Não, OMS não se desculpou por ser contra uso de cloroquina e azitromicina no tratamento da covid-19


Afirmação falsa foi feita pelo apresentador Sikêra Júnior em 2020 e voltou a circular recentemente nas redes sociais; entidade continua a não recomendar uso dos medicamentos, que não são eficazes contra o coronavírus

Por Luciana Marschall

Um conteúdo falso e antigo voltou a circular no Facebook nesta semana. Trata-se de trecho de um vídeo em que o apresentador Sikêra Júnior afirma que a Organização Mundial da Saúde (OMS) se desculpou por "não ter autorizado" uso de cloroquina e azitromicina no tratamento da covid-19 -- medicamentos sem comprovação científica para essa finalidade. A OMS nunca pediu desculpas por não recomendar os dois remédios contra o coronavírus; aliás, a entidade não é responsável por autorizar o uso dos medicamentos no País. Este papel cabe à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 

 

A afirmação do apresentador foi feita no programa Alerta Nacional, exibido pela TV A Crítica em 10 de junho de 2020. O vídeo original foi removido por violar as diretrizes da comunidade do YouTube, que não permite a exibição de conteúdo sobre a pandemia de coronavírus que apresente sérios riscos de danos significativos à saúde. Na época, a publicação teve bastante repercussão e chegou a ser compartilhada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) no Twitter -- lá, a postagem continua online.

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Na época, o Estadão Verifica, em parceria com o Projeto Comprova, esclareceu que o "pedido de desculpas" era uma interpretação errônea de uma declaração do diretor de emergência sanitária da OMS, Michael Ryan, em uma entrevista coletiva concedida no dia 5 de junho daquele ano. 

Na ocasião, Ryan foi questionado sobre a retomada de uma pesquisa da OMS sobre o uso de hidroxicloroquina para o tratamento da covid após a revista The Lancet retratar um estudo sobre o assunto. Ocorre que o diretor nunca pediu desculpas por a OMS não recomendar o medicamento no combate à covid-19 e nem por ter retomado as pesquisas. Ele se desculpou por possíveis sinais conflitantes da comunidade científica que possam ter causado confusão ao longo da pandemia. "Eu sei que, às vezes, pode passar a impressão de que a comunidade científica está confusa ou que está mandando sinais conflitantes e, por isso, nós pedimos desculpas a todos vocês", declarou.

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Afirmação de Michael Ryan, diretor executivo da OMS, foi descontextualizada  

A fala completa dele sobre o assunto pode ser assistida no vídeo da entrevista, disponível no canal da OMS no YouTube, entre os minutos 19 e 23; a declaração também pode ser lida nas páginas 8 e 9 da transcrição do conteúdo, disponível no site da organização.

transcrição

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Procurada pelo Estadão Verifica, a OMS reforçou não ter havido pedido de desculpas por parte de nenhum membro da organização no sentido sustentado pelo apresentador Sikêra Júnior.

OMS mantém forte recomendação contra hidroxicloroquina 

As recomendações mais atuais da OMS sobre uso de terapias no tratamento de covid-19 foram publicadas em 14 de julho de 2022. O documento manteve a forte recomendação contra o uso de hidroxicloroquina em pacientes com qualquer gravidade da doença, existente desde 17 de dezembro de 2020. Esta é a 10ª edição das recomendações e trouxe duas atualizações: não utilizar fluvoxamina em pacientes com covid-19 leve, exceto em ensaios clínicos, e forte recomendação contra o uso de colchicina em pacientes leves. 

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Conforme explica reportagem do Estadão, conteúdos nas redes sociais também defendem que a cloroquina e a azitromicina sejam usadas para prevenir a covid-19, compondo o chamado 'kit covid' -- mas isso não é eficaz e nem seguro para a saúde. A hidroxicloroquina, por exemplo, pode ter efeitos colaterais graves, incluindo lesão hepática aguda, convulsões e problemas cardiovasculares.

No Brasil, os medicamentos aprovados pela Anvisa para tratamento da covid-19 incluem apenas Remdesivir, Sotrovimabe, Baricitinibe, Evusheld (cilgavimabe + tixagevimabe), Paxlovid (nirmatrelvir + ritonavir) e Molnupiravir.

Ao longo da pandemia, o Estadão Verifica checou diversos conteúdos classificados como falsos ou enganosos sobre hidroxicloroquina (1, 2, 3 e 4) e azitromicina (1, 2, 3 e 4), demonstrando a falta de comprovação da eficácia dos remédios no tratamento da doença. 

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A reportagem entrou em contato com a assessoria do apresentador Sikêra Júnior, mas não houve retorno. O trecho do programa aqui verificado já foi objeto de outras checagens, como do G1, Aos Fatos e AFP Checamos, que o consideraram falso.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

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Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

Um conteúdo falso e antigo voltou a circular no Facebook nesta semana. Trata-se de trecho de um vídeo em que o apresentador Sikêra Júnior afirma que a Organização Mundial da Saúde (OMS) se desculpou por "não ter autorizado" uso de cloroquina e azitromicina no tratamento da covid-19 -- medicamentos sem comprovação científica para essa finalidade. A OMS nunca pediu desculpas por não recomendar os dois remédios contra o coronavírus; aliás, a entidade não é responsável por autorizar o uso dos medicamentos no País. Este papel cabe à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 

 

A afirmação do apresentador foi feita no programa Alerta Nacional, exibido pela TV A Crítica em 10 de junho de 2020. O vídeo original foi removido por violar as diretrizes da comunidade do YouTube, que não permite a exibição de conteúdo sobre a pandemia de coronavírus que apresente sérios riscos de danos significativos à saúde. Na época, a publicação teve bastante repercussão e chegou a ser compartilhada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) no Twitter -- lá, a postagem continua online.

Na época, o Estadão Verifica, em parceria com o Projeto Comprova, esclareceu que o "pedido de desculpas" era uma interpretação errônea de uma declaração do diretor de emergência sanitária da OMS, Michael Ryan, em uma entrevista coletiva concedida no dia 5 de junho daquele ano. 

Na ocasião, Ryan foi questionado sobre a retomada de uma pesquisa da OMS sobre o uso de hidroxicloroquina para o tratamento da covid após a revista The Lancet retratar um estudo sobre o assunto. Ocorre que o diretor nunca pediu desculpas por a OMS não recomendar o medicamento no combate à covid-19 e nem por ter retomado as pesquisas. Ele se desculpou por possíveis sinais conflitantes da comunidade científica que possam ter causado confusão ao longo da pandemia. "Eu sei que, às vezes, pode passar a impressão de que a comunidade científica está confusa ou que está mandando sinais conflitantes e, por isso, nós pedimos desculpas a todos vocês", declarou.

Afirmação de Michael Ryan, diretor executivo da OMS, foi descontextualizada  

A fala completa dele sobre o assunto pode ser assistida no vídeo da entrevista, disponível no canal da OMS no YouTube, entre os minutos 19 e 23; a declaração também pode ser lida nas páginas 8 e 9 da transcrição do conteúdo, disponível no site da organização.

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Procurada pelo Estadão Verifica, a OMS reforçou não ter havido pedido de desculpas por parte de nenhum membro da organização no sentido sustentado pelo apresentador Sikêra Júnior.

OMS mantém forte recomendação contra hidroxicloroquina 

As recomendações mais atuais da OMS sobre uso de terapias no tratamento de covid-19 foram publicadas em 14 de julho de 2022. O documento manteve a forte recomendação contra o uso de hidroxicloroquina em pacientes com qualquer gravidade da doença, existente desde 17 de dezembro de 2020. Esta é a 10ª edição das recomendações e trouxe duas atualizações: não utilizar fluvoxamina em pacientes com covid-19 leve, exceto em ensaios clínicos, e forte recomendação contra o uso de colchicina em pacientes leves. 

Conforme explica reportagem do Estadão, conteúdos nas redes sociais também defendem que a cloroquina e a azitromicina sejam usadas para prevenir a covid-19, compondo o chamado 'kit covid' -- mas isso não é eficaz e nem seguro para a saúde. A hidroxicloroquina, por exemplo, pode ter efeitos colaterais graves, incluindo lesão hepática aguda, convulsões e problemas cardiovasculares.

No Brasil, os medicamentos aprovados pela Anvisa para tratamento da covid-19 incluem apenas Remdesivir, Sotrovimabe, Baricitinibe, Evusheld (cilgavimabe + tixagevimabe), Paxlovid (nirmatrelvir + ritonavir) e Molnupiravir.

Ao longo da pandemia, o Estadão Verifica checou diversos conteúdos classificados como falsos ou enganosos sobre hidroxicloroquina (1, 2, 3 e 4) e azitromicina (1, 2, 3 e 4), demonstrando a falta de comprovação da eficácia dos remédios no tratamento da doença. 

A reportagem entrou em contato com a assessoria do apresentador Sikêra Júnior, mas não houve retorno. O trecho do programa aqui verificado já foi objeto de outras checagens, como do G1, Aos Fatos e AFP Checamos, que o consideraram falso.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

Um conteúdo falso e antigo voltou a circular no Facebook nesta semana. Trata-se de trecho de um vídeo em que o apresentador Sikêra Júnior afirma que a Organização Mundial da Saúde (OMS) se desculpou por "não ter autorizado" uso de cloroquina e azitromicina no tratamento da covid-19 -- medicamentos sem comprovação científica para essa finalidade. A OMS nunca pediu desculpas por não recomendar os dois remédios contra o coronavírus; aliás, a entidade não é responsável por autorizar o uso dos medicamentos no País. Este papel cabe à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 

 

A afirmação do apresentador foi feita no programa Alerta Nacional, exibido pela TV A Crítica em 10 de junho de 2020. O vídeo original foi removido por violar as diretrizes da comunidade do YouTube, que não permite a exibição de conteúdo sobre a pandemia de coronavírus que apresente sérios riscos de danos significativos à saúde. Na época, a publicação teve bastante repercussão e chegou a ser compartilhada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) no Twitter -- lá, a postagem continua online.

Na época, o Estadão Verifica, em parceria com o Projeto Comprova, esclareceu que o "pedido de desculpas" era uma interpretação errônea de uma declaração do diretor de emergência sanitária da OMS, Michael Ryan, em uma entrevista coletiva concedida no dia 5 de junho daquele ano. 

Na ocasião, Ryan foi questionado sobre a retomada de uma pesquisa da OMS sobre o uso de hidroxicloroquina para o tratamento da covid após a revista The Lancet retratar um estudo sobre o assunto. Ocorre que o diretor nunca pediu desculpas por a OMS não recomendar o medicamento no combate à covid-19 e nem por ter retomado as pesquisas. Ele se desculpou por possíveis sinais conflitantes da comunidade científica que possam ter causado confusão ao longo da pandemia. "Eu sei que, às vezes, pode passar a impressão de que a comunidade científica está confusa ou que está mandando sinais conflitantes e, por isso, nós pedimos desculpas a todos vocês", declarou.

Afirmação de Michael Ryan, diretor executivo da OMS, foi descontextualizada  

A fala completa dele sobre o assunto pode ser assistida no vídeo da entrevista, disponível no canal da OMS no YouTube, entre os minutos 19 e 23; a declaração também pode ser lida nas páginas 8 e 9 da transcrição do conteúdo, disponível no site da organização.

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Procurada pelo Estadão Verifica, a OMS reforçou não ter havido pedido de desculpas por parte de nenhum membro da organização no sentido sustentado pelo apresentador Sikêra Júnior.

OMS mantém forte recomendação contra hidroxicloroquina 

As recomendações mais atuais da OMS sobre uso de terapias no tratamento de covid-19 foram publicadas em 14 de julho de 2022. O documento manteve a forte recomendação contra o uso de hidroxicloroquina em pacientes com qualquer gravidade da doença, existente desde 17 de dezembro de 2020. Esta é a 10ª edição das recomendações e trouxe duas atualizações: não utilizar fluvoxamina em pacientes com covid-19 leve, exceto em ensaios clínicos, e forte recomendação contra o uso de colchicina em pacientes leves. 

Conforme explica reportagem do Estadão, conteúdos nas redes sociais também defendem que a cloroquina e a azitromicina sejam usadas para prevenir a covid-19, compondo o chamado 'kit covid' -- mas isso não é eficaz e nem seguro para a saúde. A hidroxicloroquina, por exemplo, pode ter efeitos colaterais graves, incluindo lesão hepática aguda, convulsões e problemas cardiovasculares.

No Brasil, os medicamentos aprovados pela Anvisa para tratamento da covid-19 incluem apenas Remdesivir, Sotrovimabe, Baricitinibe, Evusheld (cilgavimabe + tixagevimabe), Paxlovid (nirmatrelvir + ritonavir) e Molnupiravir.

Ao longo da pandemia, o Estadão Verifica checou diversos conteúdos classificados como falsos ou enganosos sobre hidroxicloroquina (1, 2, 3 e 4) e azitromicina (1, 2, 3 e 4), demonstrando a falta de comprovação da eficácia dos remédios no tratamento da doença. 

A reportagem entrou em contato com a assessoria do apresentador Sikêra Júnior, mas não houve retorno. O trecho do programa aqui verificado já foi objeto de outras checagens, como do G1, Aos Fatos e AFP Checamos, que o consideraram falso.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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