Uma postagem no Facebook reproduz uma manchete -- sem indicação da data -- de uma reportagem de 2013 do jornal Gazeta do Povo para sugerir que o Paraguai não quer usar urnas eletrônicas brasileiras por não considerá-las confiáveis. A alegação, sem contexto, é enganosa. O post analisado não deixa claro que as urnas em questão eram de um modelo antigo, que não é mais utilizado atualmente. Além disso, a publicação não dá o link para a matéria original.
A reportagem da Gazeta do Povo informava que o Paraguai estava deixando de usar um lote de urnas eletrônicas brasileiras que estavam sendo implementadas desde 2001 no país. A manchete era "Paraguai veta uso de urnas eletrônicas brasileiras e voto é manual".
As urnas brasileiras descartadas pelo Paraguai naquela época foram fabricadas em 1996 e estavam defasadas tecnologicamente. Tanto que, no Brasil, o modelo não era utilizado desde 2002. Quando as unidades emprestadas ao Paraguai foram devolvidas ao País, elas foram descartadas, conforme mostrou reportagem da revista Época.
O Paraguai utilizou urnas eletrônicas brasileiras emprestadas em eleições em 2001, 2003, 2004 e 2006. Já na época do primeiro empréstimo, em 2001, o Brasil era procurado por diversos países latino-americanos por ter um "sistema destacado pela sua transparência e alto grau de informatização", segundo avaliação da coordenadoria da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Procurado pelo Estadão Verifica, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informou que, após essas primeiras experiências, o Paraguai solicitou o empréstimo definitivo das urnas modelo 1996. A última vez que esse tipo de urna foi utilizado no Brasil foi durante as eleições de 2002. O modelo foi descontinuado no País porque não tinha capacidade de processamento suficiente para efetuar a assinatura digital, definida em lei nacional de 2003.
Ainda segundo o TSE, essas urnas possuíam processador Intel 386 SX 33Mhz, com 2Mb de memória RAM, e devido à obsolescência tecnológica que dificultava a manutenção, peças de outras unidades eram usadas em reparos.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.