O ex-presidente e candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não se referia ao líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcos Willians Herbas Camacho, quando disse em um evento da Central Única dos Trabalhadores (CUT) que iria esperar que Marcola apresentasse uma agenda para ele visitar grandes cidades de São Paulo antes das eleições deste ano. Na verdade, Lula falava de Marco Aurélio Santana Ribeiro, assessor do PT, também apelidado de Marcola.
Um trecho de uma fala de Lula no lançamento da plataforma da CUT para eleições, em 4 de abril deste ano, viralizou nas redes nos últimos dias, numa tentativa de associar o candidato petista a Marcola, líder do PCC. Na transmissão do evento, disponível no YouTube do PT, Lula diz, a partir de 1:11:11:
"Nós vamos começar a andar o Brasil agora. E, em cada lugar que a gente for, a gente vai querer terminar sempre à noite com uma reunião cultural. Nós temos feito pouco isso, nós precisamos nos acostumar, sabe? Se o sindicalista quiser fazer reunião no estado, a gente marca reunião com os sindicalistas, a gente marca reunião com os artistas, pra não ficar só comício, pra ficar o comício e a interação com a sociedade. A experiência no Rio foi muito boa, só que não dá pra ficar cinco dias em cada estado, né? Nós temos que ficar pouco tempo. Aqui em São Paulo, eu, por exemplo, estou esperando que o Marcola apresente uma agenda pra ir a Campinas, pra ir a Osasco, pra ir a Guarulhos, pra ir nessas grandes cidades aqui pra ir no ABC, sabe? Junto com o Haddad, que vai ser governador do Estado de São Paulo também".
Não é a primeira vez que isso acontece: em 2019, após Lula deixar a prisão na sede da Polícia Federal em Curitiba (PR), ele discursou e agradeceu a uma série de pessoas, entre elas o "companheiro Marcola": "Quero cumprimentar o companheiro Marcola, que me subsidiava de material, de informações, e com quem eu também poderia dar um esporro de vez em quando", disse. Naquela ocasião, mais peças de desinformação tentaram associar Lula ao líder do PCC.
A assessoria de campanha do candidato petista destacou que o conteúdo parecido voltou a circular nos últimas dias, se referindo ao trecho do vídeo de Lula no evento da CUT. "Lula tem um assessor, que cuida da sua agenda, chamado de Marco Aurélio e que tem o apelido Marcola desde a infância. Isso é público e já foi tema de várias matérias na imprensa. É a ele que Lula se refere. O vídeo é de uma live, pública, transmitida pelo próprio presidente. O tom conspirador e a distorção sobre quem seria Marcola são parte de um discurso de fake news", diz nota.
O Estadão Verifica recebeu pedidos para que o conteúdo fosse verificado pelo WhatsApp, no número (11) 97683-7490. A falsa associação entre Lula e o PCC já era uma das principais peças de desinformação espalhadas após o petista deixar a prisão, em novembro de 2019.
Quem é Marco Aurélio Santana
O Marcola a quem Lula se referia nas duas ocasiões é Marco Aurélio Santana Ribeiro, assessor do PT, embora fosse desconhecido entre quadros do próprio partido até 2018, quando Lula foi preso. De acordo com perfil publicado em julho de 2019 pela revista Piauí, Marcola era subordinado a Clara Ant, uma aliada histórica do PT e que era responsável por cuidar da agenda de Lula.
Quando Clara Ant se afastou do dia a dia no Instituto Lula, Marcola assumiu as funções dela e, após a prisão do ex-presidente, se mudou para Curitiba, cuidando da comunicação de Lula com o mundo e de tudo que chegava até ele na prisão, desde cartas até filmes, livros e outros materiais. Por isso, ficou conhecido como "o carteiro de Lula".
Isso também explica o agradecido do petista a Marcola quando ele deixou a prisão, em 2019, e a menção a esperar que ele agendasse visitas em cidades de São Paulo antes das eleições no evento da CUT este ano, já que Marcola é quem cuida da agenda de Lula. No mesmo evento da CUT, Marcola é mencionado por outro participante: Rafael Freire, dirigente da Central Sindical das Américas, diz que está em contato com Marcola para ver se Lula poderia participar da abertura de outro evento (em 4:56).
Marcola é uma das pessoas que recebeu cartas escritas por Lula ainda na prisão. Um trecho da carta é citado em uma página do Instituto Lula, que se refere a Marcola como assessor do PT: "Quando você fala que não tinha assunto para me escrever, o sintoma é de desanimo. Levanta a cabeça, se tiver que perder ponha dignidade na derrota. Marcola, aprenda uma lição, a gente só perde uma luta se não participa", diz trecho da carta, datada de 23 de outubro de 2018, às vésperas do segundo turno das eleições daquele ano.