Proteína spike é eliminada do corpo após vacinação, ao contrário do que diz médico em post


Postagem mente ao afirmar que imunizantes induzem produção de uma proteína mais tóxica para o corpo do que a adquirida na infeção por covid

Por Luciana Marschall

O que estão compartilhando: post no Instagram em que médico afirma que as vacinas de mRNA contra a covid-19 induzem o corpo a produzir a proteína spike em quantidades maiores que o próprio vírus. Segundo ele, há potencial de deixar sequelas. O médico diz que a própria Pfizer teria admitido o perigo em documentos vazados.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A proteína spike é eliminada do corpo após a vacinação e os eventos adversos graves associados aos imunizantes com essa tecnologia são raros e passageiros. Também é falso que a Pfizer tenha admitido que a spike permanece no corpo causando sequelas. O relatório citado no post contém dados de estudos em ratos e cita que a proteína se desintegra no corpo.

Procurado, o médico apagou a postagem verificada aqui. Ao Verifica, ele reiterou acreditar que a proteína spike é um risco para a saúde.

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Pfizer afirma, em documento, que a proteína spike é eliminada do corpo; conteúdo foi publicado pela agência reguladora da Austrália, e não "vazado". Foto: Reprodução

Saiba mais: Em um post no Instagram, um médico diz que o vírus SARS-CoV-2, causador da covid-19, possui uma proteína “extremamente tóxica” que inflama os órgãos. Segundo ele, os imunizantes induzem o corpo a produzir a mesma proteína inflamatória, mas no caso das vacinas essa substância se espalharia mais, com potencial de causar sequelas. Não há comprovação para essas alegações.

A proteína spike é uma estrutura existente no SARS-CoV-2, e é responsável por ligar o vírus à célula humana. Os imunizantes de tecnologia RNA mensageiro, como o da Pfizer e o da Moderna, ensinam o corpo a produzir essa proteína e, assim, o sistema imunológico cria anticorpos contra ela, conseguindo, posteriormente, identificar e combater o coronavírus caso ele infecte o corpo.

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Ao contrário do que é alegado no post, a proteína produzida a partir da vacina não permanece no corpo causando inflamação a longo prazo. Conforme a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi, após a spike induzir a resposta imunológica, ela é desintegrada: “Essa proteína não fica permanentemente nas células. Ela só é fabricada e induz a resposta imunológica, o reconhecimento e a fabricação de anticorpos contra ela, que é o principal antígeno do vírus”, disse.

Segundo Mônica, os imunizantes não contém a proteína: apenas ensinam o corpo a produzi-la. “A vacina tem o código genético, que é o mensageiro, para o corpo fabricar a proteína, e não para fabricar o vírus inteiro”, explicou.

A presidente da SBIm ressalta que outras vacinas usam outras proteínas. “A proteína spike foi o antígeno que se optou neste caso. Outras plataformas estudadas, para outras vacinas, usam outras proteínas, outros componentes de vírus como antígeno ou até o vírus inteiro morto”, afirmou.

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Além disso, destaca a médica, as inflamações provenientes da covid-19, como a síndrome inflamatória multissistêmica, são causadas pelo vírus inteiro. Não há como saber, até o momento, se a proteína é particularmente responsável por algum processo inflamatório. “A spike faz parte do vírus, não existe um dado estatístico de uma parte do vírus. Quando se avalia o impacto da doença você não está avaliando o antígeno (proteína), você está avaliando o vírus inteiro”, explicou.

Pfizer já distribuiu mais de 4.6 bilhões de doses da vacina em mais de 181 países. (REUTERS/Kai Pfaffenbach/File Photo) 

Como explicou recentemente o Comprova, coalizão de veículos de imprensa da qual o Verifica participa, a possibilidade de a proteína spike produzida pelas vacinas ser tóxica é discutida por pesquisadores. O assunto ainda está sob evolução, mas estudos concluem que os imunizantes “são uma boa aposta por serem muito menos tóxicos do que as proteínas spike produzidas durante as infecções virais que previnem”.

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Um artigo publicado pela Universidade de Berkeley defende que a quantidade de proteína spike que circula no corpo após a vacinação é muito menos concentrada do que as quantidades observadas em pacientes com covid-19 grave.

Procurada pela reportagem, a Pfizer afirmou que a proteína spike, assim como todos os componentes que participaram da resposta imunológica à vacina, são eliminados do corpo em poucas semanas pelos mecanismos fisiológicos normais do sistema celular. A farmacêutica reforça que a composição do imunizante e os eventos adversos que podem ser relacionados à vacina que foram identificados durante as fases de estudo pré e pós comercialização constam na bula do produto.

Por fim, a empresa ressalta já ter distribuído mais de 4.6 bilhões de doses da vacina em mais de 181 países e não há, até o momento, alerta de segurança ou preocupação. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Saúde mantêm a recomendação pela continuidade da vacinação, uma vez que, até o momento, os benefícios das vacinas superam em muito os riscos.

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Documento da Pfizer não foi vazado e cita eliminação da spike

O autor da postagem afirma existir um documento da Pfizer que confirmaria que a spike fica no corpo após a vacinação. O Verifica procurou o médico João Vitor Nassaralla, que citou um relatório de 2021 da Administração de Produtos Terapêuticos (TGA), agência australiana similar à Anvisa, com dados submetidos pela Pfizer. No entanto, ao contrário do afirmado na postagem, o documento está disponível no site da TGA — não é, portanto, uma informação “vazada”.

Nassaralla citou a página 45 do documento, que demonstra a existência de nanopartículas de lipídio, que envolvem o RNA-mensageiro injetado, em dezenas de órgãos ao longo de 48 horas.

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É preciso levar em conta que o documento em questão apresenta dados de estudos não clínicos, ou seja, realizados na primeira etapa de desenvolvimento da vacina. Como explica a Anvisa, nesta fase são realizados testes em animais com o objetivo de investigar a ação e a segurança da molécula em laboratório. É o momento em que a vacina passa por ensaios que auxiliam os pesquisadores a verificar a dose adequada a ser administrada e a conhecer o mecanismo de ação do produto, além de determinar a segurança e a capacidade de provocar resposta imune.

O documento informa que esta etapa, com testes feitos em ratos, demonstrou que o RNA mensageiro da vacina era degradado por múltiplas vias. A proteína spike sofreria proteólise, ou seja, também seria eliminada.

Naquele momento, os estudos farmacocinéticos eram limitados e dados apontavam poder ser encontrado RNA mensageiro e a proteína principalmente no local da injeção, no fígado e provavelmente nos gânglios linfáticos (estruturas do corpo que atuam como “filtros”). Os estudos mostraram, naquele contexto, uma eliminação lenta de lipídio utilizado em testes e retenção no fígado, mas que se completava em 14 dias. Essa alegação do médico também foi checada em outro post pela Lupa.

Ao Verifica, a Pfizer afirmou não ter conhecimento de documentos vazados circulando em mídias sociais.

Postagens com esse a alegação de “documentos vazados da Pfizer” têm sido frequentes e muitas vezes estão associadas a uma decisão judicial que obrigou a agência reguladora dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), a liberar documentos que levaram à aprovação da vacina naquele país. Ou seja, não há vazamento do material, mas sim uma determinação judicial para a publicação dele, com base na lei de acesso à informação norte-americana. Posts oriundos dessas alegações foram considerados falsos pelo Comprova.

Gráfico mostra dados de mortalidade apenas no Japão

No post, o médico sugere que supostas sequelas silenciosas provenientes da proteína spike estão afetando mais pessoas que a covid-19 e que, por isso, as taxas de mortalidade seguem aumentando mesmo com o fim da pandemia.

Para ilustrar esse argumento, ele apresenta um gráfico em barras que mostra um suposto crescimento de mortes entre 2018 e 2023. Aumentando a imagem é possível observar que a ilustração foi gerada com dados apenas do Japão, entre 2018 e 2023.

Os números são do site Mortality Watch, que afirma agregar estatísticas sobre mortes de diferentes bancos de dados. Ao observar estatísticas de uma janela de tempo maior no mesmo site, nota-se que o aumento de mortalidade no Japão não teve início após a pandemia e o uso das vacinas. Na realidade, a alta ocorre desde 2016.

Não é correto afirmar que a alta na mortalidade acontece em todo o mundo. No Brasil, por exemplo, os dados compilados no site mostram que a mortalidade diminuiu desde 2021, quando as vacinas começaram a ser aplicadas.

O que diz o autor?

O médico João Vitor Nassaralla afirma que a opinião publicada no post tem base em anos de estudo e critica a falta de transparência da Pfizer em relação ao imunizante. Ele alega que a vacina não tem mecanismos para controlar com quais células as nanopartículas de lipídios vão se fundir.

O médico reitera acreditar que a proteína spike é um risco para a saúde e repete que ela causa inflamação persistente no órgão em que se acumula.

Sobre a alegação relacionada ao excesso de mortalidade, ele defende haver um pico acima da média no aumento de óbitos e cita como exemplo a Inglaterra, mas não apresenta dados que comprovem a alegação no mundo todo ou que o aumento esteja associado à vacinação.

O post foi deletado da rede social após contato da reportagem com o autor.

O que estão compartilhando: post no Instagram em que médico afirma que as vacinas de mRNA contra a covid-19 induzem o corpo a produzir a proteína spike em quantidades maiores que o próprio vírus. Segundo ele, há potencial de deixar sequelas. O médico diz que a própria Pfizer teria admitido o perigo em documentos vazados.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A proteína spike é eliminada do corpo após a vacinação e os eventos adversos graves associados aos imunizantes com essa tecnologia são raros e passageiros. Também é falso que a Pfizer tenha admitido que a spike permanece no corpo causando sequelas. O relatório citado no post contém dados de estudos em ratos e cita que a proteína se desintegra no corpo.

Procurado, o médico apagou a postagem verificada aqui. Ao Verifica, ele reiterou acreditar que a proteína spike é um risco para a saúde.

Pfizer afirma, em documento, que a proteína spike é eliminada do corpo; conteúdo foi publicado pela agência reguladora da Austrália, e não "vazado". Foto: Reprodução

Saiba mais: Em um post no Instagram, um médico diz que o vírus SARS-CoV-2, causador da covid-19, possui uma proteína “extremamente tóxica” que inflama os órgãos. Segundo ele, os imunizantes induzem o corpo a produzir a mesma proteína inflamatória, mas no caso das vacinas essa substância se espalharia mais, com potencial de causar sequelas. Não há comprovação para essas alegações.

A proteína spike é uma estrutura existente no SARS-CoV-2, e é responsável por ligar o vírus à célula humana. Os imunizantes de tecnologia RNA mensageiro, como o da Pfizer e o da Moderna, ensinam o corpo a produzir essa proteína e, assim, o sistema imunológico cria anticorpos contra ela, conseguindo, posteriormente, identificar e combater o coronavírus caso ele infecte o corpo.

Ao contrário do que é alegado no post, a proteína produzida a partir da vacina não permanece no corpo causando inflamação a longo prazo. Conforme a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi, após a spike induzir a resposta imunológica, ela é desintegrada: “Essa proteína não fica permanentemente nas células. Ela só é fabricada e induz a resposta imunológica, o reconhecimento e a fabricação de anticorpos contra ela, que é o principal antígeno do vírus”, disse.

Segundo Mônica, os imunizantes não contém a proteína: apenas ensinam o corpo a produzi-la. “A vacina tem o código genético, que é o mensageiro, para o corpo fabricar a proteína, e não para fabricar o vírus inteiro”, explicou.

A presidente da SBIm ressalta que outras vacinas usam outras proteínas. “A proteína spike foi o antígeno que se optou neste caso. Outras plataformas estudadas, para outras vacinas, usam outras proteínas, outros componentes de vírus como antígeno ou até o vírus inteiro morto”, afirmou.

Além disso, destaca a médica, as inflamações provenientes da covid-19, como a síndrome inflamatória multissistêmica, são causadas pelo vírus inteiro. Não há como saber, até o momento, se a proteína é particularmente responsável por algum processo inflamatório. “A spike faz parte do vírus, não existe um dado estatístico de uma parte do vírus. Quando se avalia o impacto da doença você não está avaliando o antígeno (proteína), você está avaliando o vírus inteiro”, explicou.

Pfizer já distribuiu mais de 4.6 bilhões de doses da vacina em mais de 181 países. (REUTERS/Kai Pfaffenbach/File Photo) 

Como explicou recentemente o Comprova, coalizão de veículos de imprensa da qual o Verifica participa, a possibilidade de a proteína spike produzida pelas vacinas ser tóxica é discutida por pesquisadores. O assunto ainda está sob evolução, mas estudos concluem que os imunizantes “são uma boa aposta por serem muito menos tóxicos do que as proteínas spike produzidas durante as infecções virais que previnem”.

Um artigo publicado pela Universidade de Berkeley defende que a quantidade de proteína spike que circula no corpo após a vacinação é muito menos concentrada do que as quantidades observadas em pacientes com covid-19 grave.

Procurada pela reportagem, a Pfizer afirmou que a proteína spike, assim como todos os componentes que participaram da resposta imunológica à vacina, são eliminados do corpo em poucas semanas pelos mecanismos fisiológicos normais do sistema celular. A farmacêutica reforça que a composição do imunizante e os eventos adversos que podem ser relacionados à vacina que foram identificados durante as fases de estudo pré e pós comercialização constam na bula do produto.

Por fim, a empresa ressalta já ter distribuído mais de 4.6 bilhões de doses da vacina em mais de 181 países e não há, até o momento, alerta de segurança ou preocupação. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Saúde mantêm a recomendação pela continuidade da vacinação, uma vez que, até o momento, os benefícios das vacinas superam em muito os riscos.

Documento da Pfizer não foi vazado e cita eliminação da spike

O autor da postagem afirma existir um documento da Pfizer que confirmaria que a spike fica no corpo após a vacinação. O Verifica procurou o médico João Vitor Nassaralla, que citou um relatório de 2021 da Administração de Produtos Terapêuticos (TGA), agência australiana similar à Anvisa, com dados submetidos pela Pfizer. No entanto, ao contrário do afirmado na postagem, o documento está disponível no site da TGA — não é, portanto, uma informação “vazada”.

Nassaralla citou a página 45 do documento, que demonstra a existência de nanopartículas de lipídio, que envolvem o RNA-mensageiro injetado, em dezenas de órgãos ao longo de 48 horas.

É preciso levar em conta que o documento em questão apresenta dados de estudos não clínicos, ou seja, realizados na primeira etapa de desenvolvimento da vacina. Como explica a Anvisa, nesta fase são realizados testes em animais com o objetivo de investigar a ação e a segurança da molécula em laboratório. É o momento em que a vacina passa por ensaios que auxiliam os pesquisadores a verificar a dose adequada a ser administrada e a conhecer o mecanismo de ação do produto, além de determinar a segurança e a capacidade de provocar resposta imune.

O documento informa que esta etapa, com testes feitos em ratos, demonstrou que o RNA mensageiro da vacina era degradado por múltiplas vias. A proteína spike sofreria proteólise, ou seja, também seria eliminada.

Naquele momento, os estudos farmacocinéticos eram limitados e dados apontavam poder ser encontrado RNA mensageiro e a proteína principalmente no local da injeção, no fígado e provavelmente nos gânglios linfáticos (estruturas do corpo que atuam como “filtros”). Os estudos mostraram, naquele contexto, uma eliminação lenta de lipídio utilizado em testes e retenção no fígado, mas que se completava em 14 dias. Essa alegação do médico também foi checada em outro post pela Lupa.

Ao Verifica, a Pfizer afirmou não ter conhecimento de documentos vazados circulando em mídias sociais.

Postagens com esse a alegação de “documentos vazados da Pfizer” têm sido frequentes e muitas vezes estão associadas a uma decisão judicial que obrigou a agência reguladora dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), a liberar documentos que levaram à aprovação da vacina naquele país. Ou seja, não há vazamento do material, mas sim uma determinação judicial para a publicação dele, com base na lei de acesso à informação norte-americana. Posts oriundos dessas alegações foram considerados falsos pelo Comprova.

Gráfico mostra dados de mortalidade apenas no Japão

No post, o médico sugere que supostas sequelas silenciosas provenientes da proteína spike estão afetando mais pessoas que a covid-19 e que, por isso, as taxas de mortalidade seguem aumentando mesmo com o fim da pandemia.

Para ilustrar esse argumento, ele apresenta um gráfico em barras que mostra um suposto crescimento de mortes entre 2018 e 2023. Aumentando a imagem é possível observar que a ilustração foi gerada com dados apenas do Japão, entre 2018 e 2023.

Os números são do site Mortality Watch, que afirma agregar estatísticas sobre mortes de diferentes bancos de dados. Ao observar estatísticas de uma janela de tempo maior no mesmo site, nota-se que o aumento de mortalidade no Japão não teve início após a pandemia e o uso das vacinas. Na realidade, a alta ocorre desde 2016.

Não é correto afirmar que a alta na mortalidade acontece em todo o mundo. No Brasil, por exemplo, os dados compilados no site mostram que a mortalidade diminuiu desde 2021, quando as vacinas começaram a ser aplicadas.

O que diz o autor?

O médico João Vitor Nassaralla afirma que a opinião publicada no post tem base em anos de estudo e critica a falta de transparência da Pfizer em relação ao imunizante. Ele alega que a vacina não tem mecanismos para controlar com quais células as nanopartículas de lipídios vão se fundir.

O médico reitera acreditar que a proteína spike é um risco para a saúde e repete que ela causa inflamação persistente no órgão em que se acumula.

Sobre a alegação relacionada ao excesso de mortalidade, ele defende haver um pico acima da média no aumento de óbitos e cita como exemplo a Inglaterra, mas não apresenta dados que comprovem a alegação no mundo todo ou que o aumento esteja associado à vacinação.

O post foi deletado da rede social após contato da reportagem com o autor.

O que estão compartilhando: post no Instagram em que médico afirma que as vacinas de mRNA contra a covid-19 induzem o corpo a produzir a proteína spike em quantidades maiores que o próprio vírus. Segundo ele, há potencial de deixar sequelas. O médico diz que a própria Pfizer teria admitido o perigo em documentos vazados.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A proteína spike é eliminada do corpo após a vacinação e os eventos adversos graves associados aos imunizantes com essa tecnologia são raros e passageiros. Também é falso que a Pfizer tenha admitido que a spike permanece no corpo causando sequelas. O relatório citado no post contém dados de estudos em ratos e cita que a proteína se desintegra no corpo.

Procurado, o médico apagou a postagem verificada aqui. Ao Verifica, ele reiterou acreditar que a proteína spike é um risco para a saúde.

Pfizer afirma, em documento, que a proteína spike é eliminada do corpo; conteúdo foi publicado pela agência reguladora da Austrália, e não "vazado". Foto: Reprodução

Saiba mais: Em um post no Instagram, um médico diz que o vírus SARS-CoV-2, causador da covid-19, possui uma proteína “extremamente tóxica” que inflama os órgãos. Segundo ele, os imunizantes induzem o corpo a produzir a mesma proteína inflamatória, mas no caso das vacinas essa substância se espalharia mais, com potencial de causar sequelas. Não há comprovação para essas alegações.

A proteína spike é uma estrutura existente no SARS-CoV-2, e é responsável por ligar o vírus à célula humana. Os imunizantes de tecnologia RNA mensageiro, como o da Pfizer e o da Moderna, ensinam o corpo a produzir essa proteína e, assim, o sistema imunológico cria anticorpos contra ela, conseguindo, posteriormente, identificar e combater o coronavírus caso ele infecte o corpo.

Ao contrário do que é alegado no post, a proteína produzida a partir da vacina não permanece no corpo causando inflamação a longo prazo. Conforme a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi, após a spike induzir a resposta imunológica, ela é desintegrada: “Essa proteína não fica permanentemente nas células. Ela só é fabricada e induz a resposta imunológica, o reconhecimento e a fabricação de anticorpos contra ela, que é o principal antígeno do vírus”, disse.

Segundo Mônica, os imunizantes não contém a proteína: apenas ensinam o corpo a produzi-la. “A vacina tem o código genético, que é o mensageiro, para o corpo fabricar a proteína, e não para fabricar o vírus inteiro”, explicou.

A presidente da SBIm ressalta que outras vacinas usam outras proteínas. “A proteína spike foi o antígeno que se optou neste caso. Outras plataformas estudadas, para outras vacinas, usam outras proteínas, outros componentes de vírus como antígeno ou até o vírus inteiro morto”, afirmou.

Além disso, destaca a médica, as inflamações provenientes da covid-19, como a síndrome inflamatória multissistêmica, são causadas pelo vírus inteiro. Não há como saber, até o momento, se a proteína é particularmente responsável por algum processo inflamatório. “A spike faz parte do vírus, não existe um dado estatístico de uma parte do vírus. Quando se avalia o impacto da doença você não está avaliando o antígeno (proteína), você está avaliando o vírus inteiro”, explicou.

Pfizer já distribuiu mais de 4.6 bilhões de doses da vacina em mais de 181 países. (REUTERS/Kai Pfaffenbach/File Photo) 

Como explicou recentemente o Comprova, coalizão de veículos de imprensa da qual o Verifica participa, a possibilidade de a proteína spike produzida pelas vacinas ser tóxica é discutida por pesquisadores. O assunto ainda está sob evolução, mas estudos concluem que os imunizantes “são uma boa aposta por serem muito menos tóxicos do que as proteínas spike produzidas durante as infecções virais que previnem”.

Um artigo publicado pela Universidade de Berkeley defende que a quantidade de proteína spike que circula no corpo após a vacinação é muito menos concentrada do que as quantidades observadas em pacientes com covid-19 grave.

Procurada pela reportagem, a Pfizer afirmou que a proteína spike, assim como todos os componentes que participaram da resposta imunológica à vacina, são eliminados do corpo em poucas semanas pelos mecanismos fisiológicos normais do sistema celular. A farmacêutica reforça que a composição do imunizante e os eventos adversos que podem ser relacionados à vacina que foram identificados durante as fases de estudo pré e pós comercialização constam na bula do produto.

Por fim, a empresa ressalta já ter distribuído mais de 4.6 bilhões de doses da vacina em mais de 181 países e não há, até o momento, alerta de segurança ou preocupação. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Saúde mantêm a recomendação pela continuidade da vacinação, uma vez que, até o momento, os benefícios das vacinas superam em muito os riscos.

Documento da Pfizer não foi vazado e cita eliminação da spike

O autor da postagem afirma existir um documento da Pfizer que confirmaria que a spike fica no corpo após a vacinação. O Verifica procurou o médico João Vitor Nassaralla, que citou um relatório de 2021 da Administração de Produtos Terapêuticos (TGA), agência australiana similar à Anvisa, com dados submetidos pela Pfizer. No entanto, ao contrário do afirmado na postagem, o documento está disponível no site da TGA — não é, portanto, uma informação “vazada”.

Nassaralla citou a página 45 do documento, que demonstra a existência de nanopartículas de lipídio, que envolvem o RNA-mensageiro injetado, em dezenas de órgãos ao longo de 48 horas.

É preciso levar em conta que o documento em questão apresenta dados de estudos não clínicos, ou seja, realizados na primeira etapa de desenvolvimento da vacina. Como explica a Anvisa, nesta fase são realizados testes em animais com o objetivo de investigar a ação e a segurança da molécula em laboratório. É o momento em que a vacina passa por ensaios que auxiliam os pesquisadores a verificar a dose adequada a ser administrada e a conhecer o mecanismo de ação do produto, além de determinar a segurança e a capacidade de provocar resposta imune.

O documento informa que esta etapa, com testes feitos em ratos, demonstrou que o RNA mensageiro da vacina era degradado por múltiplas vias. A proteína spike sofreria proteólise, ou seja, também seria eliminada.

Naquele momento, os estudos farmacocinéticos eram limitados e dados apontavam poder ser encontrado RNA mensageiro e a proteína principalmente no local da injeção, no fígado e provavelmente nos gânglios linfáticos (estruturas do corpo que atuam como “filtros”). Os estudos mostraram, naquele contexto, uma eliminação lenta de lipídio utilizado em testes e retenção no fígado, mas que se completava em 14 dias. Essa alegação do médico também foi checada em outro post pela Lupa.

Ao Verifica, a Pfizer afirmou não ter conhecimento de documentos vazados circulando em mídias sociais.

Postagens com esse a alegação de “documentos vazados da Pfizer” têm sido frequentes e muitas vezes estão associadas a uma decisão judicial que obrigou a agência reguladora dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), a liberar documentos que levaram à aprovação da vacina naquele país. Ou seja, não há vazamento do material, mas sim uma determinação judicial para a publicação dele, com base na lei de acesso à informação norte-americana. Posts oriundos dessas alegações foram considerados falsos pelo Comprova.

Gráfico mostra dados de mortalidade apenas no Japão

No post, o médico sugere que supostas sequelas silenciosas provenientes da proteína spike estão afetando mais pessoas que a covid-19 e que, por isso, as taxas de mortalidade seguem aumentando mesmo com o fim da pandemia.

Para ilustrar esse argumento, ele apresenta um gráfico em barras que mostra um suposto crescimento de mortes entre 2018 e 2023. Aumentando a imagem é possível observar que a ilustração foi gerada com dados apenas do Japão, entre 2018 e 2023.

Os números são do site Mortality Watch, que afirma agregar estatísticas sobre mortes de diferentes bancos de dados. Ao observar estatísticas de uma janela de tempo maior no mesmo site, nota-se que o aumento de mortalidade no Japão não teve início após a pandemia e o uso das vacinas. Na realidade, a alta ocorre desde 2016.

Não é correto afirmar que a alta na mortalidade acontece em todo o mundo. No Brasil, por exemplo, os dados compilados no site mostram que a mortalidade diminuiu desde 2021, quando as vacinas começaram a ser aplicadas.

O que diz o autor?

O médico João Vitor Nassaralla afirma que a opinião publicada no post tem base em anos de estudo e critica a falta de transparência da Pfizer em relação ao imunizante. Ele alega que a vacina não tem mecanismos para controlar com quais células as nanopartículas de lipídios vão se fundir.

O médico reitera acreditar que a proteína spike é um risco para a saúde e repete que ela causa inflamação persistente no órgão em que se acumula.

Sobre a alegação relacionada ao excesso de mortalidade, ele defende haver um pico acima da média no aumento de óbitos e cita como exemplo a Inglaterra, mas não apresenta dados que comprovem a alegação no mundo todo ou que o aumento esteja associado à vacinação.

O post foi deletado da rede social após contato da reportagem com o autor.

O que estão compartilhando: post no Instagram em que médico afirma que as vacinas de mRNA contra a covid-19 induzem o corpo a produzir a proteína spike em quantidades maiores que o próprio vírus. Segundo ele, há potencial de deixar sequelas. O médico diz que a própria Pfizer teria admitido o perigo em documentos vazados.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A proteína spike é eliminada do corpo após a vacinação e os eventos adversos graves associados aos imunizantes com essa tecnologia são raros e passageiros. Também é falso que a Pfizer tenha admitido que a spike permanece no corpo causando sequelas. O relatório citado no post contém dados de estudos em ratos e cita que a proteína se desintegra no corpo.

Procurado, o médico apagou a postagem verificada aqui. Ao Verifica, ele reiterou acreditar que a proteína spike é um risco para a saúde.

Pfizer afirma, em documento, que a proteína spike é eliminada do corpo; conteúdo foi publicado pela agência reguladora da Austrália, e não "vazado". Foto: Reprodução

Saiba mais: Em um post no Instagram, um médico diz que o vírus SARS-CoV-2, causador da covid-19, possui uma proteína “extremamente tóxica” que inflama os órgãos. Segundo ele, os imunizantes induzem o corpo a produzir a mesma proteína inflamatória, mas no caso das vacinas essa substância se espalharia mais, com potencial de causar sequelas. Não há comprovação para essas alegações.

A proteína spike é uma estrutura existente no SARS-CoV-2, e é responsável por ligar o vírus à célula humana. Os imunizantes de tecnologia RNA mensageiro, como o da Pfizer e o da Moderna, ensinam o corpo a produzir essa proteína e, assim, o sistema imunológico cria anticorpos contra ela, conseguindo, posteriormente, identificar e combater o coronavírus caso ele infecte o corpo.

Ao contrário do que é alegado no post, a proteína produzida a partir da vacina não permanece no corpo causando inflamação a longo prazo. Conforme a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi, após a spike induzir a resposta imunológica, ela é desintegrada: “Essa proteína não fica permanentemente nas células. Ela só é fabricada e induz a resposta imunológica, o reconhecimento e a fabricação de anticorpos contra ela, que é o principal antígeno do vírus”, disse.

Segundo Mônica, os imunizantes não contém a proteína: apenas ensinam o corpo a produzi-la. “A vacina tem o código genético, que é o mensageiro, para o corpo fabricar a proteína, e não para fabricar o vírus inteiro”, explicou.

A presidente da SBIm ressalta que outras vacinas usam outras proteínas. “A proteína spike foi o antígeno que se optou neste caso. Outras plataformas estudadas, para outras vacinas, usam outras proteínas, outros componentes de vírus como antígeno ou até o vírus inteiro morto”, afirmou.

Além disso, destaca a médica, as inflamações provenientes da covid-19, como a síndrome inflamatória multissistêmica, são causadas pelo vírus inteiro. Não há como saber, até o momento, se a proteína é particularmente responsável por algum processo inflamatório. “A spike faz parte do vírus, não existe um dado estatístico de uma parte do vírus. Quando se avalia o impacto da doença você não está avaliando o antígeno (proteína), você está avaliando o vírus inteiro”, explicou.

Pfizer já distribuiu mais de 4.6 bilhões de doses da vacina em mais de 181 países. (REUTERS/Kai Pfaffenbach/File Photo) 

Como explicou recentemente o Comprova, coalizão de veículos de imprensa da qual o Verifica participa, a possibilidade de a proteína spike produzida pelas vacinas ser tóxica é discutida por pesquisadores. O assunto ainda está sob evolução, mas estudos concluem que os imunizantes “são uma boa aposta por serem muito menos tóxicos do que as proteínas spike produzidas durante as infecções virais que previnem”.

Um artigo publicado pela Universidade de Berkeley defende que a quantidade de proteína spike que circula no corpo após a vacinação é muito menos concentrada do que as quantidades observadas em pacientes com covid-19 grave.

Procurada pela reportagem, a Pfizer afirmou que a proteína spike, assim como todos os componentes que participaram da resposta imunológica à vacina, são eliminados do corpo em poucas semanas pelos mecanismos fisiológicos normais do sistema celular. A farmacêutica reforça que a composição do imunizante e os eventos adversos que podem ser relacionados à vacina que foram identificados durante as fases de estudo pré e pós comercialização constam na bula do produto.

Por fim, a empresa ressalta já ter distribuído mais de 4.6 bilhões de doses da vacina em mais de 181 países e não há, até o momento, alerta de segurança ou preocupação. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Saúde mantêm a recomendação pela continuidade da vacinação, uma vez que, até o momento, os benefícios das vacinas superam em muito os riscos.

Documento da Pfizer não foi vazado e cita eliminação da spike

O autor da postagem afirma existir um documento da Pfizer que confirmaria que a spike fica no corpo após a vacinação. O Verifica procurou o médico João Vitor Nassaralla, que citou um relatório de 2021 da Administração de Produtos Terapêuticos (TGA), agência australiana similar à Anvisa, com dados submetidos pela Pfizer. No entanto, ao contrário do afirmado na postagem, o documento está disponível no site da TGA — não é, portanto, uma informação “vazada”.

Nassaralla citou a página 45 do documento, que demonstra a existência de nanopartículas de lipídio, que envolvem o RNA-mensageiro injetado, em dezenas de órgãos ao longo de 48 horas.

É preciso levar em conta que o documento em questão apresenta dados de estudos não clínicos, ou seja, realizados na primeira etapa de desenvolvimento da vacina. Como explica a Anvisa, nesta fase são realizados testes em animais com o objetivo de investigar a ação e a segurança da molécula em laboratório. É o momento em que a vacina passa por ensaios que auxiliam os pesquisadores a verificar a dose adequada a ser administrada e a conhecer o mecanismo de ação do produto, além de determinar a segurança e a capacidade de provocar resposta imune.

O documento informa que esta etapa, com testes feitos em ratos, demonstrou que o RNA mensageiro da vacina era degradado por múltiplas vias. A proteína spike sofreria proteólise, ou seja, também seria eliminada.

Naquele momento, os estudos farmacocinéticos eram limitados e dados apontavam poder ser encontrado RNA mensageiro e a proteína principalmente no local da injeção, no fígado e provavelmente nos gânglios linfáticos (estruturas do corpo que atuam como “filtros”). Os estudos mostraram, naquele contexto, uma eliminação lenta de lipídio utilizado em testes e retenção no fígado, mas que se completava em 14 dias. Essa alegação do médico também foi checada em outro post pela Lupa.

Ao Verifica, a Pfizer afirmou não ter conhecimento de documentos vazados circulando em mídias sociais.

Postagens com esse a alegação de “documentos vazados da Pfizer” têm sido frequentes e muitas vezes estão associadas a uma decisão judicial que obrigou a agência reguladora dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), a liberar documentos que levaram à aprovação da vacina naquele país. Ou seja, não há vazamento do material, mas sim uma determinação judicial para a publicação dele, com base na lei de acesso à informação norte-americana. Posts oriundos dessas alegações foram considerados falsos pelo Comprova.

Gráfico mostra dados de mortalidade apenas no Japão

No post, o médico sugere que supostas sequelas silenciosas provenientes da proteína spike estão afetando mais pessoas que a covid-19 e que, por isso, as taxas de mortalidade seguem aumentando mesmo com o fim da pandemia.

Para ilustrar esse argumento, ele apresenta um gráfico em barras que mostra um suposto crescimento de mortes entre 2018 e 2023. Aumentando a imagem é possível observar que a ilustração foi gerada com dados apenas do Japão, entre 2018 e 2023.

Os números são do site Mortality Watch, que afirma agregar estatísticas sobre mortes de diferentes bancos de dados. Ao observar estatísticas de uma janela de tempo maior no mesmo site, nota-se que o aumento de mortalidade no Japão não teve início após a pandemia e o uso das vacinas. Na realidade, a alta ocorre desde 2016.

Não é correto afirmar que a alta na mortalidade acontece em todo o mundo. No Brasil, por exemplo, os dados compilados no site mostram que a mortalidade diminuiu desde 2021, quando as vacinas começaram a ser aplicadas.

O que diz o autor?

O médico João Vitor Nassaralla afirma que a opinião publicada no post tem base em anos de estudo e critica a falta de transparência da Pfizer em relação ao imunizante. Ele alega que a vacina não tem mecanismos para controlar com quais células as nanopartículas de lipídios vão se fundir.

O médico reitera acreditar que a proteína spike é um risco para a saúde e repete que ela causa inflamação persistente no órgão em que se acumula.

Sobre a alegação relacionada ao excesso de mortalidade, ele defende haver um pico acima da média no aumento de óbitos e cita como exemplo a Inglaterra, mas não apresenta dados que comprovem a alegação no mundo todo ou que o aumento esteja associado à vacinação.

O post foi deletado da rede social após contato da reportagem com o autor.

O que estão compartilhando: post no Instagram em que médico afirma que as vacinas de mRNA contra a covid-19 induzem o corpo a produzir a proteína spike em quantidades maiores que o próprio vírus. Segundo ele, há potencial de deixar sequelas. O médico diz que a própria Pfizer teria admitido o perigo em documentos vazados.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A proteína spike é eliminada do corpo após a vacinação e os eventos adversos graves associados aos imunizantes com essa tecnologia são raros e passageiros. Também é falso que a Pfizer tenha admitido que a spike permanece no corpo causando sequelas. O relatório citado no post contém dados de estudos em ratos e cita que a proteína se desintegra no corpo.

Procurado, o médico apagou a postagem verificada aqui. Ao Verifica, ele reiterou acreditar que a proteína spike é um risco para a saúde.

Pfizer afirma, em documento, que a proteína spike é eliminada do corpo; conteúdo foi publicado pela agência reguladora da Austrália, e não "vazado". Foto: Reprodução

Saiba mais: Em um post no Instagram, um médico diz que o vírus SARS-CoV-2, causador da covid-19, possui uma proteína “extremamente tóxica” que inflama os órgãos. Segundo ele, os imunizantes induzem o corpo a produzir a mesma proteína inflamatória, mas no caso das vacinas essa substância se espalharia mais, com potencial de causar sequelas. Não há comprovação para essas alegações.

A proteína spike é uma estrutura existente no SARS-CoV-2, e é responsável por ligar o vírus à célula humana. Os imunizantes de tecnologia RNA mensageiro, como o da Pfizer e o da Moderna, ensinam o corpo a produzir essa proteína e, assim, o sistema imunológico cria anticorpos contra ela, conseguindo, posteriormente, identificar e combater o coronavírus caso ele infecte o corpo.

Ao contrário do que é alegado no post, a proteína produzida a partir da vacina não permanece no corpo causando inflamação a longo prazo. Conforme a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi, após a spike induzir a resposta imunológica, ela é desintegrada: “Essa proteína não fica permanentemente nas células. Ela só é fabricada e induz a resposta imunológica, o reconhecimento e a fabricação de anticorpos contra ela, que é o principal antígeno do vírus”, disse.

Segundo Mônica, os imunizantes não contém a proteína: apenas ensinam o corpo a produzi-la. “A vacina tem o código genético, que é o mensageiro, para o corpo fabricar a proteína, e não para fabricar o vírus inteiro”, explicou.

A presidente da SBIm ressalta que outras vacinas usam outras proteínas. “A proteína spike foi o antígeno que se optou neste caso. Outras plataformas estudadas, para outras vacinas, usam outras proteínas, outros componentes de vírus como antígeno ou até o vírus inteiro morto”, afirmou.

Além disso, destaca a médica, as inflamações provenientes da covid-19, como a síndrome inflamatória multissistêmica, são causadas pelo vírus inteiro. Não há como saber, até o momento, se a proteína é particularmente responsável por algum processo inflamatório. “A spike faz parte do vírus, não existe um dado estatístico de uma parte do vírus. Quando se avalia o impacto da doença você não está avaliando o antígeno (proteína), você está avaliando o vírus inteiro”, explicou.

Pfizer já distribuiu mais de 4.6 bilhões de doses da vacina em mais de 181 países. (REUTERS/Kai Pfaffenbach/File Photo) 

Como explicou recentemente o Comprova, coalizão de veículos de imprensa da qual o Verifica participa, a possibilidade de a proteína spike produzida pelas vacinas ser tóxica é discutida por pesquisadores. O assunto ainda está sob evolução, mas estudos concluem que os imunizantes “são uma boa aposta por serem muito menos tóxicos do que as proteínas spike produzidas durante as infecções virais que previnem”.

Um artigo publicado pela Universidade de Berkeley defende que a quantidade de proteína spike que circula no corpo após a vacinação é muito menos concentrada do que as quantidades observadas em pacientes com covid-19 grave.

Procurada pela reportagem, a Pfizer afirmou que a proteína spike, assim como todos os componentes que participaram da resposta imunológica à vacina, são eliminados do corpo em poucas semanas pelos mecanismos fisiológicos normais do sistema celular. A farmacêutica reforça que a composição do imunizante e os eventos adversos que podem ser relacionados à vacina que foram identificados durante as fases de estudo pré e pós comercialização constam na bula do produto.

Por fim, a empresa ressalta já ter distribuído mais de 4.6 bilhões de doses da vacina em mais de 181 países e não há, até o momento, alerta de segurança ou preocupação. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Saúde mantêm a recomendação pela continuidade da vacinação, uma vez que, até o momento, os benefícios das vacinas superam em muito os riscos.

Documento da Pfizer não foi vazado e cita eliminação da spike

O autor da postagem afirma existir um documento da Pfizer que confirmaria que a spike fica no corpo após a vacinação. O Verifica procurou o médico João Vitor Nassaralla, que citou um relatório de 2021 da Administração de Produtos Terapêuticos (TGA), agência australiana similar à Anvisa, com dados submetidos pela Pfizer. No entanto, ao contrário do afirmado na postagem, o documento está disponível no site da TGA — não é, portanto, uma informação “vazada”.

Nassaralla citou a página 45 do documento, que demonstra a existência de nanopartículas de lipídio, que envolvem o RNA-mensageiro injetado, em dezenas de órgãos ao longo de 48 horas.

É preciso levar em conta que o documento em questão apresenta dados de estudos não clínicos, ou seja, realizados na primeira etapa de desenvolvimento da vacina. Como explica a Anvisa, nesta fase são realizados testes em animais com o objetivo de investigar a ação e a segurança da molécula em laboratório. É o momento em que a vacina passa por ensaios que auxiliam os pesquisadores a verificar a dose adequada a ser administrada e a conhecer o mecanismo de ação do produto, além de determinar a segurança e a capacidade de provocar resposta imune.

O documento informa que esta etapa, com testes feitos em ratos, demonstrou que o RNA mensageiro da vacina era degradado por múltiplas vias. A proteína spike sofreria proteólise, ou seja, também seria eliminada.

Naquele momento, os estudos farmacocinéticos eram limitados e dados apontavam poder ser encontrado RNA mensageiro e a proteína principalmente no local da injeção, no fígado e provavelmente nos gânglios linfáticos (estruturas do corpo que atuam como “filtros”). Os estudos mostraram, naquele contexto, uma eliminação lenta de lipídio utilizado em testes e retenção no fígado, mas que se completava em 14 dias. Essa alegação do médico também foi checada em outro post pela Lupa.

Ao Verifica, a Pfizer afirmou não ter conhecimento de documentos vazados circulando em mídias sociais.

Postagens com esse a alegação de “documentos vazados da Pfizer” têm sido frequentes e muitas vezes estão associadas a uma decisão judicial que obrigou a agência reguladora dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), a liberar documentos que levaram à aprovação da vacina naquele país. Ou seja, não há vazamento do material, mas sim uma determinação judicial para a publicação dele, com base na lei de acesso à informação norte-americana. Posts oriundos dessas alegações foram considerados falsos pelo Comprova.

Gráfico mostra dados de mortalidade apenas no Japão

No post, o médico sugere que supostas sequelas silenciosas provenientes da proteína spike estão afetando mais pessoas que a covid-19 e que, por isso, as taxas de mortalidade seguem aumentando mesmo com o fim da pandemia.

Para ilustrar esse argumento, ele apresenta um gráfico em barras que mostra um suposto crescimento de mortes entre 2018 e 2023. Aumentando a imagem é possível observar que a ilustração foi gerada com dados apenas do Japão, entre 2018 e 2023.

Os números são do site Mortality Watch, que afirma agregar estatísticas sobre mortes de diferentes bancos de dados. Ao observar estatísticas de uma janela de tempo maior no mesmo site, nota-se que o aumento de mortalidade no Japão não teve início após a pandemia e o uso das vacinas. Na realidade, a alta ocorre desde 2016.

Não é correto afirmar que a alta na mortalidade acontece em todo o mundo. No Brasil, por exemplo, os dados compilados no site mostram que a mortalidade diminuiu desde 2021, quando as vacinas começaram a ser aplicadas.

O que diz o autor?

O médico João Vitor Nassaralla afirma que a opinião publicada no post tem base em anos de estudo e critica a falta de transparência da Pfizer em relação ao imunizante. Ele alega que a vacina não tem mecanismos para controlar com quais células as nanopartículas de lipídios vão se fundir.

O médico reitera acreditar que a proteína spike é um risco para a saúde e repete que ela causa inflamação persistente no órgão em que se acumula.

Sobre a alegação relacionada ao excesso de mortalidade, ele defende haver um pico acima da média no aumento de óbitos e cita como exemplo a Inglaterra, mas não apresenta dados que comprovem a alegação no mundo todo ou que o aumento esteja associado à vacinação.

O post foi deletado da rede social após contato da reportagem com o autor.

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