Não há comprovação científica de que óleo de melaleuca sirva para tratar mpox


Recomendação da OMS é deixar lesões causadas pela doença secarem, ou cobri-las com curativo úmido

Por Clarissa Pacheco

O que estão compartilhando: que a mpox, ou varíola dos macacos, é uma doença semelhante ao molusco contagioso e as pessoas podem usar óleo essencial de melaleuca e vinagre de maçã porque esses produtos “vão ser muito bons para combater essa doença”.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Ainda não há tratamento específico contra o vírus causador da mpox. A recomendação da OMS é deixar as lesões secarem ou cobri-las com um curativo úmido, apenas para proteger a área afetada. O Verifica conversou com uma dermatologista e com dois virologistas que disseram não haver comprovação científica de que os produtos naturais ajudem a tratar ou prevenir a infecção. É possível que eles ajudem a secar as lesões, mas as pessoas devem avaliar que pode haver riscos no uso, como irritações na pele que até piorem o quadro.

Procurado, o autor do vídeo disse que não afirmou “ter certeza de que a melaleuca será um tratamento eficaz para a mpox”.

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Já existe vacina contra mpox, mas ela é priorizada para grupos de risco, como pessoas vivendo com HIV/Aids; com idade igual ou superior a 18 anos; e com status imunológico identificado pela contagem de linfócitos T CD4 inferior a 200 células nos últimos seis meses; e profissionais de laboratório que trabalham diretamente com Orthopoxvírus em laboratórios com nível de biossegurança 2 (NB-2), de 18 a 49 anos de idade. Foto da vacinação em São Paulo, em 22 de março de 2023 Foto: Felipe Rau/Estadão - 22/03/2023

Saiba mais: Em um vídeo publicado no Instagram, um homem afirma fornecer um “aviso de utilidade pública” ao sugerir que as pessoas tenham em casa óleo de melaleuca e vinagre de maçã para que, eventualmente, usem no combate à varíola dos macacos, ou mpox, caso a doença realmente se torne uma pandemia. Recentemente, a Organização Mundial de Saúde declarou a mpox como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), o que já tinha acontecido em 2022.

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Antes de fazer a sugestão, o autor do vídeo compara as pústulas provocadas pela mpox com outras doenças chamadas exantemáticas (que causam erupções na pela), como pé-mão-boca, molusco contagioso e roséola. Em seguida, ele diz que essas lesões são difíceis de tratar, mas que há antibióticos naturais, como o óleo de melaleuca, que são eficazes no tratamento destas doenças e que, “por via das dúvidas”, as pessoas devem ter em casa. “Se acontecer, eles vão ser muito bons para combater essa doença”, diz, se referindo à varíola dos macacos.

Procurado, o autor do vídeo, Christian Trindade, disse que não é médico, e sim um terapeuta integrativo que trabalha, sobretudo, com fitoterapia e ayurveda e que se baseia em estudos de médicos e cientistas e na experiência própria com tratamentos naturais. “Em nenhum momento do vídeo eu afirmei ter certeza de que a melaleuca será um tratamento eficaz para a mpox. O que eu disse é que há uma correlação entre a mpox e o molusco contagioso, pois ambas são doenças causadas por vírus e que geram feridas na pele. E a melaleuca é um tratamento já testado e estudado para o molusco contagioso”, disse.

O vídeo foi publicado por Christian em sua conta oficial do Instagram e acumula quase 45 mil visualizações na rede social. Parte das informações presentes no vídeo sobre a mpox são verdadeiras, mas o conteúdo acaba enganando ao sugerir um tratamento natural com base em pesquisas relacionadas com outras enfermidades.

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O que é a mpox e quais são os sintomas?

A mpox, também conhecida como varíola dos macacos, é uma zoonose causada pelo vírus mpox, do gênero Orthopoxvirus, que pode ser transmitida entre animais e pessoas, sobretudo pelo contato com infectados. Nesta publicação, o Projeto Comprova, do qual o Verifica é parceiro, explica que a doença começa com uma fase que se assemelha a uma gripe: a pessoa tem febre, dor de cabeça e dor no corpo, calafrios e exaustão. Estes sintomas iniciais podem durar, em média, três dias. A etapa seguinte é a das lesões na pele, que têm cinco estágios: mácula, pápula, vesícula, pústula e crosta, quando as lesões caem.

No vídeo investigado, o autor aponta semelhanças entre a mpox e outras doenças exantemáticas, ou seja, caracterizadas por manchas e outros tipos de lesões na pele, como mão-pé-boca, roséola e molusco. Em seguida, ele indica dois produtos que, supostamente, ajudariam a tratar essas doenças e, consequentemente, também a mpox. Mas, especialistas ouvidos pelo Verifica dizem não haver comprovação científica da eficácia deles.

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O que é o óleo de melaleuca e o que ele tem a ver com a mpox?

O produto indicado no vídeo para um possível tratamento da mpox é o óleo essencial de melaleuca, mas o autor também cita o vinagre de maçã como algo que possivelmente ajude no tratamento da doença. O óleo de melaleuca, extraído de um arbusto originário da Austrália chamado de Melaleuca alternifolia, realmente tem propriedades terapêuticas, mas não há comprovação de que ele seja eficaz contra a mpox.

O que existem são estudos científicos que comprovam a ação bactericida e antifúngica do óleo de melaleuca contra diversos patógenos humanos, além de outros que mostram como ele passou a ser estudado também como um bactericida alternativo às infecções de origem bucal. Na realidade, segundo a OMS, ainda não existe um tratamento específico contra a infecção causada pelo vírus mpox, mas é possível cuidar das lesões na pele.

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Segundo a Organização, os sintomas da doença costumam desaparecer espontaneamente, sem a necessidade de tratamento, e a atenção clínica deve se concentrar apenas em aliviá-los, prevenindo sequelas. “É importante cuidar da erupção cutânea, deixando-a secar, se possível, ou cobrindo-a com um curativo úmido para proteger a área, se necessário. Evite tocar em feridas na boca ou nos olhos. Enxaguantes bucais e colírios podem ser usados desde que se evite os produtos que contenham cortisona”, recomenda a OMS.

“Uma vez que as lesões do mpox estão presentes, não tem como eliminar o vírus, mas sim as lesões”, apontou a virologista Clarice Arns, professora do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ela disse desconhecer a eficácia do óleo de melaleuca ou do vinagre de maçã, mas disse que é possível que eles possam ajudar a diminuir ou secar as vesículas ou pústulas provocadas pela doença.

O também virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Saúde Única, disse desconhecer a eficácia dos produtos. “Não existe do lado da virologia nenhuma evidência de eficácia dessas estratégias para tratamento ou prevenção de infecções pelo vírus”, disse. Para ele, o efeito seria, no mínimo, nulo. Mesmo assim, as pessoas devem atentar, alerta, para o risco de que esses produtos acabem piorando o quadro.

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Sobre isso, a dermatologista Regina Carneiro, diretora da Sociedade Brasileira de Dermatologia, é clara: as pessoas não devem ter esses produtos em casa com a intenção de usar com qualquer dessas doenças citadas sem que haja uma recomendação médica. “Muitos desses óleos, muitas vezes, causam sensibilidade em pacientes e, muitas vezes, quando você passa qualquer coisa sobre uma ferida, sobre uma lesão, você pode piorar. Então, qualquer tratamento de doença precisa ser recomendado por médicos”, disse.

Em resposta ao Verifica, Christian Trindade disse que nunca foram evidenciados riscos do uso do óleo de melaleuca nas dosagens recomendadas. “O óleo essencial de melaleuca é amplamente considerado um dos óleos essenciais mais seguros de todos, sendo indicado, até mesmo, para pele de crianças pequenas. As ocasiões de irritação, embora não sejam impossíveis, são extremamente raras”, disse. O óleo costuma ser usado na indústria de cosméticos e também diluído em outros produtos, sem ser aplicado diretamente na pele.

Há comprovação da eficácia do óleo contra o molusco contagioso?

Existem diversos estudos sobre o uso do óleo essencial de melaleuca contra o molusco contagioso, uma doença viral que também provoca feridas na pele. O autor do vídeo compartilhou três deles com a reportagem (aqui, aqui e aqui). Todos falam sobre os potenciais benefícios, mas dois deles dizem que ainda são necessários mais estudos sobre o assunto.

O terceiro mostra os resultados de um estudo clínico que avaliou os resultados da aplicação tópica de uma combinação de óleo de melaleuca e iodo organicamente ligado no tratamento de molusco contagioso em crianças. O resultado foi que a combinação oferecia uma alternativa terapêutica segura no tratamento da doença.

Christian Trindade argumentou que, devido à semelhança da mpox com o molusco contagioso do ponto de vista das lesões, afirmou no vídeo que “a melaleuca pode ser um tratamento não para a doença como um todo, mas especificamente para as feridas”.

Para a dermatologista Regina Carneiro, é preciso ter cuidado. “Qualquer tratamento de doença precisa ser recomendado por médico. A monkeypox, o molusco contagioso, todas essas doenças citadas precisam de um diagnóstico por médico”, afirmou.

O que estão compartilhando: que a mpox, ou varíola dos macacos, é uma doença semelhante ao molusco contagioso e as pessoas podem usar óleo essencial de melaleuca e vinagre de maçã porque esses produtos “vão ser muito bons para combater essa doença”.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Ainda não há tratamento específico contra o vírus causador da mpox. A recomendação da OMS é deixar as lesões secarem ou cobri-las com um curativo úmido, apenas para proteger a área afetada. O Verifica conversou com uma dermatologista e com dois virologistas que disseram não haver comprovação científica de que os produtos naturais ajudem a tratar ou prevenir a infecção. É possível que eles ajudem a secar as lesões, mas as pessoas devem avaliar que pode haver riscos no uso, como irritações na pele que até piorem o quadro.

Procurado, o autor do vídeo disse que não afirmou “ter certeza de que a melaleuca será um tratamento eficaz para a mpox”.

Já existe vacina contra mpox, mas ela é priorizada para grupos de risco, como pessoas vivendo com HIV/Aids; com idade igual ou superior a 18 anos; e com status imunológico identificado pela contagem de linfócitos T CD4 inferior a 200 células nos últimos seis meses; e profissionais de laboratório que trabalham diretamente com Orthopoxvírus em laboratórios com nível de biossegurança 2 (NB-2), de 18 a 49 anos de idade. Foto da vacinação em São Paulo, em 22 de março de 2023 Foto: Felipe Rau/Estadão - 22/03/2023

Saiba mais: Em um vídeo publicado no Instagram, um homem afirma fornecer um “aviso de utilidade pública” ao sugerir que as pessoas tenham em casa óleo de melaleuca e vinagre de maçã para que, eventualmente, usem no combate à varíola dos macacos, ou mpox, caso a doença realmente se torne uma pandemia. Recentemente, a Organização Mundial de Saúde declarou a mpox como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), o que já tinha acontecido em 2022.

Antes de fazer a sugestão, o autor do vídeo compara as pústulas provocadas pela mpox com outras doenças chamadas exantemáticas (que causam erupções na pela), como pé-mão-boca, molusco contagioso e roséola. Em seguida, ele diz que essas lesões são difíceis de tratar, mas que há antibióticos naturais, como o óleo de melaleuca, que são eficazes no tratamento destas doenças e que, “por via das dúvidas”, as pessoas devem ter em casa. “Se acontecer, eles vão ser muito bons para combater essa doença”, diz, se referindo à varíola dos macacos.

Procurado, o autor do vídeo, Christian Trindade, disse que não é médico, e sim um terapeuta integrativo que trabalha, sobretudo, com fitoterapia e ayurveda e que se baseia em estudos de médicos e cientistas e na experiência própria com tratamentos naturais. “Em nenhum momento do vídeo eu afirmei ter certeza de que a melaleuca será um tratamento eficaz para a mpox. O que eu disse é que há uma correlação entre a mpox e o molusco contagioso, pois ambas são doenças causadas por vírus e que geram feridas na pele. E a melaleuca é um tratamento já testado e estudado para o molusco contagioso”, disse.

O vídeo foi publicado por Christian em sua conta oficial do Instagram e acumula quase 45 mil visualizações na rede social. Parte das informações presentes no vídeo sobre a mpox são verdadeiras, mas o conteúdo acaba enganando ao sugerir um tratamento natural com base em pesquisas relacionadas com outras enfermidades.

O que é a mpox e quais são os sintomas?

A mpox, também conhecida como varíola dos macacos, é uma zoonose causada pelo vírus mpox, do gênero Orthopoxvirus, que pode ser transmitida entre animais e pessoas, sobretudo pelo contato com infectados. Nesta publicação, o Projeto Comprova, do qual o Verifica é parceiro, explica que a doença começa com uma fase que se assemelha a uma gripe: a pessoa tem febre, dor de cabeça e dor no corpo, calafrios e exaustão. Estes sintomas iniciais podem durar, em média, três dias. A etapa seguinte é a das lesões na pele, que têm cinco estágios: mácula, pápula, vesícula, pústula e crosta, quando as lesões caem.

No vídeo investigado, o autor aponta semelhanças entre a mpox e outras doenças exantemáticas, ou seja, caracterizadas por manchas e outros tipos de lesões na pele, como mão-pé-boca, roséola e molusco. Em seguida, ele indica dois produtos que, supostamente, ajudariam a tratar essas doenças e, consequentemente, também a mpox. Mas, especialistas ouvidos pelo Verifica dizem não haver comprovação científica da eficácia deles.

O que é o óleo de melaleuca e o que ele tem a ver com a mpox?

O produto indicado no vídeo para um possível tratamento da mpox é o óleo essencial de melaleuca, mas o autor também cita o vinagre de maçã como algo que possivelmente ajude no tratamento da doença. O óleo de melaleuca, extraído de um arbusto originário da Austrália chamado de Melaleuca alternifolia, realmente tem propriedades terapêuticas, mas não há comprovação de que ele seja eficaz contra a mpox.

O que existem são estudos científicos que comprovam a ação bactericida e antifúngica do óleo de melaleuca contra diversos patógenos humanos, além de outros que mostram como ele passou a ser estudado também como um bactericida alternativo às infecções de origem bucal. Na realidade, segundo a OMS, ainda não existe um tratamento específico contra a infecção causada pelo vírus mpox, mas é possível cuidar das lesões na pele.

Segundo a Organização, os sintomas da doença costumam desaparecer espontaneamente, sem a necessidade de tratamento, e a atenção clínica deve se concentrar apenas em aliviá-los, prevenindo sequelas. “É importante cuidar da erupção cutânea, deixando-a secar, se possível, ou cobrindo-a com um curativo úmido para proteger a área, se necessário. Evite tocar em feridas na boca ou nos olhos. Enxaguantes bucais e colírios podem ser usados desde que se evite os produtos que contenham cortisona”, recomenda a OMS.

“Uma vez que as lesões do mpox estão presentes, não tem como eliminar o vírus, mas sim as lesões”, apontou a virologista Clarice Arns, professora do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ela disse desconhecer a eficácia do óleo de melaleuca ou do vinagre de maçã, mas disse que é possível que eles possam ajudar a diminuir ou secar as vesículas ou pústulas provocadas pela doença.

O também virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Saúde Única, disse desconhecer a eficácia dos produtos. “Não existe do lado da virologia nenhuma evidência de eficácia dessas estratégias para tratamento ou prevenção de infecções pelo vírus”, disse. Para ele, o efeito seria, no mínimo, nulo. Mesmo assim, as pessoas devem atentar, alerta, para o risco de que esses produtos acabem piorando o quadro.

Sobre isso, a dermatologista Regina Carneiro, diretora da Sociedade Brasileira de Dermatologia, é clara: as pessoas não devem ter esses produtos em casa com a intenção de usar com qualquer dessas doenças citadas sem que haja uma recomendação médica. “Muitos desses óleos, muitas vezes, causam sensibilidade em pacientes e, muitas vezes, quando você passa qualquer coisa sobre uma ferida, sobre uma lesão, você pode piorar. Então, qualquer tratamento de doença precisa ser recomendado por médicos”, disse.

Em resposta ao Verifica, Christian Trindade disse que nunca foram evidenciados riscos do uso do óleo de melaleuca nas dosagens recomendadas. “O óleo essencial de melaleuca é amplamente considerado um dos óleos essenciais mais seguros de todos, sendo indicado, até mesmo, para pele de crianças pequenas. As ocasiões de irritação, embora não sejam impossíveis, são extremamente raras”, disse. O óleo costuma ser usado na indústria de cosméticos e também diluído em outros produtos, sem ser aplicado diretamente na pele.

Há comprovação da eficácia do óleo contra o molusco contagioso?

Existem diversos estudos sobre o uso do óleo essencial de melaleuca contra o molusco contagioso, uma doença viral que também provoca feridas na pele. O autor do vídeo compartilhou três deles com a reportagem (aqui, aqui e aqui). Todos falam sobre os potenciais benefícios, mas dois deles dizem que ainda são necessários mais estudos sobre o assunto.

O terceiro mostra os resultados de um estudo clínico que avaliou os resultados da aplicação tópica de uma combinação de óleo de melaleuca e iodo organicamente ligado no tratamento de molusco contagioso em crianças. O resultado foi que a combinação oferecia uma alternativa terapêutica segura no tratamento da doença.

Christian Trindade argumentou que, devido à semelhança da mpox com o molusco contagioso do ponto de vista das lesões, afirmou no vídeo que “a melaleuca pode ser um tratamento não para a doença como um todo, mas especificamente para as feridas”.

Para a dermatologista Regina Carneiro, é preciso ter cuidado. “Qualquer tratamento de doença precisa ser recomendado por médico. A monkeypox, o molusco contagioso, todas essas doenças citadas precisam de um diagnóstico por médico”, afirmou.

O que estão compartilhando: que a mpox, ou varíola dos macacos, é uma doença semelhante ao molusco contagioso e as pessoas podem usar óleo essencial de melaleuca e vinagre de maçã porque esses produtos “vão ser muito bons para combater essa doença”.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Ainda não há tratamento específico contra o vírus causador da mpox. A recomendação da OMS é deixar as lesões secarem ou cobri-las com um curativo úmido, apenas para proteger a área afetada. O Verifica conversou com uma dermatologista e com dois virologistas que disseram não haver comprovação científica de que os produtos naturais ajudem a tratar ou prevenir a infecção. É possível que eles ajudem a secar as lesões, mas as pessoas devem avaliar que pode haver riscos no uso, como irritações na pele que até piorem o quadro.

Procurado, o autor do vídeo disse que não afirmou “ter certeza de que a melaleuca será um tratamento eficaz para a mpox”.

Já existe vacina contra mpox, mas ela é priorizada para grupos de risco, como pessoas vivendo com HIV/Aids; com idade igual ou superior a 18 anos; e com status imunológico identificado pela contagem de linfócitos T CD4 inferior a 200 células nos últimos seis meses; e profissionais de laboratório que trabalham diretamente com Orthopoxvírus em laboratórios com nível de biossegurança 2 (NB-2), de 18 a 49 anos de idade. Foto da vacinação em São Paulo, em 22 de março de 2023 Foto: Felipe Rau/Estadão - 22/03/2023

Saiba mais: Em um vídeo publicado no Instagram, um homem afirma fornecer um “aviso de utilidade pública” ao sugerir que as pessoas tenham em casa óleo de melaleuca e vinagre de maçã para que, eventualmente, usem no combate à varíola dos macacos, ou mpox, caso a doença realmente se torne uma pandemia. Recentemente, a Organização Mundial de Saúde declarou a mpox como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), o que já tinha acontecido em 2022.

Antes de fazer a sugestão, o autor do vídeo compara as pústulas provocadas pela mpox com outras doenças chamadas exantemáticas (que causam erupções na pela), como pé-mão-boca, molusco contagioso e roséola. Em seguida, ele diz que essas lesões são difíceis de tratar, mas que há antibióticos naturais, como o óleo de melaleuca, que são eficazes no tratamento destas doenças e que, “por via das dúvidas”, as pessoas devem ter em casa. “Se acontecer, eles vão ser muito bons para combater essa doença”, diz, se referindo à varíola dos macacos.

Procurado, o autor do vídeo, Christian Trindade, disse que não é médico, e sim um terapeuta integrativo que trabalha, sobretudo, com fitoterapia e ayurveda e que se baseia em estudos de médicos e cientistas e na experiência própria com tratamentos naturais. “Em nenhum momento do vídeo eu afirmei ter certeza de que a melaleuca será um tratamento eficaz para a mpox. O que eu disse é que há uma correlação entre a mpox e o molusco contagioso, pois ambas são doenças causadas por vírus e que geram feridas na pele. E a melaleuca é um tratamento já testado e estudado para o molusco contagioso”, disse.

O vídeo foi publicado por Christian em sua conta oficial do Instagram e acumula quase 45 mil visualizações na rede social. Parte das informações presentes no vídeo sobre a mpox são verdadeiras, mas o conteúdo acaba enganando ao sugerir um tratamento natural com base em pesquisas relacionadas com outras enfermidades.

O que é a mpox e quais são os sintomas?

A mpox, também conhecida como varíola dos macacos, é uma zoonose causada pelo vírus mpox, do gênero Orthopoxvirus, que pode ser transmitida entre animais e pessoas, sobretudo pelo contato com infectados. Nesta publicação, o Projeto Comprova, do qual o Verifica é parceiro, explica que a doença começa com uma fase que se assemelha a uma gripe: a pessoa tem febre, dor de cabeça e dor no corpo, calafrios e exaustão. Estes sintomas iniciais podem durar, em média, três dias. A etapa seguinte é a das lesões na pele, que têm cinco estágios: mácula, pápula, vesícula, pústula e crosta, quando as lesões caem.

No vídeo investigado, o autor aponta semelhanças entre a mpox e outras doenças exantemáticas, ou seja, caracterizadas por manchas e outros tipos de lesões na pele, como mão-pé-boca, roséola e molusco. Em seguida, ele indica dois produtos que, supostamente, ajudariam a tratar essas doenças e, consequentemente, também a mpox. Mas, especialistas ouvidos pelo Verifica dizem não haver comprovação científica da eficácia deles.

O que é o óleo de melaleuca e o que ele tem a ver com a mpox?

O produto indicado no vídeo para um possível tratamento da mpox é o óleo essencial de melaleuca, mas o autor também cita o vinagre de maçã como algo que possivelmente ajude no tratamento da doença. O óleo de melaleuca, extraído de um arbusto originário da Austrália chamado de Melaleuca alternifolia, realmente tem propriedades terapêuticas, mas não há comprovação de que ele seja eficaz contra a mpox.

O que existem são estudos científicos que comprovam a ação bactericida e antifúngica do óleo de melaleuca contra diversos patógenos humanos, além de outros que mostram como ele passou a ser estudado também como um bactericida alternativo às infecções de origem bucal. Na realidade, segundo a OMS, ainda não existe um tratamento específico contra a infecção causada pelo vírus mpox, mas é possível cuidar das lesões na pele.

Segundo a Organização, os sintomas da doença costumam desaparecer espontaneamente, sem a necessidade de tratamento, e a atenção clínica deve se concentrar apenas em aliviá-los, prevenindo sequelas. “É importante cuidar da erupção cutânea, deixando-a secar, se possível, ou cobrindo-a com um curativo úmido para proteger a área, se necessário. Evite tocar em feridas na boca ou nos olhos. Enxaguantes bucais e colírios podem ser usados desde que se evite os produtos que contenham cortisona”, recomenda a OMS.

“Uma vez que as lesões do mpox estão presentes, não tem como eliminar o vírus, mas sim as lesões”, apontou a virologista Clarice Arns, professora do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ela disse desconhecer a eficácia do óleo de melaleuca ou do vinagre de maçã, mas disse que é possível que eles possam ajudar a diminuir ou secar as vesículas ou pústulas provocadas pela doença.

O também virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Saúde Única, disse desconhecer a eficácia dos produtos. “Não existe do lado da virologia nenhuma evidência de eficácia dessas estratégias para tratamento ou prevenção de infecções pelo vírus”, disse. Para ele, o efeito seria, no mínimo, nulo. Mesmo assim, as pessoas devem atentar, alerta, para o risco de que esses produtos acabem piorando o quadro.

Sobre isso, a dermatologista Regina Carneiro, diretora da Sociedade Brasileira de Dermatologia, é clara: as pessoas não devem ter esses produtos em casa com a intenção de usar com qualquer dessas doenças citadas sem que haja uma recomendação médica. “Muitos desses óleos, muitas vezes, causam sensibilidade em pacientes e, muitas vezes, quando você passa qualquer coisa sobre uma ferida, sobre uma lesão, você pode piorar. Então, qualquer tratamento de doença precisa ser recomendado por médicos”, disse.

Em resposta ao Verifica, Christian Trindade disse que nunca foram evidenciados riscos do uso do óleo de melaleuca nas dosagens recomendadas. “O óleo essencial de melaleuca é amplamente considerado um dos óleos essenciais mais seguros de todos, sendo indicado, até mesmo, para pele de crianças pequenas. As ocasiões de irritação, embora não sejam impossíveis, são extremamente raras”, disse. O óleo costuma ser usado na indústria de cosméticos e também diluído em outros produtos, sem ser aplicado diretamente na pele.

Há comprovação da eficácia do óleo contra o molusco contagioso?

Existem diversos estudos sobre o uso do óleo essencial de melaleuca contra o molusco contagioso, uma doença viral que também provoca feridas na pele. O autor do vídeo compartilhou três deles com a reportagem (aqui, aqui e aqui). Todos falam sobre os potenciais benefícios, mas dois deles dizem que ainda são necessários mais estudos sobre o assunto.

O terceiro mostra os resultados de um estudo clínico que avaliou os resultados da aplicação tópica de uma combinação de óleo de melaleuca e iodo organicamente ligado no tratamento de molusco contagioso em crianças. O resultado foi que a combinação oferecia uma alternativa terapêutica segura no tratamento da doença.

Christian Trindade argumentou que, devido à semelhança da mpox com o molusco contagioso do ponto de vista das lesões, afirmou no vídeo que “a melaleuca pode ser um tratamento não para a doença como um todo, mas especificamente para as feridas”.

Para a dermatologista Regina Carneiro, é preciso ter cuidado. “Qualquer tratamento de doença precisa ser recomendado por médico. A monkeypox, o molusco contagioso, todas essas doenças citadas precisam de um diagnóstico por médico”, afirmou.

O que estão compartilhando: que a mpox, ou varíola dos macacos, é uma doença semelhante ao molusco contagioso e as pessoas podem usar óleo essencial de melaleuca e vinagre de maçã porque esses produtos “vão ser muito bons para combater essa doença”.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Ainda não há tratamento específico contra o vírus causador da mpox. A recomendação da OMS é deixar as lesões secarem ou cobri-las com um curativo úmido, apenas para proteger a área afetada. O Verifica conversou com uma dermatologista e com dois virologistas que disseram não haver comprovação científica de que os produtos naturais ajudem a tratar ou prevenir a infecção. É possível que eles ajudem a secar as lesões, mas as pessoas devem avaliar que pode haver riscos no uso, como irritações na pele que até piorem o quadro.

Procurado, o autor do vídeo disse que não afirmou “ter certeza de que a melaleuca será um tratamento eficaz para a mpox”.

Já existe vacina contra mpox, mas ela é priorizada para grupos de risco, como pessoas vivendo com HIV/Aids; com idade igual ou superior a 18 anos; e com status imunológico identificado pela contagem de linfócitos T CD4 inferior a 200 células nos últimos seis meses; e profissionais de laboratório que trabalham diretamente com Orthopoxvírus em laboratórios com nível de biossegurança 2 (NB-2), de 18 a 49 anos de idade. Foto da vacinação em São Paulo, em 22 de março de 2023 Foto: Felipe Rau/Estadão - 22/03/2023

Saiba mais: Em um vídeo publicado no Instagram, um homem afirma fornecer um “aviso de utilidade pública” ao sugerir que as pessoas tenham em casa óleo de melaleuca e vinagre de maçã para que, eventualmente, usem no combate à varíola dos macacos, ou mpox, caso a doença realmente se torne uma pandemia. Recentemente, a Organização Mundial de Saúde declarou a mpox como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), o que já tinha acontecido em 2022.

Antes de fazer a sugestão, o autor do vídeo compara as pústulas provocadas pela mpox com outras doenças chamadas exantemáticas (que causam erupções na pela), como pé-mão-boca, molusco contagioso e roséola. Em seguida, ele diz que essas lesões são difíceis de tratar, mas que há antibióticos naturais, como o óleo de melaleuca, que são eficazes no tratamento destas doenças e que, “por via das dúvidas”, as pessoas devem ter em casa. “Se acontecer, eles vão ser muito bons para combater essa doença”, diz, se referindo à varíola dos macacos.

Procurado, o autor do vídeo, Christian Trindade, disse que não é médico, e sim um terapeuta integrativo que trabalha, sobretudo, com fitoterapia e ayurveda e que se baseia em estudos de médicos e cientistas e na experiência própria com tratamentos naturais. “Em nenhum momento do vídeo eu afirmei ter certeza de que a melaleuca será um tratamento eficaz para a mpox. O que eu disse é que há uma correlação entre a mpox e o molusco contagioso, pois ambas são doenças causadas por vírus e que geram feridas na pele. E a melaleuca é um tratamento já testado e estudado para o molusco contagioso”, disse.

O vídeo foi publicado por Christian em sua conta oficial do Instagram e acumula quase 45 mil visualizações na rede social. Parte das informações presentes no vídeo sobre a mpox são verdadeiras, mas o conteúdo acaba enganando ao sugerir um tratamento natural com base em pesquisas relacionadas com outras enfermidades.

O que é a mpox e quais são os sintomas?

A mpox, também conhecida como varíola dos macacos, é uma zoonose causada pelo vírus mpox, do gênero Orthopoxvirus, que pode ser transmitida entre animais e pessoas, sobretudo pelo contato com infectados. Nesta publicação, o Projeto Comprova, do qual o Verifica é parceiro, explica que a doença começa com uma fase que se assemelha a uma gripe: a pessoa tem febre, dor de cabeça e dor no corpo, calafrios e exaustão. Estes sintomas iniciais podem durar, em média, três dias. A etapa seguinte é a das lesões na pele, que têm cinco estágios: mácula, pápula, vesícula, pústula e crosta, quando as lesões caem.

No vídeo investigado, o autor aponta semelhanças entre a mpox e outras doenças exantemáticas, ou seja, caracterizadas por manchas e outros tipos de lesões na pele, como mão-pé-boca, roséola e molusco. Em seguida, ele indica dois produtos que, supostamente, ajudariam a tratar essas doenças e, consequentemente, também a mpox. Mas, especialistas ouvidos pelo Verifica dizem não haver comprovação científica da eficácia deles.

O que é o óleo de melaleuca e o que ele tem a ver com a mpox?

O produto indicado no vídeo para um possível tratamento da mpox é o óleo essencial de melaleuca, mas o autor também cita o vinagre de maçã como algo que possivelmente ajude no tratamento da doença. O óleo de melaleuca, extraído de um arbusto originário da Austrália chamado de Melaleuca alternifolia, realmente tem propriedades terapêuticas, mas não há comprovação de que ele seja eficaz contra a mpox.

O que existem são estudos científicos que comprovam a ação bactericida e antifúngica do óleo de melaleuca contra diversos patógenos humanos, além de outros que mostram como ele passou a ser estudado também como um bactericida alternativo às infecções de origem bucal. Na realidade, segundo a OMS, ainda não existe um tratamento específico contra a infecção causada pelo vírus mpox, mas é possível cuidar das lesões na pele.

Segundo a Organização, os sintomas da doença costumam desaparecer espontaneamente, sem a necessidade de tratamento, e a atenção clínica deve se concentrar apenas em aliviá-los, prevenindo sequelas. “É importante cuidar da erupção cutânea, deixando-a secar, se possível, ou cobrindo-a com um curativo úmido para proteger a área, se necessário. Evite tocar em feridas na boca ou nos olhos. Enxaguantes bucais e colírios podem ser usados desde que se evite os produtos que contenham cortisona”, recomenda a OMS.

“Uma vez que as lesões do mpox estão presentes, não tem como eliminar o vírus, mas sim as lesões”, apontou a virologista Clarice Arns, professora do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ela disse desconhecer a eficácia do óleo de melaleuca ou do vinagre de maçã, mas disse que é possível que eles possam ajudar a diminuir ou secar as vesículas ou pústulas provocadas pela doença.

O também virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Saúde Única, disse desconhecer a eficácia dos produtos. “Não existe do lado da virologia nenhuma evidência de eficácia dessas estratégias para tratamento ou prevenção de infecções pelo vírus”, disse. Para ele, o efeito seria, no mínimo, nulo. Mesmo assim, as pessoas devem atentar, alerta, para o risco de que esses produtos acabem piorando o quadro.

Sobre isso, a dermatologista Regina Carneiro, diretora da Sociedade Brasileira de Dermatologia, é clara: as pessoas não devem ter esses produtos em casa com a intenção de usar com qualquer dessas doenças citadas sem que haja uma recomendação médica. “Muitos desses óleos, muitas vezes, causam sensibilidade em pacientes e, muitas vezes, quando você passa qualquer coisa sobre uma ferida, sobre uma lesão, você pode piorar. Então, qualquer tratamento de doença precisa ser recomendado por médicos”, disse.

Em resposta ao Verifica, Christian Trindade disse que nunca foram evidenciados riscos do uso do óleo de melaleuca nas dosagens recomendadas. “O óleo essencial de melaleuca é amplamente considerado um dos óleos essenciais mais seguros de todos, sendo indicado, até mesmo, para pele de crianças pequenas. As ocasiões de irritação, embora não sejam impossíveis, são extremamente raras”, disse. O óleo costuma ser usado na indústria de cosméticos e também diluído em outros produtos, sem ser aplicado diretamente na pele.

Há comprovação da eficácia do óleo contra o molusco contagioso?

Existem diversos estudos sobre o uso do óleo essencial de melaleuca contra o molusco contagioso, uma doença viral que também provoca feridas na pele. O autor do vídeo compartilhou três deles com a reportagem (aqui, aqui e aqui). Todos falam sobre os potenciais benefícios, mas dois deles dizem que ainda são necessários mais estudos sobre o assunto.

O terceiro mostra os resultados de um estudo clínico que avaliou os resultados da aplicação tópica de uma combinação de óleo de melaleuca e iodo organicamente ligado no tratamento de molusco contagioso em crianças. O resultado foi que a combinação oferecia uma alternativa terapêutica segura no tratamento da doença.

Christian Trindade argumentou que, devido à semelhança da mpox com o molusco contagioso do ponto de vista das lesões, afirmou no vídeo que “a melaleuca pode ser um tratamento não para a doença como um todo, mas especificamente para as feridas”.

Para a dermatologista Regina Carneiro, é preciso ter cuidado. “Qualquer tratamento de doença precisa ser recomendado por médico. A monkeypox, o molusco contagioso, todas essas doenças citadas precisam de um diagnóstico por médico”, afirmou.

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