Não é verdade que cientista tenha morrido após descobrir cura do câncer


Americano Royal Raymond Rife criou equipamento que não tem eficácia comprovada contra a doença; ele morreu 40 anos depois da invenção

Por Clarissa Pacheco

O que estão compartilhando: vídeo que diz que o cientista norte-americano Royal Raymond Rife morreu após descobrir a cura do câncer e que outros pesquisadores envolvidos na descoberta também morreram “misteriosamente”.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Royal Raymond Rife foi o criador de um super microscópio, amplamente divulgado na imprensa dos Estados Unidos em 1931. Ele também foi o criador de uma máquina que produz ondas de baixa energia eletromagnética. Anos mais tarde, foi disseminado que o uso dos dois equipamentos seria capaz de curar o câncer a partir da destruição exclusivamente de células cancerígenas. Mas isso não ficou comprovado.

Não é verdade que os cientistas envolvidos com esses equipamentos morreram misteriosamente após terem o trabalho censurado. Rife morreu vítima de um infarto em 1971, quando associações médicas americanas já apontavam que seu aparelho não era capaz de curar o câncer. Um de seus parceiros, Milbank Johnson, morreu quase 30 anos antes, em 1944, também de infarto.

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O nome do outro cientista citado no vídeo não foi localizado em notícias na imprensa da época relacionadas às descobertas de Rife. Atualmente, o Cancer Research UK, principal organização para estudos sobre câncer no mundo, aponta que não há evidências confiáveis de que a chamada Máquina Rife funcione para tratar o câncer.

Royal Raymond Rife inventou super microscópio e máquina de emissão de raios eletromagnéticos na década de 1930, mas não há evidências de que ela seja capaz de curar o câncer. Foto: Reprodução/Instagram Foto: Reprodução/Instagram

A máquina não tem registro na base de dados de dispositivos médicos da Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, e a Sociedade Americana do Câncer afirmou não ter informações sobre o equipamento. O Conselho de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) aponta que máquinas inspiradas na tecnologia são consideradas “charlatanismo”.

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O Estadão Verifica não conseguiu e-mail ou telefone de contato com a página que publicou o conteúdo. A afirmação do vídeo, porém, não foi feita exclusivamente por esta conta e já foi alvo de checagens no passado pela Reuters e pelo Observador.

Saiba mais: Royal Raymond Rife tinha formação em ciências naturais e doutorado em Filosofia pelo Georgia Institute of Technology. Ele foi professor em algumas instituições até que, no início do século XX, segundo matéria do Great Falls Tribune, decidiu deixar a área para trabalhar com experimentos e invenções. Se mudou para San Diego, na Califórnia, onde passou a trabalhar como motorista, enquanto mantinha um laboratório particular acima de uma garagem.

Em 1931, após 14 anos de trabalho, uma de suas principais invenções se tornou notícia na imprensa dos Estados Unidos. Em 22 de novembro daquele ano, o jornal The Los Angeles Times publicou uma foto de Rife ao lado do cientista Arthur Isaac Kendall, na Universidade Northwestern, e do microscópio, apontando que o equipamento superava “todos os outros em poder”. A fotografia pode ser vista no site Newspapers, que arquiva páginas de mais de 24 mil jornais dos Estados Unidos e de outros países.

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O aparelho tinha a capacidade de ampliar imagens em até 17.000 diâmetros, cerca de dez vezes mais do que os outros em atividade na época. Em 23 de novembro de 1931, o jornal de Salt Lake City publicou que, com o microscópio de Rife, o Dr. Kendall conseguia observar o ciclo de vida de microorganismos que, até então, parecia impossível.

Boa parte dos jornais dos Estados Unidos na época, principalmente os da Califórnia, tratou o microscópio de Royal Rife como um milagre da ciência e ressaltou a capacidade que o aparelho tinha de visualizar germes responsáveis por causar mais de 60 doenças transmissíveis. Até então, não havia qualquer relação entre o microscópio e o câncer, o que começou a surgir a partir de 1940.

Máquinas Rife

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Mais uma vez, a notícia sobre a nova descoberta de Rife veio pelo The Los Angeles Times, em 18 de maio de 1940. A matéria falava sobre um “Novo inimigo do câncer aclamado” e se referia uma máquina de ondas de radiofrequência que, combinada com um super microscópio, conseguia matar microorganismos em seres humanos a uma distância de 300 metros.

A descoberta foi apresentada durante uma conferência da Sociedade Médica Homeopática do Estado da Califórnia, que creditou a Royal Raymond Rife a criação dos dois aparelhos: o microscópio e a máquina de emissão de raios. Rife não chegou a afirmar que a invenção era capaz de curar o câncer, e sim que conseguia atingir as células cancerígenas com o aparelho. Já o médico Arthur W. Yale disse na palestra que havia conseguido curar uma série de pacientes em estado terminal.

Defensores do trabalho de Rife afirmam que a máquina passou a ser considerada ineficaz após a Associação Médica Americana tentar comprar a patente dos dois equipamentos, sem sucesso, na década de 1950. Depois disso, incêndios teriam destruído o laboratório e os registros dos resultados, mas não foram encontradas informações confiáveis sobre isso.

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Sem comprovação científica

Ao longo da década de 1990, defensores do trabalho de Rife tentaram reproduzir a máquina e a divulgaram como a cura do câncer. Mas, já naquela época, associações médicas diziam que não havia comprovação da eficácia no tratamento contra a doença. Foi o que aconteceu em 1998, quando uma empresa de Vancouver, no Canadá, disse em uma conferência que produzia uma máquina com a tecnologia de Rife capaz de acabar com “câncer, herpes, gripe, e talvez até calvície”.

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O jornal Times Colomnist publicou, em 16 de outubro de 1998, que a Sociedade Canadense do Câncer alertava que não havia provas sugerindo que a máquina pudesse funcionar. Em 2012, o colunista Brian Rudman, do jornal neozelandês NZ Herald, criticou que as punições aos charlatães estavam atrasadas e afirmou que as máquinas milagrosas inspiradas na tecnologia de Rife eram facilmente encontradas na Nova Zelândia.

Atualmente, uma página no site do Cancer Research UK, a maior entidade de pesquisa sobre o câncer no mundo, explica que os apoiadores da tecnologia de Rife defendem que todas as doenças possuem uma frequência eletromagnética, e que a máquina funciona encontrando a mesma frequência que a doença e usando isso para atacar e matar especificamente as células doentes.

“Muitos sites afirmam que a Máquina Rife pode curar o câncer. A maioria dessas alegações são de contas pessoais. Eles não têm nenhuma pesquisa científica para apoiá-los”, diz o site do Cancer Research UK, que completa: “A Máquina Rife não passou pelo processo habitual de testes científicos. Existem estudos que analisaram as ondas de baixa energia como tratamento para o câncer. Eles usaram máquinas que funcionam da mesma forma que a máquina Rife”.

Ainda segundo a entidade, foi feito um estudo com um pequeno grupo de pacientes com câncer avançado no fígado e os pesquisadores descobriram que as ondas de baixa frequência afetaram as células cancerígenas, sem afetar as células normais. A pesquisa, contudo, está em fase experimental e a frequência usada não era a mesma da Máquina Rife.

“Apesar da evidência de que as ondas de baixa energia podem matar as células cancerígenas, precisamos de mais investigação. Só então os médicos poderão usar ondas de baixa energia para tentar curar o câncer”, diz o texto.

No ano passado, o Cremesp, no Brasil, alertou para o equipamento chamado Eletronic Killer, que prometia na internet “a eliminação de parasitas, vírus e bactérias através de corrente eletromagnética com frequências vibracionais previamente gravadas e atuação por ‘eletroforese transdérmica’.

Segundo o Cremesp, o aparelho inspirado na Máquina Rife era considerado charlatanismo. “Esta terapia alternativa, diferentemente do tratamento regular, é prejudicial à saúde dos pacientes e foi associada a relatos de choques elétricos e erupções cutâneas”, disse, em nota.

Mortes de cientistas

No vídeo aqui investigado, os autores afirmam que Royal Raymond Rife morreu após descobrir a cura do câncer, o que não é verdade. Primeiro, porque ele não descobriu a “cura do câncer”. E segundo, porque ele não morreu logo depois das descobertas que, supostamente, curariam a doença, e sim 40 anos depois delas.

De acordo com o vídeo investigado, Rife morreu vítima de uma mistura suspeita de Valium – um medicamento indicado para combater a ansiedade – e álcool. As notícias sobre a morte de Rife são de 1971 e apontam que ele morreu vítima de um infarto numa casa de repouso em El Cajon, no México, onde vivia. Segundo o jornal The Daily Californian, ele morreu sem dinheiro e com o trabalho desacreditado por profissionais médicos.

O segundo cientista citado no vídeo é Milbank Johnson, que também teria tido uma morte suspeita. Johnson foi um dos médicos que acompanhou pacientes tratados com a tecnologia de Rife e também foi responsável por apresentá-lo a um de seus parceiros de trabalho, Arthur Kendall.

De acordo com o jornal The Los Angeles Times, Milbank Johnson morreu aos 72 anos, em 3 de outubro de 1944, vítima de um infarto. O terceiro cientista citado no vídeo, chamado de Dr. Names, não foi encontrado nas reportagens na época que citam o trabalho de Rife.

O que estão compartilhando: vídeo que diz que o cientista norte-americano Royal Raymond Rife morreu após descobrir a cura do câncer e que outros pesquisadores envolvidos na descoberta também morreram “misteriosamente”.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Royal Raymond Rife foi o criador de um super microscópio, amplamente divulgado na imprensa dos Estados Unidos em 1931. Ele também foi o criador de uma máquina que produz ondas de baixa energia eletromagnética. Anos mais tarde, foi disseminado que o uso dos dois equipamentos seria capaz de curar o câncer a partir da destruição exclusivamente de células cancerígenas. Mas isso não ficou comprovado.

Não é verdade que os cientistas envolvidos com esses equipamentos morreram misteriosamente após terem o trabalho censurado. Rife morreu vítima de um infarto em 1971, quando associações médicas americanas já apontavam que seu aparelho não era capaz de curar o câncer. Um de seus parceiros, Milbank Johnson, morreu quase 30 anos antes, em 1944, também de infarto.

O nome do outro cientista citado no vídeo não foi localizado em notícias na imprensa da época relacionadas às descobertas de Rife. Atualmente, o Cancer Research UK, principal organização para estudos sobre câncer no mundo, aponta que não há evidências confiáveis de que a chamada Máquina Rife funcione para tratar o câncer.

Royal Raymond Rife inventou super microscópio e máquina de emissão de raios eletromagnéticos na década de 1930, mas não há evidências de que ela seja capaz de curar o câncer. Foto: Reprodução/Instagram Foto: Reprodução/Instagram

A máquina não tem registro na base de dados de dispositivos médicos da Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, e a Sociedade Americana do Câncer afirmou não ter informações sobre o equipamento. O Conselho de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) aponta que máquinas inspiradas na tecnologia são consideradas “charlatanismo”.

O Estadão Verifica não conseguiu e-mail ou telefone de contato com a página que publicou o conteúdo. A afirmação do vídeo, porém, não foi feita exclusivamente por esta conta e já foi alvo de checagens no passado pela Reuters e pelo Observador.

Saiba mais: Royal Raymond Rife tinha formação em ciências naturais e doutorado em Filosofia pelo Georgia Institute of Technology. Ele foi professor em algumas instituições até que, no início do século XX, segundo matéria do Great Falls Tribune, decidiu deixar a área para trabalhar com experimentos e invenções. Se mudou para San Diego, na Califórnia, onde passou a trabalhar como motorista, enquanto mantinha um laboratório particular acima de uma garagem.

Em 1931, após 14 anos de trabalho, uma de suas principais invenções se tornou notícia na imprensa dos Estados Unidos. Em 22 de novembro daquele ano, o jornal The Los Angeles Times publicou uma foto de Rife ao lado do cientista Arthur Isaac Kendall, na Universidade Northwestern, e do microscópio, apontando que o equipamento superava “todos os outros em poder”. A fotografia pode ser vista no site Newspapers, que arquiva páginas de mais de 24 mil jornais dos Estados Unidos e de outros países.

O aparelho tinha a capacidade de ampliar imagens em até 17.000 diâmetros, cerca de dez vezes mais do que os outros em atividade na época. Em 23 de novembro de 1931, o jornal de Salt Lake City publicou que, com o microscópio de Rife, o Dr. Kendall conseguia observar o ciclo de vida de microorganismos que, até então, parecia impossível.

Boa parte dos jornais dos Estados Unidos na época, principalmente os da Califórnia, tratou o microscópio de Royal Rife como um milagre da ciência e ressaltou a capacidade que o aparelho tinha de visualizar germes responsáveis por causar mais de 60 doenças transmissíveis. Até então, não havia qualquer relação entre o microscópio e o câncer, o que começou a surgir a partir de 1940.

Máquinas Rife

Mais uma vez, a notícia sobre a nova descoberta de Rife veio pelo The Los Angeles Times, em 18 de maio de 1940. A matéria falava sobre um “Novo inimigo do câncer aclamado” e se referia uma máquina de ondas de radiofrequência que, combinada com um super microscópio, conseguia matar microorganismos em seres humanos a uma distância de 300 metros.

A descoberta foi apresentada durante uma conferência da Sociedade Médica Homeopática do Estado da Califórnia, que creditou a Royal Raymond Rife a criação dos dois aparelhos: o microscópio e a máquina de emissão de raios. Rife não chegou a afirmar que a invenção era capaz de curar o câncer, e sim que conseguia atingir as células cancerígenas com o aparelho. Já o médico Arthur W. Yale disse na palestra que havia conseguido curar uma série de pacientes em estado terminal.

Defensores do trabalho de Rife afirmam que a máquina passou a ser considerada ineficaz após a Associação Médica Americana tentar comprar a patente dos dois equipamentos, sem sucesso, na década de 1950. Depois disso, incêndios teriam destruído o laboratório e os registros dos resultados, mas não foram encontradas informações confiáveis sobre isso.

Sem comprovação científica

Ao longo da década de 1990, defensores do trabalho de Rife tentaram reproduzir a máquina e a divulgaram como a cura do câncer. Mas, já naquela época, associações médicas diziam que não havia comprovação da eficácia no tratamento contra a doença. Foi o que aconteceu em 1998, quando uma empresa de Vancouver, no Canadá, disse em uma conferência que produzia uma máquina com a tecnologia de Rife capaz de acabar com “câncer, herpes, gripe, e talvez até calvície”.

O jornal Times Colomnist publicou, em 16 de outubro de 1998, que a Sociedade Canadense do Câncer alertava que não havia provas sugerindo que a máquina pudesse funcionar. Em 2012, o colunista Brian Rudman, do jornal neozelandês NZ Herald, criticou que as punições aos charlatães estavam atrasadas e afirmou que as máquinas milagrosas inspiradas na tecnologia de Rife eram facilmente encontradas na Nova Zelândia.

Atualmente, uma página no site do Cancer Research UK, a maior entidade de pesquisa sobre o câncer no mundo, explica que os apoiadores da tecnologia de Rife defendem que todas as doenças possuem uma frequência eletromagnética, e que a máquina funciona encontrando a mesma frequência que a doença e usando isso para atacar e matar especificamente as células doentes.

“Muitos sites afirmam que a Máquina Rife pode curar o câncer. A maioria dessas alegações são de contas pessoais. Eles não têm nenhuma pesquisa científica para apoiá-los”, diz o site do Cancer Research UK, que completa: “A Máquina Rife não passou pelo processo habitual de testes científicos. Existem estudos que analisaram as ondas de baixa energia como tratamento para o câncer. Eles usaram máquinas que funcionam da mesma forma que a máquina Rife”.

Ainda segundo a entidade, foi feito um estudo com um pequeno grupo de pacientes com câncer avançado no fígado e os pesquisadores descobriram que as ondas de baixa frequência afetaram as células cancerígenas, sem afetar as células normais. A pesquisa, contudo, está em fase experimental e a frequência usada não era a mesma da Máquina Rife.

“Apesar da evidência de que as ondas de baixa energia podem matar as células cancerígenas, precisamos de mais investigação. Só então os médicos poderão usar ondas de baixa energia para tentar curar o câncer”, diz o texto.

No ano passado, o Cremesp, no Brasil, alertou para o equipamento chamado Eletronic Killer, que prometia na internet “a eliminação de parasitas, vírus e bactérias através de corrente eletromagnética com frequências vibracionais previamente gravadas e atuação por ‘eletroforese transdérmica’.

Segundo o Cremesp, o aparelho inspirado na Máquina Rife era considerado charlatanismo. “Esta terapia alternativa, diferentemente do tratamento regular, é prejudicial à saúde dos pacientes e foi associada a relatos de choques elétricos e erupções cutâneas”, disse, em nota.

Mortes de cientistas

No vídeo aqui investigado, os autores afirmam que Royal Raymond Rife morreu após descobrir a cura do câncer, o que não é verdade. Primeiro, porque ele não descobriu a “cura do câncer”. E segundo, porque ele não morreu logo depois das descobertas que, supostamente, curariam a doença, e sim 40 anos depois delas.

De acordo com o vídeo investigado, Rife morreu vítima de uma mistura suspeita de Valium – um medicamento indicado para combater a ansiedade – e álcool. As notícias sobre a morte de Rife são de 1971 e apontam que ele morreu vítima de um infarto numa casa de repouso em El Cajon, no México, onde vivia. Segundo o jornal The Daily Californian, ele morreu sem dinheiro e com o trabalho desacreditado por profissionais médicos.

O segundo cientista citado no vídeo é Milbank Johnson, que também teria tido uma morte suspeita. Johnson foi um dos médicos que acompanhou pacientes tratados com a tecnologia de Rife e também foi responsável por apresentá-lo a um de seus parceiros de trabalho, Arthur Kendall.

De acordo com o jornal The Los Angeles Times, Milbank Johnson morreu aos 72 anos, em 3 de outubro de 1944, vítima de um infarto. O terceiro cientista citado no vídeo, chamado de Dr. Names, não foi encontrado nas reportagens na época que citam o trabalho de Rife.

O que estão compartilhando: vídeo que diz que o cientista norte-americano Royal Raymond Rife morreu após descobrir a cura do câncer e que outros pesquisadores envolvidos na descoberta também morreram “misteriosamente”.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Royal Raymond Rife foi o criador de um super microscópio, amplamente divulgado na imprensa dos Estados Unidos em 1931. Ele também foi o criador de uma máquina que produz ondas de baixa energia eletromagnética. Anos mais tarde, foi disseminado que o uso dos dois equipamentos seria capaz de curar o câncer a partir da destruição exclusivamente de células cancerígenas. Mas isso não ficou comprovado.

Não é verdade que os cientistas envolvidos com esses equipamentos morreram misteriosamente após terem o trabalho censurado. Rife morreu vítima de um infarto em 1971, quando associações médicas americanas já apontavam que seu aparelho não era capaz de curar o câncer. Um de seus parceiros, Milbank Johnson, morreu quase 30 anos antes, em 1944, também de infarto.

O nome do outro cientista citado no vídeo não foi localizado em notícias na imprensa da época relacionadas às descobertas de Rife. Atualmente, o Cancer Research UK, principal organização para estudos sobre câncer no mundo, aponta que não há evidências confiáveis de que a chamada Máquina Rife funcione para tratar o câncer.

Royal Raymond Rife inventou super microscópio e máquina de emissão de raios eletromagnéticos na década de 1930, mas não há evidências de que ela seja capaz de curar o câncer. Foto: Reprodução/Instagram Foto: Reprodução/Instagram

A máquina não tem registro na base de dados de dispositivos médicos da Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, e a Sociedade Americana do Câncer afirmou não ter informações sobre o equipamento. O Conselho de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) aponta que máquinas inspiradas na tecnologia são consideradas “charlatanismo”.

O Estadão Verifica não conseguiu e-mail ou telefone de contato com a página que publicou o conteúdo. A afirmação do vídeo, porém, não foi feita exclusivamente por esta conta e já foi alvo de checagens no passado pela Reuters e pelo Observador.

Saiba mais: Royal Raymond Rife tinha formação em ciências naturais e doutorado em Filosofia pelo Georgia Institute of Technology. Ele foi professor em algumas instituições até que, no início do século XX, segundo matéria do Great Falls Tribune, decidiu deixar a área para trabalhar com experimentos e invenções. Se mudou para San Diego, na Califórnia, onde passou a trabalhar como motorista, enquanto mantinha um laboratório particular acima de uma garagem.

Em 1931, após 14 anos de trabalho, uma de suas principais invenções se tornou notícia na imprensa dos Estados Unidos. Em 22 de novembro daquele ano, o jornal The Los Angeles Times publicou uma foto de Rife ao lado do cientista Arthur Isaac Kendall, na Universidade Northwestern, e do microscópio, apontando que o equipamento superava “todos os outros em poder”. A fotografia pode ser vista no site Newspapers, que arquiva páginas de mais de 24 mil jornais dos Estados Unidos e de outros países.

O aparelho tinha a capacidade de ampliar imagens em até 17.000 diâmetros, cerca de dez vezes mais do que os outros em atividade na época. Em 23 de novembro de 1931, o jornal de Salt Lake City publicou que, com o microscópio de Rife, o Dr. Kendall conseguia observar o ciclo de vida de microorganismos que, até então, parecia impossível.

Boa parte dos jornais dos Estados Unidos na época, principalmente os da Califórnia, tratou o microscópio de Royal Rife como um milagre da ciência e ressaltou a capacidade que o aparelho tinha de visualizar germes responsáveis por causar mais de 60 doenças transmissíveis. Até então, não havia qualquer relação entre o microscópio e o câncer, o que começou a surgir a partir de 1940.

Máquinas Rife

Mais uma vez, a notícia sobre a nova descoberta de Rife veio pelo The Los Angeles Times, em 18 de maio de 1940. A matéria falava sobre um “Novo inimigo do câncer aclamado” e se referia uma máquina de ondas de radiofrequência que, combinada com um super microscópio, conseguia matar microorganismos em seres humanos a uma distância de 300 metros.

A descoberta foi apresentada durante uma conferência da Sociedade Médica Homeopática do Estado da Califórnia, que creditou a Royal Raymond Rife a criação dos dois aparelhos: o microscópio e a máquina de emissão de raios. Rife não chegou a afirmar que a invenção era capaz de curar o câncer, e sim que conseguia atingir as células cancerígenas com o aparelho. Já o médico Arthur W. Yale disse na palestra que havia conseguido curar uma série de pacientes em estado terminal.

Defensores do trabalho de Rife afirmam que a máquina passou a ser considerada ineficaz após a Associação Médica Americana tentar comprar a patente dos dois equipamentos, sem sucesso, na década de 1950. Depois disso, incêndios teriam destruído o laboratório e os registros dos resultados, mas não foram encontradas informações confiáveis sobre isso.

Sem comprovação científica

Ao longo da década de 1990, defensores do trabalho de Rife tentaram reproduzir a máquina e a divulgaram como a cura do câncer. Mas, já naquela época, associações médicas diziam que não havia comprovação da eficácia no tratamento contra a doença. Foi o que aconteceu em 1998, quando uma empresa de Vancouver, no Canadá, disse em uma conferência que produzia uma máquina com a tecnologia de Rife capaz de acabar com “câncer, herpes, gripe, e talvez até calvície”.

O jornal Times Colomnist publicou, em 16 de outubro de 1998, que a Sociedade Canadense do Câncer alertava que não havia provas sugerindo que a máquina pudesse funcionar. Em 2012, o colunista Brian Rudman, do jornal neozelandês NZ Herald, criticou que as punições aos charlatães estavam atrasadas e afirmou que as máquinas milagrosas inspiradas na tecnologia de Rife eram facilmente encontradas na Nova Zelândia.

Atualmente, uma página no site do Cancer Research UK, a maior entidade de pesquisa sobre o câncer no mundo, explica que os apoiadores da tecnologia de Rife defendem que todas as doenças possuem uma frequência eletromagnética, e que a máquina funciona encontrando a mesma frequência que a doença e usando isso para atacar e matar especificamente as células doentes.

“Muitos sites afirmam que a Máquina Rife pode curar o câncer. A maioria dessas alegações são de contas pessoais. Eles não têm nenhuma pesquisa científica para apoiá-los”, diz o site do Cancer Research UK, que completa: “A Máquina Rife não passou pelo processo habitual de testes científicos. Existem estudos que analisaram as ondas de baixa energia como tratamento para o câncer. Eles usaram máquinas que funcionam da mesma forma que a máquina Rife”.

Ainda segundo a entidade, foi feito um estudo com um pequeno grupo de pacientes com câncer avançado no fígado e os pesquisadores descobriram que as ondas de baixa frequência afetaram as células cancerígenas, sem afetar as células normais. A pesquisa, contudo, está em fase experimental e a frequência usada não era a mesma da Máquina Rife.

“Apesar da evidência de que as ondas de baixa energia podem matar as células cancerígenas, precisamos de mais investigação. Só então os médicos poderão usar ondas de baixa energia para tentar curar o câncer”, diz o texto.

No ano passado, o Cremesp, no Brasil, alertou para o equipamento chamado Eletronic Killer, que prometia na internet “a eliminação de parasitas, vírus e bactérias através de corrente eletromagnética com frequências vibracionais previamente gravadas e atuação por ‘eletroforese transdérmica’.

Segundo o Cremesp, o aparelho inspirado na Máquina Rife era considerado charlatanismo. “Esta terapia alternativa, diferentemente do tratamento regular, é prejudicial à saúde dos pacientes e foi associada a relatos de choques elétricos e erupções cutâneas”, disse, em nota.

Mortes de cientistas

No vídeo aqui investigado, os autores afirmam que Royal Raymond Rife morreu após descobrir a cura do câncer, o que não é verdade. Primeiro, porque ele não descobriu a “cura do câncer”. E segundo, porque ele não morreu logo depois das descobertas que, supostamente, curariam a doença, e sim 40 anos depois delas.

De acordo com o vídeo investigado, Rife morreu vítima de uma mistura suspeita de Valium – um medicamento indicado para combater a ansiedade – e álcool. As notícias sobre a morte de Rife são de 1971 e apontam que ele morreu vítima de um infarto numa casa de repouso em El Cajon, no México, onde vivia. Segundo o jornal The Daily Californian, ele morreu sem dinheiro e com o trabalho desacreditado por profissionais médicos.

O segundo cientista citado no vídeo é Milbank Johnson, que também teria tido uma morte suspeita. Johnson foi um dos médicos que acompanhou pacientes tratados com a tecnologia de Rife e também foi responsável por apresentá-lo a um de seus parceiros de trabalho, Arthur Kendall.

De acordo com o jornal The Los Angeles Times, Milbank Johnson morreu aos 72 anos, em 3 de outubro de 1944, vítima de um infarto. O terceiro cientista citado no vídeo, chamado de Dr. Names, não foi encontrado nas reportagens na época que citam o trabalho de Rife.

O que estão compartilhando: vídeo que diz que o cientista norte-americano Royal Raymond Rife morreu após descobrir a cura do câncer e que outros pesquisadores envolvidos na descoberta também morreram “misteriosamente”.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Royal Raymond Rife foi o criador de um super microscópio, amplamente divulgado na imprensa dos Estados Unidos em 1931. Ele também foi o criador de uma máquina que produz ondas de baixa energia eletromagnética. Anos mais tarde, foi disseminado que o uso dos dois equipamentos seria capaz de curar o câncer a partir da destruição exclusivamente de células cancerígenas. Mas isso não ficou comprovado.

Não é verdade que os cientistas envolvidos com esses equipamentos morreram misteriosamente após terem o trabalho censurado. Rife morreu vítima de um infarto em 1971, quando associações médicas americanas já apontavam que seu aparelho não era capaz de curar o câncer. Um de seus parceiros, Milbank Johnson, morreu quase 30 anos antes, em 1944, também de infarto.

O nome do outro cientista citado no vídeo não foi localizado em notícias na imprensa da época relacionadas às descobertas de Rife. Atualmente, o Cancer Research UK, principal organização para estudos sobre câncer no mundo, aponta que não há evidências confiáveis de que a chamada Máquina Rife funcione para tratar o câncer.

Royal Raymond Rife inventou super microscópio e máquina de emissão de raios eletromagnéticos na década de 1930, mas não há evidências de que ela seja capaz de curar o câncer. Foto: Reprodução/Instagram Foto: Reprodução/Instagram

A máquina não tem registro na base de dados de dispositivos médicos da Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, e a Sociedade Americana do Câncer afirmou não ter informações sobre o equipamento. O Conselho de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) aponta que máquinas inspiradas na tecnologia são consideradas “charlatanismo”.

O Estadão Verifica não conseguiu e-mail ou telefone de contato com a página que publicou o conteúdo. A afirmação do vídeo, porém, não foi feita exclusivamente por esta conta e já foi alvo de checagens no passado pela Reuters e pelo Observador.

Saiba mais: Royal Raymond Rife tinha formação em ciências naturais e doutorado em Filosofia pelo Georgia Institute of Technology. Ele foi professor em algumas instituições até que, no início do século XX, segundo matéria do Great Falls Tribune, decidiu deixar a área para trabalhar com experimentos e invenções. Se mudou para San Diego, na Califórnia, onde passou a trabalhar como motorista, enquanto mantinha um laboratório particular acima de uma garagem.

Em 1931, após 14 anos de trabalho, uma de suas principais invenções se tornou notícia na imprensa dos Estados Unidos. Em 22 de novembro daquele ano, o jornal The Los Angeles Times publicou uma foto de Rife ao lado do cientista Arthur Isaac Kendall, na Universidade Northwestern, e do microscópio, apontando que o equipamento superava “todos os outros em poder”. A fotografia pode ser vista no site Newspapers, que arquiva páginas de mais de 24 mil jornais dos Estados Unidos e de outros países.

O aparelho tinha a capacidade de ampliar imagens em até 17.000 diâmetros, cerca de dez vezes mais do que os outros em atividade na época. Em 23 de novembro de 1931, o jornal de Salt Lake City publicou que, com o microscópio de Rife, o Dr. Kendall conseguia observar o ciclo de vida de microorganismos que, até então, parecia impossível.

Boa parte dos jornais dos Estados Unidos na época, principalmente os da Califórnia, tratou o microscópio de Royal Rife como um milagre da ciência e ressaltou a capacidade que o aparelho tinha de visualizar germes responsáveis por causar mais de 60 doenças transmissíveis. Até então, não havia qualquer relação entre o microscópio e o câncer, o que começou a surgir a partir de 1940.

Máquinas Rife

Mais uma vez, a notícia sobre a nova descoberta de Rife veio pelo The Los Angeles Times, em 18 de maio de 1940. A matéria falava sobre um “Novo inimigo do câncer aclamado” e se referia uma máquina de ondas de radiofrequência que, combinada com um super microscópio, conseguia matar microorganismos em seres humanos a uma distância de 300 metros.

A descoberta foi apresentada durante uma conferência da Sociedade Médica Homeopática do Estado da Califórnia, que creditou a Royal Raymond Rife a criação dos dois aparelhos: o microscópio e a máquina de emissão de raios. Rife não chegou a afirmar que a invenção era capaz de curar o câncer, e sim que conseguia atingir as células cancerígenas com o aparelho. Já o médico Arthur W. Yale disse na palestra que havia conseguido curar uma série de pacientes em estado terminal.

Defensores do trabalho de Rife afirmam que a máquina passou a ser considerada ineficaz após a Associação Médica Americana tentar comprar a patente dos dois equipamentos, sem sucesso, na década de 1950. Depois disso, incêndios teriam destruído o laboratório e os registros dos resultados, mas não foram encontradas informações confiáveis sobre isso.

Sem comprovação científica

Ao longo da década de 1990, defensores do trabalho de Rife tentaram reproduzir a máquina e a divulgaram como a cura do câncer. Mas, já naquela época, associações médicas diziam que não havia comprovação da eficácia no tratamento contra a doença. Foi o que aconteceu em 1998, quando uma empresa de Vancouver, no Canadá, disse em uma conferência que produzia uma máquina com a tecnologia de Rife capaz de acabar com “câncer, herpes, gripe, e talvez até calvície”.

O jornal Times Colomnist publicou, em 16 de outubro de 1998, que a Sociedade Canadense do Câncer alertava que não havia provas sugerindo que a máquina pudesse funcionar. Em 2012, o colunista Brian Rudman, do jornal neozelandês NZ Herald, criticou que as punições aos charlatães estavam atrasadas e afirmou que as máquinas milagrosas inspiradas na tecnologia de Rife eram facilmente encontradas na Nova Zelândia.

Atualmente, uma página no site do Cancer Research UK, a maior entidade de pesquisa sobre o câncer no mundo, explica que os apoiadores da tecnologia de Rife defendem que todas as doenças possuem uma frequência eletromagnética, e que a máquina funciona encontrando a mesma frequência que a doença e usando isso para atacar e matar especificamente as células doentes.

“Muitos sites afirmam que a Máquina Rife pode curar o câncer. A maioria dessas alegações são de contas pessoais. Eles não têm nenhuma pesquisa científica para apoiá-los”, diz o site do Cancer Research UK, que completa: “A Máquina Rife não passou pelo processo habitual de testes científicos. Existem estudos que analisaram as ondas de baixa energia como tratamento para o câncer. Eles usaram máquinas que funcionam da mesma forma que a máquina Rife”.

Ainda segundo a entidade, foi feito um estudo com um pequeno grupo de pacientes com câncer avançado no fígado e os pesquisadores descobriram que as ondas de baixa frequência afetaram as células cancerígenas, sem afetar as células normais. A pesquisa, contudo, está em fase experimental e a frequência usada não era a mesma da Máquina Rife.

“Apesar da evidência de que as ondas de baixa energia podem matar as células cancerígenas, precisamos de mais investigação. Só então os médicos poderão usar ondas de baixa energia para tentar curar o câncer”, diz o texto.

No ano passado, o Cremesp, no Brasil, alertou para o equipamento chamado Eletronic Killer, que prometia na internet “a eliminação de parasitas, vírus e bactérias através de corrente eletromagnética com frequências vibracionais previamente gravadas e atuação por ‘eletroforese transdérmica’.

Segundo o Cremesp, o aparelho inspirado na Máquina Rife era considerado charlatanismo. “Esta terapia alternativa, diferentemente do tratamento regular, é prejudicial à saúde dos pacientes e foi associada a relatos de choques elétricos e erupções cutâneas”, disse, em nota.

Mortes de cientistas

No vídeo aqui investigado, os autores afirmam que Royal Raymond Rife morreu após descobrir a cura do câncer, o que não é verdade. Primeiro, porque ele não descobriu a “cura do câncer”. E segundo, porque ele não morreu logo depois das descobertas que, supostamente, curariam a doença, e sim 40 anos depois delas.

De acordo com o vídeo investigado, Rife morreu vítima de uma mistura suspeita de Valium – um medicamento indicado para combater a ansiedade – e álcool. As notícias sobre a morte de Rife são de 1971 e apontam que ele morreu vítima de um infarto numa casa de repouso em El Cajon, no México, onde vivia. Segundo o jornal The Daily Californian, ele morreu sem dinheiro e com o trabalho desacreditado por profissionais médicos.

O segundo cientista citado no vídeo é Milbank Johnson, que também teria tido uma morte suspeita. Johnson foi um dos médicos que acompanhou pacientes tratados com a tecnologia de Rife e também foi responsável por apresentá-lo a um de seus parceiros de trabalho, Arthur Kendall.

De acordo com o jornal The Los Angeles Times, Milbank Johnson morreu aos 72 anos, em 3 de outubro de 1944, vítima de um infarto. O terceiro cientista citado no vídeo, chamado de Dr. Names, não foi encontrado nas reportagens na época que citam o trabalho de Rife.

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