O que estão compartilhando: vídeo exibe a foto de quatro homens com a seguinte inscrição na tela: “4 presos políticos já foram a óbito”, numa referência aos acusados de participações no ataque à sede dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023.
O Estadão Verifica apurou e concluiu que: falta contexto. Três das pessoas que aparecem no post morreram por acidentes enquanto estavam em liberdade condicional. As informações sobre as mortes não permitem vinculá-las à prisão por suposto envolvimento nos atos de 8 de janeiro de 2023. Apenas Cleriston Pereira da Cunha morreu na detenção, tendo parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) favorável à sua soltura devido a problemas de saúde.
Saiba mais: Mais de duas mil pessoas foram presas acusadas de participação nos atos de depredação em Brasília, em 8 de janeiro de 2023. Dentre elas, os homens que aparecem na postagem. No entanto, ao não informar o contexto em que eles morreram, a postagem pode dar a entender que os óbitos estão diretamente relacionados à detenção, o que não é verdade.
Dos quatro que aparecem na postagem, apenas Cleriston Pereira da Cunha, de 46 anos, que era conhecido como “Clezão”, morreu na prisão, após sofrer mal súbito no dia 20 de novembro de 2023. Enquanto estava preso, Cleriston recebia medicamentos controlados para diabetes e hipertensão e era acompanhado por uma equipe médica. Devido aos problemas de saúde, a defesa havia pedido que ele fosse colocado em liberdade provisória. A PGR havia dado parecer favorável em 1º de setembro, mas ainda não havia decisão do STF sobre a solicitação até o dia em que Cleriston passou mal e morreu.
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Com exceção de Cleriston, todos os outros que aparecem na postagem morreram enquanto estavam em liberdade condicional, vítimas de acidentes. O caminhoneiro Eder Parecido Jacinto, 58 anos, morreu no dia 2 de março deste ano, devido a complicações após se machucar enquanto fazia a manutenção de seu caminhão: Eder caiu do andaime e fraturou o fêmur e a coluna. Três dias depois, a família divulgou uma nota em que afirma que a causa da morte nada tem a ver com a sua prisão.
“A causa da morte do cidadão Eder Parecido Jacinto deu-se por motivos de acidente de trabalho, haja vista que o mesmo encontrava-se trabalhando quando fora acometido por tal infortúnio”, diz trecho da nota (veja a íntegra no arquivo abaixo).
O Estadão Verifica confirmou a autenticidade do documento com a advogada Kllecia Kalhiane Mota Costa, que assina nota e é cunhada de Eder. Ela conta que Eder foi preso no QG do Exército, em Brasília, ficou detido por sete meses e teve a prisão domiciliar concedida após sua defesa provar que ele tinha problema de pressão alta e estava tendo dificuldades para conseguir a medicação na prisão.
Segundo Kllecia, a família teve que se manifestar na nota porque “as pessoas estavam usando a morte dele para querer engajamento nas redes sociais”. Ela conta que havia uma série de postagens com alegações falsas, dizendo, por exemplo, que a Justiça o tinha acionado quando ele foi hospitalizado ao constatar, pelo monitoramento eletrônico, que ele estava em localização não autorizada. “Pelo contrário, a central de monitoramento permitiu a retirada do equipamento para que ele realizasse o tratamento médico. Não houve nenhum impedimento por parte da Justiça. Se ele estivesse preso, o acidente nem teria ocorrido”, diz Kllecia.
Acusado de incitação aos ataques de 8 de janeiro, Giovanni Carlos dos Santos, de 46 anos, morreu em 24 de janeiro deste ano após cair de uma árvore, em São José dos Campos (SP). Ele havia sido preso em janeiro de 2023 e teve liberdade provisória concedida em março do mesmo ano. Giovanni fazia uso de tornozeleira eletrônica. O Estadão Verifica contatou a advogada Valquíria Durães, que o defendia, para ter mais detalhes do acidente. Porém, ela disse que não faria nenhum tipo de comentário sobre Giovanni, e que seguia pedido da família, que não quer que nada em relação a ele seja divulgado.
Outro preso pelos atentados às sedes dos Três Poderes que aparece na postagem é Antonio Marques da Silva, de 49 anos. Ele foi preso em janeiro de 2023 em frente ao QG do Exército em Brasília e foi solto no mesmo mês, mediante a imposição de medidas cautelares, como o uso de tonozeleira eletrônica. Ele morreu nove meses depois, em 29 de outubro, também após sofrer um acidente, na cidade de Barra do Garças (MT), onde morava. Segundo matéria do Metrópoles, a causa da morte informada pela defesa à Justiça foi “choque neurogênico e traumatismo crânio encefálico grave”. Matéria do R7 também cita traumatismo crânio encefálico grave devido a acidente de trabalho.