Não é verdade que o governo Bolsonaro tenha construído secretamente uma "fábrica da tecnologia 5G" no interior de São Paulo. Essa alegação enganosa que circula no WhatsApp refere-se à construção de uma nova linha de produção pela empresa sueca Ericsson, como parte de um investimento de R$ 1 bilhão no País. Essa corrente também alega falsamente que a presença da fábrica impede a entrada da companhia chinesa Huawei no leilão do 5G, mas o ministro das Comunicações Fábio Faria já disse que a empresa poderá participar do mercado destinado aos consumidores brasileiros.
5G é o nome dado à tecnologia de quinta geração de conexão móvel. Ela vai reduzir o tempo necessário para downloads e uploads, além de oferecer maior estabilidade para a conexão de internet. O 5G substituirá a tecnologia atualmente utilizada em smartphones, computadores e aparelhos domésticos conectados à internet.
O texto viral se refere à inauguração de uma linha de produção de placas 5G da Ericsson no dia 19 de março, em São José dos Campos. As placas são uma ferramenta necessária para o funcionamento da tecnologia de conexão móvel. Trata-se da primeira linha de produção de produtos relacionados ao 5G na América Latina. A produção atenderá o mercado brasileiro e também exportará produtos para toda a região.
A inauguração é um investimento privado e não tem relação com o governo Bolsonaro. Em 25 de novembro de 2019, o presidente da Ericsson Latam South disse que já exportava 40% do que era montado na fábrica, e que esperava que o mesmo ocorra com os produtos do 5G. Esta informação foi noticiada pelo Estadão, o que desmente que a instalação da linha de montagem seria sigilosa.
A corrente de WhatsApp acompanha um vídeo que mostra a inauguração das instalações da nova linha de produção. Compareceram o ministro Fábio Faria (Comunicações) e Leonardo Euler, presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), além de funcionários de ambos os órgãos e do Ministério da Defesa. Este vídeo contém informações verídicas e está disponível no canal do Ministério das Comunicações no YouTube (veja a seguir).
Leilão do 5G
Os investimentos no País são parte da estratégia da Ericsson em torno da disputa contra a chinesa Huawei e a finlandesa Nokia pela liderança na implantação do 5G no Brasil.
O leilão das faixas para o tráfego dos sinais da internet móvel foi politizado durante a gestão Bolsonaro. As alas ideológica e militar do governo pressionavam para que a Huawei fosse barrada do leilão por temores de que a segurança nacional poderia ser ameaçada. Essa posição estava alinhada com o posicionamento dos Estados Unidos durante o governo de Donald Trump, que tentava frear o avanço da influência chinesa no mundo.
No entanto, o governo acabou recuando em meio à ausência de meios legais para impedir a participação dos chineses. Além disso, haveria um custo alto para substituir os equipamentos da Huawei que atualmente já são utilizados para a tecnologia 4G. Pesaram, ainda, as implicações comerciais e diplomáticas que um veto aos chineses causaria, tendo em vista que o país asiático exporta para o Brasil boa parte dos insumos necessários para a produção das vacinas contra a covid-19.
Em março, o ministro Fábio Faria disse que a Huawei poderá integrar futuras redes 5G voltadas para empresas e consumidores brasileiros, mas está vetada de fornecer equipamentos para a rede privativa de comunicação do governo federal. Ele falou que a empresa chinesa não havia manifestado interesse na rede privativa.
O edital do leilão que permite a participação da Huawei foi aprovado pela Anatel e agora aguarda parecer do Tribunal de Contas da União (TCU). Há expectativa para que o leilão ocorra ainda no primeiro semestre de 2021.
Vacina sigilosa?
Outra alegação falsa compartilhada pela corrente de WhatsApp desinforma ao dizer que o governo federal teria desenvolvido uma vacina em sigilo absoluto e que ela seria produzida em uma fábrica secreta da Fiocruz. Esse boato já foi desmentido pelo Estadão Verifica.
Na verdade, a única vacina produzida pela Fiocruz é a desenvolvida pela universidade de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca. Ela teve o resultado de todos os seus testes clínicos publicados em revistas científicas e não era secreta.
Além disso, diferentemente do que afirma o texto no WhatsApp, o Complexo Tecnológico de Vacinas (CTV) da Fiocruz produz 11 imunizantes diferentes e não exige nenhuma autorização de altas autoridades para ser visitado.
Deputado compartilhou corrente no Facebook
O texto viral que circula no WhatsApp foi postado no Facebook pelo deputado federal Coronel Chrisóstomo (PSL-RO). A postagem recebeu 148 compartilhamentos e 147 impressões. O Estadão Verifica entrou em contato com o parlamentar, mas não obteve resposta até a publicação desta checagem. O espaço está aberto.