Brasil não abandonou o uso da vacina Astrazeneca, que permanece segura para a população


Imunizante continua sendo aplicado, mas perdeu espaço por conta das vacinas bivalentes e orientação do Ministério da Saúde que recomenda o produto como dose de reforço somente a pessoas acima de 40 anos

Por Samuel Lima
Atualização:

O que estão compartilhando: que o Brasil abandonou o uso e a produção da vacina de Oxford/Astrazeneca e que houve aumento no número de casos de infarto, trombose e mortes na população por conta dos imunizantes contra a covid-19.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. A vacina não teve o uso interrompido no Brasil e permanece autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ao todo, 642.853 doses foram aplicadas em 2023.

O fato de o Ministério da Saúde ter recomendado a vacina da Pfizer como dose de reforço para a população abaixo de 40 anos também não significa que a vacina de Oxford/Astrazeneca não seja segura: é apenas uma forma de as autoridades prevenirem um efeito adverso grave extremamente raro do produto diante de um cenário em que a maior parte da população já está protegida com as primeiras doses.

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Vale lembrar que o risco de complicações e de mortes por covid-19 é muito maior para quem não se vacinou contra a doença. Foram registradas 16 mortes por síndrome de trombose com trombocitopenia (TTS) associada a vacinas no Brasil, o que corresponde a 1 caso a cada 20,9 milhões de doses aplicadas. Até junho de 2023, a covid-19 havia tirado a vida de 702.907 pessoas — pelas estatísticas oficiais, houve uma morte a cada 53 testes positivos.

A respeito da fabricação da vacina, a Fiocruz de fato paralisou a produção de novos lotes em outubro do ano passado, mas o contrato segue ativo e a operação pode ser retomada quando necessário.

É falso que vacina de Oxford/Astrazeneca tenha deixado de ser usada no Brasil e que tenha aumentado casos de trombose, infarto e mortes Foto: Reprodução / Instagram
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Saiba mais: a peça de desinformação analisada nesta checagem resgata uma reportagem antiga do programa Fala Brasil, da TV Record, exibida em 14 de abril de 2023. No vídeo, o apresentador do telejornal afirma que o Brasil vai abandonar o uso e a produção da vacina Astrazeneca pela Fiocruz, que o contrato não foi renovado e que o Ministério da Saúde recomendou que imunizantes da Astrazeneca e da Janssen não sejam mais aplicados como dose de reforço para a população abaixo de 40 anos por conta do risco de trombose.

A postagem, que teve mais de 39 mil reações em formato de reels no Instagram, acrescenta uma legenda dizendo que os casos de trombose e infarto estariam aumentando e que o povo estaria morrendo por conta da vacina. Ainda atribui o falso cenário ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, parabenizando quem “fez o L” nas eleições do ano passado.

O material é enganoso porque ignora que as vacinas reduzem substancialmente o risco de complicações e mortes por covid-19. O Estadão Verifica já demonstrou em diversas checagens que o risco de problemas cardiovasculares é maior em quem pega a doença desprotegido, com base em estudos científicos e na análise dos principais órgãos de saúde.

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Nota técnica do Ministério da Saúde

Não está em disputa na comunidade científica abrir mão de vacinas. O que o corpo técnico do Ministério da Saúde passou a discutir no ano passado é se as vacinas com tecnologia de vetor viral aprovadas no Brasil — Oxford/Astrazeneca e Janssen — deveriam ser usadas como doses de reforço neste momento diante da chance, ainda que remota, de TTS e óbitos.

Diferentemente dos anos anteriores, a maior parte da população brasileira hoje já recebeu a dose única ou pelo menos duas doses das vacinas contra a covid-19 — 176 milhões de pessoas, segundo dados da plataforma Our World In Data. Elas apresentam, dessa forma, risco reduzido de casos graves da doença. O cenário era completamente diferente no começo de 2021, por exemplo, quando existia um pico de internações por covid-19 no Brasil e a maioria da população não havia recebido nenhuma dose da vacina.

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Vacina de Oxford/Astrazeneca, produzida pela Fiocruz, foi aprovada pela Anvisa e continua segura para a população Foto: Pascal Rossignol/Reuters

A nota técnica do Ministério da Saúde, divulgada em dezembro do ano passado, veio nesse sentido. Ela não proíbe o uso dessas duas vacinas, mas orienta que elas sejam usadas como dose de reforço apenas para pessoas com mais de 40 anos ou em caso de indisponibilidade de vacina. O motivo é que, nessa faixa etária, o risco de apresentar esse tipo de efeito colateral grave é ainda mais raro.

Para a população entre 18 e 39 anos, o Ministério da Saúde recomendou preferencialmente a aplicação do imunizante da Pfizer, desenvolvido com outra tecnologia, a de RNA mensageiro. “As estratégias de vacinação no Brasil, assim como os imunizantes indicados para cada público, levam em conta o avanço tecnológico do setor e novas evidências científicas sobre o tema”, destacou em nota o ministério, ao explicar a decisão tomada em dezembro.

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As vacinas de vetor viral estão indicadas para uso na população a partir de 40 anos de idade e; em pessoas de 18 a 39 anos de idade, devem ser administradas preferencialmente vacinas COVID-19 da plataforma de RNAm, entretanto, nos locais de difícil acesso ou na indisponibilidade do imunizante dessa plataforma, poderão ser utilizadas as vacinas de vetor viral (Astrazeneca e Janssen)

Nota técnica do Ministério da Saúde, em dez./2022

Em fevereiro deste ano, as chamadas vacinas bivalentes começaram a ser disponibilizadas no Brasil, o que deu origem a um novo calendário de vacinação. Os novos produtos, também fabricados pela Pfizer, foram desenvolvidos com base em cepas da variante ômicron e aumentam o nível de proteção contra essa versão do novo coronavírus que se tornou a mais frequente no planeta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A nota técnica mais recente da pasta recomenda uma dose de reforço da vacina bivalente a todas as pessoas com mais de 18 anos que tenham ao menos tenham completado o esquema primário de vacinação, ou seja, receberam duas doses de Coronavac, Oxford/Astrazeneca e Pfizer/BioNTech ou a dose única da Janssen. O intervalo de aplicação da última dose deve ser de, no mínimo, quatro meses.

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O Ministério da Saúde aponta ainda que “o atual cenário da covid-19 no país, com redução de casos graves e óbitos pela doença, é resultado da população vacinada” e que “os eventos adversos inerentes a qualquer medicamento ou imunizante, são raros e ocorrem, em média, um a cada 100 mil doses aplicadas, apresentando risco significantemente inferior ao de complicações causadas pela infecção da covid-19″.

Vacinas continuam sendo aplicadas

O fato é que as vacinas de Oxford/Astrazeneca e da Janssen seguem autorizadas pela Anvisa e foram aplicadas em milhares de pessoas este ano. A informação pode ser facilmente verificada nos sites da Anvisa e do Ministério da Saúde.

A Covishield, produzida pela Fiocruz em parceria com a universidade britânica e a empresa farmacêutica, teve registro emergencial concedido em 17/1/2021 e o registro definitivo no dia 12/3/2021. A vacina da Janssen foi aprovada em caráter emergencial em 31/3/2021 e de modo definitivo no dia 5/4/2022. Ambas seguem como uma das cinco vacinas contra a covid-19 aprovadas até o momento.

Campanha de vacinação continua em andamento, agora com reforço das vacinas bivalentes da Pfizer.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 27/02/2023

A página do “vacinômetro” do Ministério da Saúde permite constatar que os dois imunizantes continuaram sendo usados em 2023. Segundo dados coletados no dia 7 de junho, 642.853 doses da Oxford/Astrazeneca e 156.861 da Janssen foram inoculadas desde janeiro. O quantitativo representa 2,5% do total de 32 milhões de doses aplicadas no período (somando 10,3 milhões de doses de vacinas monovalentes com 21,7 milhões da vacina bivalente).

Em comparação com 2022, fica evidente que houve uma redução na participação das duas vacinas na campanha. Das 121,2 milhões de doses aplicadas no primeiro semestre do ano passado, 20,5 milhões foram da Oxford/Astrazeneca e 20,6 milhões da Janssen, que representaram juntas 33,9% do total de doses.

Produção paralisada e contrato ativo

A respeito da fabricação nacional da Covishield, a Fiocruz esclareceu ao Estadão Verifica que a produção da vacina é feita conforme solicitado pelo Ministério da Saúde e que o contrato segue vigente.

“Em função da baixa demanda, a produção regular foi suspensa em outubro passado. No momento, a Bio-Manguinhos/Fiocruz está produzindo um novo lote de IFA (ingrediente farmacêutico ativo), que permanecerá em estoque para ser processado prontamente caso necessário”, aponta a entidade.

A Fiocruz destaca que a vacina continua sendo recomendada pela OMS para a população acima de 18 anos. “Seus possíveis efeitos adversos graves, como a Síndrome de Trombose com Trombocitopenia, são considerados extremamente raros e possivelmente associados a fatores predisponentes individuais”, acrescenta.

Laboratório Bio-Manguinhos, da Fiocruz, produz ingrediente farmacêutico ativo das vacinas. Foto: Bernardo Portella / Divulgação

Na época em que a reportagem da TV Record e de outros veículos foram ao ar, a Fiocruz emitiu uma nota esclarecendo os mesmos pontos. O Estadão Verifica não encontrou novas notícias do Fala Brasil a respeito dessa informação, mas o R7 publicou uma notícia que deixa claro que as vacinas Astrazeneca e Janssen continuam fazendo parte da campanha de vacinação contra a covid-19. A produção do programa foi procurada, mas não retornou o contato.

Como lidar com postagens do tipo: desde o começo da pandemia, as vacinas contra a covid-19 são um dos alvos prioritários de boatos. O movimento antivacina — por vezes até com adesão de médicos negacionistas — se utiliza de argumentos falsos e enganosos para contrapor o uso dos medicamentos, como o de que seriam produtos experimentais ou ofereceriam mais riscos do que a infecção natural. Nada disso é verdade, portanto, ao encontrar um conteúdo do tipo, desconfie de imediato.

Outro ponto de atenção nesta checagem se deve ao uso de notícias para reforçar um argumento que não se sustenta frente ao conteúdo exibido. Quem recebeu o vídeo pode se perguntar: a reportagem realmente mostra que as vacinas aumentaram casos de trombose, infarto e mortes? A resposta é não. Também é importante verificar se aquela informação é atual e encontra respaldo em outras fontes confiáveis de informação.

O que estão compartilhando: que o Brasil abandonou o uso e a produção da vacina de Oxford/Astrazeneca e que houve aumento no número de casos de infarto, trombose e mortes na população por conta dos imunizantes contra a covid-19.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. A vacina não teve o uso interrompido no Brasil e permanece autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ao todo, 642.853 doses foram aplicadas em 2023.

O fato de o Ministério da Saúde ter recomendado a vacina da Pfizer como dose de reforço para a população abaixo de 40 anos também não significa que a vacina de Oxford/Astrazeneca não seja segura: é apenas uma forma de as autoridades prevenirem um efeito adverso grave extremamente raro do produto diante de um cenário em que a maior parte da população já está protegida com as primeiras doses.

Vale lembrar que o risco de complicações e de mortes por covid-19 é muito maior para quem não se vacinou contra a doença. Foram registradas 16 mortes por síndrome de trombose com trombocitopenia (TTS) associada a vacinas no Brasil, o que corresponde a 1 caso a cada 20,9 milhões de doses aplicadas. Até junho de 2023, a covid-19 havia tirado a vida de 702.907 pessoas — pelas estatísticas oficiais, houve uma morte a cada 53 testes positivos.

A respeito da fabricação da vacina, a Fiocruz de fato paralisou a produção de novos lotes em outubro do ano passado, mas o contrato segue ativo e a operação pode ser retomada quando necessário.

É falso que vacina de Oxford/Astrazeneca tenha deixado de ser usada no Brasil e que tenha aumentado casos de trombose, infarto e mortes Foto: Reprodução / Instagram

Saiba mais: a peça de desinformação analisada nesta checagem resgata uma reportagem antiga do programa Fala Brasil, da TV Record, exibida em 14 de abril de 2023. No vídeo, o apresentador do telejornal afirma que o Brasil vai abandonar o uso e a produção da vacina Astrazeneca pela Fiocruz, que o contrato não foi renovado e que o Ministério da Saúde recomendou que imunizantes da Astrazeneca e da Janssen não sejam mais aplicados como dose de reforço para a população abaixo de 40 anos por conta do risco de trombose.

A postagem, que teve mais de 39 mil reações em formato de reels no Instagram, acrescenta uma legenda dizendo que os casos de trombose e infarto estariam aumentando e que o povo estaria morrendo por conta da vacina. Ainda atribui o falso cenário ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, parabenizando quem “fez o L” nas eleições do ano passado.

O material é enganoso porque ignora que as vacinas reduzem substancialmente o risco de complicações e mortes por covid-19. O Estadão Verifica já demonstrou em diversas checagens que o risco de problemas cardiovasculares é maior em quem pega a doença desprotegido, com base em estudos científicos e na análise dos principais órgãos de saúde.

Nota técnica do Ministério da Saúde

Não está em disputa na comunidade científica abrir mão de vacinas. O que o corpo técnico do Ministério da Saúde passou a discutir no ano passado é se as vacinas com tecnologia de vetor viral aprovadas no Brasil — Oxford/Astrazeneca e Janssen — deveriam ser usadas como doses de reforço neste momento diante da chance, ainda que remota, de TTS e óbitos.

Diferentemente dos anos anteriores, a maior parte da população brasileira hoje já recebeu a dose única ou pelo menos duas doses das vacinas contra a covid-19 — 176 milhões de pessoas, segundo dados da plataforma Our World In Data. Elas apresentam, dessa forma, risco reduzido de casos graves da doença. O cenário era completamente diferente no começo de 2021, por exemplo, quando existia um pico de internações por covid-19 no Brasil e a maioria da população não havia recebido nenhuma dose da vacina.

Vacina de Oxford/Astrazeneca, produzida pela Fiocruz, foi aprovada pela Anvisa e continua segura para a população Foto: Pascal Rossignol/Reuters

A nota técnica do Ministério da Saúde, divulgada em dezembro do ano passado, veio nesse sentido. Ela não proíbe o uso dessas duas vacinas, mas orienta que elas sejam usadas como dose de reforço apenas para pessoas com mais de 40 anos ou em caso de indisponibilidade de vacina. O motivo é que, nessa faixa etária, o risco de apresentar esse tipo de efeito colateral grave é ainda mais raro.

Para a população entre 18 e 39 anos, o Ministério da Saúde recomendou preferencialmente a aplicação do imunizante da Pfizer, desenvolvido com outra tecnologia, a de RNA mensageiro. “As estratégias de vacinação no Brasil, assim como os imunizantes indicados para cada público, levam em conta o avanço tecnológico do setor e novas evidências científicas sobre o tema”, destacou em nota o ministério, ao explicar a decisão tomada em dezembro.

As vacinas de vetor viral estão indicadas para uso na população a partir de 40 anos de idade e; em pessoas de 18 a 39 anos de idade, devem ser administradas preferencialmente vacinas COVID-19 da plataforma de RNAm, entretanto, nos locais de difícil acesso ou na indisponibilidade do imunizante dessa plataforma, poderão ser utilizadas as vacinas de vetor viral (Astrazeneca e Janssen)

Nota técnica do Ministério da Saúde, em dez./2022

Em fevereiro deste ano, as chamadas vacinas bivalentes começaram a ser disponibilizadas no Brasil, o que deu origem a um novo calendário de vacinação. Os novos produtos, também fabricados pela Pfizer, foram desenvolvidos com base em cepas da variante ômicron e aumentam o nível de proteção contra essa versão do novo coronavírus que se tornou a mais frequente no planeta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A nota técnica mais recente da pasta recomenda uma dose de reforço da vacina bivalente a todas as pessoas com mais de 18 anos que tenham ao menos tenham completado o esquema primário de vacinação, ou seja, receberam duas doses de Coronavac, Oxford/Astrazeneca e Pfizer/BioNTech ou a dose única da Janssen. O intervalo de aplicação da última dose deve ser de, no mínimo, quatro meses.

O Ministério da Saúde aponta ainda que “o atual cenário da covid-19 no país, com redução de casos graves e óbitos pela doença, é resultado da população vacinada” e que “os eventos adversos inerentes a qualquer medicamento ou imunizante, são raros e ocorrem, em média, um a cada 100 mil doses aplicadas, apresentando risco significantemente inferior ao de complicações causadas pela infecção da covid-19″.

Vacinas continuam sendo aplicadas

O fato é que as vacinas de Oxford/Astrazeneca e da Janssen seguem autorizadas pela Anvisa e foram aplicadas em milhares de pessoas este ano. A informação pode ser facilmente verificada nos sites da Anvisa e do Ministério da Saúde.

A Covishield, produzida pela Fiocruz em parceria com a universidade britânica e a empresa farmacêutica, teve registro emergencial concedido em 17/1/2021 e o registro definitivo no dia 12/3/2021. A vacina da Janssen foi aprovada em caráter emergencial em 31/3/2021 e de modo definitivo no dia 5/4/2022. Ambas seguem como uma das cinco vacinas contra a covid-19 aprovadas até o momento.

Campanha de vacinação continua em andamento, agora com reforço das vacinas bivalentes da Pfizer.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 27/02/2023

A página do “vacinômetro” do Ministério da Saúde permite constatar que os dois imunizantes continuaram sendo usados em 2023. Segundo dados coletados no dia 7 de junho, 642.853 doses da Oxford/Astrazeneca e 156.861 da Janssen foram inoculadas desde janeiro. O quantitativo representa 2,5% do total de 32 milhões de doses aplicadas no período (somando 10,3 milhões de doses de vacinas monovalentes com 21,7 milhões da vacina bivalente).

Em comparação com 2022, fica evidente que houve uma redução na participação das duas vacinas na campanha. Das 121,2 milhões de doses aplicadas no primeiro semestre do ano passado, 20,5 milhões foram da Oxford/Astrazeneca e 20,6 milhões da Janssen, que representaram juntas 33,9% do total de doses.

Produção paralisada e contrato ativo

A respeito da fabricação nacional da Covishield, a Fiocruz esclareceu ao Estadão Verifica que a produção da vacina é feita conforme solicitado pelo Ministério da Saúde e que o contrato segue vigente.

“Em função da baixa demanda, a produção regular foi suspensa em outubro passado. No momento, a Bio-Manguinhos/Fiocruz está produzindo um novo lote de IFA (ingrediente farmacêutico ativo), que permanecerá em estoque para ser processado prontamente caso necessário”, aponta a entidade.

A Fiocruz destaca que a vacina continua sendo recomendada pela OMS para a população acima de 18 anos. “Seus possíveis efeitos adversos graves, como a Síndrome de Trombose com Trombocitopenia, são considerados extremamente raros e possivelmente associados a fatores predisponentes individuais”, acrescenta.

Laboratório Bio-Manguinhos, da Fiocruz, produz ingrediente farmacêutico ativo das vacinas. Foto: Bernardo Portella / Divulgação

Na época em que a reportagem da TV Record e de outros veículos foram ao ar, a Fiocruz emitiu uma nota esclarecendo os mesmos pontos. O Estadão Verifica não encontrou novas notícias do Fala Brasil a respeito dessa informação, mas o R7 publicou uma notícia que deixa claro que as vacinas Astrazeneca e Janssen continuam fazendo parte da campanha de vacinação contra a covid-19. A produção do programa foi procurada, mas não retornou o contato.

Como lidar com postagens do tipo: desde o começo da pandemia, as vacinas contra a covid-19 são um dos alvos prioritários de boatos. O movimento antivacina — por vezes até com adesão de médicos negacionistas — se utiliza de argumentos falsos e enganosos para contrapor o uso dos medicamentos, como o de que seriam produtos experimentais ou ofereceriam mais riscos do que a infecção natural. Nada disso é verdade, portanto, ao encontrar um conteúdo do tipo, desconfie de imediato.

Outro ponto de atenção nesta checagem se deve ao uso de notícias para reforçar um argumento que não se sustenta frente ao conteúdo exibido. Quem recebeu o vídeo pode se perguntar: a reportagem realmente mostra que as vacinas aumentaram casos de trombose, infarto e mortes? A resposta é não. Também é importante verificar se aquela informação é atual e encontra respaldo em outras fontes confiáveis de informação.

O que estão compartilhando: que o Brasil abandonou o uso e a produção da vacina de Oxford/Astrazeneca e que houve aumento no número de casos de infarto, trombose e mortes na população por conta dos imunizantes contra a covid-19.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. A vacina não teve o uso interrompido no Brasil e permanece autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ao todo, 642.853 doses foram aplicadas em 2023.

O fato de o Ministério da Saúde ter recomendado a vacina da Pfizer como dose de reforço para a população abaixo de 40 anos também não significa que a vacina de Oxford/Astrazeneca não seja segura: é apenas uma forma de as autoridades prevenirem um efeito adverso grave extremamente raro do produto diante de um cenário em que a maior parte da população já está protegida com as primeiras doses.

Vale lembrar que o risco de complicações e de mortes por covid-19 é muito maior para quem não se vacinou contra a doença. Foram registradas 16 mortes por síndrome de trombose com trombocitopenia (TTS) associada a vacinas no Brasil, o que corresponde a 1 caso a cada 20,9 milhões de doses aplicadas. Até junho de 2023, a covid-19 havia tirado a vida de 702.907 pessoas — pelas estatísticas oficiais, houve uma morte a cada 53 testes positivos.

A respeito da fabricação da vacina, a Fiocruz de fato paralisou a produção de novos lotes em outubro do ano passado, mas o contrato segue ativo e a operação pode ser retomada quando necessário.

É falso que vacina de Oxford/Astrazeneca tenha deixado de ser usada no Brasil e que tenha aumentado casos de trombose, infarto e mortes Foto: Reprodução / Instagram

Saiba mais: a peça de desinformação analisada nesta checagem resgata uma reportagem antiga do programa Fala Brasil, da TV Record, exibida em 14 de abril de 2023. No vídeo, o apresentador do telejornal afirma que o Brasil vai abandonar o uso e a produção da vacina Astrazeneca pela Fiocruz, que o contrato não foi renovado e que o Ministério da Saúde recomendou que imunizantes da Astrazeneca e da Janssen não sejam mais aplicados como dose de reforço para a população abaixo de 40 anos por conta do risco de trombose.

A postagem, que teve mais de 39 mil reações em formato de reels no Instagram, acrescenta uma legenda dizendo que os casos de trombose e infarto estariam aumentando e que o povo estaria morrendo por conta da vacina. Ainda atribui o falso cenário ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, parabenizando quem “fez o L” nas eleições do ano passado.

O material é enganoso porque ignora que as vacinas reduzem substancialmente o risco de complicações e mortes por covid-19. O Estadão Verifica já demonstrou em diversas checagens que o risco de problemas cardiovasculares é maior em quem pega a doença desprotegido, com base em estudos científicos e na análise dos principais órgãos de saúde.

Nota técnica do Ministério da Saúde

Não está em disputa na comunidade científica abrir mão de vacinas. O que o corpo técnico do Ministério da Saúde passou a discutir no ano passado é se as vacinas com tecnologia de vetor viral aprovadas no Brasil — Oxford/Astrazeneca e Janssen — deveriam ser usadas como doses de reforço neste momento diante da chance, ainda que remota, de TTS e óbitos.

Diferentemente dos anos anteriores, a maior parte da população brasileira hoje já recebeu a dose única ou pelo menos duas doses das vacinas contra a covid-19 — 176 milhões de pessoas, segundo dados da plataforma Our World In Data. Elas apresentam, dessa forma, risco reduzido de casos graves da doença. O cenário era completamente diferente no começo de 2021, por exemplo, quando existia um pico de internações por covid-19 no Brasil e a maioria da população não havia recebido nenhuma dose da vacina.

Vacina de Oxford/Astrazeneca, produzida pela Fiocruz, foi aprovada pela Anvisa e continua segura para a população Foto: Pascal Rossignol/Reuters

A nota técnica do Ministério da Saúde, divulgada em dezembro do ano passado, veio nesse sentido. Ela não proíbe o uso dessas duas vacinas, mas orienta que elas sejam usadas como dose de reforço apenas para pessoas com mais de 40 anos ou em caso de indisponibilidade de vacina. O motivo é que, nessa faixa etária, o risco de apresentar esse tipo de efeito colateral grave é ainda mais raro.

Para a população entre 18 e 39 anos, o Ministério da Saúde recomendou preferencialmente a aplicação do imunizante da Pfizer, desenvolvido com outra tecnologia, a de RNA mensageiro. “As estratégias de vacinação no Brasil, assim como os imunizantes indicados para cada público, levam em conta o avanço tecnológico do setor e novas evidências científicas sobre o tema”, destacou em nota o ministério, ao explicar a decisão tomada em dezembro.

As vacinas de vetor viral estão indicadas para uso na população a partir de 40 anos de idade e; em pessoas de 18 a 39 anos de idade, devem ser administradas preferencialmente vacinas COVID-19 da plataforma de RNAm, entretanto, nos locais de difícil acesso ou na indisponibilidade do imunizante dessa plataforma, poderão ser utilizadas as vacinas de vetor viral (Astrazeneca e Janssen)

Nota técnica do Ministério da Saúde, em dez./2022

Em fevereiro deste ano, as chamadas vacinas bivalentes começaram a ser disponibilizadas no Brasil, o que deu origem a um novo calendário de vacinação. Os novos produtos, também fabricados pela Pfizer, foram desenvolvidos com base em cepas da variante ômicron e aumentam o nível de proteção contra essa versão do novo coronavírus que se tornou a mais frequente no planeta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A nota técnica mais recente da pasta recomenda uma dose de reforço da vacina bivalente a todas as pessoas com mais de 18 anos que tenham ao menos tenham completado o esquema primário de vacinação, ou seja, receberam duas doses de Coronavac, Oxford/Astrazeneca e Pfizer/BioNTech ou a dose única da Janssen. O intervalo de aplicação da última dose deve ser de, no mínimo, quatro meses.

O Ministério da Saúde aponta ainda que “o atual cenário da covid-19 no país, com redução de casos graves e óbitos pela doença, é resultado da população vacinada” e que “os eventos adversos inerentes a qualquer medicamento ou imunizante, são raros e ocorrem, em média, um a cada 100 mil doses aplicadas, apresentando risco significantemente inferior ao de complicações causadas pela infecção da covid-19″.

Vacinas continuam sendo aplicadas

O fato é que as vacinas de Oxford/Astrazeneca e da Janssen seguem autorizadas pela Anvisa e foram aplicadas em milhares de pessoas este ano. A informação pode ser facilmente verificada nos sites da Anvisa e do Ministério da Saúde.

A Covishield, produzida pela Fiocruz em parceria com a universidade britânica e a empresa farmacêutica, teve registro emergencial concedido em 17/1/2021 e o registro definitivo no dia 12/3/2021. A vacina da Janssen foi aprovada em caráter emergencial em 31/3/2021 e de modo definitivo no dia 5/4/2022. Ambas seguem como uma das cinco vacinas contra a covid-19 aprovadas até o momento.

Campanha de vacinação continua em andamento, agora com reforço das vacinas bivalentes da Pfizer.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 27/02/2023

A página do “vacinômetro” do Ministério da Saúde permite constatar que os dois imunizantes continuaram sendo usados em 2023. Segundo dados coletados no dia 7 de junho, 642.853 doses da Oxford/Astrazeneca e 156.861 da Janssen foram inoculadas desde janeiro. O quantitativo representa 2,5% do total de 32 milhões de doses aplicadas no período (somando 10,3 milhões de doses de vacinas monovalentes com 21,7 milhões da vacina bivalente).

Em comparação com 2022, fica evidente que houve uma redução na participação das duas vacinas na campanha. Das 121,2 milhões de doses aplicadas no primeiro semestre do ano passado, 20,5 milhões foram da Oxford/Astrazeneca e 20,6 milhões da Janssen, que representaram juntas 33,9% do total de doses.

Produção paralisada e contrato ativo

A respeito da fabricação nacional da Covishield, a Fiocruz esclareceu ao Estadão Verifica que a produção da vacina é feita conforme solicitado pelo Ministério da Saúde e que o contrato segue vigente.

“Em função da baixa demanda, a produção regular foi suspensa em outubro passado. No momento, a Bio-Manguinhos/Fiocruz está produzindo um novo lote de IFA (ingrediente farmacêutico ativo), que permanecerá em estoque para ser processado prontamente caso necessário”, aponta a entidade.

A Fiocruz destaca que a vacina continua sendo recomendada pela OMS para a população acima de 18 anos. “Seus possíveis efeitos adversos graves, como a Síndrome de Trombose com Trombocitopenia, são considerados extremamente raros e possivelmente associados a fatores predisponentes individuais”, acrescenta.

Laboratório Bio-Manguinhos, da Fiocruz, produz ingrediente farmacêutico ativo das vacinas. Foto: Bernardo Portella / Divulgação

Na época em que a reportagem da TV Record e de outros veículos foram ao ar, a Fiocruz emitiu uma nota esclarecendo os mesmos pontos. O Estadão Verifica não encontrou novas notícias do Fala Brasil a respeito dessa informação, mas o R7 publicou uma notícia que deixa claro que as vacinas Astrazeneca e Janssen continuam fazendo parte da campanha de vacinação contra a covid-19. A produção do programa foi procurada, mas não retornou o contato.

Como lidar com postagens do tipo: desde o começo da pandemia, as vacinas contra a covid-19 são um dos alvos prioritários de boatos. O movimento antivacina — por vezes até com adesão de médicos negacionistas — se utiliza de argumentos falsos e enganosos para contrapor o uso dos medicamentos, como o de que seriam produtos experimentais ou ofereceriam mais riscos do que a infecção natural. Nada disso é verdade, portanto, ao encontrar um conteúdo do tipo, desconfie de imediato.

Outro ponto de atenção nesta checagem se deve ao uso de notícias para reforçar um argumento que não se sustenta frente ao conteúdo exibido. Quem recebeu o vídeo pode se perguntar: a reportagem realmente mostra que as vacinas aumentaram casos de trombose, infarto e mortes? A resposta é não. Também é importante verificar se aquela informação é atual e encontra respaldo em outras fontes confiáveis de informação.

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