Postagem engana sobre proteção contra gripe aviária; vacina cutânea está em fase inicial de testes


Homem gravou vídeo para espalhar desinformação sobre imunizantes e sugere consumo de alimentos; especialistas dizem que medida não deve substituir a vacinação

Por Milka Moura

O que estão compartilhando: vídeo em que um homem diz que uma vacina cutânea para a gripe aviária estaria sendo testada na Austrália “a toque de caixa” e estaria “debilitando o sistema imunológico das pessoas”. Ele desaconselha a imunização e recomenda o consumo de anis-estrelado e água hidrogenada para prevenir infecções.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O imunizante citado está em fase inicial de estudos. Ainda não há dados de segurança ou eficácia, por isso é incorreto dizer que elas estariam causando danos ao sistema imunológico dos voluntários. Não há previsão para sua aprovação.

Especialistas consultados pelo Estadão Verifica negam que qualquer vacina tenha a capacidade de “enfraquecer o sistema imunológico”, como alega o vídeo checado. Também dizem que o anis-estrelado e a água hidrogenada não podem substituir a proteção oferecida por qualquer vacina.

continua após a publicidade

O autor da postagem foi procurado, mas não respondeu.

Especialistas consultados garantem a eficácia da vacina contra a gripe aviária e afirmam que o uso de medicações alternativas não pode substituir os imunizantes. Foto: Reprodução/Facebook
continua após a publicidade

Testes do imunizante estão no início; não há dados para falar do perfil de segurança

O conteúdo que circula no Facebook menciona estudos feitos pela empresa Vaxxas para a criação de uma vacina contra a gripe aviária. A empresa está estudando uma vacina cutânea, sem o uso de agulhas. Ela é administrada por um adesivo de alta densidade contra a cepa H7N9 da influenza aviária. A Vaxxas informou ao Verifica que o imunizante se encontra na fase I de estudos, iniciada em agosto deste ano, e que é responsável apenas pela tecnologia de aplicação do imunizante sem o uso de agulhas. “A vacina administrada pela tecnologia de adesivo de alta densidade da Vaxxas neste estudo foi fornecida à Vaxxas por um terceiro. A Vaxxas não desenvolveu a vacina”, respondeu, sem informar qual laboratório foi responsável pela substância.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), três fases antecedem a autorização do uso de uma vacina. São eles:

continua após a publicidade
  • Fase I: A vacina é testada em um grupo pequeno de voluntários para avaliar a sua segurança. Geralmente, os voluntários são jovens adultos e saudáveis.
  • Fase II: A vacina é administrada a várias centenas de voluntários, para avaliar a capacidade de gerar uma resposta do sistema imunológico. Os participantes podem ter as mesmas características a quem o público da vacina se destina ou podem ser feitos ensaios para avaliar diferentes grupos etários e formulações do imunizante. Um grupo que não recebeu a vacina também poderá ser incluído no teste para comparação.
  • Fase III: A vacina é administrada a milhares de voluntários e comparada com um grupo semelhante que não recebeu o imunizante, mas um produto similar, de comparação. Essa análise permite verificar se a vacina é eficaz contra a doença que se destina e estuda a sua segurança em mais pessoas. Os ensaios desta fase podem acontecer em diversos países, para garantir que o desempenho do imunizante se aplica a populações diferentes. Ainda durante esta terceira etapa, os voluntários e cientistas são impedidos de saber quem recebeu o produto e quem não recebeu. Essa informação só é transmitida depois da conclusão do teste. Isso serve para garantir que nenhum dos dois sejam influenciados na avaliação sobre a eficácia e segurança do produto que foi recebido.

Finalizada as etapas, cabe a cada governo e órgãos responsáveis estudarem os resultados dos estudos realizados pelas empresas e decidirem se o produto será liberado para uso naquele país. Caso a decisão seja afirmativa, a vacina ainda continua a ser monitorada mesmo após o início da aplicação. Com a aplicação em milhões de pessoas, é possível detectar os efeitos adversos muito raros.

Como dito anteriormente, a vacina da Vaxxas ainda está na etapa I, quando é iniciado os testes em pequenos grupos. Estão sendo testados 258 participantes saudáveis com idades entre 18 e 50 anos na Austrália. Ao contrário do que afirma a publicação aqui checada, não há ainda nenhum dado de segurança sobre o imunizante, tendo em vista que os testes estão em fase inicial. Portanto, não se pode afirmar que a vacina está debilitando o sistema imunológico das pessoas.

continua após a publicidade

Casos de gripe aviária em humanos são raros, mas preocupantes

A gripe ou influenza aviária é uma doença infecciosa que pode afetar mamíferos, aves e humanos. Segundo o Ministério da Saúde, os vírus da influenza aviária circulam entre aves, e os humanos podem ser infectados através da exposição a aves com a doença, ou em ambientes contaminados.

Especialistas acreditam que estudos de uma vacina contra a gripe aviária são relevantes.  Foto: PordeeStudio/Adobe Stock
continua após a publicidade

Os sintomas comuns são febre alta (maior ou igual a 38º), tosse, desconforto respiratório, dor de garganta e coriza. Sintomas como náuseas, vômito e diarreia também têm sido relatados com mais frequência na infecção por influenza aviária. Outros sintomas como dor abdominal, sangramento do nariz ou gengivas, encefalite e dor no peito também foram relatados em alguns pacientes. Segundo informações do Hospital Israelita Albert Einstein, existem cepas diferentes do vírus da gripe aviária. Quatro delas podem infectar seres humanos. São elas:

  • H5N1
  • H7N9
  • H5N6
  • H5N8

A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que entre 1º de janeiro de 2003 até maio deste ano, 889 casos de infecção humana pela gripe aviária foram relatados no mundo, em 23 países. Destes, 463 foram fatais. Apesar disso, ainda não há transmissão entre humanos documentada. Os infectados contraíram diretamente dos animais e não transmitiram a doença para outras pessoas.

continua após a publicidade

Os casos em humanos são raros, mas especialistas temem que o vírus da doença possa se adaptar a outras espécies e isso possa gerar uma nova pandemia. Casos assim já foram registrados. Até julho deste ano, havia mais de 170 rebanhos infectados nos Estados Unidos. Infecções também foram encontradas em gatos domésticos e um guaxinim, indicando a transmissão interespécies.

Segundo a diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, mesmo com casos controlados da doença, os estudos de uma vacina contra o vírus são necessários para prevenir uma possível pandemia. “É fundamental que a gente tenha uma vacina contra esse vírus. Se houver uma pandemia, diferente do que aconteceu com a covid-19, já de início vamos poder manter a população protegida de uma doença que promete ser grave para o ser humano”, disse ao Verifica.

Não há registro de casos da doença no Brasil. Mas o País está em estado de emergência zoossanitária desde maio de 2023, em função da detecção da infecção em aves silvestres.

Consumo de alimentos não pode substituir a vacinação

O médico nutrólogo e professor Durval Ribas Filho, fellow da Obesity Society e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) explicou ao Verifica que o anis-estrelado é uma especiaria aromática usada em temperos, chás e tinturas. De fato, ela é rica em vitaminas como a C e do complexo B, antioxidantes e possui compostos químicos importantes para a saúde.

“É rico em antioxidantes, que contribuem no combate aos radicais livres e protegem as células do organismo dos danos causados pela oxidação, ajudando a fortalecer o sistema imunológico e prevenir doenças. A tintura de anis-estrelado, mencionada no vídeo, é um nutracêutico (alimento funcional), e mesmo isento da obrigatoriedade da prescrição médica, merece alguns cuidados, pois pode causar hipersensibilidade e outros efeitos colaterais. Por isso, a indicação de um especialista é a melhor recomendação”, informou.

A água hidrogenada também atua como um antioxidante, segundo o médico, mas a quantidade de ingestão deve ser acompanhada por um médico para não sobrecarregar os órgãos. Os dois alimentos, apesar dos benefícios, não substituem a vacinação. “As vacinas são insubstituíveis na prevenção de doenças. Os chás, tinturas e outros alimentos podem ser inseridos em uma dieta saudável, para se obter os benefícios de suas propriedades de macro, micronutrientes e outras substâncias que contribuem para o sistema imunológico, mas nunca como orientação para não se vacinar”, avaliou Ribas Filho.

O médico lembrou que um conteúdo semelhante circulou em 2020, em relação à gripe e o chá de erva-doce. O boato de que a planta era eficiente no combate à doença e poderia ser usado como tratamento oficial foi desmentido pelo Ministério da Saúde (confira aqui e aqui).

Vacinas contra a gripe aviária não são invenção nova, como afirma autor de vídeo

Outra desinformação no conteúdo checado é que as vacinas contra a gripe aviária estariam sendo feitas “a toque de caixa”, muito rapidamente. No entanto, os estudos para a possível criação de vacinas contra esta doença não são recentes.

Em 2019 o Instituto Butantan informou que estava produzindo lotes experimentais de vacinas contra a cepa H7N9 do vírus, que tinha potencial para causar uma pandemia. Já em agosto deste ano, o Butantan pediu à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) uma autorização para testar em humanos uma vacina contra o tipo A da gripe, da cepa H5N8. Como mostrou o Estadão, a empresa farmacêutica Moderna já tem uma vacina de mRNA contra gripe aviária em testes humanos de estágio muito inicial. Trabalhos similares também têm sido realizados na Pfizer.

Vaxxas está estudando uma vacina cutânea contra a gripe aviária. Imunizante ainda está em fase de testes e ainda não há informações disponíveis sobre sua eficácia  Foto: Brian Snyder/Reuters

Post usado foi publicado por médico conhecido por espalhar desinformação

O vídeo viral se baseia em uma publicação no Instagram feita pelo médico José Nasser, conhecido por espalhar desinformação e que já foi alvo de checagem pelo Verifica e Projeto Comprova (aqui e aqui).

No post com o título “começa o teste da v@c contra a gripe aviária ‘sem agulha’ na Austrália com o apoio dos EUA”, Nasser diz que os estudos sobre a nova vacina contra a influenza aviária não detalham “quais os adjuvantes, qual o grau de segurança disso, e possíveis efeitos adversos” e têm a participação do empresário Bill Gates.

A FDA informou em nota ao Verifica que “não pode fornecer informações sobre o status de possíveis submissões regulatórias para produtos não aprovados que podem estar sob investigação” e que as “questões sobre a Vaxxas devem ser direcionadas à empresa.”

Procurada, a Vaxxas, informou que há um teste sendo conduzido, que está em investigação aprovada pela FDA, que testa uma vacina monovalente contra a gripe aviária administrada por via cutânea, por meio de um “patch de microagulhas de alta densidade” mas que não foi a empresa que desenvolveu a vacina, e sim uma “terceira parte”.

A reportagem questionou novamente a FDA sobre a possibilidade de checar substâncias que ainda estão em desenvolvimento. A federação respondeu que “não pode confirmar ou negar a existência de uma aplicação de produto pendente, a menos que tenha sido previamente divulgada publicamente pelo patrocinador, nem discutir o status de uma aplicação pendente.”

Como podemos lidar com postagens do tipo: É comum se deparar na internet com receitas milagrosas que prometem a cura ou tratamento alternativo para certas doenças. O apelo ao natural faz com que essas receitas sejam compartilhadas, mas nem sempre esse é o caminho a ser seguido.

A recomendação de especialistas é sempre procurar orientação médica antes de se automedicar, mesmo que seja com substâncias aparentemente sem intervenções químicas. Procure sempre informações com órgãos oficiais como o Ministério da Saúde e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O Estadão Verifica já desmentiu, por exemplo, que é falso que chá de jambolão seja a cura da diabetes e que receita com cebola roxa e limão não controla a glicose.

O que estão compartilhando: vídeo em que um homem diz que uma vacina cutânea para a gripe aviária estaria sendo testada na Austrália “a toque de caixa” e estaria “debilitando o sistema imunológico das pessoas”. Ele desaconselha a imunização e recomenda o consumo de anis-estrelado e água hidrogenada para prevenir infecções.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O imunizante citado está em fase inicial de estudos. Ainda não há dados de segurança ou eficácia, por isso é incorreto dizer que elas estariam causando danos ao sistema imunológico dos voluntários. Não há previsão para sua aprovação.

Especialistas consultados pelo Estadão Verifica negam que qualquer vacina tenha a capacidade de “enfraquecer o sistema imunológico”, como alega o vídeo checado. Também dizem que o anis-estrelado e a água hidrogenada não podem substituir a proteção oferecida por qualquer vacina.

O autor da postagem foi procurado, mas não respondeu.

Especialistas consultados garantem a eficácia da vacina contra a gripe aviária e afirmam que o uso de medicações alternativas não pode substituir os imunizantes. Foto: Reprodução/Facebook

Testes do imunizante estão no início; não há dados para falar do perfil de segurança

O conteúdo que circula no Facebook menciona estudos feitos pela empresa Vaxxas para a criação de uma vacina contra a gripe aviária. A empresa está estudando uma vacina cutânea, sem o uso de agulhas. Ela é administrada por um adesivo de alta densidade contra a cepa H7N9 da influenza aviária. A Vaxxas informou ao Verifica que o imunizante se encontra na fase I de estudos, iniciada em agosto deste ano, e que é responsável apenas pela tecnologia de aplicação do imunizante sem o uso de agulhas. “A vacina administrada pela tecnologia de adesivo de alta densidade da Vaxxas neste estudo foi fornecida à Vaxxas por um terceiro. A Vaxxas não desenvolveu a vacina”, respondeu, sem informar qual laboratório foi responsável pela substância.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), três fases antecedem a autorização do uso de uma vacina. São eles:

  • Fase I: A vacina é testada em um grupo pequeno de voluntários para avaliar a sua segurança. Geralmente, os voluntários são jovens adultos e saudáveis.
  • Fase II: A vacina é administrada a várias centenas de voluntários, para avaliar a capacidade de gerar uma resposta do sistema imunológico. Os participantes podem ter as mesmas características a quem o público da vacina se destina ou podem ser feitos ensaios para avaliar diferentes grupos etários e formulações do imunizante. Um grupo que não recebeu a vacina também poderá ser incluído no teste para comparação.
  • Fase III: A vacina é administrada a milhares de voluntários e comparada com um grupo semelhante que não recebeu o imunizante, mas um produto similar, de comparação. Essa análise permite verificar se a vacina é eficaz contra a doença que se destina e estuda a sua segurança em mais pessoas. Os ensaios desta fase podem acontecer em diversos países, para garantir que o desempenho do imunizante se aplica a populações diferentes. Ainda durante esta terceira etapa, os voluntários e cientistas são impedidos de saber quem recebeu o produto e quem não recebeu. Essa informação só é transmitida depois da conclusão do teste. Isso serve para garantir que nenhum dos dois sejam influenciados na avaliação sobre a eficácia e segurança do produto que foi recebido.

Finalizada as etapas, cabe a cada governo e órgãos responsáveis estudarem os resultados dos estudos realizados pelas empresas e decidirem se o produto será liberado para uso naquele país. Caso a decisão seja afirmativa, a vacina ainda continua a ser monitorada mesmo após o início da aplicação. Com a aplicação em milhões de pessoas, é possível detectar os efeitos adversos muito raros.

Como dito anteriormente, a vacina da Vaxxas ainda está na etapa I, quando é iniciado os testes em pequenos grupos. Estão sendo testados 258 participantes saudáveis com idades entre 18 e 50 anos na Austrália. Ao contrário do que afirma a publicação aqui checada, não há ainda nenhum dado de segurança sobre o imunizante, tendo em vista que os testes estão em fase inicial. Portanto, não se pode afirmar que a vacina está debilitando o sistema imunológico das pessoas.

Casos de gripe aviária em humanos são raros, mas preocupantes

A gripe ou influenza aviária é uma doença infecciosa que pode afetar mamíferos, aves e humanos. Segundo o Ministério da Saúde, os vírus da influenza aviária circulam entre aves, e os humanos podem ser infectados através da exposição a aves com a doença, ou em ambientes contaminados.

Especialistas acreditam que estudos de uma vacina contra a gripe aviária são relevantes.  Foto: PordeeStudio/Adobe Stock

Os sintomas comuns são febre alta (maior ou igual a 38º), tosse, desconforto respiratório, dor de garganta e coriza. Sintomas como náuseas, vômito e diarreia também têm sido relatados com mais frequência na infecção por influenza aviária. Outros sintomas como dor abdominal, sangramento do nariz ou gengivas, encefalite e dor no peito também foram relatados em alguns pacientes. Segundo informações do Hospital Israelita Albert Einstein, existem cepas diferentes do vírus da gripe aviária. Quatro delas podem infectar seres humanos. São elas:

  • H5N1
  • H7N9
  • H5N6
  • H5N8

A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que entre 1º de janeiro de 2003 até maio deste ano, 889 casos de infecção humana pela gripe aviária foram relatados no mundo, em 23 países. Destes, 463 foram fatais. Apesar disso, ainda não há transmissão entre humanos documentada. Os infectados contraíram diretamente dos animais e não transmitiram a doença para outras pessoas.

Os casos em humanos são raros, mas especialistas temem que o vírus da doença possa se adaptar a outras espécies e isso possa gerar uma nova pandemia. Casos assim já foram registrados. Até julho deste ano, havia mais de 170 rebanhos infectados nos Estados Unidos. Infecções também foram encontradas em gatos domésticos e um guaxinim, indicando a transmissão interespécies.

Segundo a diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, mesmo com casos controlados da doença, os estudos de uma vacina contra o vírus são necessários para prevenir uma possível pandemia. “É fundamental que a gente tenha uma vacina contra esse vírus. Se houver uma pandemia, diferente do que aconteceu com a covid-19, já de início vamos poder manter a população protegida de uma doença que promete ser grave para o ser humano”, disse ao Verifica.

Não há registro de casos da doença no Brasil. Mas o País está em estado de emergência zoossanitária desde maio de 2023, em função da detecção da infecção em aves silvestres.

Consumo de alimentos não pode substituir a vacinação

O médico nutrólogo e professor Durval Ribas Filho, fellow da Obesity Society e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) explicou ao Verifica que o anis-estrelado é uma especiaria aromática usada em temperos, chás e tinturas. De fato, ela é rica em vitaminas como a C e do complexo B, antioxidantes e possui compostos químicos importantes para a saúde.

“É rico em antioxidantes, que contribuem no combate aos radicais livres e protegem as células do organismo dos danos causados pela oxidação, ajudando a fortalecer o sistema imunológico e prevenir doenças. A tintura de anis-estrelado, mencionada no vídeo, é um nutracêutico (alimento funcional), e mesmo isento da obrigatoriedade da prescrição médica, merece alguns cuidados, pois pode causar hipersensibilidade e outros efeitos colaterais. Por isso, a indicação de um especialista é a melhor recomendação”, informou.

A água hidrogenada também atua como um antioxidante, segundo o médico, mas a quantidade de ingestão deve ser acompanhada por um médico para não sobrecarregar os órgãos. Os dois alimentos, apesar dos benefícios, não substituem a vacinação. “As vacinas são insubstituíveis na prevenção de doenças. Os chás, tinturas e outros alimentos podem ser inseridos em uma dieta saudável, para se obter os benefícios de suas propriedades de macro, micronutrientes e outras substâncias que contribuem para o sistema imunológico, mas nunca como orientação para não se vacinar”, avaliou Ribas Filho.

O médico lembrou que um conteúdo semelhante circulou em 2020, em relação à gripe e o chá de erva-doce. O boato de que a planta era eficiente no combate à doença e poderia ser usado como tratamento oficial foi desmentido pelo Ministério da Saúde (confira aqui e aqui).

Vacinas contra a gripe aviária não são invenção nova, como afirma autor de vídeo

Outra desinformação no conteúdo checado é que as vacinas contra a gripe aviária estariam sendo feitas “a toque de caixa”, muito rapidamente. No entanto, os estudos para a possível criação de vacinas contra esta doença não são recentes.

Em 2019 o Instituto Butantan informou que estava produzindo lotes experimentais de vacinas contra a cepa H7N9 do vírus, que tinha potencial para causar uma pandemia. Já em agosto deste ano, o Butantan pediu à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) uma autorização para testar em humanos uma vacina contra o tipo A da gripe, da cepa H5N8. Como mostrou o Estadão, a empresa farmacêutica Moderna já tem uma vacina de mRNA contra gripe aviária em testes humanos de estágio muito inicial. Trabalhos similares também têm sido realizados na Pfizer.

Vaxxas está estudando uma vacina cutânea contra a gripe aviária. Imunizante ainda está em fase de testes e ainda não há informações disponíveis sobre sua eficácia  Foto: Brian Snyder/Reuters

Post usado foi publicado por médico conhecido por espalhar desinformação

O vídeo viral se baseia em uma publicação no Instagram feita pelo médico José Nasser, conhecido por espalhar desinformação e que já foi alvo de checagem pelo Verifica e Projeto Comprova (aqui e aqui).

No post com o título “começa o teste da v@c contra a gripe aviária ‘sem agulha’ na Austrália com o apoio dos EUA”, Nasser diz que os estudos sobre a nova vacina contra a influenza aviária não detalham “quais os adjuvantes, qual o grau de segurança disso, e possíveis efeitos adversos” e têm a participação do empresário Bill Gates.

A FDA informou em nota ao Verifica que “não pode fornecer informações sobre o status de possíveis submissões regulatórias para produtos não aprovados que podem estar sob investigação” e que as “questões sobre a Vaxxas devem ser direcionadas à empresa.”

Procurada, a Vaxxas, informou que há um teste sendo conduzido, que está em investigação aprovada pela FDA, que testa uma vacina monovalente contra a gripe aviária administrada por via cutânea, por meio de um “patch de microagulhas de alta densidade” mas que não foi a empresa que desenvolveu a vacina, e sim uma “terceira parte”.

A reportagem questionou novamente a FDA sobre a possibilidade de checar substâncias que ainda estão em desenvolvimento. A federação respondeu que “não pode confirmar ou negar a existência de uma aplicação de produto pendente, a menos que tenha sido previamente divulgada publicamente pelo patrocinador, nem discutir o status de uma aplicação pendente.”

Como podemos lidar com postagens do tipo: É comum se deparar na internet com receitas milagrosas que prometem a cura ou tratamento alternativo para certas doenças. O apelo ao natural faz com que essas receitas sejam compartilhadas, mas nem sempre esse é o caminho a ser seguido.

A recomendação de especialistas é sempre procurar orientação médica antes de se automedicar, mesmo que seja com substâncias aparentemente sem intervenções químicas. Procure sempre informações com órgãos oficiais como o Ministério da Saúde e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O Estadão Verifica já desmentiu, por exemplo, que é falso que chá de jambolão seja a cura da diabetes e que receita com cebola roxa e limão não controla a glicose.

O que estão compartilhando: vídeo em que um homem diz que uma vacina cutânea para a gripe aviária estaria sendo testada na Austrália “a toque de caixa” e estaria “debilitando o sistema imunológico das pessoas”. Ele desaconselha a imunização e recomenda o consumo de anis-estrelado e água hidrogenada para prevenir infecções.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O imunizante citado está em fase inicial de estudos. Ainda não há dados de segurança ou eficácia, por isso é incorreto dizer que elas estariam causando danos ao sistema imunológico dos voluntários. Não há previsão para sua aprovação.

Especialistas consultados pelo Estadão Verifica negam que qualquer vacina tenha a capacidade de “enfraquecer o sistema imunológico”, como alega o vídeo checado. Também dizem que o anis-estrelado e a água hidrogenada não podem substituir a proteção oferecida por qualquer vacina.

O autor da postagem foi procurado, mas não respondeu.

Especialistas consultados garantem a eficácia da vacina contra a gripe aviária e afirmam que o uso de medicações alternativas não pode substituir os imunizantes. Foto: Reprodução/Facebook

Testes do imunizante estão no início; não há dados para falar do perfil de segurança

O conteúdo que circula no Facebook menciona estudos feitos pela empresa Vaxxas para a criação de uma vacina contra a gripe aviária. A empresa está estudando uma vacina cutânea, sem o uso de agulhas. Ela é administrada por um adesivo de alta densidade contra a cepa H7N9 da influenza aviária. A Vaxxas informou ao Verifica que o imunizante se encontra na fase I de estudos, iniciada em agosto deste ano, e que é responsável apenas pela tecnologia de aplicação do imunizante sem o uso de agulhas. “A vacina administrada pela tecnologia de adesivo de alta densidade da Vaxxas neste estudo foi fornecida à Vaxxas por um terceiro. A Vaxxas não desenvolveu a vacina”, respondeu, sem informar qual laboratório foi responsável pela substância.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), três fases antecedem a autorização do uso de uma vacina. São eles:

  • Fase I: A vacina é testada em um grupo pequeno de voluntários para avaliar a sua segurança. Geralmente, os voluntários são jovens adultos e saudáveis.
  • Fase II: A vacina é administrada a várias centenas de voluntários, para avaliar a capacidade de gerar uma resposta do sistema imunológico. Os participantes podem ter as mesmas características a quem o público da vacina se destina ou podem ser feitos ensaios para avaliar diferentes grupos etários e formulações do imunizante. Um grupo que não recebeu a vacina também poderá ser incluído no teste para comparação.
  • Fase III: A vacina é administrada a milhares de voluntários e comparada com um grupo semelhante que não recebeu o imunizante, mas um produto similar, de comparação. Essa análise permite verificar se a vacina é eficaz contra a doença que se destina e estuda a sua segurança em mais pessoas. Os ensaios desta fase podem acontecer em diversos países, para garantir que o desempenho do imunizante se aplica a populações diferentes. Ainda durante esta terceira etapa, os voluntários e cientistas são impedidos de saber quem recebeu o produto e quem não recebeu. Essa informação só é transmitida depois da conclusão do teste. Isso serve para garantir que nenhum dos dois sejam influenciados na avaliação sobre a eficácia e segurança do produto que foi recebido.

Finalizada as etapas, cabe a cada governo e órgãos responsáveis estudarem os resultados dos estudos realizados pelas empresas e decidirem se o produto será liberado para uso naquele país. Caso a decisão seja afirmativa, a vacina ainda continua a ser monitorada mesmo após o início da aplicação. Com a aplicação em milhões de pessoas, é possível detectar os efeitos adversos muito raros.

Como dito anteriormente, a vacina da Vaxxas ainda está na etapa I, quando é iniciado os testes em pequenos grupos. Estão sendo testados 258 participantes saudáveis com idades entre 18 e 50 anos na Austrália. Ao contrário do que afirma a publicação aqui checada, não há ainda nenhum dado de segurança sobre o imunizante, tendo em vista que os testes estão em fase inicial. Portanto, não se pode afirmar que a vacina está debilitando o sistema imunológico das pessoas.

Casos de gripe aviária em humanos são raros, mas preocupantes

A gripe ou influenza aviária é uma doença infecciosa que pode afetar mamíferos, aves e humanos. Segundo o Ministério da Saúde, os vírus da influenza aviária circulam entre aves, e os humanos podem ser infectados através da exposição a aves com a doença, ou em ambientes contaminados.

Especialistas acreditam que estudos de uma vacina contra a gripe aviária são relevantes.  Foto: PordeeStudio/Adobe Stock

Os sintomas comuns são febre alta (maior ou igual a 38º), tosse, desconforto respiratório, dor de garganta e coriza. Sintomas como náuseas, vômito e diarreia também têm sido relatados com mais frequência na infecção por influenza aviária. Outros sintomas como dor abdominal, sangramento do nariz ou gengivas, encefalite e dor no peito também foram relatados em alguns pacientes. Segundo informações do Hospital Israelita Albert Einstein, existem cepas diferentes do vírus da gripe aviária. Quatro delas podem infectar seres humanos. São elas:

  • H5N1
  • H7N9
  • H5N6
  • H5N8

A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que entre 1º de janeiro de 2003 até maio deste ano, 889 casos de infecção humana pela gripe aviária foram relatados no mundo, em 23 países. Destes, 463 foram fatais. Apesar disso, ainda não há transmissão entre humanos documentada. Os infectados contraíram diretamente dos animais e não transmitiram a doença para outras pessoas.

Os casos em humanos são raros, mas especialistas temem que o vírus da doença possa se adaptar a outras espécies e isso possa gerar uma nova pandemia. Casos assim já foram registrados. Até julho deste ano, havia mais de 170 rebanhos infectados nos Estados Unidos. Infecções também foram encontradas em gatos domésticos e um guaxinim, indicando a transmissão interespécies.

Segundo a diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, mesmo com casos controlados da doença, os estudos de uma vacina contra o vírus são necessários para prevenir uma possível pandemia. “É fundamental que a gente tenha uma vacina contra esse vírus. Se houver uma pandemia, diferente do que aconteceu com a covid-19, já de início vamos poder manter a população protegida de uma doença que promete ser grave para o ser humano”, disse ao Verifica.

Não há registro de casos da doença no Brasil. Mas o País está em estado de emergência zoossanitária desde maio de 2023, em função da detecção da infecção em aves silvestres.

Consumo de alimentos não pode substituir a vacinação

O médico nutrólogo e professor Durval Ribas Filho, fellow da Obesity Society e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) explicou ao Verifica que o anis-estrelado é uma especiaria aromática usada em temperos, chás e tinturas. De fato, ela é rica em vitaminas como a C e do complexo B, antioxidantes e possui compostos químicos importantes para a saúde.

“É rico em antioxidantes, que contribuem no combate aos radicais livres e protegem as células do organismo dos danos causados pela oxidação, ajudando a fortalecer o sistema imunológico e prevenir doenças. A tintura de anis-estrelado, mencionada no vídeo, é um nutracêutico (alimento funcional), e mesmo isento da obrigatoriedade da prescrição médica, merece alguns cuidados, pois pode causar hipersensibilidade e outros efeitos colaterais. Por isso, a indicação de um especialista é a melhor recomendação”, informou.

A água hidrogenada também atua como um antioxidante, segundo o médico, mas a quantidade de ingestão deve ser acompanhada por um médico para não sobrecarregar os órgãos. Os dois alimentos, apesar dos benefícios, não substituem a vacinação. “As vacinas são insubstituíveis na prevenção de doenças. Os chás, tinturas e outros alimentos podem ser inseridos em uma dieta saudável, para se obter os benefícios de suas propriedades de macro, micronutrientes e outras substâncias que contribuem para o sistema imunológico, mas nunca como orientação para não se vacinar”, avaliou Ribas Filho.

O médico lembrou que um conteúdo semelhante circulou em 2020, em relação à gripe e o chá de erva-doce. O boato de que a planta era eficiente no combate à doença e poderia ser usado como tratamento oficial foi desmentido pelo Ministério da Saúde (confira aqui e aqui).

Vacinas contra a gripe aviária não são invenção nova, como afirma autor de vídeo

Outra desinformação no conteúdo checado é que as vacinas contra a gripe aviária estariam sendo feitas “a toque de caixa”, muito rapidamente. No entanto, os estudos para a possível criação de vacinas contra esta doença não são recentes.

Em 2019 o Instituto Butantan informou que estava produzindo lotes experimentais de vacinas contra a cepa H7N9 do vírus, que tinha potencial para causar uma pandemia. Já em agosto deste ano, o Butantan pediu à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) uma autorização para testar em humanos uma vacina contra o tipo A da gripe, da cepa H5N8. Como mostrou o Estadão, a empresa farmacêutica Moderna já tem uma vacina de mRNA contra gripe aviária em testes humanos de estágio muito inicial. Trabalhos similares também têm sido realizados na Pfizer.

Vaxxas está estudando uma vacina cutânea contra a gripe aviária. Imunizante ainda está em fase de testes e ainda não há informações disponíveis sobre sua eficácia  Foto: Brian Snyder/Reuters

Post usado foi publicado por médico conhecido por espalhar desinformação

O vídeo viral se baseia em uma publicação no Instagram feita pelo médico José Nasser, conhecido por espalhar desinformação e que já foi alvo de checagem pelo Verifica e Projeto Comprova (aqui e aqui).

No post com o título “começa o teste da v@c contra a gripe aviária ‘sem agulha’ na Austrália com o apoio dos EUA”, Nasser diz que os estudos sobre a nova vacina contra a influenza aviária não detalham “quais os adjuvantes, qual o grau de segurança disso, e possíveis efeitos adversos” e têm a participação do empresário Bill Gates.

A FDA informou em nota ao Verifica que “não pode fornecer informações sobre o status de possíveis submissões regulatórias para produtos não aprovados que podem estar sob investigação” e que as “questões sobre a Vaxxas devem ser direcionadas à empresa.”

Procurada, a Vaxxas, informou que há um teste sendo conduzido, que está em investigação aprovada pela FDA, que testa uma vacina monovalente contra a gripe aviária administrada por via cutânea, por meio de um “patch de microagulhas de alta densidade” mas que não foi a empresa que desenvolveu a vacina, e sim uma “terceira parte”.

A reportagem questionou novamente a FDA sobre a possibilidade de checar substâncias que ainda estão em desenvolvimento. A federação respondeu que “não pode confirmar ou negar a existência de uma aplicação de produto pendente, a menos que tenha sido previamente divulgada publicamente pelo patrocinador, nem discutir o status de uma aplicação pendente.”

Como podemos lidar com postagens do tipo: É comum se deparar na internet com receitas milagrosas que prometem a cura ou tratamento alternativo para certas doenças. O apelo ao natural faz com que essas receitas sejam compartilhadas, mas nem sempre esse é o caminho a ser seguido.

A recomendação de especialistas é sempre procurar orientação médica antes de se automedicar, mesmo que seja com substâncias aparentemente sem intervenções químicas. Procure sempre informações com órgãos oficiais como o Ministério da Saúde e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O Estadão Verifica já desmentiu, por exemplo, que é falso que chá de jambolão seja a cura da diabetes e que receita com cebola roxa e limão não controla a glicose.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.