Vídeo dissemina teorias conspiratórias ao comentar reunião de Alckmin e Klaus Schwab


Postagem no Instagram desinforma ao afirmar que o ‘Great Reset’ é um plano de dominação global e que o termo é citado na ‘Agenda 2030′

Por Luciana Marschall
Atualização:

O que estão compartilhando: “Great Reset” e “Agenda 2030″ são iniciativas de poderosos globalistas que querem reestruturar o mundo e controlá-lo.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. A autora de um vídeo compartilhado no Instagram cita um encontro ocorrido em maio entre o vice-presidente Geraldo Alckmin e o economista alemão Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, para espalhar teorias conspiratórias sobre o “Great Reset” e a “Agenda 2030″. O primeiro termo se refere a uma proposta de economia verde, e não a um plano de dominação global. Além disso, o “Great Reset” não é citado na Agenda 2030, uma iniciativa de desenvolvimento sustentável da Organização das Uniões Unidas (ONU).

Vídeo espalha desinformação sobre iniciativas do Fórum Econômico Mundial e da ONU. Foto: Reprodução
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Saiba mais: No Instagram, a atriz Regina Duarte compartilhou um vídeo em que Karen Moura, que se identifica nas redes sociais como analista política, cita teorias conspiratórias ao comentar que Alckmin e Schwab se encontraram. A autora do vídeo afirma que “apesar de muitos acharem que o ‘Great Reset’ nada mais é que uma teoria da conspiração, o termo consta sim na famosa Agenda 2023 e também está descrito no próprio livro de Klaus Schwab, Covid-19: The Great Reset”.

Ao abordar esse tema, ela afirma ainda que o objetivo principal dos “globalistas” é fazer uma reestruturação mundial com foco no ocidente, para transformá-lo em um “grande bloco econômico, controlado por poucos poderosos que ditam as regras econômicas e sociais, muito disso nos moldes chineses”. Por fim, Karen Moura afirma que um vídeo postado no Twitter do Fórum Econômico Mundial traz as previsões para o mundo em 2030. A primeira das previsões seria: “você não terá nada e você será feliz”. Para ela, isso “lembra os regimes socialistas e ditatoriais, uma sociedade igualitária onde todo mundo se abraça na miséria”.

Os três assuntos abordados no vídeo, Fórum Econômico Mundial, Great Reset e Agenda 2030, são frequentemente distorcidos e associados à uma teoria da conspiração bastante difundida sobre a criação de uma “Nova Ordem Mundial”, que sugere estar em curso um movimento para implantação de um governo mundial totalitário.

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Fórum Econômico Mundial e ‘Great Reset’

Como explica o Estadão, o Fórum Econômico Mundial na verdade é um dos encontros anuais mais importantes entre líderes e personalidades do mundo. É realizado há mais de 50 anos em Davos, na Suíça.

O evento é organizado para os líderes mundiais ampliarem as redes de contatos e discutirem temas de interesse econômico, político e social. São realizadas palestras e presidentes das principais empresas do mundo recebem políticos, artistas, acadêmicos, líderes religiosos, sindicalistas e ativistas de diversas organizações não-governamentais.

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Foi a partir desse evento que nasceu uma das teorias da conspiração mais disseminadas da economia atualmente: o Great Reset (em tradução livre, “grande reinício”). O termo de fato existe e foi lançado em 2020, quando surgiu a pandemia de covid-19. Schwab e o rei Charles III, do Reino Unido, propuseram uma iniciativa econômica no Fórum. Como mostrou o E-Investidor, a ideia tem o objetivo de construir um novo contrato social entre o ser humano e o ecossistema onde ele vive.

A iniciativa propunha que os problemas causadores da crise sanitária e econômica levassem à reflexão e à alteração da maneira como as empresas e a economia lidam com os recursos naturais. Na prática, não apresenta nenhuma novidade para o debate ecológico. Mas a forma como foi denominada abriu brecha para que adeptos de teorias da conspiração enxergassem uma suposta tentativa de um pequeno grupo de ditar regras de forma totalitária para outros países, nos moldes do socialismo, gerando uma “nova ordem mundial”.

O Fórum de Davos reúne a elite financeira mundial. Foto: Fabrice Coffrini/AFP
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Existência de livro não prova teoria da conspiração

No vídeo, a autora argumenta que o Great Reset não é uma teoria conspiratória porque está citado no livro Covid-19: The Great Reset, que tem como autores o próprio Klaus Schwab e Thierry Malleret, também economista. Contudo, a existência dessa publicação não prova a alegação dela. O livro não propõe uma “nova ordem mundial” e seu conteúdo foi distorcido pelos conspiracionistas.

Isso é abordado em reportagem do jornal francês Le Monde (versão traduzida), que resumiu a forma como o livro se tornou um dos principais tópicos de discussão na bolha conspiracionista nas redes sociais. Para os integrantes desse grupo, o livro estaria expondo os projetos nocivos que eles atribuem à elite dominante, como a destruição das democracias e a nova ordem mundial.

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O jornal explica que os autores do livro constatam que as grandes crises históricas estiveram na origem de profundas mudanças na sociedade. Eles citam que, desta forma, a pandemia de covid-19 “representa uma janela de oportunidade rara, mas estreita, para refletir, reimaginar e redefinir nosso mundo”. Os economistas defenderam, na publicação, um mundo menos dividido, poluente e destrutivo. Os escritores acreditam que a sociedade pode ser mais inclusiva, equitativa e justa do que a existente na era pré-pandêmica.

Os autores não defendem a queda de regimes democráticos nem promovem uma “nova ordem mundial”. Conforme o Le Monde, a única vez que a expressão aparece na publicação é na forma de uma citação do economista Jean-Pierre Lehmann, para quem “não há nova ordem mundial, apenas uma transição caótica para a incerteza”.

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Frase de vídeo promocional é citada de forma incompleta

Para exemplificar a teoria conspiratória em torno do Great Reset, o conteúdo aqui verificado omite trecho do que é dito em um vídeo promocional publicado em 2016 nas redes sociais do Fórum Econômico Mundial. No material, o evento lista oito “previsões para o mundo”, sendo a primeira: “Você não terá nada e será feliz. O que você quiser você irá alugar e isso será entregue por drone”.

A previsão fala sobre a diminuição do consumismo, mas o conteúdo verificado cita apenas a primeira frase, excluindo o trecho que fala sobre o aluguel. O Fórum Econômico Mundial não tem uma meta declarada de que as pessoas “não possuam nada e sejam felizes” até 2030. Alegações semelhantes foram desmentidas fora do Brasil pela Reuters Fact Check.

A narração do vídeo do Fórum Mundial foi produzida a partir de um artigo escrito pela dinamarquesa Ida Auken e publicado no site da organização, onde não está mais disponível (o conteúdo, porém, está salvo aqui). O texto é escrito a partir de um futuro especulativo, de onde Auken estaria informando que tudo aquilo que atualmente é considerado um produto irá se tornar um serviço gratuito.

A autora acrescentou uma nota à publicação após viralizarem nas redes interpretações que ela considera equivocadas. Ela acrescentou que o texto não trata de uma utopia ou sonho dela, mas de uma discussão sobre um cenário para onde podemos estar indo — para melhor e para pior.

Ainda sobre o mesmo vídeo promocional, Adrian Monck, diretor administrativo do Fórum Econômico Mundial, escreveu no ano passado que extremistas viralizaram a frase “não tenha nada, seja feliz” após o lançamento do livro Great Reset e passaram a espalhar na internet que a iniciativa teria sido criada como uma resposta à pandemia de coronavírus.

Agenda 2030

A Agenda 2030 é um conjunto de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) lançados em 2015 pelas Organização das Nações Unidas (ONU), após décadas de debate. Ao contrário do que diz a autora do conteúdo verificado aqui, o termo Great Reset não aparece no documento.

Os objetivos definem os temas humanitários que devem servir como prioridade nas políticas públicas internacionais até 2030. Entre eles, estão o combate à pobreza e desigualdade socioeconômica, a promoção de uma sociedade mais saudável e a gestão adequada dos recursos naturais.

Da mesma forma que o Great Reset, a agenda é ligada por teóricos da conspiração ao suposto plano de dominação mundial por um grupo restrito de poderosos. O USA Fact Check já desmentiu, por exemplo, postagens alegando que as Nações Unidas pretendem estabelecer uma nova ordem mundial a partir da Agenda 2030. Já a Reuters Fact Check demonstrou ser falso que a Agenda 2030 é a prova de que a pandemia de covid-19 faz parte de uma conspiração.

O que Alckmin e Klaus Schwab conversaram?

Conforme divulgado pela Agência Brasil, em 17 de maio, o vice-presidente Geraldo Alckmin recebeu no Palácio do Planalto o presidente do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab. Na ocasião, Alckmin assumia interinamente a Presidência da República em função da viagem de Luiz Inácio Lula da Silva a Hiroshima, no Japão, para a cúpula do G7. A agência informou que o principal assunto debatido entre eles foi o desenvolvimento sustentável do Brasil, incluindo potencialidades em indústria de baixo carbono, bioeconomia e a adoção de novas tecnologias para a transição verde.

Alckmin fez uma postagem no Twitter afirmando que, do ponto de vista geopolítico, Schwab qualifica o Brasil como uma “biopotência”. O vice-presidente relatou ter destacado ao economista a necessidade de serem reforçados os laços econômicos e comerciais entre os países, a fim de combater a fragmentação das relações internacionais.

Enquanto esteve no Brasil, Schwab concedeu entrevista ao Estadão na qual falou sobre o cenário econômico do Brasil, o avanço da inteligência artificial e a evolução das práticas ESG (sigla em inglês para compromissos sociais, ambientais e de governança). Em nenhum momento ele cita o intuito de criar um grande bloco econômico no ocidente.

O Estadão Verifica compilou, anteriormente, algumas dicas para identificar uma teoria da conspiração.

A atriz Regina Duarte foi procurada, mas não respondeu até a publicação.

O que estão compartilhando: “Great Reset” e “Agenda 2030″ são iniciativas de poderosos globalistas que querem reestruturar o mundo e controlá-lo.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. A autora de um vídeo compartilhado no Instagram cita um encontro ocorrido em maio entre o vice-presidente Geraldo Alckmin e o economista alemão Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, para espalhar teorias conspiratórias sobre o “Great Reset” e a “Agenda 2030″. O primeiro termo se refere a uma proposta de economia verde, e não a um plano de dominação global. Além disso, o “Great Reset” não é citado na Agenda 2030, uma iniciativa de desenvolvimento sustentável da Organização das Uniões Unidas (ONU).

Vídeo espalha desinformação sobre iniciativas do Fórum Econômico Mundial e da ONU. Foto: Reprodução

Saiba mais: No Instagram, a atriz Regina Duarte compartilhou um vídeo em que Karen Moura, que se identifica nas redes sociais como analista política, cita teorias conspiratórias ao comentar que Alckmin e Schwab se encontraram. A autora do vídeo afirma que “apesar de muitos acharem que o ‘Great Reset’ nada mais é que uma teoria da conspiração, o termo consta sim na famosa Agenda 2023 e também está descrito no próprio livro de Klaus Schwab, Covid-19: The Great Reset”.

Ao abordar esse tema, ela afirma ainda que o objetivo principal dos “globalistas” é fazer uma reestruturação mundial com foco no ocidente, para transformá-lo em um “grande bloco econômico, controlado por poucos poderosos que ditam as regras econômicas e sociais, muito disso nos moldes chineses”. Por fim, Karen Moura afirma que um vídeo postado no Twitter do Fórum Econômico Mundial traz as previsões para o mundo em 2030. A primeira das previsões seria: “você não terá nada e você será feliz”. Para ela, isso “lembra os regimes socialistas e ditatoriais, uma sociedade igualitária onde todo mundo se abraça na miséria”.

Os três assuntos abordados no vídeo, Fórum Econômico Mundial, Great Reset e Agenda 2030, são frequentemente distorcidos e associados à uma teoria da conspiração bastante difundida sobre a criação de uma “Nova Ordem Mundial”, que sugere estar em curso um movimento para implantação de um governo mundial totalitário.

Fórum Econômico Mundial e ‘Great Reset’

Como explica o Estadão, o Fórum Econômico Mundial na verdade é um dos encontros anuais mais importantes entre líderes e personalidades do mundo. É realizado há mais de 50 anos em Davos, na Suíça.

O evento é organizado para os líderes mundiais ampliarem as redes de contatos e discutirem temas de interesse econômico, político e social. São realizadas palestras e presidentes das principais empresas do mundo recebem políticos, artistas, acadêmicos, líderes religiosos, sindicalistas e ativistas de diversas organizações não-governamentais.

Foi a partir desse evento que nasceu uma das teorias da conspiração mais disseminadas da economia atualmente: o Great Reset (em tradução livre, “grande reinício”). O termo de fato existe e foi lançado em 2020, quando surgiu a pandemia de covid-19. Schwab e o rei Charles III, do Reino Unido, propuseram uma iniciativa econômica no Fórum. Como mostrou o E-Investidor, a ideia tem o objetivo de construir um novo contrato social entre o ser humano e o ecossistema onde ele vive.

A iniciativa propunha que os problemas causadores da crise sanitária e econômica levassem à reflexão e à alteração da maneira como as empresas e a economia lidam com os recursos naturais. Na prática, não apresenta nenhuma novidade para o debate ecológico. Mas a forma como foi denominada abriu brecha para que adeptos de teorias da conspiração enxergassem uma suposta tentativa de um pequeno grupo de ditar regras de forma totalitária para outros países, nos moldes do socialismo, gerando uma “nova ordem mundial”.

O Fórum de Davos reúne a elite financeira mundial. Foto: Fabrice Coffrini/AFP

Existência de livro não prova teoria da conspiração

No vídeo, a autora argumenta que o Great Reset não é uma teoria conspiratória porque está citado no livro Covid-19: The Great Reset, que tem como autores o próprio Klaus Schwab e Thierry Malleret, também economista. Contudo, a existência dessa publicação não prova a alegação dela. O livro não propõe uma “nova ordem mundial” e seu conteúdo foi distorcido pelos conspiracionistas.

Isso é abordado em reportagem do jornal francês Le Monde (versão traduzida), que resumiu a forma como o livro se tornou um dos principais tópicos de discussão na bolha conspiracionista nas redes sociais. Para os integrantes desse grupo, o livro estaria expondo os projetos nocivos que eles atribuem à elite dominante, como a destruição das democracias e a nova ordem mundial.

O jornal explica que os autores do livro constatam que as grandes crises históricas estiveram na origem de profundas mudanças na sociedade. Eles citam que, desta forma, a pandemia de covid-19 “representa uma janela de oportunidade rara, mas estreita, para refletir, reimaginar e redefinir nosso mundo”. Os economistas defenderam, na publicação, um mundo menos dividido, poluente e destrutivo. Os escritores acreditam que a sociedade pode ser mais inclusiva, equitativa e justa do que a existente na era pré-pandêmica.

Os autores não defendem a queda de regimes democráticos nem promovem uma “nova ordem mundial”. Conforme o Le Monde, a única vez que a expressão aparece na publicação é na forma de uma citação do economista Jean-Pierre Lehmann, para quem “não há nova ordem mundial, apenas uma transição caótica para a incerteza”.

Frase de vídeo promocional é citada de forma incompleta

Para exemplificar a teoria conspiratória em torno do Great Reset, o conteúdo aqui verificado omite trecho do que é dito em um vídeo promocional publicado em 2016 nas redes sociais do Fórum Econômico Mundial. No material, o evento lista oito “previsões para o mundo”, sendo a primeira: “Você não terá nada e será feliz. O que você quiser você irá alugar e isso será entregue por drone”.

A previsão fala sobre a diminuição do consumismo, mas o conteúdo verificado cita apenas a primeira frase, excluindo o trecho que fala sobre o aluguel. O Fórum Econômico Mundial não tem uma meta declarada de que as pessoas “não possuam nada e sejam felizes” até 2030. Alegações semelhantes foram desmentidas fora do Brasil pela Reuters Fact Check.

A narração do vídeo do Fórum Mundial foi produzida a partir de um artigo escrito pela dinamarquesa Ida Auken e publicado no site da organização, onde não está mais disponível (o conteúdo, porém, está salvo aqui). O texto é escrito a partir de um futuro especulativo, de onde Auken estaria informando que tudo aquilo que atualmente é considerado um produto irá se tornar um serviço gratuito.

A autora acrescentou uma nota à publicação após viralizarem nas redes interpretações que ela considera equivocadas. Ela acrescentou que o texto não trata de uma utopia ou sonho dela, mas de uma discussão sobre um cenário para onde podemos estar indo — para melhor e para pior.

Ainda sobre o mesmo vídeo promocional, Adrian Monck, diretor administrativo do Fórum Econômico Mundial, escreveu no ano passado que extremistas viralizaram a frase “não tenha nada, seja feliz” após o lançamento do livro Great Reset e passaram a espalhar na internet que a iniciativa teria sido criada como uma resposta à pandemia de coronavírus.

Agenda 2030

A Agenda 2030 é um conjunto de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) lançados em 2015 pelas Organização das Nações Unidas (ONU), após décadas de debate. Ao contrário do que diz a autora do conteúdo verificado aqui, o termo Great Reset não aparece no documento.

Os objetivos definem os temas humanitários que devem servir como prioridade nas políticas públicas internacionais até 2030. Entre eles, estão o combate à pobreza e desigualdade socioeconômica, a promoção de uma sociedade mais saudável e a gestão adequada dos recursos naturais.

Da mesma forma que o Great Reset, a agenda é ligada por teóricos da conspiração ao suposto plano de dominação mundial por um grupo restrito de poderosos. O USA Fact Check já desmentiu, por exemplo, postagens alegando que as Nações Unidas pretendem estabelecer uma nova ordem mundial a partir da Agenda 2030. Já a Reuters Fact Check demonstrou ser falso que a Agenda 2030 é a prova de que a pandemia de covid-19 faz parte de uma conspiração.

O que Alckmin e Klaus Schwab conversaram?

Conforme divulgado pela Agência Brasil, em 17 de maio, o vice-presidente Geraldo Alckmin recebeu no Palácio do Planalto o presidente do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab. Na ocasião, Alckmin assumia interinamente a Presidência da República em função da viagem de Luiz Inácio Lula da Silva a Hiroshima, no Japão, para a cúpula do G7. A agência informou que o principal assunto debatido entre eles foi o desenvolvimento sustentável do Brasil, incluindo potencialidades em indústria de baixo carbono, bioeconomia e a adoção de novas tecnologias para a transição verde.

Alckmin fez uma postagem no Twitter afirmando que, do ponto de vista geopolítico, Schwab qualifica o Brasil como uma “biopotência”. O vice-presidente relatou ter destacado ao economista a necessidade de serem reforçados os laços econômicos e comerciais entre os países, a fim de combater a fragmentação das relações internacionais.

Enquanto esteve no Brasil, Schwab concedeu entrevista ao Estadão na qual falou sobre o cenário econômico do Brasil, o avanço da inteligência artificial e a evolução das práticas ESG (sigla em inglês para compromissos sociais, ambientais e de governança). Em nenhum momento ele cita o intuito de criar um grande bloco econômico no ocidente.

O Estadão Verifica compilou, anteriormente, algumas dicas para identificar uma teoria da conspiração.

A atriz Regina Duarte foi procurada, mas não respondeu até a publicação.

O que estão compartilhando: “Great Reset” e “Agenda 2030″ são iniciativas de poderosos globalistas que querem reestruturar o mundo e controlá-lo.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. A autora de um vídeo compartilhado no Instagram cita um encontro ocorrido em maio entre o vice-presidente Geraldo Alckmin e o economista alemão Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, para espalhar teorias conspiratórias sobre o “Great Reset” e a “Agenda 2030″. O primeiro termo se refere a uma proposta de economia verde, e não a um plano de dominação global. Além disso, o “Great Reset” não é citado na Agenda 2030, uma iniciativa de desenvolvimento sustentável da Organização das Uniões Unidas (ONU).

Vídeo espalha desinformação sobre iniciativas do Fórum Econômico Mundial e da ONU. Foto: Reprodução

Saiba mais: No Instagram, a atriz Regina Duarte compartilhou um vídeo em que Karen Moura, que se identifica nas redes sociais como analista política, cita teorias conspiratórias ao comentar que Alckmin e Schwab se encontraram. A autora do vídeo afirma que “apesar de muitos acharem que o ‘Great Reset’ nada mais é que uma teoria da conspiração, o termo consta sim na famosa Agenda 2023 e também está descrito no próprio livro de Klaus Schwab, Covid-19: The Great Reset”.

Ao abordar esse tema, ela afirma ainda que o objetivo principal dos “globalistas” é fazer uma reestruturação mundial com foco no ocidente, para transformá-lo em um “grande bloco econômico, controlado por poucos poderosos que ditam as regras econômicas e sociais, muito disso nos moldes chineses”. Por fim, Karen Moura afirma que um vídeo postado no Twitter do Fórum Econômico Mundial traz as previsões para o mundo em 2030. A primeira das previsões seria: “você não terá nada e você será feliz”. Para ela, isso “lembra os regimes socialistas e ditatoriais, uma sociedade igualitária onde todo mundo se abraça na miséria”.

Os três assuntos abordados no vídeo, Fórum Econômico Mundial, Great Reset e Agenda 2030, são frequentemente distorcidos e associados à uma teoria da conspiração bastante difundida sobre a criação de uma “Nova Ordem Mundial”, que sugere estar em curso um movimento para implantação de um governo mundial totalitário.

Fórum Econômico Mundial e ‘Great Reset’

Como explica o Estadão, o Fórum Econômico Mundial na verdade é um dos encontros anuais mais importantes entre líderes e personalidades do mundo. É realizado há mais de 50 anos em Davos, na Suíça.

O evento é organizado para os líderes mundiais ampliarem as redes de contatos e discutirem temas de interesse econômico, político e social. São realizadas palestras e presidentes das principais empresas do mundo recebem políticos, artistas, acadêmicos, líderes religiosos, sindicalistas e ativistas de diversas organizações não-governamentais.

Foi a partir desse evento que nasceu uma das teorias da conspiração mais disseminadas da economia atualmente: o Great Reset (em tradução livre, “grande reinício”). O termo de fato existe e foi lançado em 2020, quando surgiu a pandemia de covid-19. Schwab e o rei Charles III, do Reino Unido, propuseram uma iniciativa econômica no Fórum. Como mostrou o E-Investidor, a ideia tem o objetivo de construir um novo contrato social entre o ser humano e o ecossistema onde ele vive.

A iniciativa propunha que os problemas causadores da crise sanitária e econômica levassem à reflexão e à alteração da maneira como as empresas e a economia lidam com os recursos naturais. Na prática, não apresenta nenhuma novidade para o debate ecológico. Mas a forma como foi denominada abriu brecha para que adeptos de teorias da conspiração enxergassem uma suposta tentativa de um pequeno grupo de ditar regras de forma totalitária para outros países, nos moldes do socialismo, gerando uma “nova ordem mundial”.

O Fórum de Davos reúne a elite financeira mundial. Foto: Fabrice Coffrini/AFP

Existência de livro não prova teoria da conspiração

No vídeo, a autora argumenta que o Great Reset não é uma teoria conspiratória porque está citado no livro Covid-19: The Great Reset, que tem como autores o próprio Klaus Schwab e Thierry Malleret, também economista. Contudo, a existência dessa publicação não prova a alegação dela. O livro não propõe uma “nova ordem mundial” e seu conteúdo foi distorcido pelos conspiracionistas.

Isso é abordado em reportagem do jornal francês Le Monde (versão traduzida), que resumiu a forma como o livro se tornou um dos principais tópicos de discussão na bolha conspiracionista nas redes sociais. Para os integrantes desse grupo, o livro estaria expondo os projetos nocivos que eles atribuem à elite dominante, como a destruição das democracias e a nova ordem mundial.

O jornal explica que os autores do livro constatam que as grandes crises históricas estiveram na origem de profundas mudanças na sociedade. Eles citam que, desta forma, a pandemia de covid-19 “representa uma janela de oportunidade rara, mas estreita, para refletir, reimaginar e redefinir nosso mundo”. Os economistas defenderam, na publicação, um mundo menos dividido, poluente e destrutivo. Os escritores acreditam que a sociedade pode ser mais inclusiva, equitativa e justa do que a existente na era pré-pandêmica.

Os autores não defendem a queda de regimes democráticos nem promovem uma “nova ordem mundial”. Conforme o Le Monde, a única vez que a expressão aparece na publicação é na forma de uma citação do economista Jean-Pierre Lehmann, para quem “não há nova ordem mundial, apenas uma transição caótica para a incerteza”.

Frase de vídeo promocional é citada de forma incompleta

Para exemplificar a teoria conspiratória em torno do Great Reset, o conteúdo aqui verificado omite trecho do que é dito em um vídeo promocional publicado em 2016 nas redes sociais do Fórum Econômico Mundial. No material, o evento lista oito “previsões para o mundo”, sendo a primeira: “Você não terá nada e será feliz. O que você quiser você irá alugar e isso será entregue por drone”.

A previsão fala sobre a diminuição do consumismo, mas o conteúdo verificado cita apenas a primeira frase, excluindo o trecho que fala sobre o aluguel. O Fórum Econômico Mundial não tem uma meta declarada de que as pessoas “não possuam nada e sejam felizes” até 2030. Alegações semelhantes foram desmentidas fora do Brasil pela Reuters Fact Check.

A narração do vídeo do Fórum Mundial foi produzida a partir de um artigo escrito pela dinamarquesa Ida Auken e publicado no site da organização, onde não está mais disponível (o conteúdo, porém, está salvo aqui). O texto é escrito a partir de um futuro especulativo, de onde Auken estaria informando que tudo aquilo que atualmente é considerado um produto irá se tornar um serviço gratuito.

A autora acrescentou uma nota à publicação após viralizarem nas redes interpretações que ela considera equivocadas. Ela acrescentou que o texto não trata de uma utopia ou sonho dela, mas de uma discussão sobre um cenário para onde podemos estar indo — para melhor e para pior.

Ainda sobre o mesmo vídeo promocional, Adrian Monck, diretor administrativo do Fórum Econômico Mundial, escreveu no ano passado que extremistas viralizaram a frase “não tenha nada, seja feliz” após o lançamento do livro Great Reset e passaram a espalhar na internet que a iniciativa teria sido criada como uma resposta à pandemia de coronavírus.

Agenda 2030

A Agenda 2030 é um conjunto de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) lançados em 2015 pelas Organização das Nações Unidas (ONU), após décadas de debate. Ao contrário do que diz a autora do conteúdo verificado aqui, o termo Great Reset não aparece no documento.

Os objetivos definem os temas humanitários que devem servir como prioridade nas políticas públicas internacionais até 2030. Entre eles, estão o combate à pobreza e desigualdade socioeconômica, a promoção de uma sociedade mais saudável e a gestão adequada dos recursos naturais.

Da mesma forma que o Great Reset, a agenda é ligada por teóricos da conspiração ao suposto plano de dominação mundial por um grupo restrito de poderosos. O USA Fact Check já desmentiu, por exemplo, postagens alegando que as Nações Unidas pretendem estabelecer uma nova ordem mundial a partir da Agenda 2030. Já a Reuters Fact Check demonstrou ser falso que a Agenda 2030 é a prova de que a pandemia de covid-19 faz parte de uma conspiração.

O que Alckmin e Klaus Schwab conversaram?

Conforme divulgado pela Agência Brasil, em 17 de maio, o vice-presidente Geraldo Alckmin recebeu no Palácio do Planalto o presidente do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab. Na ocasião, Alckmin assumia interinamente a Presidência da República em função da viagem de Luiz Inácio Lula da Silva a Hiroshima, no Japão, para a cúpula do G7. A agência informou que o principal assunto debatido entre eles foi o desenvolvimento sustentável do Brasil, incluindo potencialidades em indústria de baixo carbono, bioeconomia e a adoção de novas tecnologias para a transição verde.

Alckmin fez uma postagem no Twitter afirmando que, do ponto de vista geopolítico, Schwab qualifica o Brasil como uma “biopotência”. O vice-presidente relatou ter destacado ao economista a necessidade de serem reforçados os laços econômicos e comerciais entre os países, a fim de combater a fragmentação das relações internacionais.

Enquanto esteve no Brasil, Schwab concedeu entrevista ao Estadão na qual falou sobre o cenário econômico do Brasil, o avanço da inteligência artificial e a evolução das práticas ESG (sigla em inglês para compromissos sociais, ambientais e de governança). Em nenhum momento ele cita o intuito de criar um grande bloco econômico no ocidente.

O Estadão Verifica compilou, anteriormente, algumas dicas para identificar uma teoria da conspiração.

A atriz Regina Duarte foi procurada, mas não respondeu até a publicação.

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