Com dados não confirmados e desatualizados, post engana sobre efeitos colaterais de vacina da Pfizer


Monitoramento do Centro de Controle de Doença dos EUA não tem registro de nenhuma morte relacionada ao imunizante

Por Giovana Frioli
Atualização:

O que estão compartilhando: que um relatório “escondido” pela farmacêutica Pfizer e pela agência sanitária dos Estados Unidos, Food and Drug Administration (FDA), revelaria que a vacina contra covid teria causado a morte de 1,2 mil pessoas e mais de mil efeitos colaterais.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O documento usado como fonte das alegações não é sigiloso, nem recente, e leva em conta dados não confirmados sobre efeitos colaterais. Trata-se de uma análise de mais de 42 mil relatos pós-imunização nos Estados Unidos e outros países entre 10 de dezembro de 2020 e 28 de fevereiro de 2021. O relatório registra 1,2 mil óbitos, mas não há relação comprovada de causa e efeito com a vacina.

O Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, que monitora dados sobre reações adversas às vacinas contra covid-19, informa que foram confirmadas 9 mortes com causa atribuída aos imunizantes entre 14 de dezembro de 2020 e 1º de março de 2023. Nenhuma delas foi relacionada à vacina da Pfizer. Ao todo, mais de 672 milhões de doses de vacinas foram aplicadas nos EUA — ou seja, a taxa de incidência de mortes é de 0,00000001%.

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O relatório não comprova mortes decorrentes da vacinação ou mais de mil efeitos colaterais. Foto: Foto

Saiba mais: Uma postagem no Instagram distorce dados do relatório da Pfizer e incentiva a não-vacinação. O documento é intitulado “BNT162b2 - Análise acumulativa de relatórios de eventos adversos pós-autorização” — o início é o código de identificação da vacina da Pfizer. A análise expõe dados relacionados ao monitoramento da segurança do imunizante após autorização do uso emergencial nos Estados Unidos, em 2020.

O relatório foi divulgado por sites não-oficiais em 2021 e não foi reconhecido na época pela farmacêutica. No entanto, a FDA confirmou que “faz parte de um documento maior enviado pela Pfizer-BioNTech”. Em 2022, a agência sanitária norte-americana passou a publicar milhares de páginas relacionadas à avaliação de segurança da vacina contra a covid-19, por determinação da Justiça.

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Mortes não tem relação com vacinação

Como publicou o Comprova em 2021, o relatório foi usado em um pedido de licença biológica (BDA) do imunizante. O documento analisou 42.086 casos de pessoas vacinadas nos Estados Unidos e em outros países. Houve relato de 1.223 mortes entre em 10 de dezembro de 2020 e 28 de fevereiro de 2021. No documento, fica claro que não há relação confirmada de causa e efeito entre os óbitos e a vacina.

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De 14 de dezembro de 2020 a 1º de março de 2023, o CDC registrou 19.476 relatos de mortes após a aplicação das vacinas contra covid-19, mas em apenas 9 desses casos a vacina foi confirmada como a causa do óbito. Nenhum deles está relacionado à vacina da Pfizer; as mortes foram causadas após aplicação do imunizante J&J/Janssen. Os relatos de morte pós-vacinação são revisados por médicos do órgão de saúde americano, que analisam certidões de óbito, autópsias e registros médicos. A FDA exige que os profissionais de saúde relatem qualquer morte ocorrida depois da vacinação, mesmo que não esteja claro se a vacina foi a causa, a fim de que isso seja investigado.

Até 26 de abril de 2023, os Estados Unidos já havia aplicado 367 milhões de doses da vacina Pfizer-BioNTech.

Contatada pelo Estadão Verifica, a farmacêutica Pfizer respondeu que “com base nas análises contínuas destes e de outros dados de segurança realizadas pela Pfizer, BioNTech e Autoridades de Saúde em todo o mundo, nossa vacina contra a covid-19 comprova se manter com um perfil risco-benefício altamente positivo”. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) defendem a vacinação e apontam que os benefícios são muitíssimo superiores aos riscos do uso do imunizante.

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Enfermeira segura vacina da Pfizer contra a covid-19. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Efeitos colaterais da Pfizer

A alegação sobre os “mais de mil efeitos colaterais da vacina” também é uma distorção. Nas últimas páginas, o relatório informa uma lista de problemas que devem ser monitorados, o que são chamados de “eventos adversos de interesse especial”.

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As doenças, que ocupam nove páginas da análise, apontam eventos que poderiam vir ou não a ser relacionados com a vacina e que precisariam ser monitorados e estudados para confirmar ou descartar a ligação. Assim, a lista não confirma que as doenças citadas são consequências da vacinação ou que o imunizante tenha induzido os efeitos colaterais. O monitoramento dos efeitos é indicado para uma “cuidadosa investigação, visando o diagnóstico e o possível tratamento”, diz a página 47 do documento.

O manual de vigilância do Ministério da Saúde explica que um evento adverso pós-vacinação é “qualquer ocorrência médica indesejada após a vacinação, não possuindo necessariamente uma relação causal com o uso de uma vacina ou outro imunobiológico”. A bula da Pifzer destinada aos pacientes aponta as reações adversas em estudos clínicos com a vacina Comirnaty em pessoas com 5 anos de idade ou mais:

- Reações muito comuns (que ocorrem em 10% dos pacientes): dor de cabeça, diarreia, dor nas articulações, dor muscular, dor e inchaço no local de injeção, cansaço, calafrios e febre.

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- Reações comuns, (entre 1% e 10% dos pacientes): náusea, vômito e vermelhidão no local de injeção.

- Reações incomuns (entre 0,01% e 1% dos pacientes): aumento dos gânglios linfáticos (ou ínguas), reações de hipersensibilidade [por exemplo, erupção cutânea (lesão na pele), prurido (coceira), urticária (alergia da pele com forte coceira), angioedema (inchaço das partes mais profundas da pele ou da mucosa)], diminuição de apetite, insônia, letargia (cansaço e lentidão de reações e reflexos), hiperidrose (suor excessivo), suor noturno, dor nos membros (braço), astenia (fraqueza, cansaço físico intenso), sensação de mal-estar e prurido no local de injeção.

- Reações raras (entre 0,01% e 0,1% dos pacientes): paralisia facial aguda.

- Reações muito raras (menos de 0,01% dos pacientes): miocardite (infecção das fibras do coração) e pericardite (inflamação do revestimento externo do coração).

- Desconhecidas (não podem ser estimadas a partir dos dados disponíveis): reação alérgica grave (anafilaxia), parestesia (aparecimento, sem estimulação, de sensações espontâneas e mal definidas (“formigamento”), hipoestesia (diminuição da sensibilidade), eritema multiforme (reação na pele que causa manchas ou placas vermelhas, que se parecem com um alvo ou “olho de búfalo” e apresenta um centro vermelho escuro rodeado por halos vermelhos e pálidos), inchaço extenso do membro vacinado, inchaço da face (pode ocorrer inchaço da face em pacientes que receberam preenchedores dermatológicos faciais).

Documentos não foram “escondidos”

Ao contrário do que diz a publicação no Instagram, os documentos do imunizante da Pfizer não estavam sendo “escondidos” pela farmacêutica e pela agência americana. Em 2021, o grupo Médicos Profissionais de Saúde Pública pela Transparência solicitou a liberação de toda documentação analisada pela FDA para autorizar o uso da vacina.

Em resposta ao pedido, o órgão regulatório informou que seriam necessários 55 anos até que todas as informações fossem disponibilizadas. De acordo com a agência, não há pessoal e/ou recursos suficientes para atender o pedido no prazo estipulado. A FDA afirmou que se trata de um pedido com mais de 329 mil páginas de documentos e que seria preciso processar 80 mil páginas por mês.

O órgão regulatório norte-americano pediu para entregar 500 páginas da documentação mensalmente, a fim de analisar partes que poderiam haver informações comerciais confidenciais da Pfizer-BioNTech e dados pessoais de envolvidos nos testes clínicos. Os médicos solicitantes, no entanto, alegaram que as informações sobre a Pfizer são de interesse público e pediram o cumprimento até março de 2022.

Em janeiro do ano passado, o juiz Mark T. Pittman aceitou o argumento do grupo e determinou que a agência sanitária entregasse 55 mil páginas a cada mês, a partir de março. Os documentos deveriam ser tarjados para ocultar informações confidenciais. O grupo disponibiliza os relatórios da Pfizer no site da organização, com respaldo na Lei da Liberdade de Informação (FOIA).

Fachada do escritório da Pfizer em Puurs, Bélgica Foto: REUTERS/Johanna Geron

A Pfizer informou que não comenta documentos publicados nas redes sociais e que há um portal da empresa destinado para comunicação de informações relacionadas a relatos de eventos adversos após a vacina contra a covid-19.

O Estadão Verifica procurou Ricardo Junqueira pelas redes sociais, que não respondeu a solicitação.

Como lidar com postagens do tipo: O uso fora de contexto de relatórios e testes de imunizantes é uma tática comum para desinformar sobre a segurança das vacinas. Para fugir das alegações falsas, é importante ficar atento aos pronunciamentos oficiais feitos por órgãos de vigilância e do Ministério da Saúde sobre estudos ligados à vacinação.

O que estão compartilhando: que um relatório “escondido” pela farmacêutica Pfizer e pela agência sanitária dos Estados Unidos, Food and Drug Administration (FDA), revelaria que a vacina contra covid teria causado a morte de 1,2 mil pessoas e mais de mil efeitos colaterais.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O documento usado como fonte das alegações não é sigiloso, nem recente, e leva em conta dados não confirmados sobre efeitos colaterais. Trata-se de uma análise de mais de 42 mil relatos pós-imunização nos Estados Unidos e outros países entre 10 de dezembro de 2020 e 28 de fevereiro de 2021. O relatório registra 1,2 mil óbitos, mas não há relação comprovada de causa e efeito com a vacina.

O Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, que monitora dados sobre reações adversas às vacinas contra covid-19, informa que foram confirmadas 9 mortes com causa atribuída aos imunizantes entre 14 de dezembro de 2020 e 1º de março de 2023. Nenhuma delas foi relacionada à vacina da Pfizer. Ao todo, mais de 672 milhões de doses de vacinas foram aplicadas nos EUA — ou seja, a taxa de incidência de mortes é de 0,00000001%.

O relatório não comprova mortes decorrentes da vacinação ou mais de mil efeitos colaterais. Foto: Foto

Saiba mais: Uma postagem no Instagram distorce dados do relatório da Pfizer e incentiva a não-vacinação. O documento é intitulado “BNT162b2 - Análise acumulativa de relatórios de eventos adversos pós-autorização” — o início é o código de identificação da vacina da Pfizer. A análise expõe dados relacionados ao monitoramento da segurança do imunizante após autorização do uso emergencial nos Estados Unidos, em 2020.

O relatório foi divulgado por sites não-oficiais em 2021 e não foi reconhecido na época pela farmacêutica. No entanto, a FDA confirmou que “faz parte de um documento maior enviado pela Pfizer-BioNTech”. Em 2022, a agência sanitária norte-americana passou a publicar milhares de páginas relacionadas à avaliação de segurança da vacina contra a covid-19, por determinação da Justiça.

Mortes não tem relação com vacinação

Como publicou o Comprova em 2021, o relatório foi usado em um pedido de licença biológica (BDA) do imunizante. O documento analisou 42.086 casos de pessoas vacinadas nos Estados Unidos e em outros países. Houve relato de 1.223 mortes entre em 10 de dezembro de 2020 e 28 de fevereiro de 2021. No documento, fica claro que não há relação confirmada de causa e efeito entre os óbitos e a vacina.

De 14 de dezembro de 2020 a 1º de março de 2023, o CDC registrou 19.476 relatos de mortes após a aplicação das vacinas contra covid-19, mas em apenas 9 desses casos a vacina foi confirmada como a causa do óbito. Nenhum deles está relacionado à vacina da Pfizer; as mortes foram causadas após aplicação do imunizante J&J/Janssen. Os relatos de morte pós-vacinação são revisados por médicos do órgão de saúde americano, que analisam certidões de óbito, autópsias e registros médicos. A FDA exige que os profissionais de saúde relatem qualquer morte ocorrida depois da vacinação, mesmo que não esteja claro se a vacina foi a causa, a fim de que isso seja investigado.

Até 26 de abril de 2023, os Estados Unidos já havia aplicado 367 milhões de doses da vacina Pfizer-BioNTech.

Contatada pelo Estadão Verifica, a farmacêutica Pfizer respondeu que “com base nas análises contínuas destes e de outros dados de segurança realizadas pela Pfizer, BioNTech e Autoridades de Saúde em todo o mundo, nossa vacina contra a covid-19 comprova se manter com um perfil risco-benefício altamente positivo”. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) defendem a vacinação e apontam que os benefícios são muitíssimo superiores aos riscos do uso do imunizante.

Enfermeira segura vacina da Pfizer contra a covid-19. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Efeitos colaterais da Pfizer

A alegação sobre os “mais de mil efeitos colaterais da vacina” também é uma distorção. Nas últimas páginas, o relatório informa uma lista de problemas que devem ser monitorados, o que são chamados de “eventos adversos de interesse especial”.

As doenças, que ocupam nove páginas da análise, apontam eventos que poderiam vir ou não a ser relacionados com a vacina e que precisariam ser monitorados e estudados para confirmar ou descartar a ligação. Assim, a lista não confirma que as doenças citadas são consequências da vacinação ou que o imunizante tenha induzido os efeitos colaterais. O monitoramento dos efeitos é indicado para uma “cuidadosa investigação, visando o diagnóstico e o possível tratamento”, diz a página 47 do documento.

O manual de vigilância do Ministério da Saúde explica que um evento adverso pós-vacinação é “qualquer ocorrência médica indesejada após a vacinação, não possuindo necessariamente uma relação causal com o uso de uma vacina ou outro imunobiológico”. A bula da Pifzer destinada aos pacientes aponta as reações adversas em estudos clínicos com a vacina Comirnaty em pessoas com 5 anos de idade ou mais:

- Reações muito comuns (que ocorrem em 10% dos pacientes): dor de cabeça, diarreia, dor nas articulações, dor muscular, dor e inchaço no local de injeção, cansaço, calafrios e febre.

- Reações comuns, (entre 1% e 10% dos pacientes): náusea, vômito e vermelhidão no local de injeção.

- Reações incomuns (entre 0,01% e 1% dos pacientes): aumento dos gânglios linfáticos (ou ínguas), reações de hipersensibilidade [por exemplo, erupção cutânea (lesão na pele), prurido (coceira), urticária (alergia da pele com forte coceira), angioedema (inchaço das partes mais profundas da pele ou da mucosa)], diminuição de apetite, insônia, letargia (cansaço e lentidão de reações e reflexos), hiperidrose (suor excessivo), suor noturno, dor nos membros (braço), astenia (fraqueza, cansaço físico intenso), sensação de mal-estar e prurido no local de injeção.

- Reações raras (entre 0,01% e 0,1% dos pacientes): paralisia facial aguda.

- Reações muito raras (menos de 0,01% dos pacientes): miocardite (infecção das fibras do coração) e pericardite (inflamação do revestimento externo do coração).

- Desconhecidas (não podem ser estimadas a partir dos dados disponíveis): reação alérgica grave (anafilaxia), parestesia (aparecimento, sem estimulação, de sensações espontâneas e mal definidas (“formigamento”), hipoestesia (diminuição da sensibilidade), eritema multiforme (reação na pele que causa manchas ou placas vermelhas, que se parecem com um alvo ou “olho de búfalo” e apresenta um centro vermelho escuro rodeado por halos vermelhos e pálidos), inchaço extenso do membro vacinado, inchaço da face (pode ocorrer inchaço da face em pacientes que receberam preenchedores dermatológicos faciais).

Documentos não foram “escondidos”

Ao contrário do que diz a publicação no Instagram, os documentos do imunizante da Pfizer não estavam sendo “escondidos” pela farmacêutica e pela agência americana. Em 2021, o grupo Médicos Profissionais de Saúde Pública pela Transparência solicitou a liberação de toda documentação analisada pela FDA para autorizar o uso da vacina.

Em resposta ao pedido, o órgão regulatório informou que seriam necessários 55 anos até que todas as informações fossem disponibilizadas. De acordo com a agência, não há pessoal e/ou recursos suficientes para atender o pedido no prazo estipulado. A FDA afirmou que se trata de um pedido com mais de 329 mil páginas de documentos e que seria preciso processar 80 mil páginas por mês.

O órgão regulatório norte-americano pediu para entregar 500 páginas da documentação mensalmente, a fim de analisar partes que poderiam haver informações comerciais confidenciais da Pfizer-BioNTech e dados pessoais de envolvidos nos testes clínicos. Os médicos solicitantes, no entanto, alegaram que as informações sobre a Pfizer são de interesse público e pediram o cumprimento até março de 2022.

Em janeiro do ano passado, o juiz Mark T. Pittman aceitou o argumento do grupo e determinou que a agência sanitária entregasse 55 mil páginas a cada mês, a partir de março. Os documentos deveriam ser tarjados para ocultar informações confidenciais. O grupo disponibiliza os relatórios da Pfizer no site da organização, com respaldo na Lei da Liberdade de Informação (FOIA).

Fachada do escritório da Pfizer em Puurs, Bélgica Foto: REUTERS/Johanna Geron

A Pfizer informou que não comenta documentos publicados nas redes sociais e que há um portal da empresa destinado para comunicação de informações relacionadas a relatos de eventos adversos após a vacina contra a covid-19.

O Estadão Verifica procurou Ricardo Junqueira pelas redes sociais, que não respondeu a solicitação.

Como lidar com postagens do tipo: O uso fora de contexto de relatórios e testes de imunizantes é uma tática comum para desinformar sobre a segurança das vacinas. Para fugir das alegações falsas, é importante ficar atento aos pronunciamentos oficiais feitos por órgãos de vigilância e do Ministério da Saúde sobre estudos ligados à vacinação.

O que estão compartilhando: que um relatório “escondido” pela farmacêutica Pfizer e pela agência sanitária dos Estados Unidos, Food and Drug Administration (FDA), revelaria que a vacina contra covid teria causado a morte de 1,2 mil pessoas e mais de mil efeitos colaterais.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O documento usado como fonte das alegações não é sigiloso, nem recente, e leva em conta dados não confirmados sobre efeitos colaterais. Trata-se de uma análise de mais de 42 mil relatos pós-imunização nos Estados Unidos e outros países entre 10 de dezembro de 2020 e 28 de fevereiro de 2021. O relatório registra 1,2 mil óbitos, mas não há relação comprovada de causa e efeito com a vacina.

O Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, que monitora dados sobre reações adversas às vacinas contra covid-19, informa que foram confirmadas 9 mortes com causa atribuída aos imunizantes entre 14 de dezembro de 2020 e 1º de março de 2023. Nenhuma delas foi relacionada à vacina da Pfizer. Ao todo, mais de 672 milhões de doses de vacinas foram aplicadas nos EUA — ou seja, a taxa de incidência de mortes é de 0,00000001%.

O relatório não comprova mortes decorrentes da vacinação ou mais de mil efeitos colaterais. Foto: Foto

Saiba mais: Uma postagem no Instagram distorce dados do relatório da Pfizer e incentiva a não-vacinação. O documento é intitulado “BNT162b2 - Análise acumulativa de relatórios de eventos adversos pós-autorização” — o início é o código de identificação da vacina da Pfizer. A análise expõe dados relacionados ao monitoramento da segurança do imunizante após autorização do uso emergencial nos Estados Unidos, em 2020.

O relatório foi divulgado por sites não-oficiais em 2021 e não foi reconhecido na época pela farmacêutica. No entanto, a FDA confirmou que “faz parte de um documento maior enviado pela Pfizer-BioNTech”. Em 2022, a agência sanitária norte-americana passou a publicar milhares de páginas relacionadas à avaliação de segurança da vacina contra a covid-19, por determinação da Justiça.

Mortes não tem relação com vacinação

Como publicou o Comprova em 2021, o relatório foi usado em um pedido de licença biológica (BDA) do imunizante. O documento analisou 42.086 casos de pessoas vacinadas nos Estados Unidos e em outros países. Houve relato de 1.223 mortes entre em 10 de dezembro de 2020 e 28 de fevereiro de 2021. No documento, fica claro que não há relação confirmada de causa e efeito entre os óbitos e a vacina.

De 14 de dezembro de 2020 a 1º de março de 2023, o CDC registrou 19.476 relatos de mortes após a aplicação das vacinas contra covid-19, mas em apenas 9 desses casos a vacina foi confirmada como a causa do óbito. Nenhum deles está relacionado à vacina da Pfizer; as mortes foram causadas após aplicação do imunizante J&J/Janssen. Os relatos de morte pós-vacinação são revisados por médicos do órgão de saúde americano, que analisam certidões de óbito, autópsias e registros médicos. A FDA exige que os profissionais de saúde relatem qualquer morte ocorrida depois da vacinação, mesmo que não esteja claro se a vacina foi a causa, a fim de que isso seja investigado.

Até 26 de abril de 2023, os Estados Unidos já havia aplicado 367 milhões de doses da vacina Pfizer-BioNTech.

Contatada pelo Estadão Verifica, a farmacêutica Pfizer respondeu que “com base nas análises contínuas destes e de outros dados de segurança realizadas pela Pfizer, BioNTech e Autoridades de Saúde em todo o mundo, nossa vacina contra a covid-19 comprova se manter com um perfil risco-benefício altamente positivo”. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) defendem a vacinação e apontam que os benefícios são muitíssimo superiores aos riscos do uso do imunizante.

Enfermeira segura vacina da Pfizer contra a covid-19. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Efeitos colaterais da Pfizer

A alegação sobre os “mais de mil efeitos colaterais da vacina” também é uma distorção. Nas últimas páginas, o relatório informa uma lista de problemas que devem ser monitorados, o que são chamados de “eventos adversos de interesse especial”.

As doenças, que ocupam nove páginas da análise, apontam eventos que poderiam vir ou não a ser relacionados com a vacina e que precisariam ser monitorados e estudados para confirmar ou descartar a ligação. Assim, a lista não confirma que as doenças citadas são consequências da vacinação ou que o imunizante tenha induzido os efeitos colaterais. O monitoramento dos efeitos é indicado para uma “cuidadosa investigação, visando o diagnóstico e o possível tratamento”, diz a página 47 do documento.

O manual de vigilância do Ministério da Saúde explica que um evento adverso pós-vacinação é “qualquer ocorrência médica indesejada após a vacinação, não possuindo necessariamente uma relação causal com o uso de uma vacina ou outro imunobiológico”. A bula da Pifzer destinada aos pacientes aponta as reações adversas em estudos clínicos com a vacina Comirnaty em pessoas com 5 anos de idade ou mais:

- Reações muito comuns (que ocorrem em 10% dos pacientes): dor de cabeça, diarreia, dor nas articulações, dor muscular, dor e inchaço no local de injeção, cansaço, calafrios e febre.

- Reações comuns, (entre 1% e 10% dos pacientes): náusea, vômito e vermelhidão no local de injeção.

- Reações incomuns (entre 0,01% e 1% dos pacientes): aumento dos gânglios linfáticos (ou ínguas), reações de hipersensibilidade [por exemplo, erupção cutânea (lesão na pele), prurido (coceira), urticária (alergia da pele com forte coceira), angioedema (inchaço das partes mais profundas da pele ou da mucosa)], diminuição de apetite, insônia, letargia (cansaço e lentidão de reações e reflexos), hiperidrose (suor excessivo), suor noturno, dor nos membros (braço), astenia (fraqueza, cansaço físico intenso), sensação de mal-estar e prurido no local de injeção.

- Reações raras (entre 0,01% e 0,1% dos pacientes): paralisia facial aguda.

- Reações muito raras (menos de 0,01% dos pacientes): miocardite (infecção das fibras do coração) e pericardite (inflamação do revestimento externo do coração).

- Desconhecidas (não podem ser estimadas a partir dos dados disponíveis): reação alérgica grave (anafilaxia), parestesia (aparecimento, sem estimulação, de sensações espontâneas e mal definidas (“formigamento”), hipoestesia (diminuição da sensibilidade), eritema multiforme (reação na pele que causa manchas ou placas vermelhas, que se parecem com um alvo ou “olho de búfalo” e apresenta um centro vermelho escuro rodeado por halos vermelhos e pálidos), inchaço extenso do membro vacinado, inchaço da face (pode ocorrer inchaço da face em pacientes que receberam preenchedores dermatológicos faciais).

Documentos não foram “escondidos”

Ao contrário do que diz a publicação no Instagram, os documentos do imunizante da Pfizer não estavam sendo “escondidos” pela farmacêutica e pela agência americana. Em 2021, o grupo Médicos Profissionais de Saúde Pública pela Transparência solicitou a liberação de toda documentação analisada pela FDA para autorizar o uso da vacina.

Em resposta ao pedido, o órgão regulatório informou que seriam necessários 55 anos até que todas as informações fossem disponibilizadas. De acordo com a agência, não há pessoal e/ou recursos suficientes para atender o pedido no prazo estipulado. A FDA afirmou que se trata de um pedido com mais de 329 mil páginas de documentos e que seria preciso processar 80 mil páginas por mês.

O órgão regulatório norte-americano pediu para entregar 500 páginas da documentação mensalmente, a fim de analisar partes que poderiam haver informações comerciais confidenciais da Pfizer-BioNTech e dados pessoais de envolvidos nos testes clínicos. Os médicos solicitantes, no entanto, alegaram que as informações sobre a Pfizer são de interesse público e pediram o cumprimento até março de 2022.

Em janeiro do ano passado, o juiz Mark T. Pittman aceitou o argumento do grupo e determinou que a agência sanitária entregasse 55 mil páginas a cada mês, a partir de março. Os documentos deveriam ser tarjados para ocultar informações confidenciais. O grupo disponibiliza os relatórios da Pfizer no site da organização, com respaldo na Lei da Liberdade de Informação (FOIA).

Fachada do escritório da Pfizer em Puurs, Bélgica Foto: REUTERS/Johanna Geron

A Pfizer informou que não comenta documentos publicados nas redes sociais e que há um portal da empresa destinado para comunicação de informações relacionadas a relatos de eventos adversos após a vacina contra a covid-19.

O Estadão Verifica procurou Ricardo Junqueira pelas redes sociais, que não respondeu a solicitação.

Como lidar com postagens do tipo: O uso fora de contexto de relatórios e testes de imunizantes é uma tática comum para desinformar sobre a segurança das vacinas. Para fugir das alegações falsas, é importante ficar atento aos pronunciamentos oficiais feitos por órgãos de vigilância e do Ministério da Saúde sobre estudos ligados à vacinação.

O que estão compartilhando: que um relatório “escondido” pela farmacêutica Pfizer e pela agência sanitária dos Estados Unidos, Food and Drug Administration (FDA), revelaria que a vacina contra covid teria causado a morte de 1,2 mil pessoas e mais de mil efeitos colaterais.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O documento usado como fonte das alegações não é sigiloso, nem recente, e leva em conta dados não confirmados sobre efeitos colaterais. Trata-se de uma análise de mais de 42 mil relatos pós-imunização nos Estados Unidos e outros países entre 10 de dezembro de 2020 e 28 de fevereiro de 2021. O relatório registra 1,2 mil óbitos, mas não há relação comprovada de causa e efeito com a vacina.

O Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, que monitora dados sobre reações adversas às vacinas contra covid-19, informa que foram confirmadas 9 mortes com causa atribuída aos imunizantes entre 14 de dezembro de 2020 e 1º de março de 2023. Nenhuma delas foi relacionada à vacina da Pfizer. Ao todo, mais de 672 milhões de doses de vacinas foram aplicadas nos EUA — ou seja, a taxa de incidência de mortes é de 0,00000001%.

O relatório não comprova mortes decorrentes da vacinação ou mais de mil efeitos colaterais. Foto: Foto

Saiba mais: Uma postagem no Instagram distorce dados do relatório da Pfizer e incentiva a não-vacinação. O documento é intitulado “BNT162b2 - Análise acumulativa de relatórios de eventos adversos pós-autorização” — o início é o código de identificação da vacina da Pfizer. A análise expõe dados relacionados ao monitoramento da segurança do imunizante após autorização do uso emergencial nos Estados Unidos, em 2020.

O relatório foi divulgado por sites não-oficiais em 2021 e não foi reconhecido na época pela farmacêutica. No entanto, a FDA confirmou que “faz parte de um documento maior enviado pela Pfizer-BioNTech”. Em 2022, a agência sanitária norte-americana passou a publicar milhares de páginas relacionadas à avaliação de segurança da vacina contra a covid-19, por determinação da Justiça.

Mortes não tem relação com vacinação

Como publicou o Comprova em 2021, o relatório foi usado em um pedido de licença biológica (BDA) do imunizante. O documento analisou 42.086 casos de pessoas vacinadas nos Estados Unidos e em outros países. Houve relato de 1.223 mortes entre em 10 de dezembro de 2020 e 28 de fevereiro de 2021. No documento, fica claro que não há relação confirmada de causa e efeito entre os óbitos e a vacina.

De 14 de dezembro de 2020 a 1º de março de 2023, o CDC registrou 19.476 relatos de mortes após a aplicação das vacinas contra covid-19, mas em apenas 9 desses casos a vacina foi confirmada como a causa do óbito. Nenhum deles está relacionado à vacina da Pfizer; as mortes foram causadas após aplicação do imunizante J&J/Janssen. Os relatos de morte pós-vacinação são revisados por médicos do órgão de saúde americano, que analisam certidões de óbito, autópsias e registros médicos. A FDA exige que os profissionais de saúde relatem qualquer morte ocorrida depois da vacinação, mesmo que não esteja claro se a vacina foi a causa, a fim de que isso seja investigado.

Até 26 de abril de 2023, os Estados Unidos já havia aplicado 367 milhões de doses da vacina Pfizer-BioNTech.

Contatada pelo Estadão Verifica, a farmacêutica Pfizer respondeu que “com base nas análises contínuas destes e de outros dados de segurança realizadas pela Pfizer, BioNTech e Autoridades de Saúde em todo o mundo, nossa vacina contra a covid-19 comprova se manter com um perfil risco-benefício altamente positivo”. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) defendem a vacinação e apontam que os benefícios são muitíssimo superiores aos riscos do uso do imunizante.

Enfermeira segura vacina da Pfizer contra a covid-19. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Efeitos colaterais da Pfizer

A alegação sobre os “mais de mil efeitos colaterais da vacina” também é uma distorção. Nas últimas páginas, o relatório informa uma lista de problemas que devem ser monitorados, o que são chamados de “eventos adversos de interesse especial”.

As doenças, que ocupam nove páginas da análise, apontam eventos que poderiam vir ou não a ser relacionados com a vacina e que precisariam ser monitorados e estudados para confirmar ou descartar a ligação. Assim, a lista não confirma que as doenças citadas são consequências da vacinação ou que o imunizante tenha induzido os efeitos colaterais. O monitoramento dos efeitos é indicado para uma “cuidadosa investigação, visando o diagnóstico e o possível tratamento”, diz a página 47 do documento.

O manual de vigilância do Ministério da Saúde explica que um evento adverso pós-vacinação é “qualquer ocorrência médica indesejada após a vacinação, não possuindo necessariamente uma relação causal com o uso de uma vacina ou outro imunobiológico”. A bula da Pifzer destinada aos pacientes aponta as reações adversas em estudos clínicos com a vacina Comirnaty em pessoas com 5 anos de idade ou mais:

- Reações muito comuns (que ocorrem em 10% dos pacientes): dor de cabeça, diarreia, dor nas articulações, dor muscular, dor e inchaço no local de injeção, cansaço, calafrios e febre.

- Reações comuns, (entre 1% e 10% dos pacientes): náusea, vômito e vermelhidão no local de injeção.

- Reações incomuns (entre 0,01% e 1% dos pacientes): aumento dos gânglios linfáticos (ou ínguas), reações de hipersensibilidade [por exemplo, erupção cutânea (lesão na pele), prurido (coceira), urticária (alergia da pele com forte coceira), angioedema (inchaço das partes mais profundas da pele ou da mucosa)], diminuição de apetite, insônia, letargia (cansaço e lentidão de reações e reflexos), hiperidrose (suor excessivo), suor noturno, dor nos membros (braço), astenia (fraqueza, cansaço físico intenso), sensação de mal-estar e prurido no local de injeção.

- Reações raras (entre 0,01% e 0,1% dos pacientes): paralisia facial aguda.

- Reações muito raras (menos de 0,01% dos pacientes): miocardite (infecção das fibras do coração) e pericardite (inflamação do revestimento externo do coração).

- Desconhecidas (não podem ser estimadas a partir dos dados disponíveis): reação alérgica grave (anafilaxia), parestesia (aparecimento, sem estimulação, de sensações espontâneas e mal definidas (“formigamento”), hipoestesia (diminuição da sensibilidade), eritema multiforme (reação na pele que causa manchas ou placas vermelhas, que se parecem com um alvo ou “olho de búfalo” e apresenta um centro vermelho escuro rodeado por halos vermelhos e pálidos), inchaço extenso do membro vacinado, inchaço da face (pode ocorrer inchaço da face em pacientes que receberam preenchedores dermatológicos faciais).

Documentos não foram “escondidos”

Ao contrário do que diz a publicação no Instagram, os documentos do imunizante da Pfizer não estavam sendo “escondidos” pela farmacêutica e pela agência americana. Em 2021, o grupo Médicos Profissionais de Saúde Pública pela Transparência solicitou a liberação de toda documentação analisada pela FDA para autorizar o uso da vacina.

Em resposta ao pedido, o órgão regulatório informou que seriam necessários 55 anos até que todas as informações fossem disponibilizadas. De acordo com a agência, não há pessoal e/ou recursos suficientes para atender o pedido no prazo estipulado. A FDA afirmou que se trata de um pedido com mais de 329 mil páginas de documentos e que seria preciso processar 80 mil páginas por mês.

O órgão regulatório norte-americano pediu para entregar 500 páginas da documentação mensalmente, a fim de analisar partes que poderiam haver informações comerciais confidenciais da Pfizer-BioNTech e dados pessoais de envolvidos nos testes clínicos. Os médicos solicitantes, no entanto, alegaram que as informações sobre a Pfizer são de interesse público e pediram o cumprimento até março de 2022.

Em janeiro do ano passado, o juiz Mark T. Pittman aceitou o argumento do grupo e determinou que a agência sanitária entregasse 55 mil páginas a cada mês, a partir de março. Os documentos deveriam ser tarjados para ocultar informações confidenciais. O grupo disponibiliza os relatórios da Pfizer no site da organização, com respaldo na Lei da Liberdade de Informação (FOIA).

Fachada do escritório da Pfizer em Puurs, Bélgica Foto: REUTERS/Johanna Geron

A Pfizer informou que não comenta documentos publicados nas redes sociais e que há um portal da empresa destinado para comunicação de informações relacionadas a relatos de eventos adversos após a vacina contra a covid-19.

O Estadão Verifica procurou Ricardo Junqueira pelas redes sociais, que não respondeu a solicitação.

Como lidar com postagens do tipo: O uso fora de contexto de relatórios e testes de imunizantes é uma tática comum para desinformar sobre a segurança das vacinas. Para fugir das alegações falsas, é importante ficar atento aos pronunciamentos oficiais feitos por órgãos de vigilância e do Ministério da Saúde sobre estudos ligados à vacinação.

O que estão compartilhando: que um relatório “escondido” pela farmacêutica Pfizer e pela agência sanitária dos Estados Unidos, Food and Drug Administration (FDA), revelaria que a vacina contra covid teria causado a morte de 1,2 mil pessoas e mais de mil efeitos colaterais.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O documento usado como fonte das alegações não é sigiloso, nem recente, e leva em conta dados não confirmados sobre efeitos colaterais. Trata-se de uma análise de mais de 42 mil relatos pós-imunização nos Estados Unidos e outros países entre 10 de dezembro de 2020 e 28 de fevereiro de 2021. O relatório registra 1,2 mil óbitos, mas não há relação comprovada de causa e efeito com a vacina.

O Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, que monitora dados sobre reações adversas às vacinas contra covid-19, informa que foram confirmadas 9 mortes com causa atribuída aos imunizantes entre 14 de dezembro de 2020 e 1º de março de 2023. Nenhuma delas foi relacionada à vacina da Pfizer. Ao todo, mais de 672 milhões de doses de vacinas foram aplicadas nos EUA — ou seja, a taxa de incidência de mortes é de 0,00000001%.

O relatório não comprova mortes decorrentes da vacinação ou mais de mil efeitos colaterais. Foto: Foto

Saiba mais: Uma postagem no Instagram distorce dados do relatório da Pfizer e incentiva a não-vacinação. O documento é intitulado “BNT162b2 - Análise acumulativa de relatórios de eventos adversos pós-autorização” — o início é o código de identificação da vacina da Pfizer. A análise expõe dados relacionados ao monitoramento da segurança do imunizante após autorização do uso emergencial nos Estados Unidos, em 2020.

O relatório foi divulgado por sites não-oficiais em 2021 e não foi reconhecido na época pela farmacêutica. No entanto, a FDA confirmou que “faz parte de um documento maior enviado pela Pfizer-BioNTech”. Em 2022, a agência sanitária norte-americana passou a publicar milhares de páginas relacionadas à avaliação de segurança da vacina contra a covid-19, por determinação da Justiça.

Mortes não tem relação com vacinação

Como publicou o Comprova em 2021, o relatório foi usado em um pedido de licença biológica (BDA) do imunizante. O documento analisou 42.086 casos de pessoas vacinadas nos Estados Unidos e em outros países. Houve relato de 1.223 mortes entre em 10 de dezembro de 2020 e 28 de fevereiro de 2021. No documento, fica claro que não há relação confirmada de causa e efeito entre os óbitos e a vacina.

De 14 de dezembro de 2020 a 1º de março de 2023, o CDC registrou 19.476 relatos de mortes após a aplicação das vacinas contra covid-19, mas em apenas 9 desses casos a vacina foi confirmada como a causa do óbito. Nenhum deles está relacionado à vacina da Pfizer; as mortes foram causadas após aplicação do imunizante J&J/Janssen. Os relatos de morte pós-vacinação são revisados por médicos do órgão de saúde americano, que analisam certidões de óbito, autópsias e registros médicos. A FDA exige que os profissionais de saúde relatem qualquer morte ocorrida depois da vacinação, mesmo que não esteja claro se a vacina foi a causa, a fim de que isso seja investigado.

Até 26 de abril de 2023, os Estados Unidos já havia aplicado 367 milhões de doses da vacina Pfizer-BioNTech.

Contatada pelo Estadão Verifica, a farmacêutica Pfizer respondeu que “com base nas análises contínuas destes e de outros dados de segurança realizadas pela Pfizer, BioNTech e Autoridades de Saúde em todo o mundo, nossa vacina contra a covid-19 comprova se manter com um perfil risco-benefício altamente positivo”. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) defendem a vacinação e apontam que os benefícios são muitíssimo superiores aos riscos do uso do imunizante.

Enfermeira segura vacina da Pfizer contra a covid-19. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Efeitos colaterais da Pfizer

A alegação sobre os “mais de mil efeitos colaterais da vacina” também é uma distorção. Nas últimas páginas, o relatório informa uma lista de problemas que devem ser monitorados, o que são chamados de “eventos adversos de interesse especial”.

As doenças, que ocupam nove páginas da análise, apontam eventos que poderiam vir ou não a ser relacionados com a vacina e que precisariam ser monitorados e estudados para confirmar ou descartar a ligação. Assim, a lista não confirma que as doenças citadas são consequências da vacinação ou que o imunizante tenha induzido os efeitos colaterais. O monitoramento dos efeitos é indicado para uma “cuidadosa investigação, visando o diagnóstico e o possível tratamento”, diz a página 47 do documento.

O manual de vigilância do Ministério da Saúde explica que um evento adverso pós-vacinação é “qualquer ocorrência médica indesejada após a vacinação, não possuindo necessariamente uma relação causal com o uso de uma vacina ou outro imunobiológico”. A bula da Pifzer destinada aos pacientes aponta as reações adversas em estudos clínicos com a vacina Comirnaty em pessoas com 5 anos de idade ou mais:

- Reações muito comuns (que ocorrem em 10% dos pacientes): dor de cabeça, diarreia, dor nas articulações, dor muscular, dor e inchaço no local de injeção, cansaço, calafrios e febre.

- Reações comuns, (entre 1% e 10% dos pacientes): náusea, vômito e vermelhidão no local de injeção.

- Reações incomuns (entre 0,01% e 1% dos pacientes): aumento dos gânglios linfáticos (ou ínguas), reações de hipersensibilidade [por exemplo, erupção cutânea (lesão na pele), prurido (coceira), urticária (alergia da pele com forte coceira), angioedema (inchaço das partes mais profundas da pele ou da mucosa)], diminuição de apetite, insônia, letargia (cansaço e lentidão de reações e reflexos), hiperidrose (suor excessivo), suor noturno, dor nos membros (braço), astenia (fraqueza, cansaço físico intenso), sensação de mal-estar e prurido no local de injeção.

- Reações raras (entre 0,01% e 0,1% dos pacientes): paralisia facial aguda.

- Reações muito raras (menos de 0,01% dos pacientes): miocardite (infecção das fibras do coração) e pericardite (inflamação do revestimento externo do coração).

- Desconhecidas (não podem ser estimadas a partir dos dados disponíveis): reação alérgica grave (anafilaxia), parestesia (aparecimento, sem estimulação, de sensações espontâneas e mal definidas (“formigamento”), hipoestesia (diminuição da sensibilidade), eritema multiforme (reação na pele que causa manchas ou placas vermelhas, que se parecem com um alvo ou “olho de búfalo” e apresenta um centro vermelho escuro rodeado por halos vermelhos e pálidos), inchaço extenso do membro vacinado, inchaço da face (pode ocorrer inchaço da face em pacientes que receberam preenchedores dermatológicos faciais).

Documentos não foram “escondidos”

Ao contrário do que diz a publicação no Instagram, os documentos do imunizante da Pfizer não estavam sendo “escondidos” pela farmacêutica e pela agência americana. Em 2021, o grupo Médicos Profissionais de Saúde Pública pela Transparência solicitou a liberação de toda documentação analisada pela FDA para autorizar o uso da vacina.

Em resposta ao pedido, o órgão regulatório informou que seriam necessários 55 anos até que todas as informações fossem disponibilizadas. De acordo com a agência, não há pessoal e/ou recursos suficientes para atender o pedido no prazo estipulado. A FDA afirmou que se trata de um pedido com mais de 329 mil páginas de documentos e que seria preciso processar 80 mil páginas por mês.

O órgão regulatório norte-americano pediu para entregar 500 páginas da documentação mensalmente, a fim de analisar partes que poderiam haver informações comerciais confidenciais da Pfizer-BioNTech e dados pessoais de envolvidos nos testes clínicos. Os médicos solicitantes, no entanto, alegaram que as informações sobre a Pfizer são de interesse público e pediram o cumprimento até março de 2022.

Em janeiro do ano passado, o juiz Mark T. Pittman aceitou o argumento do grupo e determinou que a agência sanitária entregasse 55 mil páginas a cada mês, a partir de março. Os documentos deveriam ser tarjados para ocultar informações confidenciais. O grupo disponibiliza os relatórios da Pfizer no site da organização, com respaldo na Lei da Liberdade de Informação (FOIA).

Fachada do escritório da Pfizer em Puurs, Bélgica Foto: REUTERS/Johanna Geron

A Pfizer informou que não comenta documentos publicados nas redes sociais e que há um portal da empresa destinado para comunicação de informações relacionadas a relatos de eventos adversos após a vacina contra a covid-19.

O Estadão Verifica procurou Ricardo Junqueira pelas redes sociais, que não respondeu a solicitação.

Como lidar com postagens do tipo: O uso fora de contexto de relatórios e testes de imunizantes é uma tática comum para desinformar sobre a segurança das vacinas. Para fugir das alegações falsas, é importante ficar atento aos pronunciamentos oficiais feitos por órgãos de vigilância e do Ministério da Saúde sobre estudos ligados à vacinação.

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