Miss Colômbia protestava contra fraude, não contra presença de mulher trans em concurso de beleza


Vídeo foi registrado em evento no México em 19 de janeiro de 2020, quando representante colombiana desabafou sobre mudanças nas regras para que candidata mexicana fosse escolhida

Por Clarissa Pacheco
Atualização:

O que estão compartilhando: que a Miss Colômbia denunciou a corrupção e a participação de uma mulher trans em um concurso de beleza.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Quem aparece nas imagens é a modelo e atriz colombiana Jesenia Orozco, que representava a Colômbia no concurso Miss Global 2019, disputado em janeiro de 2020 no México. Ela não protestava contra a participação de mulheres trans no concurso de beleza. Na ocasião, Jesenia denunciava que o criador do concurso, Van Pham, havia feito mudanças nas regras para possibilitar que uma candidata do México, o país anfitrião, vencesse o concurso.

Arte/Estadão Foto: Arte/Estadão
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Saiba mais: A alegação enganosa se espalhou em diversas postagens no Brasil e apenas uma delas, no Instagram, acumula mais de 130 mil interações. O conteúdo desinformativo foi disseminado também em outros países, sobretudo da América Latina.

No vídeo aqui investigado, há uma trilha sonora ao fundo que dificulta a compreensão do que a Miss Colômbia fala em espanhol. No entanto, é possível ouvir quando Jesenia Orozco diz haver uma fraude e protesta contra uma situação de desrespeito com as mulheres que estão no palco. Em momento algum, contudo, Jesenia fala sobre haver uma mulher trans disputando o concurso.

Apesar disso, nas postagens virais, foi incluído um texto afirmando que, além de denunciar corrupção, a Miss Colômbia citou a falta de respeito com as mulheres ao haver “um homem disfarçado para compartilhar um espaço feminino”. Outro texto sobreposto ao vídeo diz que é preciso “ter uma revolta assim no esporte também”.

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Fraude foi percebida por administração de Oaxaca, no México

Pelo menos dois jornais colombianos noticiaram o episódio envolvendo a Miss Colômbia em reportagens que foram ao ar em 20 de janeiro de 2020. A notícia foi justamente o fato de a Miss Colômbia ter feito uma denúncia de fraude ainda no palco da competição. Pelas regras do concurso, dez candidatas deveriam disputar a semifinal, mas o criador do concurso, Van Pham, decidiu incluir mais uma candidata sem consultar os jurados e as participantes.

Já na etapa final, com 11 finalistas – e não dez –, o criador do evento decidiu incluir mais sete candidatas, fazendo com que a final tivesse 18 representantes. Foi neste momento que Ramiro Gutierrez, diretor de Fortalecimento e Coordenação Municipal de Oaxaca, cidade mexicana onde aconteceu o concurso, subiu ao palco acompanhado de Van Pham e das candidatas para afirmar que não permitiria uma fraude.

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“Já tínhamos designado e anunciado as 11 finalistas. Mas, por uma decisão pessoal de Van Pham, ele quis voltar e fazer uma eleição de 18 participantes. Ele contatou o escritório que fez a contagem [dos votos] e depois disse que eles erraram. Porém, ele tomou uma decisão que nós nunca estivemos de acordo”, explicou Gutierrez.

Ele continuou: “Não podemos permitir que um senhor venha fazer uma fraude aqui em nossa casa. Nem que venha insultar a todos e dizer que somos ignorantes neste tema. O senhor é um fraudulento e não vamos permitir que continue com isso”, disse, encerrando o evento. Foi neste momento que a candidata colombiana irrompeu no palco e desabafou sobre o caso.

Jesenia Orozco não citou candidatos homens ou mulheres trans

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O jornal Clarín, um dos que noticiou o caso, publicou um vídeo com o discurso da candidata colombiana, e ela não fala em haver uma representante trans ou um homem disputando o concurso. O Estadão Verifica traduziu a fala:

“Isso é uma fraude! É uma fraude! O senhor pagou, há uma imensa corrupção no México. E isso não é justo! Não está certo o que eles estão fazendo aqui! É uma falta de respeito com todas as mulheres que trabalharam tanto para estar aqui. É desrespeitoso! Tem de ser justo! Tem que ser justo! É inaceitável a corrupção, o desrespeito e a falta de dignidade, é inaceitável. E eu não aceito isso! Vim para o México, a primeira vez que estive no México, e acho que eles são pessoas lindas, pessoas lindas.... E eles nos fazem parecer ruins como latinos!”.

Ela foi aplaudida pelas demais candidatas no palco. Depois do episódio, Jesenia usou as redes sociais para explicar que um patrocinador havia pago para que a candidata mexicana Mariela Sanders Ibarrola fosse escolhida a Miss Global 2020. Ela chegou a falar sobre a decepção com o evento no Instagram.

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O concurso se encerrou sem que uma vencedora fosse declarada. No dia seguinte, foi anunciada que a vencedora era a representante da República Tcheca, Karolína Kokesová.

Legenda convoca ‘revolta’ no esporte

Embora o vídeo engane sobre a suposta participação de uma candidata trans em um concurso de beleza, o vídeo viral aproveitou a ocasião para criticar a presença de pessoas trans no esporte. O comentário é opinativo, mas a participação de atletas trans no esporte é permitida, e atletas trans já disputaram inclusive Jogos Olímpicos.

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No ano passado, a ministra do Esporte e dos Jogos Olímpicos Paris 2024, Amélie Oudéa-Castera, afirmou que cada federação poderia decidir sobre a participação de atletas trans na competição. No Brasil, o caso mais conhecido é o da atleta de vôlei Tiffany Abreu, primeira mulher trans a disputar uma partida oficial da Superliga.

Oficialmente, as seleções de vôlei podem convocar atletas trans – uma por país –, o que não aconteceu no Brasil. Atualmente, Tifanny joga pela equipe de Osasco e na temporada passada, ela foi a maior pontuadora da competição, com 491 pontos, e o time ficou com a medalha de bronze.

No futebol, a goleira Sheilla Souza foi a primeira jogadora trans a jogar em uma equipe profissional no Brasil. Fora do Brasil, há mais atletas trans em atuação, como Rebecca Quinn, do futebol (Canadá), e Laurel Hubbard, do halterofilismo (Nova Zelândia).

O que estão compartilhando: que a Miss Colômbia denunciou a corrupção e a participação de uma mulher trans em um concurso de beleza.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Quem aparece nas imagens é a modelo e atriz colombiana Jesenia Orozco, que representava a Colômbia no concurso Miss Global 2019, disputado em janeiro de 2020 no México. Ela não protestava contra a participação de mulheres trans no concurso de beleza. Na ocasião, Jesenia denunciava que o criador do concurso, Van Pham, havia feito mudanças nas regras para possibilitar que uma candidata do México, o país anfitrião, vencesse o concurso.

Arte/Estadão Foto: Arte/Estadão

Saiba mais: A alegação enganosa se espalhou em diversas postagens no Brasil e apenas uma delas, no Instagram, acumula mais de 130 mil interações. O conteúdo desinformativo foi disseminado também em outros países, sobretudo da América Latina.

No vídeo aqui investigado, há uma trilha sonora ao fundo que dificulta a compreensão do que a Miss Colômbia fala em espanhol. No entanto, é possível ouvir quando Jesenia Orozco diz haver uma fraude e protesta contra uma situação de desrespeito com as mulheres que estão no palco. Em momento algum, contudo, Jesenia fala sobre haver uma mulher trans disputando o concurso.

Apesar disso, nas postagens virais, foi incluído um texto afirmando que, além de denunciar corrupção, a Miss Colômbia citou a falta de respeito com as mulheres ao haver “um homem disfarçado para compartilhar um espaço feminino”. Outro texto sobreposto ao vídeo diz que é preciso “ter uma revolta assim no esporte também”.

Fraude foi percebida por administração de Oaxaca, no México

Pelo menos dois jornais colombianos noticiaram o episódio envolvendo a Miss Colômbia em reportagens que foram ao ar em 20 de janeiro de 2020. A notícia foi justamente o fato de a Miss Colômbia ter feito uma denúncia de fraude ainda no palco da competição. Pelas regras do concurso, dez candidatas deveriam disputar a semifinal, mas o criador do concurso, Van Pham, decidiu incluir mais uma candidata sem consultar os jurados e as participantes.

Já na etapa final, com 11 finalistas – e não dez –, o criador do evento decidiu incluir mais sete candidatas, fazendo com que a final tivesse 18 representantes. Foi neste momento que Ramiro Gutierrez, diretor de Fortalecimento e Coordenação Municipal de Oaxaca, cidade mexicana onde aconteceu o concurso, subiu ao palco acompanhado de Van Pham e das candidatas para afirmar que não permitiria uma fraude.

“Já tínhamos designado e anunciado as 11 finalistas. Mas, por uma decisão pessoal de Van Pham, ele quis voltar e fazer uma eleição de 18 participantes. Ele contatou o escritório que fez a contagem [dos votos] e depois disse que eles erraram. Porém, ele tomou uma decisão que nós nunca estivemos de acordo”, explicou Gutierrez.

Ele continuou: “Não podemos permitir que um senhor venha fazer uma fraude aqui em nossa casa. Nem que venha insultar a todos e dizer que somos ignorantes neste tema. O senhor é um fraudulento e não vamos permitir que continue com isso”, disse, encerrando o evento. Foi neste momento que a candidata colombiana irrompeu no palco e desabafou sobre o caso.

Jesenia Orozco não citou candidatos homens ou mulheres trans

O jornal Clarín, um dos que noticiou o caso, publicou um vídeo com o discurso da candidata colombiana, e ela não fala em haver uma representante trans ou um homem disputando o concurso. O Estadão Verifica traduziu a fala:

“Isso é uma fraude! É uma fraude! O senhor pagou, há uma imensa corrupção no México. E isso não é justo! Não está certo o que eles estão fazendo aqui! É uma falta de respeito com todas as mulheres que trabalharam tanto para estar aqui. É desrespeitoso! Tem de ser justo! Tem que ser justo! É inaceitável a corrupção, o desrespeito e a falta de dignidade, é inaceitável. E eu não aceito isso! Vim para o México, a primeira vez que estive no México, e acho que eles são pessoas lindas, pessoas lindas.... E eles nos fazem parecer ruins como latinos!”.

Ela foi aplaudida pelas demais candidatas no palco. Depois do episódio, Jesenia usou as redes sociais para explicar que um patrocinador havia pago para que a candidata mexicana Mariela Sanders Ibarrola fosse escolhida a Miss Global 2020. Ela chegou a falar sobre a decepção com o evento no Instagram.

O concurso se encerrou sem que uma vencedora fosse declarada. No dia seguinte, foi anunciada que a vencedora era a representante da República Tcheca, Karolína Kokesová.

Legenda convoca ‘revolta’ no esporte

Embora o vídeo engane sobre a suposta participação de uma candidata trans em um concurso de beleza, o vídeo viral aproveitou a ocasião para criticar a presença de pessoas trans no esporte. O comentário é opinativo, mas a participação de atletas trans no esporte é permitida, e atletas trans já disputaram inclusive Jogos Olímpicos.

No ano passado, a ministra do Esporte e dos Jogos Olímpicos Paris 2024, Amélie Oudéa-Castera, afirmou que cada federação poderia decidir sobre a participação de atletas trans na competição. No Brasil, o caso mais conhecido é o da atleta de vôlei Tiffany Abreu, primeira mulher trans a disputar uma partida oficial da Superliga.

Oficialmente, as seleções de vôlei podem convocar atletas trans – uma por país –, o que não aconteceu no Brasil. Atualmente, Tifanny joga pela equipe de Osasco e na temporada passada, ela foi a maior pontuadora da competição, com 491 pontos, e o time ficou com a medalha de bronze.

No futebol, a goleira Sheilla Souza foi a primeira jogadora trans a jogar em uma equipe profissional no Brasil. Fora do Brasil, há mais atletas trans em atuação, como Rebecca Quinn, do futebol (Canadá), e Laurel Hubbard, do halterofilismo (Nova Zelândia).

O que estão compartilhando: que a Miss Colômbia denunciou a corrupção e a participação de uma mulher trans em um concurso de beleza.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Quem aparece nas imagens é a modelo e atriz colombiana Jesenia Orozco, que representava a Colômbia no concurso Miss Global 2019, disputado em janeiro de 2020 no México. Ela não protestava contra a participação de mulheres trans no concurso de beleza. Na ocasião, Jesenia denunciava que o criador do concurso, Van Pham, havia feito mudanças nas regras para possibilitar que uma candidata do México, o país anfitrião, vencesse o concurso.

Arte/Estadão Foto: Arte/Estadão

Saiba mais: A alegação enganosa se espalhou em diversas postagens no Brasil e apenas uma delas, no Instagram, acumula mais de 130 mil interações. O conteúdo desinformativo foi disseminado também em outros países, sobretudo da América Latina.

No vídeo aqui investigado, há uma trilha sonora ao fundo que dificulta a compreensão do que a Miss Colômbia fala em espanhol. No entanto, é possível ouvir quando Jesenia Orozco diz haver uma fraude e protesta contra uma situação de desrespeito com as mulheres que estão no palco. Em momento algum, contudo, Jesenia fala sobre haver uma mulher trans disputando o concurso.

Apesar disso, nas postagens virais, foi incluído um texto afirmando que, além de denunciar corrupção, a Miss Colômbia citou a falta de respeito com as mulheres ao haver “um homem disfarçado para compartilhar um espaço feminino”. Outro texto sobreposto ao vídeo diz que é preciso “ter uma revolta assim no esporte também”.

Fraude foi percebida por administração de Oaxaca, no México

Pelo menos dois jornais colombianos noticiaram o episódio envolvendo a Miss Colômbia em reportagens que foram ao ar em 20 de janeiro de 2020. A notícia foi justamente o fato de a Miss Colômbia ter feito uma denúncia de fraude ainda no palco da competição. Pelas regras do concurso, dez candidatas deveriam disputar a semifinal, mas o criador do concurso, Van Pham, decidiu incluir mais uma candidata sem consultar os jurados e as participantes.

Já na etapa final, com 11 finalistas – e não dez –, o criador do evento decidiu incluir mais sete candidatas, fazendo com que a final tivesse 18 representantes. Foi neste momento que Ramiro Gutierrez, diretor de Fortalecimento e Coordenação Municipal de Oaxaca, cidade mexicana onde aconteceu o concurso, subiu ao palco acompanhado de Van Pham e das candidatas para afirmar que não permitiria uma fraude.

“Já tínhamos designado e anunciado as 11 finalistas. Mas, por uma decisão pessoal de Van Pham, ele quis voltar e fazer uma eleição de 18 participantes. Ele contatou o escritório que fez a contagem [dos votos] e depois disse que eles erraram. Porém, ele tomou uma decisão que nós nunca estivemos de acordo”, explicou Gutierrez.

Ele continuou: “Não podemos permitir que um senhor venha fazer uma fraude aqui em nossa casa. Nem que venha insultar a todos e dizer que somos ignorantes neste tema. O senhor é um fraudulento e não vamos permitir que continue com isso”, disse, encerrando o evento. Foi neste momento que a candidata colombiana irrompeu no palco e desabafou sobre o caso.

Jesenia Orozco não citou candidatos homens ou mulheres trans

O jornal Clarín, um dos que noticiou o caso, publicou um vídeo com o discurso da candidata colombiana, e ela não fala em haver uma representante trans ou um homem disputando o concurso. O Estadão Verifica traduziu a fala:

“Isso é uma fraude! É uma fraude! O senhor pagou, há uma imensa corrupção no México. E isso não é justo! Não está certo o que eles estão fazendo aqui! É uma falta de respeito com todas as mulheres que trabalharam tanto para estar aqui. É desrespeitoso! Tem de ser justo! Tem que ser justo! É inaceitável a corrupção, o desrespeito e a falta de dignidade, é inaceitável. E eu não aceito isso! Vim para o México, a primeira vez que estive no México, e acho que eles são pessoas lindas, pessoas lindas.... E eles nos fazem parecer ruins como latinos!”.

Ela foi aplaudida pelas demais candidatas no palco. Depois do episódio, Jesenia usou as redes sociais para explicar que um patrocinador havia pago para que a candidata mexicana Mariela Sanders Ibarrola fosse escolhida a Miss Global 2020. Ela chegou a falar sobre a decepção com o evento no Instagram.

O concurso se encerrou sem que uma vencedora fosse declarada. No dia seguinte, foi anunciada que a vencedora era a representante da República Tcheca, Karolína Kokesová.

Legenda convoca ‘revolta’ no esporte

Embora o vídeo engane sobre a suposta participação de uma candidata trans em um concurso de beleza, o vídeo viral aproveitou a ocasião para criticar a presença de pessoas trans no esporte. O comentário é opinativo, mas a participação de atletas trans no esporte é permitida, e atletas trans já disputaram inclusive Jogos Olímpicos.

No ano passado, a ministra do Esporte e dos Jogos Olímpicos Paris 2024, Amélie Oudéa-Castera, afirmou que cada federação poderia decidir sobre a participação de atletas trans na competição. No Brasil, o caso mais conhecido é o da atleta de vôlei Tiffany Abreu, primeira mulher trans a disputar uma partida oficial da Superliga.

Oficialmente, as seleções de vôlei podem convocar atletas trans – uma por país –, o que não aconteceu no Brasil. Atualmente, Tifanny joga pela equipe de Osasco e na temporada passada, ela foi a maior pontuadora da competição, com 491 pontos, e o time ficou com a medalha de bronze.

No futebol, a goleira Sheilla Souza foi a primeira jogadora trans a jogar em uma equipe profissional no Brasil. Fora do Brasil, há mais atletas trans em atuação, como Rebecca Quinn, do futebol (Canadá), e Laurel Hubbard, do halterofilismo (Nova Zelândia).

O que estão compartilhando: que a Miss Colômbia denunciou a corrupção e a participação de uma mulher trans em um concurso de beleza.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Quem aparece nas imagens é a modelo e atriz colombiana Jesenia Orozco, que representava a Colômbia no concurso Miss Global 2019, disputado em janeiro de 2020 no México. Ela não protestava contra a participação de mulheres trans no concurso de beleza. Na ocasião, Jesenia denunciava que o criador do concurso, Van Pham, havia feito mudanças nas regras para possibilitar que uma candidata do México, o país anfitrião, vencesse o concurso.

Arte/Estadão Foto: Arte/Estadão

Saiba mais: A alegação enganosa se espalhou em diversas postagens no Brasil e apenas uma delas, no Instagram, acumula mais de 130 mil interações. O conteúdo desinformativo foi disseminado também em outros países, sobretudo da América Latina.

No vídeo aqui investigado, há uma trilha sonora ao fundo que dificulta a compreensão do que a Miss Colômbia fala em espanhol. No entanto, é possível ouvir quando Jesenia Orozco diz haver uma fraude e protesta contra uma situação de desrespeito com as mulheres que estão no palco. Em momento algum, contudo, Jesenia fala sobre haver uma mulher trans disputando o concurso.

Apesar disso, nas postagens virais, foi incluído um texto afirmando que, além de denunciar corrupção, a Miss Colômbia citou a falta de respeito com as mulheres ao haver “um homem disfarçado para compartilhar um espaço feminino”. Outro texto sobreposto ao vídeo diz que é preciso “ter uma revolta assim no esporte também”.

Fraude foi percebida por administração de Oaxaca, no México

Pelo menos dois jornais colombianos noticiaram o episódio envolvendo a Miss Colômbia em reportagens que foram ao ar em 20 de janeiro de 2020. A notícia foi justamente o fato de a Miss Colômbia ter feito uma denúncia de fraude ainda no palco da competição. Pelas regras do concurso, dez candidatas deveriam disputar a semifinal, mas o criador do concurso, Van Pham, decidiu incluir mais uma candidata sem consultar os jurados e as participantes.

Já na etapa final, com 11 finalistas – e não dez –, o criador do evento decidiu incluir mais sete candidatas, fazendo com que a final tivesse 18 representantes. Foi neste momento que Ramiro Gutierrez, diretor de Fortalecimento e Coordenação Municipal de Oaxaca, cidade mexicana onde aconteceu o concurso, subiu ao palco acompanhado de Van Pham e das candidatas para afirmar que não permitiria uma fraude.

“Já tínhamos designado e anunciado as 11 finalistas. Mas, por uma decisão pessoal de Van Pham, ele quis voltar e fazer uma eleição de 18 participantes. Ele contatou o escritório que fez a contagem [dos votos] e depois disse que eles erraram. Porém, ele tomou uma decisão que nós nunca estivemos de acordo”, explicou Gutierrez.

Ele continuou: “Não podemos permitir que um senhor venha fazer uma fraude aqui em nossa casa. Nem que venha insultar a todos e dizer que somos ignorantes neste tema. O senhor é um fraudulento e não vamos permitir que continue com isso”, disse, encerrando o evento. Foi neste momento que a candidata colombiana irrompeu no palco e desabafou sobre o caso.

Jesenia Orozco não citou candidatos homens ou mulheres trans

O jornal Clarín, um dos que noticiou o caso, publicou um vídeo com o discurso da candidata colombiana, e ela não fala em haver uma representante trans ou um homem disputando o concurso. O Estadão Verifica traduziu a fala:

“Isso é uma fraude! É uma fraude! O senhor pagou, há uma imensa corrupção no México. E isso não é justo! Não está certo o que eles estão fazendo aqui! É uma falta de respeito com todas as mulheres que trabalharam tanto para estar aqui. É desrespeitoso! Tem de ser justo! Tem que ser justo! É inaceitável a corrupção, o desrespeito e a falta de dignidade, é inaceitável. E eu não aceito isso! Vim para o México, a primeira vez que estive no México, e acho que eles são pessoas lindas, pessoas lindas.... E eles nos fazem parecer ruins como latinos!”.

Ela foi aplaudida pelas demais candidatas no palco. Depois do episódio, Jesenia usou as redes sociais para explicar que um patrocinador havia pago para que a candidata mexicana Mariela Sanders Ibarrola fosse escolhida a Miss Global 2020. Ela chegou a falar sobre a decepção com o evento no Instagram.

O concurso se encerrou sem que uma vencedora fosse declarada. No dia seguinte, foi anunciada que a vencedora era a representante da República Tcheca, Karolína Kokesová.

Legenda convoca ‘revolta’ no esporte

Embora o vídeo engane sobre a suposta participação de uma candidata trans em um concurso de beleza, o vídeo viral aproveitou a ocasião para criticar a presença de pessoas trans no esporte. O comentário é opinativo, mas a participação de atletas trans no esporte é permitida, e atletas trans já disputaram inclusive Jogos Olímpicos.

No ano passado, a ministra do Esporte e dos Jogos Olímpicos Paris 2024, Amélie Oudéa-Castera, afirmou que cada federação poderia decidir sobre a participação de atletas trans na competição. No Brasil, o caso mais conhecido é o da atleta de vôlei Tiffany Abreu, primeira mulher trans a disputar uma partida oficial da Superliga.

Oficialmente, as seleções de vôlei podem convocar atletas trans – uma por país –, o que não aconteceu no Brasil. Atualmente, Tifanny joga pela equipe de Osasco e na temporada passada, ela foi a maior pontuadora da competição, com 491 pontos, e o time ficou com a medalha de bronze.

No futebol, a goleira Sheilla Souza foi a primeira jogadora trans a jogar em uma equipe profissional no Brasil. Fora do Brasil, há mais atletas trans em atuação, como Rebecca Quinn, do futebol (Canadá), e Laurel Hubbard, do halterofilismo (Nova Zelândia).

O que estão compartilhando: que a Miss Colômbia denunciou a corrupção e a participação de uma mulher trans em um concurso de beleza.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Quem aparece nas imagens é a modelo e atriz colombiana Jesenia Orozco, que representava a Colômbia no concurso Miss Global 2019, disputado em janeiro de 2020 no México. Ela não protestava contra a participação de mulheres trans no concurso de beleza. Na ocasião, Jesenia denunciava que o criador do concurso, Van Pham, havia feito mudanças nas regras para possibilitar que uma candidata do México, o país anfitrião, vencesse o concurso.

Arte/Estadão Foto: Arte/Estadão

Saiba mais: A alegação enganosa se espalhou em diversas postagens no Brasil e apenas uma delas, no Instagram, acumula mais de 130 mil interações. O conteúdo desinformativo foi disseminado também em outros países, sobretudo da América Latina.

No vídeo aqui investigado, há uma trilha sonora ao fundo que dificulta a compreensão do que a Miss Colômbia fala em espanhol. No entanto, é possível ouvir quando Jesenia Orozco diz haver uma fraude e protesta contra uma situação de desrespeito com as mulheres que estão no palco. Em momento algum, contudo, Jesenia fala sobre haver uma mulher trans disputando o concurso.

Apesar disso, nas postagens virais, foi incluído um texto afirmando que, além de denunciar corrupção, a Miss Colômbia citou a falta de respeito com as mulheres ao haver “um homem disfarçado para compartilhar um espaço feminino”. Outro texto sobreposto ao vídeo diz que é preciso “ter uma revolta assim no esporte também”.

Fraude foi percebida por administração de Oaxaca, no México

Pelo menos dois jornais colombianos noticiaram o episódio envolvendo a Miss Colômbia em reportagens que foram ao ar em 20 de janeiro de 2020. A notícia foi justamente o fato de a Miss Colômbia ter feito uma denúncia de fraude ainda no palco da competição. Pelas regras do concurso, dez candidatas deveriam disputar a semifinal, mas o criador do concurso, Van Pham, decidiu incluir mais uma candidata sem consultar os jurados e as participantes.

Já na etapa final, com 11 finalistas – e não dez –, o criador do evento decidiu incluir mais sete candidatas, fazendo com que a final tivesse 18 representantes. Foi neste momento que Ramiro Gutierrez, diretor de Fortalecimento e Coordenação Municipal de Oaxaca, cidade mexicana onde aconteceu o concurso, subiu ao palco acompanhado de Van Pham e das candidatas para afirmar que não permitiria uma fraude.

“Já tínhamos designado e anunciado as 11 finalistas. Mas, por uma decisão pessoal de Van Pham, ele quis voltar e fazer uma eleição de 18 participantes. Ele contatou o escritório que fez a contagem [dos votos] e depois disse que eles erraram. Porém, ele tomou uma decisão que nós nunca estivemos de acordo”, explicou Gutierrez.

Ele continuou: “Não podemos permitir que um senhor venha fazer uma fraude aqui em nossa casa. Nem que venha insultar a todos e dizer que somos ignorantes neste tema. O senhor é um fraudulento e não vamos permitir que continue com isso”, disse, encerrando o evento. Foi neste momento que a candidata colombiana irrompeu no palco e desabafou sobre o caso.

Jesenia Orozco não citou candidatos homens ou mulheres trans

O jornal Clarín, um dos que noticiou o caso, publicou um vídeo com o discurso da candidata colombiana, e ela não fala em haver uma representante trans ou um homem disputando o concurso. O Estadão Verifica traduziu a fala:

“Isso é uma fraude! É uma fraude! O senhor pagou, há uma imensa corrupção no México. E isso não é justo! Não está certo o que eles estão fazendo aqui! É uma falta de respeito com todas as mulheres que trabalharam tanto para estar aqui. É desrespeitoso! Tem de ser justo! Tem que ser justo! É inaceitável a corrupção, o desrespeito e a falta de dignidade, é inaceitável. E eu não aceito isso! Vim para o México, a primeira vez que estive no México, e acho que eles são pessoas lindas, pessoas lindas.... E eles nos fazem parecer ruins como latinos!”.

Ela foi aplaudida pelas demais candidatas no palco. Depois do episódio, Jesenia usou as redes sociais para explicar que um patrocinador havia pago para que a candidata mexicana Mariela Sanders Ibarrola fosse escolhida a Miss Global 2020. Ela chegou a falar sobre a decepção com o evento no Instagram.

O concurso se encerrou sem que uma vencedora fosse declarada. No dia seguinte, foi anunciada que a vencedora era a representante da República Tcheca, Karolína Kokesová.

Legenda convoca ‘revolta’ no esporte

Embora o vídeo engane sobre a suposta participação de uma candidata trans em um concurso de beleza, o vídeo viral aproveitou a ocasião para criticar a presença de pessoas trans no esporte. O comentário é opinativo, mas a participação de atletas trans no esporte é permitida, e atletas trans já disputaram inclusive Jogos Olímpicos.

No ano passado, a ministra do Esporte e dos Jogos Olímpicos Paris 2024, Amélie Oudéa-Castera, afirmou que cada federação poderia decidir sobre a participação de atletas trans na competição. No Brasil, o caso mais conhecido é o da atleta de vôlei Tiffany Abreu, primeira mulher trans a disputar uma partida oficial da Superliga.

Oficialmente, as seleções de vôlei podem convocar atletas trans – uma por país –, o que não aconteceu no Brasil. Atualmente, Tifanny joga pela equipe de Osasco e na temporada passada, ela foi a maior pontuadora da competição, com 491 pontos, e o time ficou com a medalha de bronze.

No futebol, a goleira Sheilla Souza foi a primeira jogadora trans a jogar em uma equipe profissional no Brasil. Fora do Brasil, há mais atletas trans em atuação, como Rebecca Quinn, do futebol (Canadá), e Laurel Hubbard, do halterofilismo (Nova Zelândia).

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