O que estão compartilhando: que a ex-candidata à Presidência pelo PCB Sofia Manzano seria assessora de Lula infiltrada no movimento bolsonarista alojado em frente ao Quartel General de Brasília (QGEx). E que é ela a mulher que aparece em um vídeo, gravado no dia 9 de janeiro, orientando os manifestantes a entrar em ônibus durante a ação de desmobilização do acampamento.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Quem aparece no vídeo é a pastora Thereza Helena Oliveira Souza Sena, de 51 anos, natural de Teófilo Otoni (MG). Ela estava no grupo dos 1,2 mil manifestantes detidos e conduzidos para a Academia Nacional de Polícia, em Brasília, no dia 9 de janeiro, no contexto da dissolução do acampamento, ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes, após os atos antidemocráticos que depredaram os prédios dos Três Poderes no dia anterior.
Sofia Manzano se manifestou dizendo que as postagens que a confundem com a pastora são fake news. Além de não fazer parte do movimento em frente ao quartel, no dia da desocupação do acampamento, ela estava em sua casa, localizada no interior da Bahia. O Partido Comunista Brasileiro destacou que Sofia não é assessora de Lula nem ocupa cargo algum no governo federal.
Saiba mais: Em vídeo do dia 9 de janeiro, uma mulher fala em um microfone que a única forma de sair do acampamento seria entrando nos ônibus disponibilizados pela Secretaria de Transportes do Distrito Federal. As imagens voltaram a circular na semana passada, depois que o senador Marcos do Val (Podemos - ES), durante uma live, instigou seus seguidores a descobrir a identidade da pessoa que supostamente teria enganado os manifestantes.
“Manda aqui no direct o nome daquela mulher que tá com megafone, falando pra todo mundo que tava lá no acampamento, em frente ao Exército, dizendo que era para subir no ônibus que eles iam ali, depois de ser levado no galpão da federal, e de lá iam ser liberados e enganou todo mundo. Foi todo mundo preso”, alega o senador na live, a partir do 20 minutos e 45 segundos.
Nas redes sociais, usuários acusaram a mulher do vídeo de ser uma infiltrada da esquerda e estranharam o fato dela estar agasalhada. “Estranho pra lá de estranho, qual o uniforme tinha por baixo, ou tinha arma pesada”, comentou uma usuária do Twitter ao ver o vídeo.
O advogado de Thereza Helena, Josino Junior, explicou que ela estava de casaco “porque naquele dia choveu, naquele dia fez frio. Se você vir outras filmagens, você acaba vendo outras pessoas com blusa de frio”. Josino fez uma live no dia 15 de maio para prestar informações após a repercussão que o vídeo tomou nas redes sociais.
De acordo com o advogado, Thereza Helena pegou o microfone a pedido do comandante do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) para que ela passasse as instruções aos seus colegas de acampamento de como seria feita a retirada das pessoas do local. Naquele dia pela manhã, o batalhão cumpriu ordem do ministro Alexandre de Moraes de fazer a dissolução e prisão em flagrante de todos os acampados em frente ao Quartel General do Exército em Brasília.
Em conversa com o Estadão Verifica, o advogado explicou que foram “feitos 3 contatos com a assessoria do senador Marcos do Val, bem como inúmeros contatos nas lives e nunca obteve resposta”. O senador também não retornou o e-mail do Verifica.
Quem é Thereza Helena
Thereza Helena é da cidade mineira de Teófilo Otoni, mas mora no exterior há 25 anos. Ela é pastora da igreja evangélica Nova Aliança, em Zurique, na Suíça. De acordo com relato dela publicado em um site, ela veio para o Brasil no ano passado para resolver questões familiares e passou a frequentar o acampamento em apoio a Bolsonaro de sua cidade natal.
De acordo com o relato de Tereza Helena, a pastora chegou no acampamento de Brasília no sábado, 7 de janeiro, à noite e não foi à Praça dos Três Poderes, quando ocorreram os atos de vandalismo. No dia 9 de janeiro, ela foi presa e ficou na Colmeia, a Penitenciária Feminina do Distrito Federal – PFDF, durante 57 dias, segundo os cálculos do seu advogado. No momento, ela está em liberdade, sendo monitorada por tornozeleira eletrônica, e sem previsão de retorno para Suíça, pois teve o passaporte apreendido.
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