Vacinas não causam infarto e morte súbita em crianças, ao contrário do que diz médica


Não há confirmação disso no boletim de monitoramento de segurança das vacinas; também não procede afirmação de que covid-19 sempre apresenta formas leves em crianças

Por Projeto Comprova

Essa checagem foi produzida pela coalizão de jornalistas do Projeto Comprova. Clique aqui para saber mais.

Conteúdo investigado: Em vídeo publicado nas redes sociais, uma médica afirma que a vacina contra covid-19 causa os seguintes efeitos colaterais graves em crianças: morte súbita, infarto, problemas neurológicos, catatonias musculares, crises convulsivas, miocardite e pericardite. Ela utiliza como mote para trazer o assunto à tona a inclusão da vacina pediátrica contra covid-19 no Calendário Nacional de Vacinação, a partir de 2024, para crianças de 6 meses a menores de 5 anos. A medida foi anunciada pelo Ministério da Saúde (MS) em outubro. A autora do vídeo ainda afirma que as crianças teriam formas leves da doença e, por isso, não seria necessário vaciná-las. Ela também menciona o fato de o acompanhamento do calendário vacinal ser um dos critérios para o Programa Bolsa Família, e ainda afirma que não há uma política pública do MS para monitoramento da segurança das vacinas e que a bula da Pfizer não traz dados sobre estudos em menores de 5 anos.

Onde foi publicado: Instagram e Facebook.

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Conclusão do Comprova: Dados do estudo do Observatório Infância, da Fiocruz, mostram que é falso que crianças têm covid-19 de forma muito leve. De acordo com a pesquisa, em 2020 e 2021, a doença causou a morte de 539 crianças de 6 meses a 3 anos de idade. Sobre a ocorrência de pericardite e miocardite como efeitos adversos pós-vacinação, o conteúdo investigado confunde ao não deixar claro que se tratam de ocorrências consideradas muito raras. Além disso, um estudo publicado no site do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos EUA, mostrou que o risco de complicações cardíacas, incluindo miocardite e pericardite, foi significativamente maior após a infecção pelo vírus Sars-CoV-2, que provoca a covid-19, do que após a aplicação da vacina entre pessoas com ao menos 5 anos.

Captura de tela da postagem verificada. Foto: Reprodução/Facebook

Diante da baixa incidência de miocardite/pericardite como evento adverso pós-vacinação, a última nota técnica do Ministério da Saúde sobre o tema, de número 139/2022, reforça o benefício da vacina em comparação com o risco de infecção por covid-19 e desenvolvimento das formas graves da doença.

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Em relação a outras complicações em crianças que, segundo a responsável pela gravação, seriam consequências da vacina – morte súbita, infarto, problemas neurológicos e catatonias musculares – não há dados no boletim de monitoramento da segurança das vacinas, do Ministério da Saúde, que confirmem a alegação. A autora também não cita o que poderia embasar a alegação. Já sobre convulsão como possível evento adverso, a informação aparece (página 12) com uma incidência de menos de 0,06% a cada 100 mil doses aplicadas da vacina Pfizer/Wyeth e 0,03% a cada mil doses da Janssen – mas sem necessariamente ter relação de causalidade com a vacina comprovada.

A responsável pelo vídeo também afirma que a bula da vacina pediátrica da Pfizer não indica que o imunizante foi testado em crianças menores de 5 anos. Mas o documento cita estudos clínicos em crianças a partir de 6 meses de idade. Em pessoas com 5 anos de idade ou mais, a miocardite e a pericardite são classificadas como eventos adversos “muito raros”, com ocorrência em menos de 0,01% dos pacientes que usaram o imunizante.

O Comprova considerou o conteúdo enganoso por trazer informações imprecisas sobre a vacinação infantil, distorcendo o que os dados oficiais e a bula da citada vacina apontam.

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Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No Instagram, até a manhã do dia 29 de novembro, o vídeo registrava mais de 380 mil visualizações, além de 36,4 mil curtidas e 42,6 mil compartilhamentos. No Facebook, o material audiovisual alcançou mais de 288 mil visualizações e 29 mil curtidas.

Como verificamos: O Comprova buscou informações em canais de órgãos oficiais de saúde, no Brasil e no exterior, para entender o real cenário de incidência de miocardite e pericardite como evento adverso pós-vacinação contra covid-19 em crianças e possíveis óbitos causados pela imunização. Além da análise desses dados, foi feita a observação de boletins epidemiológicos e notas técnicas do MS. Outro caminho da apuração foi a solicitação de esclarecimentos do MS sobre as vacinas disponibilizadas no Plano Nacional de Imunização (PNI) para crianças e a respeito dos critérios para recebimento do Bolsa Família.

A reportagem consultou a bula da vacina Comirnaty, da Pfizer. Foi analisado o documento para identificar menções à incidência de miocardite e pericardite e a estudos da aplicação do imunizante em menores de 5 anos. Também foram consultadas notas oficiais do MS sobre a inclusão da vacina da covid-19 pediátrica no calendário nacional de vacinação a partir de 2024. Além disso, o Comprova consultou uma especialista do Instituto Gonçalo Moniz/Fiocruz Bahia.

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Imunização contra covid-19 no PNI

No dia 31 de outubro deste ano, o Ministério da Saúde anunciou que a imunização contra a covid-19 será incluída no calendário nacional de vacinação a partir de 2024. A recomendação do órgão é priorizar vacinas para crianças de 6 meses a menores de 5 anos, além das pessoas propícias a desenvolver as formas mais graves da doença, como idosos, imunocomprometidos, pessoas com comorbidades, gestantes e puérperas.

A inclusão da vacina já passou por avaliação da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 (CTAI) e do PNI. Segundo informações do MS, estão disponíveis pelo PNI as vacinas Pfizer pediátrica para crianças de 6 meses a menores de 5 anos de idade (tampa vinho); Pfizer pediátrica para crianças de 5 a 11 anos de idade (tampa laranja); e Coronavac para crianças de 3 a 4 anos de idade.

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Estudo da Fiocruz apontou que, em 2020 e 2021, a covid-19 causou a morte de 539 crianças de 6 meses a 3 anos de idade.  Foto: PEDRO KIRILOS

Por meio de nota ao Comprova, o órgão afirmou que a decisão de incluir a vacina da covid-19 pediátrica no calendário nacional de vacinação “foi tomada com base em evidências científicas mundiais e dados epidemiológicos de casos e óbitos pela doença no país”. O MS explicou ainda que segue a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que, em março deste ano, recomendou que a imunização seja prioritária para a população de alto risco, como pessoas com comorbidades significativas, incluindo crianças com 6 meses ou mais.

O ministério ainda reforçou que, no Brasil, “os números demonstram que as crianças não estão isentas das formas graves e letais da doença, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P)” – veja dados abaixo. Além disso, destacou que mais de 60 países já autorizaram a vacinação de crianças a partir do final de 2021.

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Não é verdade que crianças não vacinadas têm apenas formas leves da doença

Ao contrário do que afirma a médica no vídeo, não é verdade que crianças têm covid-19 sempre de forma “muito leve”. O estudo do Observatório Infância, da Fiocruz, divulgado em julho de 2022, apontou que, em dois anos (2020 e 2021), a covid-19 matou mais do que o triplo de crianças de 6 meses a 3 anos, se comparado à soma de todas as mortes nessa faixa etária, ao longo de quase uma década, causadas por outras 14 doenças que podem matar e são preveníveis por vacinas. À época do levantamento, a vacina contra a covid-19 ainda não estava aprovada para esse público.

De acordo com o estudo, em 2020 e 2021, a covid-19 causou a morte de 539 crianças de 6 meses a 3 anos de idade. Já no período de aproximadamente uma década, de 2012 a 2021, foi constatado um total de 144 mortes nesta mesma faixa etária por doenças em uma lista que inclui neurotuberculose, tuberculose miliar, tétano neonatal, tétano, difteria, coqueluche, poliomielite, sarampo, rubéola, hepatite B, caxumba, rubéola congênita, hepatite viral congênita e meningite meningocócica do tipo B.

Segundo o boletim epidemiológico mais recente do Ministério da Saúde – atualizado em 13 de novembro – neste ano, até a semana 35 (3 de setembro), foram registradas 3.586 hospitalizações e 93 mortes por covid-19 em crianças com até 4 anos. Os dados aparecem, respectivamente, na Tabela 5 (Pág. 15) e na Tabela 6 (Pág.16) do boletim.

Na página 13, o boletim informa que a maior incidência e mortalidade por covid-19 em crianças menores de 4 anos ocorreu em 2022 e 2023 quando comparados aos demais anos da pandemia. Por outro lado, é observada uma redução de casos e mortes pela doença entre adultos jovens (20 a 59 anos). Já os idosos, com 60 anos ou mais, permanecem sendo o grupo mais acometido pela covid-19.

Já em relação à SIM-P (página 30 do boletim), foram confirmados 2.064 casos, dos quais 141 evoluíram para óbito. Segundo o documento, a SIM-P associada à covid-19 é uma condição rara, pós-infecciosa e hiper inflamatória que acomete crianças e adolescentes após o contato com o SARS-CoV-2.

Não há comprovação que vacinas causam morte súbita, infarto e problemas neurológicos em crianças

Diferentemente do que a médica sugere no vídeo, há, sim, uma política pública do Ministério da Saúde de análise da segurança das vacinas. Ela se insere na fase IV de avaliação clínica, denominada fase pós-implantação dos imunizantes, em que é realizada a farmacovigilância de vacinas com o monitoramento dos Eventos Supostamente Atribuíveis à Vacinação ou Imunização (Esavi) de forma a identificar possíveis eventos adversos raros. Segundo o Ministério da Saúde, os Esavi “são qualquer ocorrência médica indesejada após a vacinação, não possuindo necessariamente uma relação causal com o uso de uma vacina”.

O mais recente boletim epidemiológico dos casos de Esavi foi publicado pelo Ministério da Saúde em 6 de julho. No documento, não consta qualquer confirmação de que as vacinas causem morte súbita, infarto, problemas neurológicos, catatonias musculares ou crises convulsivas em crianças, como sugere a médica no vídeo.

Na página 15, na seção dedicada a menores de 18 anos, há a informação de que foram notificados 734 casos de Esavi considerados graves em um universo de 47.600.374 doses aplicadas até 31 de dezembro de 2022 na faixa etária. Ou seja, a incidência de supostos eventos adversos graves relacionados à vacina representa 0,0015% do total de aplicações. Dessas 734 notificações, 48 tiveram óbito como resultado, mas nenhum foi comprovadamente causado pela vacina.

Ministério da Saúde incluiu a vacina contra covid-19 no Calendário Nacional de Vacinação das crianças a partir de 2024.  Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Considerando todas as faixas etárias, a convulsão aparece como possível evento adverso grave após a aplicação de duas vacinas (página 12), porém em proporção extremamente baixa (menos de 0,06% a cada 100 mil doses da Pfizer/Wyeth e 0,03% a cada mil doses da Janssen) e sem ter necessariamente relação causal com as vacinas.

No vídeo, a mulher cita um “histórico de problemas neurológicos” relacionados à vacinação em crianças. Não é correta a informação. O boletim cita apenas um problema neurológico, a síndrome de Guillain Barré. No entanto, mais uma vez, somente como possível evento adverso, sem necessariamente relação causal com a vacina, e numa incidência rara – pouco mais de 0.06% a cada mil doses aplicadas da vacina Janssen (página 12).

Na página 19, também levando em consideração todas as faixas etárias, o boletim afirma que os eventos graves notificados com provável ou possível relação causal com a vacinação foram principalmente: reações de hipersensibilidade graves, síndrome de trombose com trombocitopenia (STT), pericardite e miocardite e síndrome de Guillain Barré.

Miocardite e pericardite: incidência de possível evento adverso pós-vacina é baixa

Já em relação a Esavi com suspeita de miocardite (inflamação do músculo cardíaco) ou pericardite (inflamação do pericárdio, a membrana que reveste o coração), a análise dos casos (página 16) aponta que houve 154 notificações no Brasil, entre janeiro de 2021 e dezembro de 2022 – incidência de 0,04 casos a cada 100 mil doses aplicadas.

Estudos mostram que o risco de miocardite é bem maior após a infecção por Sars-CoV-2 do que como possível efeito adverso da vacina.  Foto: IRF/Reuters

Segundo o boletim, “a maioria dos casos foi de indivíduos do sexo masculino (64,9%), com mediana de idade de 32 anos, variando entre cinco e 78 anos”. Entre os eventos graves (EG), cinco (3,2%) evoluíram a óbito. Porém, nenhum deles teve relação de causalidade comprovada com a vacina.

Diante da baixa incidência de miocardite/pericardite como evento adverso pós-vacinação, a última nota técnica do Ministério da Saúde sobre o tema, publicada em outubro de 2022, reforça o benefício da vacina em comparação com o risco de infecção por covid-19 e desenvolvimento das formas graves da doença.

Miocardite e pericardite: covid-19 pode resultar em mais casos do que possíveis efeitos vacina

No boletim epidemiológico de Esavi, a miocardite e a pericardite aparecem listadas, na página 20, como duas das complicações que podem ser consequências da covid-19. A página 17 cita um estudo na Inglaterra com indivíduos vacinados contra a covid-19, de 13 anos ou mais, que apontou que o risco de miocardite é maior após a infecção por Sars-CoV-2 do que após a vacina, e permanece modesto após a aplicação de doses sequenciais, incluindo uma dose de reforço da vacina de mRNA.

Outro estudo, publicado no site do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos EUA, mostrou que o risco de complicações cardíacas, incluindo miocardite e pericardite, foi significativamente maior após a infecção por SARS-CoV-2 do que após a aplicação da vacina.

Já esta publicação no site do governo federal destaca que o risco de miocardite entre doentes de covid-19 é “muito maior” do que entre vacinados. A comparação é feita entre os 154 casos notificados como Esavi em um universo de 510.573.962 doses aplicadas até 31 de dezembro de 2022 – o que corresponde a 0,3 casos por milhão. Já a incidência de casos de miocardite em doentes de covid-19 é de 30 casos por milhão para a população em geral.

O que diz a bula da Pfizer

Ao contrário do que é dito no vídeo investigado, a bula da Comirnaty/Pfizer, atualizada em 31 de outubro, mostra que houve, sim, estudos clínicos em menores de 5 anos de idade. Na página 11, constam as reações adversas em estudos clínicos com Comirnaty e experiência pós-autorização em indivíduos de 2 a menos de 5 anos de idade:

  • Reações muito comuns (ocorrem em 10% dos pacientes que utilizam este medicamento): diarreia, febre, dor no local de injeção, cansaço, vermelhidão no local de injeção.
  • Reações comuns (ocorrem entre 1% e 10% dos pacientes que utilizam este medicamento): dor de cabeça, vômito, dor nas articulações, dor muscular, calafrios, inchaço no local de injeção.
  • Reações incomuns (ocorrem entre 0,1% e 1% dos pacientes que utilizam este medicamento): aumento dos gânglios linfáticos (ou ínguas), erupção cutânea (lesão na pele), urticária (alergia da pele com forte coceira), diminuição de apetite, náusea e dor nos membros (braço), astenia (fraqueza, cansaço físico intenso).
  • Desconhecida (não pode ser estimado a partir dos dados disponíveis): reação alérgica grave (anafilaxia).
Vacina da Pfizer de tampa laranja é indicada para crianças entre 5 e 11 anos de idade. A de tampa vinho, para crianças entre 6 meses e 4 anos.  Foto: Ina Fassbender/AFP

Na sequência, aparecem as reações adversas em estudos clínicos com Comirnaty e experiência pós-autorização em indivíduos de 6 meses a menos de 2 anos de idade:

  • Reações muito comuns (ocorrem em 10% dos pacientes que utilizam este medicamento): diminuição de apetite, irritabilidade, febre, sensibilidade no local da injeção, vermelhidão no local de injeção.
  • Reações comuns (ocorrem entre 1% e 10% dos pacientes que utilizam este medicamento): erupção cutânea (lesão na pele), diarreia, vômito, inchaço no local de injeção.
  • Reações incomuns (ocorrem entre 0,1% e 1% dos pacientes que utilizam este medicamento): aumento dos gânglios linfáticos (ou ínguas), urticária (alergia da pele com forte coceira), dor de cabeça, letargia (cansaço e lentidão de reações e reflexos), cansaço, calafrios.
  • Desconhecida (não pode ser estimado a partir dos dados disponíveis): reação alérgica grave (anafilaxia).

A bula informa que casos muito raros de miocardite e pericardite foram relatados após a vacinação com Comirnaty/Pfizer, sendo mais frequentes em homens mais jovens e após a segunda dose da vacina e em até 14 dias após a vacinação. “Geralmente os casos são leves e os indivíduos tendem a se recuperar dentro de um curto período de tempo após o tratamento padrão e repouso”, diz um trecho do manual.

‘Temos toda a segurança para dizer que a vacina é segura e eficaz’, diz especialista da Fiocruz Bahia

A pesquisadora Fernanda Grassi, do Instituto Gonçalo Moniz/Fiocruz Bahia, conversou com o Comprova sobre a inclusão da vacina pediátrica contra covid-19 no PNI e a importância de imunizar a população, inclusive crianças. Segundo a médica, atualmente, o vírus se tornou endêmico, já que ele circula e infecta um determinado número de pessoas, mas em proporção menor ao que aconteceu durante a pandemia. Esse cenário, de acordo com Grassi, justifica a ação do MS de incluir a vacina no calendário nacional.

Para a especialista, não restam dúvidas quanto ao nível de segurança e eficácia das vacinas contra a covid-19. “Depois de três anos de pandemia, quando tivemos a mortalidade muito elevada por conta da ausência da vacinação, nós já temos dados muito seguros mostrando a eficácia e a segurança desses imunizantes, inclusive no público infantil”, destacou Grassi.

A médica explica que a vacina pediátrica possui uma formulação especial e que os efeitos adversos graves são raros. “As reações adversas são semelhantes àquelas causadas por todas as outras vacinas, como febre e um pouco de dor local. Os efeitos adversos mais graves, como miocardite ou situações outras de maior gravidade, são extremamente raros”, afirmou. Além disso, segundo a pesquisadora, não é verdade que crianças têm uma forma mais leve da covid-19. “No Brasil, nós tivemos mortalidade do público infantil maior do que em outros países, sem contar que a gente não sabe concretamente quais são os efeitos da covid longa em crianças”.

Quem é a médica Raissa Soares

Responsável pelas informações incorretas no vídeo, a médica Raissa Oliveira Azevedo de Melo Soares já teve diversas afirmações apontadas como desinformação por diferentes agências de checagem. Em dezembro de 2021, durante audiência na Assembleia Legislativa da Bahia, ela divulgou informações falsas sobre as vacinas contra a covid-19, ao afirmar que elas causam doenças autoimunes e que a variante ômicron não resultou em nenhuma morte.

Na fase inicial da pandemia, Raissa Soares foi defensora do chamado “tratamento precoce” da covid-19 com uso de medicamentos sem evidências científicas de efetividade comprovadas, ao mesmo tempo que se opunha à vacinação. No fim de 2020, disse que se a população tomar hidroxicloroquina e ivermectina a circulação do vírus iria acabar antes da chegada do inverno, o que era falso. Ela chegou a postar um vídeo em sua conta no Facebook pedindo ao então presidente Jair Bolsonaro para enviar hidroxicloroquina a Porto Seguro (Aos Fatos e UOL).

Raissa Soares é ex-secretária municipal de Saúde de Porto Seguro, na Bahia, e foi candidata ao Senado Federal pelo PL nas eleições de 2022, mas não se elegeu.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova fez contato com a médica Raissa Soares, mas não houve retorno até a publicação desta verificação.

O que podemos aprender com esta verificação: Mensagens que não apresentam fontes confiáveis das informações veiculadas podem levar a conclusões equivocadas. Para elucidação do conteúdo apresentado, é sugerido uma pesquisa em canais de órgãos oficiais; neste caso, do Ministério da Saúde e da Fiocruz, entre outros.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova realizou outras checagens recentes sobre a vacinação. No início de novembro, explicamos que, aprovada pela Anvisa, vacina contra a dengue está em análise da comissão técnica do SUS. Em outubro, mostramos que post de deputado engana sobre eficácia de vacinas ao usar dados imprecisos e fora de contexto.

Essa checagem foi produzida pela coalizão de jornalistas do Projeto Comprova. Clique aqui para saber mais.

Conteúdo investigado: Em vídeo publicado nas redes sociais, uma médica afirma que a vacina contra covid-19 causa os seguintes efeitos colaterais graves em crianças: morte súbita, infarto, problemas neurológicos, catatonias musculares, crises convulsivas, miocardite e pericardite. Ela utiliza como mote para trazer o assunto à tona a inclusão da vacina pediátrica contra covid-19 no Calendário Nacional de Vacinação, a partir de 2024, para crianças de 6 meses a menores de 5 anos. A medida foi anunciada pelo Ministério da Saúde (MS) em outubro. A autora do vídeo ainda afirma que as crianças teriam formas leves da doença e, por isso, não seria necessário vaciná-las. Ela também menciona o fato de o acompanhamento do calendário vacinal ser um dos critérios para o Programa Bolsa Família, e ainda afirma que não há uma política pública do MS para monitoramento da segurança das vacinas e que a bula da Pfizer não traz dados sobre estudos em menores de 5 anos.

Onde foi publicado: Instagram e Facebook.

Conclusão do Comprova: Dados do estudo do Observatório Infância, da Fiocruz, mostram que é falso que crianças têm covid-19 de forma muito leve. De acordo com a pesquisa, em 2020 e 2021, a doença causou a morte de 539 crianças de 6 meses a 3 anos de idade. Sobre a ocorrência de pericardite e miocardite como efeitos adversos pós-vacinação, o conteúdo investigado confunde ao não deixar claro que se tratam de ocorrências consideradas muito raras. Além disso, um estudo publicado no site do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos EUA, mostrou que o risco de complicações cardíacas, incluindo miocardite e pericardite, foi significativamente maior após a infecção pelo vírus Sars-CoV-2, que provoca a covid-19, do que após a aplicação da vacina entre pessoas com ao menos 5 anos.

Captura de tela da postagem verificada. Foto: Reprodução/Facebook

Diante da baixa incidência de miocardite/pericardite como evento adverso pós-vacinação, a última nota técnica do Ministério da Saúde sobre o tema, de número 139/2022, reforça o benefício da vacina em comparação com o risco de infecção por covid-19 e desenvolvimento das formas graves da doença.

Em relação a outras complicações em crianças que, segundo a responsável pela gravação, seriam consequências da vacina – morte súbita, infarto, problemas neurológicos e catatonias musculares – não há dados no boletim de monitoramento da segurança das vacinas, do Ministério da Saúde, que confirmem a alegação. A autora também não cita o que poderia embasar a alegação. Já sobre convulsão como possível evento adverso, a informação aparece (página 12) com uma incidência de menos de 0,06% a cada 100 mil doses aplicadas da vacina Pfizer/Wyeth e 0,03% a cada mil doses da Janssen – mas sem necessariamente ter relação de causalidade com a vacina comprovada.

A responsável pelo vídeo também afirma que a bula da vacina pediátrica da Pfizer não indica que o imunizante foi testado em crianças menores de 5 anos. Mas o documento cita estudos clínicos em crianças a partir de 6 meses de idade. Em pessoas com 5 anos de idade ou mais, a miocardite e a pericardite são classificadas como eventos adversos “muito raros”, com ocorrência em menos de 0,01% dos pacientes que usaram o imunizante.

O Comprova considerou o conteúdo enganoso por trazer informações imprecisas sobre a vacinação infantil, distorcendo o que os dados oficiais e a bula da citada vacina apontam.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No Instagram, até a manhã do dia 29 de novembro, o vídeo registrava mais de 380 mil visualizações, além de 36,4 mil curtidas e 42,6 mil compartilhamentos. No Facebook, o material audiovisual alcançou mais de 288 mil visualizações e 29 mil curtidas.

Como verificamos: O Comprova buscou informações em canais de órgãos oficiais de saúde, no Brasil e no exterior, para entender o real cenário de incidência de miocardite e pericardite como evento adverso pós-vacinação contra covid-19 em crianças e possíveis óbitos causados pela imunização. Além da análise desses dados, foi feita a observação de boletins epidemiológicos e notas técnicas do MS. Outro caminho da apuração foi a solicitação de esclarecimentos do MS sobre as vacinas disponibilizadas no Plano Nacional de Imunização (PNI) para crianças e a respeito dos critérios para recebimento do Bolsa Família.

A reportagem consultou a bula da vacina Comirnaty, da Pfizer. Foi analisado o documento para identificar menções à incidência de miocardite e pericardite e a estudos da aplicação do imunizante em menores de 5 anos. Também foram consultadas notas oficiais do MS sobre a inclusão da vacina da covid-19 pediátrica no calendário nacional de vacinação a partir de 2024. Além disso, o Comprova consultou uma especialista do Instituto Gonçalo Moniz/Fiocruz Bahia.

Imunização contra covid-19 no PNI

No dia 31 de outubro deste ano, o Ministério da Saúde anunciou que a imunização contra a covid-19 será incluída no calendário nacional de vacinação a partir de 2024. A recomendação do órgão é priorizar vacinas para crianças de 6 meses a menores de 5 anos, além das pessoas propícias a desenvolver as formas mais graves da doença, como idosos, imunocomprometidos, pessoas com comorbidades, gestantes e puérperas.

A inclusão da vacina já passou por avaliação da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 (CTAI) e do PNI. Segundo informações do MS, estão disponíveis pelo PNI as vacinas Pfizer pediátrica para crianças de 6 meses a menores de 5 anos de idade (tampa vinho); Pfizer pediátrica para crianças de 5 a 11 anos de idade (tampa laranja); e Coronavac para crianças de 3 a 4 anos de idade.

Estudo da Fiocruz apontou que, em 2020 e 2021, a covid-19 causou a morte de 539 crianças de 6 meses a 3 anos de idade.  Foto: PEDRO KIRILOS

Por meio de nota ao Comprova, o órgão afirmou que a decisão de incluir a vacina da covid-19 pediátrica no calendário nacional de vacinação “foi tomada com base em evidências científicas mundiais e dados epidemiológicos de casos e óbitos pela doença no país”. O MS explicou ainda que segue a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que, em março deste ano, recomendou que a imunização seja prioritária para a população de alto risco, como pessoas com comorbidades significativas, incluindo crianças com 6 meses ou mais.

O ministério ainda reforçou que, no Brasil, “os números demonstram que as crianças não estão isentas das formas graves e letais da doença, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P)” – veja dados abaixo. Além disso, destacou que mais de 60 países já autorizaram a vacinação de crianças a partir do final de 2021.

Não é verdade que crianças não vacinadas têm apenas formas leves da doença

Ao contrário do que afirma a médica no vídeo, não é verdade que crianças têm covid-19 sempre de forma “muito leve”. O estudo do Observatório Infância, da Fiocruz, divulgado em julho de 2022, apontou que, em dois anos (2020 e 2021), a covid-19 matou mais do que o triplo de crianças de 6 meses a 3 anos, se comparado à soma de todas as mortes nessa faixa etária, ao longo de quase uma década, causadas por outras 14 doenças que podem matar e são preveníveis por vacinas. À época do levantamento, a vacina contra a covid-19 ainda não estava aprovada para esse público.

De acordo com o estudo, em 2020 e 2021, a covid-19 causou a morte de 539 crianças de 6 meses a 3 anos de idade. Já no período de aproximadamente uma década, de 2012 a 2021, foi constatado um total de 144 mortes nesta mesma faixa etária por doenças em uma lista que inclui neurotuberculose, tuberculose miliar, tétano neonatal, tétano, difteria, coqueluche, poliomielite, sarampo, rubéola, hepatite B, caxumba, rubéola congênita, hepatite viral congênita e meningite meningocócica do tipo B.

Segundo o boletim epidemiológico mais recente do Ministério da Saúde – atualizado em 13 de novembro – neste ano, até a semana 35 (3 de setembro), foram registradas 3.586 hospitalizações e 93 mortes por covid-19 em crianças com até 4 anos. Os dados aparecem, respectivamente, na Tabela 5 (Pág. 15) e na Tabela 6 (Pág.16) do boletim.

Na página 13, o boletim informa que a maior incidência e mortalidade por covid-19 em crianças menores de 4 anos ocorreu em 2022 e 2023 quando comparados aos demais anos da pandemia. Por outro lado, é observada uma redução de casos e mortes pela doença entre adultos jovens (20 a 59 anos). Já os idosos, com 60 anos ou mais, permanecem sendo o grupo mais acometido pela covid-19.

Já em relação à SIM-P (página 30 do boletim), foram confirmados 2.064 casos, dos quais 141 evoluíram para óbito. Segundo o documento, a SIM-P associada à covid-19 é uma condição rara, pós-infecciosa e hiper inflamatória que acomete crianças e adolescentes após o contato com o SARS-CoV-2.

Não há comprovação que vacinas causam morte súbita, infarto e problemas neurológicos em crianças

Diferentemente do que a médica sugere no vídeo, há, sim, uma política pública do Ministério da Saúde de análise da segurança das vacinas. Ela se insere na fase IV de avaliação clínica, denominada fase pós-implantação dos imunizantes, em que é realizada a farmacovigilância de vacinas com o monitoramento dos Eventos Supostamente Atribuíveis à Vacinação ou Imunização (Esavi) de forma a identificar possíveis eventos adversos raros. Segundo o Ministério da Saúde, os Esavi “são qualquer ocorrência médica indesejada após a vacinação, não possuindo necessariamente uma relação causal com o uso de uma vacina”.

O mais recente boletim epidemiológico dos casos de Esavi foi publicado pelo Ministério da Saúde em 6 de julho. No documento, não consta qualquer confirmação de que as vacinas causem morte súbita, infarto, problemas neurológicos, catatonias musculares ou crises convulsivas em crianças, como sugere a médica no vídeo.

Na página 15, na seção dedicada a menores de 18 anos, há a informação de que foram notificados 734 casos de Esavi considerados graves em um universo de 47.600.374 doses aplicadas até 31 de dezembro de 2022 na faixa etária. Ou seja, a incidência de supostos eventos adversos graves relacionados à vacina representa 0,0015% do total de aplicações. Dessas 734 notificações, 48 tiveram óbito como resultado, mas nenhum foi comprovadamente causado pela vacina.

Ministério da Saúde incluiu a vacina contra covid-19 no Calendário Nacional de Vacinação das crianças a partir de 2024.  Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Considerando todas as faixas etárias, a convulsão aparece como possível evento adverso grave após a aplicação de duas vacinas (página 12), porém em proporção extremamente baixa (menos de 0,06% a cada 100 mil doses da Pfizer/Wyeth e 0,03% a cada mil doses da Janssen) e sem ter necessariamente relação causal com as vacinas.

No vídeo, a mulher cita um “histórico de problemas neurológicos” relacionados à vacinação em crianças. Não é correta a informação. O boletim cita apenas um problema neurológico, a síndrome de Guillain Barré. No entanto, mais uma vez, somente como possível evento adverso, sem necessariamente relação causal com a vacina, e numa incidência rara – pouco mais de 0.06% a cada mil doses aplicadas da vacina Janssen (página 12).

Na página 19, também levando em consideração todas as faixas etárias, o boletim afirma que os eventos graves notificados com provável ou possível relação causal com a vacinação foram principalmente: reações de hipersensibilidade graves, síndrome de trombose com trombocitopenia (STT), pericardite e miocardite e síndrome de Guillain Barré.

Miocardite e pericardite: incidência de possível evento adverso pós-vacina é baixa

Já em relação a Esavi com suspeita de miocardite (inflamação do músculo cardíaco) ou pericardite (inflamação do pericárdio, a membrana que reveste o coração), a análise dos casos (página 16) aponta que houve 154 notificações no Brasil, entre janeiro de 2021 e dezembro de 2022 – incidência de 0,04 casos a cada 100 mil doses aplicadas.

Estudos mostram que o risco de miocardite é bem maior após a infecção por Sars-CoV-2 do que como possível efeito adverso da vacina.  Foto: IRF/Reuters

Segundo o boletim, “a maioria dos casos foi de indivíduos do sexo masculino (64,9%), com mediana de idade de 32 anos, variando entre cinco e 78 anos”. Entre os eventos graves (EG), cinco (3,2%) evoluíram a óbito. Porém, nenhum deles teve relação de causalidade comprovada com a vacina.

Diante da baixa incidência de miocardite/pericardite como evento adverso pós-vacinação, a última nota técnica do Ministério da Saúde sobre o tema, publicada em outubro de 2022, reforça o benefício da vacina em comparação com o risco de infecção por covid-19 e desenvolvimento das formas graves da doença.

Miocardite e pericardite: covid-19 pode resultar em mais casos do que possíveis efeitos vacina

No boletim epidemiológico de Esavi, a miocardite e a pericardite aparecem listadas, na página 20, como duas das complicações que podem ser consequências da covid-19. A página 17 cita um estudo na Inglaterra com indivíduos vacinados contra a covid-19, de 13 anos ou mais, que apontou que o risco de miocardite é maior após a infecção por Sars-CoV-2 do que após a vacina, e permanece modesto após a aplicação de doses sequenciais, incluindo uma dose de reforço da vacina de mRNA.

Outro estudo, publicado no site do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos EUA, mostrou que o risco de complicações cardíacas, incluindo miocardite e pericardite, foi significativamente maior após a infecção por SARS-CoV-2 do que após a aplicação da vacina.

Já esta publicação no site do governo federal destaca que o risco de miocardite entre doentes de covid-19 é “muito maior” do que entre vacinados. A comparação é feita entre os 154 casos notificados como Esavi em um universo de 510.573.962 doses aplicadas até 31 de dezembro de 2022 – o que corresponde a 0,3 casos por milhão. Já a incidência de casos de miocardite em doentes de covid-19 é de 30 casos por milhão para a população em geral.

O que diz a bula da Pfizer

Ao contrário do que é dito no vídeo investigado, a bula da Comirnaty/Pfizer, atualizada em 31 de outubro, mostra que houve, sim, estudos clínicos em menores de 5 anos de idade. Na página 11, constam as reações adversas em estudos clínicos com Comirnaty e experiência pós-autorização em indivíduos de 2 a menos de 5 anos de idade:

  • Reações muito comuns (ocorrem em 10% dos pacientes que utilizam este medicamento): diarreia, febre, dor no local de injeção, cansaço, vermelhidão no local de injeção.
  • Reações comuns (ocorrem entre 1% e 10% dos pacientes que utilizam este medicamento): dor de cabeça, vômito, dor nas articulações, dor muscular, calafrios, inchaço no local de injeção.
  • Reações incomuns (ocorrem entre 0,1% e 1% dos pacientes que utilizam este medicamento): aumento dos gânglios linfáticos (ou ínguas), erupção cutânea (lesão na pele), urticária (alergia da pele com forte coceira), diminuição de apetite, náusea e dor nos membros (braço), astenia (fraqueza, cansaço físico intenso).
  • Desconhecida (não pode ser estimado a partir dos dados disponíveis): reação alérgica grave (anafilaxia).
Vacina da Pfizer de tampa laranja é indicada para crianças entre 5 e 11 anos de idade. A de tampa vinho, para crianças entre 6 meses e 4 anos.  Foto: Ina Fassbender/AFP

Na sequência, aparecem as reações adversas em estudos clínicos com Comirnaty e experiência pós-autorização em indivíduos de 6 meses a menos de 2 anos de idade:

  • Reações muito comuns (ocorrem em 10% dos pacientes que utilizam este medicamento): diminuição de apetite, irritabilidade, febre, sensibilidade no local da injeção, vermelhidão no local de injeção.
  • Reações comuns (ocorrem entre 1% e 10% dos pacientes que utilizam este medicamento): erupção cutânea (lesão na pele), diarreia, vômito, inchaço no local de injeção.
  • Reações incomuns (ocorrem entre 0,1% e 1% dos pacientes que utilizam este medicamento): aumento dos gânglios linfáticos (ou ínguas), urticária (alergia da pele com forte coceira), dor de cabeça, letargia (cansaço e lentidão de reações e reflexos), cansaço, calafrios.
  • Desconhecida (não pode ser estimado a partir dos dados disponíveis): reação alérgica grave (anafilaxia).

A bula informa que casos muito raros de miocardite e pericardite foram relatados após a vacinação com Comirnaty/Pfizer, sendo mais frequentes em homens mais jovens e após a segunda dose da vacina e em até 14 dias após a vacinação. “Geralmente os casos são leves e os indivíduos tendem a se recuperar dentro de um curto período de tempo após o tratamento padrão e repouso”, diz um trecho do manual.

‘Temos toda a segurança para dizer que a vacina é segura e eficaz’, diz especialista da Fiocruz Bahia

A pesquisadora Fernanda Grassi, do Instituto Gonçalo Moniz/Fiocruz Bahia, conversou com o Comprova sobre a inclusão da vacina pediátrica contra covid-19 no PNI e a importância de imunizar a população, inclusive crianças. Segundo a médica, atualmente, o vírus se tornou endêmico, já que ele circula e infecta um determinado número de pessoas, mas em proporção menor ao que aconteceu durante a pandemia. Esse cenário, de acordo com Grassi, justifica a ação do MS de incluir a vacina no calendário nacional.

Para a especialista, não restam dúvidas quanto ao nível de segurança e eficácia das vacinas contra a covid-19. “Depois de três anos de pandemia, quando tivemos a mortalidade muito elevada por conta da ausência da vacinação, nós já temos dados muito seguros mostrando a eficácia e a segurança desses imunizantes, inclusive no público infantil”, destacou Grassi.

A médica explica que a vacina pediátrica possui uma formulação especial e que os efeitos adversos graves são raros. “As reações adversas são semelhantes àquelas causadas por todas as outras vacinas, como febre e um pouco de dor local. Os efeitos adversos mais graves, como miocardite ou situações outras de maior gravidade, são extremamente raros”, afirmou. Além disso, segundo a pesquisadora, não é verdade que crianças têm uma forma mais leve da covid-19. “No Brasil, nós tivemos mortalidade do público infantil maior do que em outros países, sem contar que a gente não sabe concretamente quais são os efeitos da covid longa em crianças”.

Quem é a médica Raissa Soares

Responsável pelas informações incorretas no vídeo, a médica Raissa Oliveira Azevedo de Melo Soares já teve diversas afirmações apontadas como desinformação por diferentes agências de checagem. Em dezembro de 2021, durante audiência na Assembleia Legislativa da Bahia, ela divulgou informações falsas sobre as vacinas contra a covid-19, ao afirmar que elas causam doenças autoimunes e que a variante ômicron não resultou em nenhuma morte.

Na fase inicial da pandemia, Raissa Soares foi defensora do chamado “tratamento precoce” da covid-19 com uso de medicamentos sem evidências científicas de efetividade comprovadas, ao mesmo tempo que se opunha à vacinação. No fim de 2020, disse que se a população tomar hidroxicloroquina e ivermectina a circulação do vírus iria acabar antes da chegada do inverno, o que era falso. Ela chegou a postar um vídeo em sua conta no Facebook pedindo ao então presidente Jair Bolsonaro para enviar hidroxicloroquina a Porto Seguro (Aos Fatos e UOL).

Raissa Soares é ex-secretária municipal de Saúde de Porto Seguro, na Bahia, e foi candidata ao Senado Federal pelo PL nas eleições de 2022, mas não se elegeu.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova fez contato com a médica Raissa Soares, mas não houve retorno até a publicação desta verificação.

O que podemos aprender com esta verificação: Mensagens que não apresentam fontes confiáveis das informações veiculadas podem levar a conclusões equivocadas. Para elucidação do conteúdo apresentado, é sugerido uma pesquisa em canais de órgãos oficiais; neste caso, do Ministério da Saúde e da Fiocruz, entre outros.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova realizou outras checagens recentes sobre a vacinação. No início de novembro, explicamos que, aprovada pela Anvisa, vacina contra a dengue está em análise da comissão técnica do SUS. Em outubro, mostramos que post de deputado engana sobre eficácia de vacinas ao usar dados imprecisos e fora de contexto.

Essa checagem foi produzida pela coalizão de jornalistas do Projeto Comprova. Clique aqui para saber mais.

Conteúdo investigado: Em vídeo publicado nas redes sociais, uma médica afirma que a vacina contra covid-19 causa os seguintes efeitos colaterais graves em crianças: morte súbita, infarto, problemas neurológicos, catatonias musculares, crises convulsivas, miocardite e pericardite. Ela utiliza como mote para trazer o assunto à tona a inclusão da vacina pediátrica contra covid-19 no Calendário Nacional de Vacinação, a partir de 2024, para crianças de 6 meses a menores de 5 anos. A medida foi anunciada pelo Ministério da Saúde (MS) em outubro. A autora do vídeo ainda afirma que as crianças teriam formas leves da doença e, por isso, não seria necessário vaciná-las. Ela também menciona o fato de o acompanhamento do calendário vacinal ser um dos critérios para o Programa Bolsa Família, e ainda afirma que não há uma política pública do MS para monitoramento da segurança das vacinas e que a bula da Pfizer não traz dados sobre estudos em menores de 5 anos.

Onde foi publicado: Instagram e Facebook.

Conclusão do Comprova: Dados do estudo do Observatório Infância, da Fiocruz, mostram que é falso que crianças têm covid-19 de forma muito leve. De acordo com a pesquisa, em 2020 e 2021, a doença causou a morte de 539 crianças de 6 meses a 3 anos de idade. Sobre a ocorrência de pericardite e miocardite como efeitos adversos pós-vacinação, o conteúdo investigado confunde ao não deixar claro que se tratam de ocorrências consideradas muito raras. Além disso, um estudo publicado no site do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos EUA, mostrou que o risco de complicações cardíacas, incluindo miocardite e pericardite, foi significativamente maior após a infecção pelo vírus Sars-CoV-2, que provoca a covid-19, do que após a aplicação da vacina entre pessoas com ao menos 5 anos.

Captura de tela da postagem verificada. Foto: Reprodução/Facebook

Diante da baixa incidência de miocardite/pericardite como evento adverso pós-vacinação, a última nota técnica do Ministério da Saúde sobre o tema, de número 139/2022, reforça o benefício da vacina em comparação com o risco de infecção por covid-19 e desenvolvimento das formas graves da doença.

Em relação a outras complicações em crianças que, segundo a responsável pela gravação, seriam consequências da vacina – morte súbita, infarto, problemas neurológicos e catatonias musculares – não há dados no boletim de monitoramento da segurança das vacinas, do Ministério da Saúde, que confirmem a alegação. A autora também não cita o que poderia embasar a alegação. Já sobre convulsão como possível evento adverso, a informação aparece (página 12) com uma incidência de menos de 0,06% a cada 100 mil doses aplicadas da vacina Pfizer/Wyeth e 0,03% a cada mil doses da Janssen – mas sem necessariamente ter relação de causalidade com a vacina comprovada.

A responsável pelo vídeo também afirma que a bula da vacina pediátrica da Pfizer não indica que o imunizante foi testado em crianças menores de 5 anos. Mas o documento cita estudos clínicos em crianças a partir de 6 meses de idade. Em pessoas com 5 anos de idade ou mais, a miocardite e a pericardite são classificadas como eventos adversos “muito raros”, com ocorrência em menos de 0,01% dos pacientes que usaram o imunizante.

O Comprova considerou o conteúdo enganoso por trazer informações imprecisas sobre a vacinação infantil, distorcendo o que os dados oficiais e a bula da citada vacina apontam.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No Instagram, até a manhã do dia 29 de novembro, o vídeo registrava mais de 380 mil visualizações, além de 36,4 mil curtidas e 42,6 mil compartilhamentos. No Facebook, o material audiovisual alcançou mais de 288 mil visualizações e 29 mil curtidas.

Como verificamos: O Comprova buscou informações em canais de órgãos oficiais de saúde, no Brasil e no exterior, para entender o real cenário de incidência de miocardite e pericardite como evento adverso pós-vacinação contra covid-19 em crianças e possíveis óbitos causados pela imunização. Além da análise desses dados, foi feita a observação de boletins epidemiológicos e notas técnicas do MS. Outro caminho da apuração foi a solicitação de esclarecimentos do MS sobre as vacinas disponibilizadas no Plano Nacional de Imunização (PNI) para crianças e a respeito dos critérios para recebimento do Bolsa Família.

A reportagem consultou a bula da vacina Comirnaty, da Pfizer. Foi analisado o documento para identificar menções à incidência de miocardite e pericardite e a estudos da aplicação do imunizante em menores de 5 anos. Também foram consultadas notas oficiais do MS sobre a inclusão da vacina da covid-19 pediátrica no calendário nacional de vacinação a partir de 2024. Além disso, o Comprova consultou uma especialista do Instituto Gonçalo Moniz/Fiocruz Bahia.

Imunização contra covid-19 no PNI

No dia 31 de outubro deste ano, o Ministério da Saúde anunciou que a imunização contra a covid-19 será incluída no calendário nacional de vacinação a partir de 2024. A recomendação do órgão é priorizar vacinas para crianças de 6 meses a menores de 5 anos, além das pessoas propícias a desenvolver as formas mais graves da doença, como idosos, imunocomprometidos, pessoas com comorbidades, gestantes e puérperas.

A inclusão da vacina já passou por avaliação da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 (CTAI) e do PNI. Segundo informações do MS, estão disponíveis pelo PNI as vacinas Pfizer pediátrica para crianças de 6 meses a menores de 5 anos de idade (tampa vinho); Pfizer pediátrica para crianças de 5 a 11 anos de idade (tampa laranja); e Coronavac para crianças de 3 a 4 anos de idade.

Estudo da Fiocruz apontou que, em 2020 e 2021, a covid-19 causou a morte de 539 crianças de 6 meses a 3 anos de idade.  Foto: PEDRO KIRILOS

Por meio de nota ao Comprova, o órgão afirmou que a decisão de incluir a vacina da covid-19 pediátrica no calendário nacional de vacinação “foi tomada com base em evidências científicas mundiais e dados epidemiológicos de casos e óbitos pela doença no país”. O MS explicou ainda que segue a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que, em março deste ano, recomendou que a imunização seja prioritária para a população de alto risco, como pessoas com comorbidades significativas, incluindo crianças com 6 meses ou mais.

O ministério ainda reforçou que, no Brasil, “os números demonstram que as crianças não estão isentas das formas graves e letais da doença, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P)” – veja dados abaixo. Além disso, destacou que mais de 60 países já autorizaram a vacinação de crianças a partir do final de 2021.

Não é verdade que crianças não vacinadas têm apenas formas leves da doença

Ao contrário do que afirma a médica no vídeo, não é verdade que crianças têm covid-19 sempre de forma “muito leve”. O estudo do Observatório Infância, da Fiocruz, divulgado em julho de 2022, apontou que, em dois anos (2020 e 2021), a covid-19 matou mais do que o triplo de crianças de 6 meses a 3 anos, se comparado à soma de todas as mortes nessa faixa etária, ao longo de quase uma década, causadas por outras 14 doenças que podem matar e são preveníveis por vacinas. À época do levantamento, a vacina contra a covid-19 ainda não estava aprovada para esse público.

De acordo com o estudo, em 2020 e 2021, a covid-19 causou a morte de 539 crianças de 6 meses a 3 anos de idade. Já no período de aproximadamente uma década, de 2012 a 2021, foi constatado um total de 144 mortes nesta mesma faixa etária por doenças em uma lista que inclui neurotuberculose, tuberculose miliar, tétano neonatal, tétano, difteria, coqueluche, poliomielite, sarampo, rubéola, hepatite B, caxumba, rubéola congênita, hepatite viral congênita e meningite meningocócica do tipo B.

Segundo o boletim epidemiológico mais recente do Ministério da Saúde – atualizado em 13 de novembro – neste ano, até a semana 35 (3 de setembro), foram registradas 3.586 hospitalizações e 93 mortes por covid-19 em crianças com até 4 anos. Os dados aparecem, respectivamente, na Tabela 5 (Pág. 15) e na Tabela 6 (Pág.16) do boletim.

Na página 13, o boletim informa que a maior incidência e mortalidade por covid-19 em crianças menores de 4 anos ocorreu em 2022 e 2023 quando comparados aos demais anos da pandemia. Por outro lado, é observada uma redução de casos e mortes pela doença entre adultos jovens (20 a 59 anos). Já os idosos, com 60 anos ou mais, permanecem sendo o grupo mais acometido pela covid-19.

Já em relação à SIM-P (página 30 do boletim), foram confirmados 2.064 casos, dos quais 141 evoluíram para óbito. Segundo o documento, a SIM-P associada à covid-19 é uma condição rara, pós-infecciosa e hiper inflamatória que acomete crianças e adolescentes após o contato com o SARS-CoV-2.

Não há comprovação que vacinas causam morte súbita, infarto e problemas neurológicos em crianças

Diferentemente do que a médica sugere no vídeo, há, sim, uma política pública do Ministério da Saúde de análise da segurança das vacinas. Ela se insere na fase IV de avaliação clínica, denominada fase pós-implantação dos imunizantes, em que é realizada a farmacovigilância de vacinas com o monitoramento dos Eventos Supostamente Atribuíveis à Vacinação ou Imunização (Esavi) de forma a identificar possíveis eventos adversos raros. Segundo o Ministério da Saúde, os Esavi “são qualquer ocorrência médica indesejada após a vacinação, não possuindo necessariamente uma relação causal com o uso de uma vacina”.

O mais recente boletim epidemiológico dos casos de Esavi foi publicado pelo Ministério da Saúde em 6 de julho. No documento, não consta qualquer confirmação de que as vacinas causem morte súbita, infarto, problemas neurológicos, catatonias musculares ou crises convulsivas em crianças, como sugere a médica no vídeo.

Na página 15, na seção dedicada a menores de 18 anos, há a informação de que foram notificados 734 casos de Esavi considerados graves em um universo de 47.600.374 doses aplicadas até 31 de dezembro de 2022 na faixa etária. Ou seja, a incidência de supostos eventos adversos graves relacionados à vacina representa 0,0015% do total de aplicações. Dessas 734 notificações, 48 tiveram óbito como resultado, mas nenhum foi comprovadamente causado pela vacina.

Ministério da Saúde incluiu a vacina contra covid-19 no Calendário Nacional de Vacinação das crianças a partir de 2024.  Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Considerando todas as faixas etárias, a convulsão aparece como possível evento adverso grave após a aplicação de duas vacinas (página 12), porém em proporção extremamente baixa (menos de 0,06% a cada 100 mil doses da Pfizer/Wyeth e 0,03% a cada mil doses da Janssen) e sem ter necessariamente relação causal com as vacinas.

No vídeo, a mulher cita um “histórico de problemas neurológicos” relacionados à vacinação em crianças. Não é correta a informação. O boletim cita apenas um problema neurológico, a síndrome de Guillain Barré. No entanto, mais uma vez, somente como possível evento adverso, sem necessariamente relação causal com a vacina, e numa incidência rara – pouco mais de 0.06% a cada mil doses aplicadas da vacina Janssen (página 12).

Na página 19, também levando em consideração todas as faixas etárias, o boletim afirma que os eventos graves notificados com provável ou possível relação causal com a vacinação foram principalmente: reações de hipersensibilidade graves, síndrome de trombose com trombocitopenia (STT), pericardite e miocardite e síndrome de Guillain Barré.

Miocardite e pericardite: incidência de possível evento adverso pós-vacina é baixa

Já em relação a Esavi com suspeita de miocardite (inflamação do músculo cardíaco) ou pericardite (inflamação do pericárdio, a membrana que reveste o coração), a análise dos casos (página 16) aponta que houve 154 notificações no Brasil, entre janeiro de 2021 e dezembro de 2022 – incidência de 0,04 casos a cada 100 mil doses aplicadas.

Estudos mostram que o risco de miocardite é bem maior após a infecção por Sars-CoV-2 do que como possível efeito adverso da vacina.  Foto: IRF/Reuters

Segundo o boletim, “a maioria dos casos foi de indivíduos do sexo masculino (64,9%), com mediana de idade de 32 anos, variando entre cinco e 78 anos”. Entre os eventos graves (EG), cinco (3,2%) evoluíram a óbito. Porém, nenhum deles teve relação de causalidade comprovada com a vacina.

Diante da baixa incidência de miocardite/pericardite como evento adverso pós-vacinação, a última nota técnica do Ministério da Saúde sobre o tema, publicada em outubro de 2022, reforça o benefício da vacina em comparação com o risco de infecção por covid-19 e desenvolvimento das formas graves da doença.

Miocardite e pericardite: covid-19 pode resultar em mais casos do que possíveis efeitos vacina

No boletim epidemiológico de Esavi, a miocardite e a pericardite aparecem listadas, na página 20, como duas das complicações que podem ser consequências da covid-19. A página 17 cita um estudo na Inglaterra com indivíduos vacinados contra a covid-19, de 13 anos ou mais, que apontou que o risco de miocardite é maior após a infecção por Sars-CoV-2 do que após a vacina, e permanece modesto após a aplicação de doses sequenciais, incluindo uma dose de reforço da vacina de mRNA.

Outro estudo, publicado no site do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos EUA, mostrou que o risco de complicações cardíacas, incluindo miocardite e pericardite, foi significativamente maior após a infecção por SARS-CoV-2 do que após a aplicação da vacina.

Já esta publicação no site do governo federal destaca que o risco de miocardite entre doentes de covid-19 é “muito maior” do que entre vacinados. A comparação é feita entre os 154 casos notificados como Esavi em um universo de 510.573.962 doses aplicadas até 31 de dezembro de 2022 – o que corresponde a 0,3 casos por milhão. Já a incidência de casos de miocardite em doentes de covid-19 é de 30 casos por milhão para a população em geral.

O que diz a bula da Pfizer

Ao contrário do que é dito no vídeo investigado, a bula da Comirnaty/Pfizer, atualizada em 31 de outubro, mostra que houve, sim, estudos clínicos em menores de 5 anos de idade. Na página 11, constam as reações adversas em estudos clínicos com Comirnaty e experiência pós-autorização em indivíduos de 2 a menos de 5 anos de idade:

  • Reações muito comuns (ocorrem em 10% dos pacientes que utilizam este medicamento): diarreia, febre, dor no local de injeção, cansaço, vermelhidão no local de injeção.
  • Reações comuns (ocorrem entre 1% e 10% dos pacientes que utilizam este medicamento): dor de cabeça, vômito, dor nas articulações, dor muscular, calafrios, inchaço no local de injeção.
  • Reações incomuns (ocorrem entre 0,1% e 1% dos pacientes que utilizam este medicamento): aumento dos gânglios linfáticos (ou ínguas), erupção cutânea (lesão na pele), urticária (alergia da pele com forte coceira), diminuição de apetite, náusea e dor nos membros (braço), astenia (fraqueza, cansaço físico intenso).
  • Desconhecida (não pode ser estimado a partir dos dados disponíveis): reação alérgica grave (anafilaxia).
Vacina da Pfizer de tampa laranja é indicada para crianças entre 5 e 11 anos de idade. A de tampa vinho, para crianças entre 6 meses e 4 anos.  Foto: Ina Fassbender/AFP

Na sequência, aparecem as reações adversas em estudos clínicos com Comirnaty e experiência pós-autorização em indivíduos de 6 meses a menos de 2 anos de idade:

  • Reações muito comuns (ocorrem em 10% dos pacientes que utilizam este medicamento): diminuição de apetite, irritabilidade, febre, sensibilidade no local da injeção, vermelhidão no local de injeção.
  • Reações comuns (ocorrem entre 1% e 10% dos pacientes que utilizam este medicamento): erupção cutânea (lesão na pele), diarreia, vômito, inchaço no local de injeção.
  • Reações incomuns (ocorrem entre 0,1% e 1% dos pacientes que utilizam este medicamento): aumento dos gânglios linfáticos (ou ínguas), urticária (alergia da pele com forte coceira), dor de cabeça, letargia (cansaço e lentidão de reações e reflexos), cansaço, calafrios.
  • Desconhecida (não pode ser estimado a partir dos dados disponíveis): reação alérgica grave (anafilaxia).

A bula informa que casos muito raros de miocardite e pericardite foram relatados após a vacinação com Comirnaty/Pfizer, sendo mais frequentes em homens mais jovens e após a segunda dose da vacina e em até 14 dias após a vacinação. “Geralmente os casos são leves e os indivíduos tendem a se recuperar dentro de um curto período de tempo após o tratamento padrão e repouso”, diz um trecho do manual.

‘Temos toda a segurança para dizer que a vacina é segura e eficaz’, diz especialista da Fiocruz Bahia

A pesquisadora Fernanda Grassi, do Instituto Gonçalo Moniz/Fiocruz Bahia, conversou com o Comprova sobre a inclusão da vacina pediátrica contra covid-19 no PNI e a importância de imunizar a população, inclusive crianças. Segundo a médica, atualmente, o vírus se tornou endêmico, já que ele circula e infecta um determinado número de pessoas, mas em proporção menor ao que aconteceu durante a pandemia. Esse cenário, de acordo com Grassi, justifica a ação do MS de incluir a vacina no calendário nacional.

Para a especialista, não restam dúvidas quanto ao nível de segurança e eficácia das vacinas contra a covid-19. “Depois de três anos de pandemia, quando tivemos a mortalidade muito elevada por conta da ausência da vacinação, nós já temos dados muito seguros mostrando a eficácia e a segurança desses imunizantes, inclusive no público infantil”, destacou Grassi.

A médica explica que a vacina pediátrica possui uma formulação especial e que os efeitos adversos graves são raros. “As reações adversas são semelhantes àquelas causadas por todas as outras vacinas, como febre e um pouco de dor local. Os efeitos adversos mais graves, como miocardite ou situações outras de maior gravidade, são extremamente raros”, afirmou. Além disso, segundo a pesquisadora, não é verdade que crianças têm uma forma mais leve da covid-19. “No Brasil, nós tivemos mortalidade do público infantil maior do que em outros países, sem contar que a gente não sabe concretamente quais são os efeitos da covid longa em crianças”.

Quem é a médica Raissa Soares

Responsável pelas informações incorretas no vídeo, a médica Raissa Oliveira Azevedo de Melo Soares já teve diversas afirmações apontadas como desinformação por diferentes agências de checagem. Em dezembro de 2021, durante audiência na Assembleia Legislativa da Bahia, ela divulgou informações falsas sobre as vacinas contra a covid-19, ao afirmar que elas causam doenças autoimunes e que a variante ômicron não resultou em nenhuma morte.

Na fase inicial da pandemia, Raissa Soares foi defensora do chamado “tratamento precoce” da covid-19 com uso de medicamentos sem evidências científicas de efetividade comprovadas, ao mesmo tempo que se opunha à vacinação. No fim de 2020, disse que se a população tomar hidroxicloroquina e ivermectina a circulação do vírus iria acabar antes da chegada do inverno, o que era falso. Ela chegou a postar um vídeo em sua conta no Facebook pedindo ao então presidente Jair Bolsonaro para enviar hidroxicloroquina a Porto Seguro (Aos Fatos e UOL).

Raissa Soares é ex-secretária municipal de Saúde de Porto Seguro, na Bahia, e foi candidata ao Senado Federal pelo PL nas eleições de 2022, mas não se elegeu.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova fez contato com a médica Raissa Soares, mas não houve retorno até a publicação desta verificação.

O que podemos aprender com esta verificação: Mensagens que não apresentam fontes confiáveis das informações veiculadas podem levar a conclusões equivocadas. Para elucidação do conteúdo apresentado, é sugerido uma pesquisa em canais de órgãos oficiais; neste caso, do Ministério da Saúde e da Fiocruz, entre outros.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova realizou outras checagens recentes sobre a vacinação. No início de novembro, explicamos que, aprovada pela Anvisa, vacina contra a dengue está em análise da comissão técnica do SUS. Em outubro, mostramos que post de deputado engana sobre eficácia de vacinas ao usar dados imprecisos e fora de contexto.

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