 2016, ao jornal francês Libération, o ex-presidente havia dito que Dilma tinha errado na área econômica. Na mesma entrevista, ele citou outros fatores que teriam contribuído para a crise -- segundo o petista, o Congresso aprovou leis para aumentar as despesas, rejeitando uma tentativa de ajuste fiscal. "O Parlamento parece ter apostado na crise até que surgisse a ideia do golpe", disse.

 Foto: Estadão

Durante o jantar de dezembro de 2016, Lula repetiu a ideia de que um "golpe" teria prejudicado o País. Ele afirmou ainda que o ex-presidente Michel Temer (MDB) não saberia "resolver o problema da economia".

O petista repetiria a tese do golpe em nova entrevista, de 2021. "O governo da Dilma fez coisas fantásticas, mas em 2014 adotou uma política de exoneração, na minha opinião, exagerada", disse, segundo o Diário de Pernambuco

"Depois ela tentou corrigir, e aí já tinha uma figura chamada Eduardo Cunha, que, em vez de ajudar, como Temer fez com Fernando Henrique (Cardoso), em 1999 -- que ajudou a fazer as mudanças no Congresso para melhorar a governabilidade --, o Eduardo Cunha começou a lançar pautas bombas para impedir a Dilma de governar", afirmou.

Em 2015, o Estadão mostrou que os benefícios fiscais haviam dobrado desde 2011. Nesse período, a renúncia fiscal saltou de R$ 209 bilhões para R$ 409 bilhões. Este último valor equivalia a 6,2% do PIB da época. Segundo um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Economia do Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), a crescente dispensa de grande volume de recursos havia desorganizado as finanças públicas e reduzido o poder de investimento do governo. 

"O excesso de benefícios abalou a geração de recursos do governo e ajudou a empurrar o País para o abismo da pior recessão do pós-guerra", disse um dos autores da pesquisa, o economista José Roberto Afonso, em 2015.

Lula citou outras razões para crise durante jantar de 2016 

Em outro ponto de seu discurso no jantar de 2016 -- que não é mostrado no vídeo que viralizou recentemente nas redes -- Lula disse acreditar que a Operação Lava Jato prejudicou a economia brasileira. "Eles têm noção de quanto a Operação Lava Jato já causou de prejuízo na economia desse País?, ao PIB desse País? Eles têm noção de quanto desemprego (a Lava Jato) já causou?", disse.

Vale citar ainda que, em entrevistas mais recentes, Lula disse acreditar que o "País só não quebrou por causa do PT". "Há quatro anos eles estão dizendo que o PT quebrou o Brasil", disse em maio de 2020, segundo texto no site do partido. "O Brasil só está de pé por causa do PT. Eu ontem vi o (Paulo) Guedes dizendo que as reservas internacionais deixadas pelo PT vão render R$ 500 bilhões de reais ao Tesouro. Se não fosse isso, o País não estava conseguindo importar um palito de dente".

Veja, abaixo, a transcrição da fala de Lula durante o jantar de 2016:

Nós estamos vivendo um momento em que a União, ela não tem nenhuma capacidade de arrecadação, não tem capacidade de investimento. Para ela aumentar a arrecadação, teria que ter um grupo de gente com coragem de aumentar o imposto. Não tem. Ou a gente teria que ter coragem de acabar com as desonerações que a Dilma fez de 2011 a 2010 (?), uma desoneração que significou R$ 500 bilhões a menos de entrada de dinheiro no cofre do estado. O Estado está falido, a União. Os Estados estão todos quebrados. Rio de Janeiro, tem um déficit de R4 20 bilhões. São Paulo tem um déficit de R$ 16 bilhões. Minas Gerais tem um déficit de R$ 14 bilhões e os outros vão daí pra mais. Eles não vão conseguir pagar décimo terceiro, pagar salário, e só tem uma solução, cortar benefício do povo mais pobre. A União não investe, os Estados não investem, as prefeituras estão todas quebradas. Os bancos não emprestam dinheiro. Os bancos privados, porque ganham na Selic. Os bancos públicos -- que deveriam servir de exemplo, como nós fizemos em 2008 -- estão seguindo os bancos privados. Antigamente, a gente usava os bancos públicos para baixar os juros, pro banco privado baixar. Hoje, o banco privado aumenta os juros e aumenta a régua. Acabou os bancos públicos (sic).  A função deles. Foi anunciado essa semana que vai fechar 400 agências do Banco do Brasil. Então você tem assim: União não funciona, Estado não funciona, município não funciona, bancos não oferecem crédito nem financiamento. Os empresários não investem porque não têm nenhuma garantia de política para fazer investimento. [...] Então, a desgraça que nós estamos é essa. Além dos processos contra mim, você tem a economia quebrada, você tem tudo não funcionando. A roda gigante está parada. Como a gente retoma isso?

O Estadão Verifica entrou em contato com a assessoria de Lula, mas não obteve resposta.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

Circula fora de contexto nas redes sociais um vídeo em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fala sobre a crise econômica no País. Durante um jantar com correligionários em dezembro de 2016, Lula criticou a política de desoneração fiscal de sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), e disse a União estava falida. Nesta última semana, um trecho da gravação viralizou com a alegação enganosa de que as imagens teriam sido "vazadas".

Mas o vídeo em questão não é secreto -- sua versão completa, de 1h15 de duração, foi transmitida pela página do ex-presidente no Facebook em 2016. Vários veículos de imprensa, como o Estadão, repercutiram as falas de Lula na ocasião.

Agora, no Facebook e no TikTok, a fala foi compartilhada com a frase "Lula assume que PT quebrou o País". Durante o jantar, o ex-presidente disse que a política de desonerações de Dilma "significou R$ 500 bilhões a menos de entrada de dinheiro no cofre do Estado". Ele não culpa explicitamente a sucessora pela crise econômica, cassada cerca de sete meses antes das declarações. 

As críticas de Lula às reduções de impostos a empresas são públicas. Em julho de 2016, ao jornal francês Libération, o ex-presidente havia dito que Dilma tinha errado na área econômica. Na mesma entrevista, ele citou outros fatores que teriam contribuído para a crise -- segundo o petista, o Congresso aprovou leis para aumentar as despesas, rejeitando uma tentativa de ajuste fiscal. "O Parlamento parece ter apostado na crise até que surgisse a ideia do golpe", disse.

 Foto: Estadão

Durante o jantar de dezembro de 2016, Lula repetiu a ideia de que um "golpe" teria prejudicado o País. Ele afirmou ainda que o ex-presidente Michel Temer (MDB) não saberia "resolver o problema da economia".

O petista repetiria a tese do golpe em nova entrevista, de 2021. "O governo da Dilma fez coisas fantásticas, mas em 2014 adotou uma política de exoneração, na minha opinião, exagerada", disse, segundo o Diário de Pernambuco

"Depois ela tentou corrigir, e aí já tinha uma figura chamada Eduardo Cunha, que, em vez de ajudar, como Temer fez com Fernando Henrique (Cardoso), em 1999 -- que ajudou a fazer as mudanças no Congresso para melhorar a governabilidade --, o Eduardo Cunha começou a lançar pautas bombas para impedir a Dilma de governar", afirmou.

Em 2015, o Estadão mostrou que os benefícios fiscais haviam dobrado desde 2011. Nesse período, a renúncia fiscal saltou de R$ 209 bilhões para R$ 409 bilhões. Este último valor equivalia a 6,2% do PIB da época. Segundo um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Economia do Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), a crescente dispensa de grande volume de recursos havia desorganizado as finanças públicas e reduzido o poder de investimento do governo. 

"O excesso de benefícios abalou a geração de recursos do governo e ajudou a empurrar o País para o abismo da pior recessão do pós-guerra", disse um dos autores da pesquisa, o economista José Roberto Afonso, em 2015.

Lula citou outras razões para crise durante jantar de 2016 

Em outro ponto de seu discurso no jantar de 2016 -- que não é mostrado no vídeo que viralizou recentemente nas redes -- Lula disse acreditar que a Operação Lava Jato prejudicou a economia brasileira. "Eles têm noção de quanto a Operação Lava Jato já causou de prejuízo na economia desse País?, ao PIB desse País? Eles têm noção de quanto desemprego (a Lava Jato) já causou?", disse.

Vale citar ainda que, em entrevistas mais recentes, Lula disse acreditar que o "País só não quebrou por causa do PT". "Há quatro anos eles estão dizendo que o PT quebrou o Brasil", disse em maio de 2020, segundo texto no site do partido. "O Brasil só está de pé por causa do PT. Eu ontem vi o (Paulo) Guedes dizendo que as reservas internacionais deixadas pelo PT vão render R$ 500 bilhões de reais ao Tesouro. Se não fosse isso, o País não estava conseguindo importar um palito de dente".

Veja, abaixo, a transcrição da fala de Lula durante o jantar de 2016:

Nós estamos vivendo um momento em que a União, ela não tem nenhuma capacidade de arrecadação, não tem capacidade de investimento. Para ela aumentar a arrecadação, teria que ter um grupo de gente com coragem de aumentar o imposto. Não tem. Ou a gente teria que ter coragem de acabar com as desonerações que a Dilma fez de 2011 a 2010 (?), uma desoneração que significou R$ 500 bilhões a menos de entrada de dinheiro no cofre do estado. O Estado está falido, a União. Os Estados estão todos quebrados. Rio de Janeiro, tem um déficit de R4 20 bilhões. São Paulo tem um déficit de R$ 16 bilhões. Minas Gerais tem um déficit de R$ 14 bilhões e os outros vão daí pra mais. Eles não vão conseguir pagar décimo terceiro, pagar salário, e só tem uma solução, cortar benefício do povo mais pobre. A União não investe, os Estados não investem, as prefeituras estão todas quebradas. Os bancos não emprestam dinheiro. Os bancos privados, porque ganham na Selic. Os bancos públicos -- que deveriam servir de exemplo, como nós fizemos em 2008 -- estão seguindo os bancos privados. Antigamente, a gente usava os bancos públicos para baixar os juros, pro banco privado baixar. Hoje, o banco privado aumenta os juros e aumenta a régua. Acabou os bancos públicos (sic).  A função deles. Foi anunciado essa semana que vai fechar 400 agências do Banco do Brasil. Então você tem assim: União não funciona, Estado não funciona, município não funciona, bancos não oferecem crédito nem financiamento. Os empresários não investem porque não têm nenhuma garantia de política para fazer investimento. [...] Então, a desgraça que nós estamos é essa. Além dos processos contra mim, você tem a economia quebrada, você tem tudo não funcionando. A roda gigante está parada. Como a gente retoma isso?

O Estadão Verifica entrou em contato com a assessoria de Lula, mas não obteve resposta.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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