Alvo de desinformação, boxeadoras são de categorias diferentes e não vão competir entre si por ouro


Postagens preconceituosas alegam falsamente que final feminina de boxe será ‘masculina’; conteúdo reforça boato já desmentido sobre gênero das atletas

Por Gabriel Belic

O que estão compartilhando: “dois homens biológicos” competirão pelo ouro no boxe feminino “depois de derrotar todas as mulheres” nas Olimpíadas de Paris.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A argelina Imane Khelif e a taiwanesa Lin Yu-ting são mulheres cisgênero e não competem na mesma categoria. Imane compete na categoria até 66kg, enquanto Lin luta no boxe feminino até 57kg. Imane passou para a final nesta terça-feira, 6, e já garantiu pelo menos a medalha de prata. A taiwanesa garantiu vaga na final nesta quarta-feira, 7.

As postagens desinformativas e preconceituosas envolvendo as boxeadoras são baseadas em uma decisão da Associação Internacional de Boxe (IBA), que desclassificou ambas do Campeonato Mundial Feminino, em 2023, por supostamente não atenderem critérios de elegibilidade. Já o Comitê Olímpico Internacional (COI) defendeu que as lutadoras cumprem os requisitos, assim como regulamentos médicos aplicáveis. Em coletiva de imprensa, Mark Adams, porta-voz oficial do COI, ressaltou que este “não é um caso transgênero”.

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É falso que boxeadoras atacadas por desinformação irão competir entre si por ouro nas Olimpíadas Foto: Reprodução/Facebook

Saiba mais: postagens virais nas redes sociais afirmam que as lutadoras Imane Khelif, da Argélia, e Lin Yu-ting, de Taiwan, derrotaram todas as adversárias e agora lutarão entre si pelo ouro nas Olimpíadas de Paris. Os conteúdos de cunho transfóbico se referem às boxeadoras como “homens biológicos”.

Comentários deixados na postagem mostram que usuários acreditam que as duas boxeadoras competiriam uma contra a outra. “Uma final masculina no boxe feminino! Parabéns aos envolvidos”, diz um dos comentários. “O campeão do feminino será um homem!”, escreveu outro usuário.

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Lutadoras competem em categorias diferentes

As atletas sequer são da mesma categoria no boxe. Imane passou para a final até 66kg, que será decidida contra a chinesa Yang Liu. Já Lin enfrentará Julia Szeremeta, da Polônia, na categoria de peso até 57kg.

Os boatos que envolvem as lutadoras foram disseminados após a italiana Angela Carini desistir de uma luta com Khelif em menos de um minuto nas Olimpíadas. A partir disso, publicações virais têm questionado o gênero das pugilistas com base em uma decisão da IBA.

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Campanha de desinformação contra as atletas

Em março de 2023, as atletas foram desclassificadas do Campeonato Mundial Feminino de Boxe da IBA em Nova Délhi, capital indiana. A decisão partiu da própria IBA, sob justificativa de “falha em atender aos critérios de elegibilidade para participar da competição feminina”. À época, detalhes da violação de critérios de elegibilidade não foram divulgados para preservação de privacidade e regulamentos internos.

À agência estatal de notícias russa TASS, o presidente da IBA, Umar Kremlev, afirmou que a associação identificou atletas que “tentaram enganar os colegas e fingiram ser mulheres”. Ele afirmou que, com base em exames, a presença de cromossomos XY foi comprovada. Ele não mencionou nomes, e os resultados nunca foram divulgados ou comprovados publicamente.

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Em coletiva de imprensa nesta segunda-feira, 5, a IBA afirmou, sem provas, que as boxeadoras apresentam cromossomos XY e níveis altos de testosterona. A declaração contradiz a nota publicada pela associação, em que ressalta que as atletas não foram submetidas a exame de testosterona, e sim um “teste separado e reconhecido, pelo qual os detalhes permanecem confidenciais”.

Durante a coletiva, a IBA insistiu que os testes mostraram que as duas mulheres “são homens”. No entanto, como mostrou o Estadão Verifica, a presença de cromossomos XY ou níveis elevados de testosterona em uma mulher cisgênero não comprovam uma suposta “biologia masculina”.

O COI classifica a decisão da IBA de desclassificar as lutadoras como “repentina e arbitrária”. De acordo com a organização, Imane e Lin, como todos os outros atletas participantes das Olimpíadas, seguem os regulamentos de elegibilidade e inscrição da competição, bem como os critérios médicos aplicáveis.

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O comitê olímpico destacou que as pugilistas competem em torneios internacionais de boxe há anos na categoria feminina. Entre eles, os Jogos Olímpicos de Tóquio e o Campeonato Mundial, além de torneios sancionados pela Associação Internacional de Boxe. “A atual agressão contra essas duas atletas se baseia inteiramente nessa decisão arbitrária (da IBA), que foi tomada sem nenhum procedimento adequado”, afirmou.

Em coletiva de imprensa, Mark Adams, porta-voz oficial do COI, afirmou que este “não é um caso transgênero”. O presidente do comitê, Thomas Bach, também defendeu as atletas e afirmou categoricamente que as duas são mulheres cisgênero -- isto é, se identificam com o gênero atribuído no nascimento.

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“Estamos falando sobre boxe feminino. Temos duas boxeadoras que nasceram como mulheres, foram criadas como mulheres, têm passaportes como mulheres e competiram por muitos anos como mulheres, e esta é uma definição clara de mulher”, afirmou Bach.

Ao se pronunciar, Imane reafirmou sua identidade feminina. “Quero dizer ao mundo inteiro que sou uma mulher e continuarei sendo uma mulher”, destacou. Em entrevista à Associated Press, a argelina pediu o fim dos ataques e disse ver o ouro como resposta à crise.

A taiwanesa não se pronunciou sobre os ataques de ódio. O secretário-geral do gabinete presidencial de Taiwan, Pan Men-an, apoiou publicamente a lutadora e afirmou que é errado que ela seja “submetida a humilhações, insultos e intimidação verbal apenas por causa de sua aparência e de um veredito controverso no passado”.

Como lidar com postagens do tipo: é comum que desinformadores utilizem alegações infundadas para criar uma onda de ataques de ódio. No caso aqui verificado, faça uma busca em fontes confiáveis antes de compartilhar um conteúdo duvidoso. Desde que o boato foi impulsionado nas redes sociais, as atletas são atacadas com discursos discriminatórios.

O que estão compartilhando: “dois homens biológicos” competirão pelo ouro no boxe feminino “depois de derrotar todas as mulheres” nas Olimpíadas de Paris.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A argelina Imane Khelif e a taiwanesa Lin Yu-ting são mulheres cisgênero e não competem na mesma categoria. Imane compete na categoria até 66kg, enquanto Lin luta no boxe feminino até 57kg. Imane passou para a final nesta terça-feira, 6, e já garantiu pelo menos a medalha de prata. A taiwanesa garantiu vaga na final nesta quarta-feira, 7.

As postagens desinformativas e preconceituosas envolvendo as boxeadoras são baseadas em uma decisão da Associação Internacional de Boxe (IBA), que desclassificou ambas do Campeonato Mundial Feminino, em 2023, por supostamente não atenderem critérios de elegibilidade. Já o Comitê Olímpico Internacional (COI) defendeu que as lutadoras cumprem os requisitos, assim como regulamentos médicos aplicáveis. Em coletiva de imprensa, Mark Adams, porta-voz oficial do COI, ressaltou que este “não é um caso transgênero”.

É falso que boxeadoras atacadas por desinformação irão competir entre si por ouro nas Olimpíadas Foto: Reprodução/Facebook

Saiba mais: postagens virais nas redes sociais afirmam que as lutadoras Imane Khelif, da Argélia, e Lin Yu-ting, de Taiwan, derrotaram todas as adversárias e agora lutarão entre si pelo ouro nas Olimpíadas de Paris. Os conteúdos de cunho transfóbico se referem às boxeadoras como “homens biológicos”.

Comentários deixados na postagem mostram que usuários acreditam que as duas boxeadoras competiriam uma contra a outra. “Uma final masculina no boxe feminino! Parabéns aos envolvidos”, diz um dos comentários. “O campeão do feminino será um homem!”, escreveu outro usuário.

Lutadoras competem em categorias diferentes

As atletas sequer são da mesma categoria no boxe. Imane passou para a final até 66kg, que será decidida contra a chinesa Yang Liu. Já Lin enfrentará Julia Szeremeta, da Polônia, na categoria de peso até 57kg.

Os boatos que envolvem as lutadoras foram disseminados após a italiana Angela Carini desistir de uma luta com Khelif em menos de um minuto nas Olimpíadas. A partir disso, publicações virais têm questionado o gênero das pugilistas com base em uma decisão da IBA.

Campanha de desinformação contra as atletas

Em março de 2023, as atletas foram desclassificadas do Campeonato Mundial Feminino de Boxe da IBA em Nova Délhi, capital indiana. A decisão partiu da própria IBA, sob justificativa de “falha em atender aos critérios de elegibilidade para participar da competição feminina”. À época, detalhes da violação de critérios de elegibilidade não foram divulgados para preservação de privacidade e regulamentos internos.

À agência estatal de notícias russa TASS, o presidente da IBA, Umar Kremlev, afirmou que a associação identificou atletas que “tentaram enganar os colegas e fingiram ser mulheres”. Ele afirmou que, com base em exames, a presença de cromossomos XY foi comprovada. Ele não mencionou nomes, e os resultados nunca foram divulgados ou comprovados publicamente.

Em coletiva de imprensa nesta segunda-feira, 5, a IBA afirmou, sem provas, que as boxeadoras apresentam cromossomos XY e níveis altos de testosterona. A declaração contradiz a nota publicada pela associação, em que ressalta que as atletas não foram submetidas a exame de testosterona, e sim um “teste separado e reconhecido, pelo qual os detalhes permanecem confidenciais”.

Durante a coletiva, a IBA insistiu que os testes mostraram que as duas mulheres “são homens”. No entanto, como mostrou o Estadão Verifica, a presença de cromossomos XY ou níveis elevados de testosterona em uma mulher cisgênero não comprovam uma suposta “biologia masculina”.

O COI classifica a decisão da IBA de desclassificar as lutadoras como “repentina e arbitrária”. De acordo com a organização, Imane e Lin, como todos os outros atletas participantes das Olimpíadas, seguem os regulamentos de elegibilidade e inscrição da competição, bem como os critérios médicos aplicáveis.

O comitê olímpico destacou que as pugilistas competem em torneios internacionais de boxe há anos na categoria feminina. Entre eles, os Jogos Olímpicos de Tóquio e o Campeonato Mundial, além de torneios sancionados pela Associação Internacional de Boxe. “A atual agressão contra essas duas atletas se baseia inteiramente nessa decisão arbitrária (da IBA), que foi tomada sem nenhum procedimento adequado”, afirmou.

Em coletiva de imprensa, Mark Adams, porta-voz oficial do COI, afirmou que este “não é um caso transgênero”. O presidente do comitê, Thomas Bach, também defendeu as atletas e afirmou categoricamente que as duas são mulheres cisgênero -- isto é, se identificam com o gênero atribuído no nascimento.

“Estamos falando sobre boxe feminino. Temos duas boxeadoras que nasceram como mulheres, foram criadas como mulheres, têm passaportes como mulheres e competiram por muitos anos como mulheres, e esta é uma definição clara de mulher”, afirmou Bach.

Ao se pronunciar, Imane reafirmou sua identidade feminina. “Quero dizer ao mundo inteiro que sou uma mulher e continuarei sendo uma mulher”, destacou. Em entrevista à Associated Press, a argelina pediu o fim dos ataques e disse ver o ouro como resposta à crise.

A taiwanesa não se pronunciou sobre os ataques de ódio. O secretário-geral do gabinete presidencial de Taiwan, Pan Men-an, apoiou publicamente a lutadora e afirmou que é errado que ela seja “submetida a humilhações, insultos e intimidação verbal apenas por causa de sua aparência e de um veredito controverso no passado”.

Como lidar com postagens do tipo: é comum que desinformadores utilizem alegações infundadas para criar uma onda de ataques de ódio. No caso aqui verificado, faça uma busca em fontes confiáveis antes de compartilhar um conteúdo duvidoso. Desde que o boato foi impulsionado nas redes sociais, as atletas são atacadas com discursos discriminatórios.

O que estão compartilhando: “dois homens biológicos” competirão pelo ouro no boxe feminino “depois de derrotar todas as mulheres” nas Olimpíadas de Paris.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A argelina Imane Khelif e a taiwanesa Lin Yu-ting são mulheres cisgênero e não competem na mesma categoria. Imane compete na categoria até 66kg, enquanto Lin luta no boxe feminino até 57kg. Imane passou para a final nesta terça-feira, 6, e já garantiu pelo menos a medalha de prata. A taiwanesa garantiu vaga na final nesta quarta-feira, 7.

As postagens desinformativas e preconceituosas envolvendo as boxeadoras são baseadas em uma decisão da Associação Internacional de Boxe (IBA), que desclassificou ambas do Campeonato Mundial Feminino, em 2023, por supostamente não atenderem critérios de elegibilidade. Já o Comitê Olímpico Internacional (COI) defendeu que as lutadoras cumprem os requisitos, assim como regulamentos médicos aplicáveis. Em coletiva de imprensa, Mark Adams, porta-voz oficial do COI, ressaltou que este “não é um caso transgênero”.

É falso que boxeadoras atacadas por desinformação irão competir entre si por ouro nas Olimpíadas Foto: Reprodução/Facebook

Saiba mais: postagens virais nas redes sociais afirmam que as lutadoras Imane Khelif, da Argélia, e Lin Yu-ting, de Taiwan, derrotaram todas as adversárias e agora lutarão entre si pelo ouro nas Olimpíadas de Paris. Os conteúdos de cunho transfóbico se referem às boxeadoras como “homens biológicos”.

Comentários deixados na postagem mostram que usuários acreditam que as duas boxeadoras competiriam uma contra a outra. “Uma final masculina no boxe feminino! Parabéns aos envolvidos”, diz um dos comentários. “O campeão do feminino será um homem!”, escreveu outro usuário.

Lutadoras competem em categorias diferentes

As atletas sequer são da mesma categoria no boxe. Imane passou para a final até 66kg, que será decidida contra a chinesa Yang Liu. Já Lin enfrentará Julia Szeremeta, da Polônia, na categoria de peso até 57kg.

Os boatos que envolvem as lutadoras foram disseminados após a italiana Angela Carini desistir de uma luta com Khelif em menos de um minuto nas Olimpíadas. A partir disso, publicações virais têm questionado o gênero das pugilistas com base em uma decisão da IBA.

Campanha de desinformação contra as atletas

Em março de 2023, as atletas foram desclassificadas do Campeonato Mundial Feminino de Boxe da IBA em Nova Délhi, capital indiana. A decisão partiu da própria IBA, sob justificativa de “falha em atender aos critérios de elegibilidade para participar da competição feminina”. À época, detalhes da violação de critérios de elegibilidade não foram divulgados para preservação de privacidade e regulamentos internos.

À agência estatal de notícias russa TASS, o presidente da IBA, Umar Kremlev, afirmou que a associação identificou atletas que “tentaram enganar os colegas e fingiram ser mulheres”. Ele afirmou que, com base em exames, a presença de cromossomos XY foi comprovada. Ele não mencionou nomes, e os resultados nunca foram divulgados ou comprovados publicamente.

Em coletiva de imprensa nesta segunda-feira, 5, a IBA afirmou, sem provas, que as boxeadoras apresentam cromossomos XY e níveis altos de testosterona. A declaração contradiz a nota publicada pela associação, em que ressalta que as atletas não foram submetidas a exame de testosterona, e sim um “teste separado e reconhecido, pelo qual os detalhes permanecem confidenciais”.

Durante a coletiva, a IBA insistiu que os testes mostraram que as duas mulheres “são homens”. No entanto, como mostrou o Estadão Verifica, a presença de cromossomos XY ou níveis elevados de testosterona em uma mulher cisgênero não comprovam uma suposta “biologia masculina”.

O COI classifica a decisão da IBA de desclassificar as lutadoras como “repentina e arbitrária”. De acordo com a organização, Imane e Lin, como todos os outros atletas participantes das Olimpíadas, seguem os regulamentos de elegibilidade e inscrição da competição, bem como os critérios médicos aplicáveis.

O comitê olímpico destacou que as pugilistas competem em torneios internacionais de boxe há anos na categoria feminina. Entre eles, os Jogos Olímpicos de Tóquio e o Campeonato Mundial, além de torneios sancionados pela Associação Internacional de Boxe. “A atual agressão contra essas duas atletas se baseia inteiramente nessa decisão arbitrária (da IBA), que foi tomada sem nenhum procedimento adequado”, afirmou.

Em coletiva de imprensa, Mark Adams, porta-voz oficial do COI, afirmou que este “não é um caso transgênero”. O presidente do comitê, Thomas Bach, também defendeu as atletas e afirmou categoricamente que as duas são mulheres cisgênero -- isto é, se identificam com o gênero atribuído no nascimento.

“Estamos falando sobre boxe feminino. Temos duas boxeadoras que nasceram como mulheres, foram criadas como mulheres, têm passaportes como mulheres e competiram por muitos anos como mulheres, e esta é uma definição clara de mulher”, afirmou Bach.

Ao se pronunciar, Imane reafirmou sua identidade feminina. “Quero dizer ao mundo inteiro que sou uma mulher e continuarei sendo uma mulher”, destacou. Em entrevista à Associated Press, a argelina pediu o fim dos ataques e disse ver o ouro como resposta à crise.

A taiwanesa não se pronunciou sobre os ataques de ódio. O secretário-geral do gabinete presidencial de Taiwan, Pan Men-an, apoiou publicamente a lutadora e afirmou que é errado que ela seja “submetida a humilhações, insultos e intimidação verbal apenas por causa de sua aparência e de um veredito controverso no passado”.

Como lidar com postagens do tipo: é comum que desinformadores utilizem alegações infundadas para criar uma onda de ataques de ódio. No caso aqui verificado, faça uma busca em fontes confiáveis antes de compartilhar um conteúdo duvidoso. Desde que o boato foi impulsionado nas redes sociais, as atletas são atacadas com discursos discriminatórios.

O que estão compartilhando: “dois homens biológicos” competirão pelo ouro no boxe feminino “depois de derrotar todas as mulheres” nas Olimpíadas de Paris.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A argelina Imane Khelif e a taiwanesa Lin Yu-ting são mulheres cisgênero e não competem na mesma categoria. Imane compete na categoria até 66kg, enquanto Lin luta no boxe feminino até 57kg. Imane passou para a final nesta terça-feira, 6, e já garantiu pelo menos a medalha de prata. A taiwanesa garantiu vaga na final nesta quarta-feira, 7.

As postagens desinformativas e preconceituosas envolvendo as boxeadoras são baseadas em uma decisão da Associação Internacional de Boxe (IBA), que desclassificou ambas do Campeonato Mundial Feminino, em 2023, por supostamente não atenderem critérios de elegibilidade. Já o Comitê Olímpico Internacional (COI) defendeu que as lutadoras cumprem os requisitos, assim como regulamentos médicos aplicáveis. Em coletiva de imprensa, Mark Adams, porta-voz oficial do COI, ressaltou que este “não é um caso transgênero”.

É falso que boxeadoras atacadas por desinformação irão competir entre si por ouro nas Olimpíadas Foto: Reprodução/Facebook

Saiba mais: postagens virais nas redes sociais afirmam que as lutadoras Imane Khelif, da Argélia, e Lin Yu-ting, de Taiwan, derrotaram todas as adversárias e agora lutarão entre si pelo ouro nas Olimpíadas de Paris. Os conteúdos de cunho transfóbico se referem às boxeadoras como “homens biológicos”.

Comentários deixados na postagem mostram que usuários acreditam que as duas boxeadoras competiriam uma contra a outra. “Uma final masculina no boxe feminino! Parabéns aos envolvidos”, diz um dos comentários. “O campeão do feminino será um homem!”, escreveu outro usuário.

Lutadoras competem em categorias diferentes

As atletas sequer são da mesma categoria no boxe. Imane passou para a final até 66kg, que será decidida contra a chinesa Yang Liu. Já Lin enfrentará Julia Szeremeta, da Polônia, na categoria de peso até 57kg.

Os boatos que envolvem as lutadoras foram disseminados após a italiana Angela Carini desistir de uma luta com Khelif em menos de um minuto nas Olimpíadas. A partir disso, publicações virais têm questionado o gênero das pugilistas com base em uma decisão da IBA.

Campanha de desinformação contra as atletas

Em março de 2023, as atletas foram desclassificadas do Campeonato Mundial Feminino de Boxe da IBA em Nova Délhi, capital indiana. A decisão partiu da própria IBA, sob justificativa de “falha em atender aos critérios de elegibilidade para participar da competição feminina”. À época, detalhes da violação de critérios de elegibilidade não foram divulgados para preservação de privacidade e regulamentos internos.

À agência estatal de notícias russa TASS, o presidente da IBA, Umar Kremlev, afirmou que a associação identificou atletas que “tentaram enganar os colegas e fingiram ser mulheres”. Ele afirmou que, com base em exames, a presença de cromossomos XY foi comprovada. Ele não mencionou nomes, e os resultados nunca foram divulgados ou comprovados publicamente.

Em coletiva de imprensa nesta segunda-feira, 5, a IBA afirmou, sem provas, que as boxeadoras apresentam cromossomos XY e níveis altos de testosterona. A declaração contradiz a nota publicada pela associação, em que ressalta que as atletas não foram submetidas a exame de testosterona, e sim um “teste separado e reconhecido, pelo qual os detalhes permanecem confidenciais”.

Durante a coletiva, a IBA insistiu que os testes mostraram que as duas mulheres “são homens”. No entanto, como mostrou o Estadão Verifica, a presença de cromossomos XY ou níveis elevados de testosterona em uma mulher cisgênero não comprovam uma suposta “biologia masculina”.

O COI classifica a decisão da IBA de desclassificar as lutadoras como “repentina e arbitrária”. De acordo com a organização, Imane e Lin, como todos os outros atletas participantes das Olimpíadas, seguem os regulamentos de elegibilidade e inscrição da competição, bem como os critérios médicos aplicáveis.

O comitê olímpico destacou que as pugilistas competem em torneios internacionais de boxe há anos na categoria feminina. Entre eles, os Jogos Olímpicos de Tóquio e o Campeonato Mundial, além de torneios sancionados pela Associação Internacional de Boxe. “A atual agressão contra essas duas atletas se baseia inteiramente nessa decisão arbitrária (da IBA), que foi tomada sem nenhum procedimento adequado”, afirmou.

Em coletiva de imprensa, Mark Adams, porta-voz oficial do COI, afirmou que este “não é um caso transgênero”. O presidente do comitê, Thomas Bach, também defendeu as atletas e afirmou categoricamente que as duas são mulheres cisgênero -- isto é, se identificam com o gênero atribuído no nascimento.

“Estamos falando sobre boxe feminino. Temos duas boxeadoras que nasceram como mulheres, foram criadas como mulheres, têm passaportes como mulheres e competiram por muitos anos como mulheres, e esta é uma definição clara de mulher”, afirmou Bach.

Ao se pronunciar, Imane reafirmou sua identidade feminina. “Quero dizer ao mundo inteiro que sou uma mulher e continuarei sendo uma mulher”, destacou. Em entrevista à Associated Press, a argelina pediu o fim dos ataques e disse ver o ouro como resposta à crise.

A taiwanesa não se pronunciou sobre os ataques de ódio. O secretário-geral do gabinete presidencial de Taiwan, Pan Men-an, apoiou publicamente a lutadora e afirmou que é errado que ela seja “submetida a humilhações, insultos e intimidação verbal apenas por causa de sua aparência e de um veredito controverso no passado”.

Como lidar com postagens do tipo: é comum que desinformadores utilizem alegações infundadas para criar uma onda de ataques de ódio. No caso aqui verificado, faça uma busca em fontes confiáveis antes de compartilhar um conteúdo duvidoso. Desde que o boato foi impulsionado nas redes sociais, as atletas são atacadas com discursos discriminatórios.

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