Estudo alemão com crianças não mostra que vacina altera DNA humano, nem que causa danos à imunidade


Postagem tira conclusões equivocadas de pesquisa que observa aparecimento tardio de anticorpo um ano após a vacinação; artigo não relata malefícios ao organismo

Por Bernardo Costa
Atualização:

O que estão compartilhando: que um estudo de pesquisadores alemães mostrou que crianças de 5 a 11 anos que receberam duas doses da vacina de mRNA da Pfizer tiveram o sistema imunológico alterados um ano após a segunda aplicação. Segundo a postagem, o estudo comprova que “o mRNA altera o DNA humano”.

O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é enganoso. Professores das áreas de imunologia e virologia afirmam que estudo não permite concluir que houve danos no organismo das crianças, nem que a vacina altera o DNA humano. Os especialistas consultados classificam essa alegação como “uma falácia” dos grupos antivacina.

Captura de tela da postagem verificada Foto: Reprodução/Instagram
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Saiba mais: o estudo “Delayed Induction of Noninflammatory SARS-CoV-2 Spike-Specific IgG4 Antibodies Detected 1 Year After BNT162b2 Vaccination in Children” (Indução tardia de anticorpos IgG4 não inflamatórios específicos para a spike do SARS-CoV-2 detectados 1 ano após a vacinação com BNT162b2 em crianças) foi publicado na revista The Pediatric Infectious Disease Journal, em 30 de julho. O estudo foi liderado pelo médico pediatra Robin Kobbe, que atua no Instituto de Pesquisa de Infecções e Desenvolvimento de Vacinas do Centro Médico Universitário Hamburg-Eppendorf, na Alemanha.

O estudo observa que o nível do anticorpo IgG4 cresceu significativamente após um ano da aplicação da segunda dose da vacina da Pfizer em crianças. Esse anticorpo é o que garante uma resposta imunológica de longo prazo (entenda melhor mais abaixo). A presença do IgG4 já havia sido observada em adultos, mas não no público entre 5 e 11 anos.

O estudo aponta que o dado não é comum. No entanto, não explica por que isso acontece e nem descreve que efeitos esse achado teria. Os pesquisadores concluem que “entender o mecanismo incomum que desencadeia a produção de IgG4 é crucial, pois mais vacinas de mRNA estão atualmente em desenvolvimento e podem chegar ao mercado global em breve”.

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O estudo observou 14 crianças, que tiveram sangue coletado no dia de aplicação da primeira dose, cinco semanas depois e um ano após a aplicação da segunda dose. O estudo destaca que nenhuma delas teve mais do que leves reações pós-vacinais. Segundo o artigo, com o surgimento da variante ômicron, todas foram infectadas e não apresentaram sintomas ou tiveram apenas sintomas leves, e mostraram respostas imunes positivas.

Estudo não mostra alteração prejudicial do sistema imune

Consultados pelo Verifica, professores da área de imunologia e virologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) afirmaram que as alegações da postagem não procedem.

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Para o imunologista Orlando da Costa Ferreira Junior, do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, não faz sentido afirmar que as crianças observadas no estudo tiveram o sistema imunológico alterado. “O próprio objetivo da vacina é exatamente alterar o sistema imunológico e torná-lo mais apto a enfrentar aquele agente infeccioso. Isso não quer dizer que é uma coisa ruim, pelo contrário. Agora, se você alterar ele para induzir uma doença em você, isso pode ser ruim. Mas o estudo não mostrou que isso acontece”, explicou Orlando.

Por meio de simulações computacionais, o grupo de cientistas estudou a proteína-chave do SARS-CoV-2, conhecida como spike Foto: NIAD/NIH

Segundo ele, o fato de aparecer o anticorpo IgG4 após um ano da segunda dose é um achado, mas não significa um dano à saúde. O estudo não aponta para isso. “Qual é a consequência que isso vai ter? Vamos precisar de outros estudos para saber”, afirmou Orlando. “Não se pode tirar uma conclusão a priori, porque a gente não sabe se esse anticorpo vai desaparecer do organismo, o que pode acontecer mais à frente”.

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O imunologista disse é que preciso ter cuidado ao tirar conclusões que não estão no estudo. “Eu acho que a gente tem que ter um pouco mais de parcimônia nessas conclusões. É uma observação que merece atenção. Não porque seja uma coisa grave, mas porque a gente precisa entender porque isso está acontecendo”, disse.

A virologista e imunologista Jordana Coelho dos Reis, professora do Departamento de Microbiologia da UFMG, explica que os anticorpos do tipo IgG (com as subclasses IgG1, IgG2, IgG3 e IgG4) são os que vão permanecer no organismo humano por mais tempo e garantir a chamada resposta de longo prazo. “Por isso, é essencial que a vacina produza esse tipo de anticorpo”, destacou a doutora.

Segundo Jordana, as subclasses IgG2 e IgG4 são as que reconhecem os antígenos (substâncias estranhas ao organismo) glicosilados. Já IgG1 e IgG3, os proteicos. Sendo assim, explica Jordana, é esperado que as subclasses 2 e 4 apareçam tardiamente, pois estão reconhecendo os detalhes da proteína spike (uma parte do vírus da covid).

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Ela faz a seguinte analogia: “Imaginemos que a vacina fornece ao organismo o retrato falado do bandido que precisa ser capturado. Com o passar do tempo, percebemos os detalhes do retrato, como uma característica específica das sobrancelhas ou dos olhos. Esses detalhes são percebidos pelas IgG2 e IgG4. No caso do vírus da covid, os detalhes são as glicosilações, aquelas ‘franjinhas’ que aparecem em volta do desenho do vírus que vemos na internet”.

Assim como Orlando, a professora afirma que o estudo não mostra que o aparecimento de IgG4 provoca danos no organismo das crianças. “De uma forma geral, considero esse aparecimento positivo, pois mostra que a resposta imune está vendo mais do que nós estamos apresentando para ela ver, o que está indicando uma evolução”, disse Jordana.

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Ela acrescenta: “Mas é preciso mais estudos para entender exatamente qual é a função desse IgG4 no contexto vacinal. Mas falar que esse IgG4 vai ligar na gente, causar uma doença autoimune, causar problema, destruir nosso DNA, isso não tem absolutamente nenhuma evidência, nenhuma plausibilidade”.

Vacina não altera o DNA

Segundo o professor Momtchilo Russo, do Instituto de Ciências Biológicas da USP, “de jeito nenhum” o artigo permite afirmar que a vacina altera o DNA humano. “A afirmação é incorreta e parece-me que faz parte de fake news associadas a pessoas que são antivacinação”.

Momtchilo avalia que o fato de haver aumento do anticorpo IgG4 tardiamente não implica que haja dano à saúde. “É preciso um estudo com uma densidade populacional maior para avaliar se haverá ou não um risco de dano à saúde”, destacou o professor, que acrescentou: “Na imunoterapia das alergias, o que se deseja é justamente o aumento de IgG4. Nesse caso, a IgG4 tem um efeito anti alérgico”.

Para o professor Orlando, a alegação de que a vacina de mRNA altera o DNA humano “é uma falácia”. Para relembrar, a vacina da Pfizer contém uma partícula de RNA mensageiro, que manda uma “mensagem” para o corpo, para que ele produza anticorpos contra a covid.

“Esse RNA da vacina chega no citoplasma da célula e não consegue ir pro núcleo”, explicou Orlando. “Não existe nenhuma possibilidade de um RNA que está no citoplasma da célula entrar no núcleo e, entrando no núcleo, ele ainda teria que se transformar em DNA pra poder ir pro nosso genoma. Então, isso não existe, isso é uma falácia dos grupos antivacina”.

O Estadão Verifica já desmentiu outras vezes que as vacinas alteram o DNA, quando publicou que estudo não mostra que vacina da Pfizer modifica o código genético, que os imunizantes não causam danos cause danos irreversíveis ao DNA ou que as vacinas de mRNA não são terapia genética.

O que estão compartilhando: que um estudo de pesquisadores alemães mostrou que crianças de 5 a 11 anos que receberam duas doses da vacina de mRNA da Pfizer tiveram o sistema imunológico alterados um ano após a segunda aplicação. Segundo a postagem, o estudo comprova que “o mRNA altera o DNA humano”.

O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é enganoso. Professores das áreas de imunologia e virologia afirmam que estudo não permite concluir que houve danos no organismo das crianças, nem que a vacina altera o DNA humano. Os especialistas consultados classificam essa alegação como “uma falácia” dos grupos antivacina.

Captura de tela da postagem verificada Foto: Reprodução/Instagram

Saiba mais: o estudo “Delayed Induction of Noninflammatory SARS-CoV-2 Spike-Specific IgG4 Antibodies Detected 1 Year After BNT162b2 Vaccination in Children” (Indução tardia de anticorpos IgG4 não inflamatórios específicos para a spike do SARS-CoV-2 detectados 1 ano após a vacinação com BNT162b2 em crianças) foi publicado na revista The Pediatric Infectious Disease Journal, em 30 de julho. O estudo foi liderado pelo médico pediatra Robin Kobbe, que atua no Instituto de Pesquisa de Infecções e Desenvolvimento de Vacinas do Centro Médico Universitário Hamburg-Eppendorf, na Alemanha.

O estudo observa que o nível do anticorpo IgG4 cresceu significativamente após um ano da aplicação da segunda dose da vacina da Pfizer em crianças. Esse anticorpo é o que garante uma resposta imunológica de longo prazo (entenda melhor mais abaixo). A presença do IgG4 já havia sido observada em adultos, mas não no público entre 5 e 11 anos.

O estudo aponta que o dado não é comum. No entanto, não explica por que isso acontece e nem descreve que efeitos esse achado teria. Os pesquisadores concluem que “entender o mecanismo incomum que desencadeia a produção de IgG4 é crucial, pois mais vacinas de mRNA estão atualmente em desenvolvimento e podem chegar ao mercado global em breve”.

O estudo observou 14 crianças, que tiveram sangue coletado no dia de aplicação da primeira dose, cinco semanas depois e um ano após a aplicação da segunda dose. O estudo destaca que nenhuma delas teve mais do que leves reações pós-vacinais. Segundo o artigo, com o surgimento da variante ômicron, todas foram infectadas e não apresentaram sintomas ou tiveram apenas sintomas leves, e mostraram respostas imunes positivas.

Estudo não mostra alteração prejudicial do sistema imune

Consultados pelo Verifica, professores da área de imunologia e virologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) afirmaram que as alegações da postagem não procedem.

Para o imunologista Orlando da Costa Ferreira Junior, do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, não faz sentido afirmar que as crianças observadas no estudo tiveram o sistema imunológico alterado. “O próprio objetivo da vacina é exatamente alterar o sistema imunológico e torná-lo mais apto a enfrentar aquele agente infeccioso. Isso não quer dizer que é uma coisa ruim, pelo contrário. Agora, se você alterar ele para induzir uma doença em você, isso pode ser ruim. Mas o estudo não mostrou que isso acontece”, explicou Orlando.

Por meio de simulações computacionais, o grupo de cientistas estudou a proteína-chave do SARS-CoV-2, conhecida como spike Foto: NIAD/NIH

Segundo ele, o fato de aparecer o anticorpo IgG4 após um ano da segunda dose é um achado, mas não significa um dano à saúde. O estudo não aponta para isso. “Qual é a consequência que isso vai ter? Vamos precisar de outros estudos para saber”, afirmou Orlando. “Não se pode tirar uma conclusão a priori, porque a gente não sabe se esse anticorpo vai desaparecer do organismo, o que pode acontecer mais à frente”.

O imunologista disse é que preciso ter cuidado ao tirar conclusões que não estão no estudo. “Eu acho que a gente tem que ter um pouco mais de parcimônia nessas conclusões. É uma observação que merece atenção. Não porque seja uma coisa grave, mas porque a gente precisa entender porque isso está acontecendo”, disse.

A virologista e imunologista Jordana Coelho dos Reis, professora do Departamento de Microbiologia da UFMG, explica que os anticorpos do tipo IgG (com as subclasses IgG1, IgG2, IgG3 e IgG4) são os que vão permanecer no organismo humano por mais tempo e garantir a chamada resposta de longo prazo. “Por isso, é essencial que a vacina produza esse tipo de anticorpo”, destacou a doutora.

Segundo Jordana, as subclasses IgG2 e IgG4 são as que reconhecem os antígenos (substâncias estranhas ao organismo) glicosilados. Já IgG1 e IgG3, os proteicos. Sendo assim, explica Jordana, é esperado que as subclasses 2 e 4 apareçam tardiamente, pois estão reconhecendo os detalhes da proteína spike (uma parte do vírus da covid).

Ela faz a seguinte analogia: “Imaginemos que a vacina fornece ao organismo o retrato falado do bandido que precisa ser capturado. Com o passar do tempo, percebemos os detalhes do retrato, como uma característica específica das sobrancelhas ou dos olhos. Esses detalhes são percebidos pelas IgG2 e IgG4. No caso do vírus da covid, os detalhes são as glicosilações, aquelas ‘franjinhas’ que aparecem em volta do desenho do vírus que vemos na internet”.

Assim como Orlando, a professora afirma que o estudo não mostra que o aparecimento de IgG4 provoca danos no organismo das crianças. “De uma forma geral, considero esse aparecimento positivo, pois mostra que a resposta imune está vendo mais do que nós estamos apresentando para ela ver, o que está indicando uma evolução”, disse Jordana.

Ela acrescenta: “Mas é preciso mais estudos para entender exatamente qual é a função desse IgG4 no contexto vacinal. Mas falar que esse IgG4 vai ligar na gente, causar uma doença autoimune, causar problema, destruir nosso DNA, isso não tem absolutamente nenhuma evidência, nenhuma plausibilidade”.

Vacina não altera o DNA

Segundo o professor Momtchilo Russo, do Instituto de Ciências Biológicas da USP, “de jeito nenhum” o artigo permite afirmar que a vacina altera o DNA humano. “A afirmação é incorreta e parece-me que faz parte de fake news associadas a pessoas que são antivacinação”.

Momtchilo avalia que o fato de haver aumento do anticorpo IgG4 tardiamente não implica que haja dano à saúde. “É preciso um estudo com uma densidade populacional maior para avaliar se haverá ou não um risco de dano à saúde”, destacou o professor, que acrescentou: “Na imunoterapia das alergias, o que se deseja é justamente o aumento de IgG4. Nesse caso, a IgG4 tem um efeito anti alérgico”.

Para o professor Orlando, a alegação de que a vacina de mRNA altera o DNA humano “é uma falácia”. Para relembrar, a vacina da Pfizer contém uma partícula de RNA mensageiro, que manda uma “mensagem” para o corpo, para que ele produza anticorpos contra a covid.

“Esse RNA da vacina chega no citoplasma da célula e não consegue ir pro núcleo”, explicou Orlando. “Não existe nenhuma possibilidade de um RNA que está no citoplasma da célula entrar no núcleo e, entrando no núcleo, ele ainda teria que se transformar em DNA pra poder ir pro nosso genoma. Então, isso não existe, isso é uma falácia dos grupos antivacina”.

O Estadão Verifica já desmentiu outras vezes que as vacinas alteram o DNA, quando publicou que estudo não mostra que vacina da Pfizer modifica o código genético, que os imunizantes não causam danos cause danos irreversíveis ao DNA ou que as vacinas de mRNA não são terapia genética.

O que estão compartilhando: que um estudo de pesquisadores alemães mostrou que crianças de 5 a 11 anos que receberam duas doses da vacina de mRNA da Pfizer tiveram o sistema imunológico alterados um ano após a segunda aplicação. Segundo a postagem, o estudo comprova que “o mRNA altera o DNA humano”.

O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é enganoso. Professores das áreas de imunologia e virologia afirmam que estudo não permite concluir que houve danos no organismo das crianças, nem que a vacina altera o DNA humano. Os especialistas consultados classificam essa alegação como “uma falácia” dos grupos antivacina.

Captura de tela da postagem verificada Foto: Reprodução/Instagram

Saiba mais: o estudo “Delayed Induction of Noninflammatory SARS-CoV-2 Spike-Specific IgG4 Antibodies Detected 1 Year After BNT162b2 Vaccination in Children” (Indução tardia de anticorpos IgG4 não inflamatórios específicos para a spike do SARS-CoV-2 detectados 1 ano após a vacinação com BNT162b2 em crianças) foi publicado na revista The Pediatric Infectious Disease Journal, em 30 de julho. O estudo foi liderado pelo médico pediatra Robin Kobbe, que atua no Instituto de Pesquisa de Infecções e Desenvolvimento de Vacinas do Centro Médico Universitário Hamburg-Eppendorf, na Alemanha.

O estudo observa que o nível do anticorpo IgG4 cresceu significativamente após um ano da aplicação da segunda dose da vacina da Pfizer em crianças. Esse anticorpo é o que garante uma resposta imunológica de longo prazo (entenda melhor mais abaixo). A presença do IgG4 já havia sido observada em adultos, mas não no público entre 5 e 11 anos.

O estudo aponta que o dado não é comum. No entanto, não explica por que isso acontece e nem descreve que efeitos esse achado teria. Os pesquisadores concluem que “entender o mecanismo incomum que desencadeia a produção de IgG4 é crucial, pois mais vacinas de mRNA estão atualmente em desenvolvimento e podem chegar ao mercado global em breve”.

O estudo observou 14 crianças, que tiveram sangue coletado no dia de aplicação da primeira dose, cinco semanas depois e um ano após a aplicação da segunda dose. O estudo destaca que nenhuma delas teve mais do que leves reações pós-vacinais. Segundo o artigo, com o surgimento da variante ômicron, todas foram infectadas e não apresentaram sintomas ou tiveram apenas sintomas leves, e mostraram respostas imunes positivas.

Estudo não mostra alteração prejudicial do sistema imune

Consultados pelo Verifica, professores da área de imunologia e virologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) afirmaram que as alegações da postagem não procedem.

Para o imunologista Orlando da Costa Ferreira Junior, do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, não faz sentido afirmar que as crianças observadas no estudo tiveram o sistema imunológico alterado. “O próprio objetivo da vacina é exatamente alterar o sistema imunológico e torná-lo mais apto a enfrentar aquele agente infeccioso. Isso não quer dizer que é uma coisa ruim, pelo contrário. Agora, se você alterar ele para induzir uma doença em você, isso pode ser ruim. Mas o estudo não mostrou que isso acontece”, explicou Orlando.

Por meio de simulações computacionais, o grupo de cientistas estudou a proteína-chave do SARS-CoV-2, conhecida como spike Foto: NIAD/NIH

Segundo ele, o fato de aparecer o anticorpo IgG4 após um ano da segunda dose é um achado, mas não significa um dano à saúde. O estudo não aponta para isso. “Qual é a consequência que isso vai ter? Vamos precisar de outros estudos para saber”, afirmou Orlando. “Não se pode tirar uma conclusão a priori, porque a gente não sabe se esse anticorpo vai desaparecer do organismo, o que pode acontecer mais à frente”.

O imunologista disse é que preciso ter cuidado ao tirar conclusões que não estão no estudo. “Eu acho que a gente tem que ter um pouco mais de parcimônia nessas conclusões. É uma observação que merece atenção. Não porque seja uma coisa grave, mas porque a gente precisa entender porque isso está acontecendo”, disse.

A virologista e imunologista Jordana Coelho dos Reis, professora do Departamento de Microbiologia da UFMG, explica que os anticorpos do tipo IgG (com as subclasses IgG1, IgG2, IgG3 e IgG4) são os que vão permanecer no organismo humano por mais tempo e garantir a chamada resposta de longo prazo. “Por isso, é essencial que a vacina produza esse tipo de anticorpo”, destacou a doutora.

Segundo Jordana, as subclasses IgG2 e IgG4 são as que reconhecem os antígenos (substâncias estranhas ao organismo) glicosilados. Já IgG1 e IgG3, os proteicos. Sendo assim, explica Jordana, é esperado que as subclasses 2 e 4 apareçam tardiamente, pois estão reconhecendo os detalhes da proteína spike (uma parte do vírus da covid).

Ela faz a seguinte analogia: “Imaginemos que a vacina fornece ao organismo o retrato falado do bandido que precisa ser capturado. Com o passar do tempo, percebemos os detalhes do retrato, como uma característica específica das sobrancelhas ou dos olhos. Esses detalhes são percebidos pelas IgG2 e IgG4. No caso do vírus da covid, os detalhes são as glicosilações, aquelas ‘franjinhas’ que aparecem em volta do desenho do vírus que vemos na internet”.

Assim como Orlando, a professora afirma que o estudo não mostra que o aparecimento de IgG4 provoca danos no organismo das crianças. “De uma forma geral, considero esse aparecimento positivo, pois mostra que a resposta imune está vendo mais do que nós estamos apresentando para ela ver, o que está indicando uma evolução”, disse Jordana.

Ela acrescenta: “Mas é preciso mais estudos para entender exatamente qual é a função desse IgG4 no contexto vacinal. Mas falar que esse IgG4 vai ligar na gente, causar uma doença autoimune, causar problema, destruir nosso DNA, isso não tem absolutamente nenhuma evidência, nenhuma plausibilidade”.

Vacina não altera o DNA

Segundo o professor Momtchilo Russo, do Instituto de Ciências Biológicas da USP, “de jeito nenhum” o artigo permite afirmar que a vacina altera o DNA humano. “A afirmação é incorreta e parece-me que faz parte de fake news associadas a pessoas que são antivacinação”.

Momtchilo avalia que o fato de haver aumento do anticorpo IgG4 tardiamente não implica que haja dano à saúde. “É preciso um estudo com uma densidade populacional maior para avaliar se haverá ou não um risco de dano à saúde”, destacou o professor, que acrescentou: “Na imunoterapia das alergias, o que se deseja é justamente o aumento de IgG4. Nesse caso, a IgG4 tem um efeito anti alérgico”.

Para o professor Orlando, a alegação de que a vacina de mRNA altera o DNA humano “é uma falácia”. Para relembrar, a vacina da Pfizer contém uma partícula de RNA mensageiro, que manda uma “mensagem” para o corpo, para que ele produza anticorpos contra a covid.

“Esse RNA da vacina chega no citoplasma da célula e não consegue ir pro núcleo”, explicou Orlando. “Não existe nenhuma possibilidade de um RNA que está no citoplasma da célula entrar no núcleo e, entrando no núcleo, ele ainda teria que se transformar em DNA pra poder ir pro nosso genoma. Então, isso não existe, isso é uma falácia dos grupos antivacina”.

O Estadão Verifica já desmentiu outras vezes que as vacinas alteram o DNA, quando publicou que estudo não mostra que vacina da Pfizer modifica o código genético, que os imunizantes não causam danos cause danos irreversíveis ao DNA ou que as vacinas de mRNA não são terapia genética.

O que estão compartilhando: que um estudo de pesquisadores alemães mostrou que crianças de 5 a 11 anos que receberam duas doses da vacina de mRNA da Pfizer tiveram o sistema imunológico alterados um ano após a segunda aplicação. Segundo a postagem, o estudo comprova que “o mRNA altera o DNA humano”.

O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é enganoso. Professores das áreas de imunologia e virologia afirmam que estudo não permite concluir que houve danos no organismo das crianças, nem que a vacina altera o DNA humano. Os especialistas consultados classificam essa alegação como “uma falácia” dos grupos antivacina.

Captura de tela da postagem verificada Foto: Reprodução/Instagram

Saiba mais: o estudo “Delayed Induction of Noninflammatory SARS-CoV-2 Spike-Specific IgG4 Antibodies Detected 1 Year After BNT162b2 Vaccination in Children” (Indução tardia de anticorpos IgG4 não inflamatórios específicos para a spike do SARS-CoV-2 detectados 1 ano após a vacinação com BNT162b2 em crianças) foi publicado na revista The Pediatric Infectious Disease Journal, em 30 de julho. O estudo foi liderado pelo médico pediatra Robin Kobbe, que atua no Instituto de Pesquisa de Infecções e Desenvolvimento de Vacinas do Centro Médico Universitário Hamburg-Eppendorf, na Alemanha.

O estudo observa que o nível do anticorpo IgG4 cresceu significativamente após um ano da aplicação da segunda dose da vacina da Pfizer em crianças. Esse anticorpo é o que garante uma resposta imunológica de longo prazo (entenda melhor mais abaixo). A presença do IgG4 já havia sido observada em adultos, mas não no público entre 5 e 11 anos.

O estudo aponta que o dado não é comum. No entanto, não explica por que isso acontece e nem descreve que efeitos esse achado teria. Os pesquisadores concluem que “entender o mecanismo incomum que desencadeia a produção de IgG4 é crucial, pois mais vacinas de mRNA estão atualmente em desenvolvimento e podem chegar ao mercado global em breve”.

O estudo observou 14 crianças, que tiveram sangue coletado no dia de aplicação da primeira dose, cinco semanas depois e um ano após a aplicação da segunda dose. O estudo destaca que nenhuma delas teve mais do que leves reações pós-vacinais. Segundo o artigo, com o surgimento da variante ômicron, todas foram infectadas e não apresentaram sintomas ou tiveram apenas sintomas leves, e mostraram respostas imunes positivas.

Estudo não mostra alteração prejudicial do sistema imune

Consultados pelo Verifica, professores da área de imunologia e virologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) afirmaram que as alegações da postagem não procedem.

Para o imunologista Orlando da Costa Ferreira Junior, do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, não faz sentido afirmar que as crianças observadas no estudo tiveram o sistema imunológico alterado. “O próprio objetivo da vacina é exatamente alterar o sistema imunológico e torná-lo mais apto a enfrentar aquele agente infeccioso. Isso não quer dizer que é uma coisa ruim, pelo contrário. Agora, se você alterar ele para induzir uma doença em você, isso pode ser ruim. Mas o estudo não mostrou que isso acontece”, explicou Orlando.

Por meio de simulações computacionais, o grupo de cientistas estudou a proteína-chave do SARS-CoV-2, conhecida como spike Foto: NIAD/NIH

Segundo ele, o fato de aparecer o anticorpo IgG4 após um ano da segunda dose é um achado, mas não significa um dano à saúde. O estudo não aponta para isso. “Qual é a consequência que isso vai ter? Vamos precisar de outros estudos para saber”, afirmou Orlando. “Não se pode tirar uma conclusão a priori, porque a gente não sabe se esse anticorpo vai desaparecer do organismo, o que pode acontecer mais à frente”.

O imunologista disse é que preciso ter cuidado ao tirar conclusões que não estão no estudo. “Eu acho que a gente tem que ter um pouco mais de parcimônia nessas conclusões. É uma observação que merece atenção. Não porque seja uma coisa grave, mas porque a gente precisa entender porque isso está acontecendo”, disse.

A virologista e imunologista Jordana Coelho dos Reis, professora do Departamento de Microbiologia da UFMG, explica que os anticorpos do tipo IgG (com as subclasses IgG1, IgG2, IgG3 e IgG4) são os que vão permanecer no organismo humano por mais tempo e garantir a chamada resposta de longo prazo. “Por isso, é essencial que a vacina produza esse tipo de anticorpo”, destacou a doutora.

Segundo Jordana, as subclasses IgG2 e IgG4 são as que reconhecem os antígenos (substâncias estranhas ao organismo) glicosilados. Já IgG1 e IgG3, os proteicos. Sendo assim, explica Jordana, é esperado que as subclasses 2 e 4 apareçam tardiamente, pois estão reconhecendo os detalhes da proteína spike (uma parte do vírus da covid).

Ela faz a seguinte analogia: “Imaginemos que a vacina fornece ao organismo o retrato falado do bandido que precisa ser capturado. Com o passar do tempo, percebemos os detalhes do retrato, como uma característica específica das sobrancelhas ou dos olhos. Esses detalhes são percebidos pelas IgG2 e IgG4. No caso do vírus da covid, os detalhes são as glicosilações, aquelas ‘franjinhas’ que aparecem em volta do desenho do vírus que vemos na internet”.

Assim como Orlando, a professora afirma que o estudo não mostra que o aparecimento de IgG4 provoca danos no organismo das crianças. “De uma forma geral, considero esse aparecimento positivo, pois mostra que a resposta imune está vendo mais do que nós estamos apresentando para ela ver, o que está indicando uma evolução”, disse Jordana.

Ela acrescenta: “Mas é preciso mais estudos para entender exatamente qual é a função desse IgG4 no contexto vacinal. Mas falar que esse IgG4 vai ligar na gente, causar uma doença autoimune, causar problema, destruir nosso DNA, isso não tem absolutamente nenhuma evidência, nenhuma plausibilidade”.

Vacina não altera o DNA

Segundo o professor Momtchilo Russo, do Instituto de Ciências Biológicas da USP, “de jeito nenhum” o artigo permite afirmar que a vacina altera o DNA humano. “A afirmação é incorreta e parece-me que faz parte de fake news associadas a pessoas que são antivacinação”.

Momtchilo avalia que o fato de haver aumento do anticorpo IgG4 tardiamente não implica que haja dano à saúde. “É preciso um estudo com uma densidade populacional maior para avaliar se haverá ou não um risco de dano à saúde”, destacou o professor, que acrescentou: “Na imunoterapia das alergias, o que se deseja é justamente o aumento de IgG4. Nesse caso, a IgG4 tem um efeito anti alérgico”.

Para o professor Orlando, a alegação de que a vacina de mRNA altera o DNA humano “é uma falácia”. Para relembrar, a vacina da Pfizer contém uma partícula de RNA mensageiro, que manda uma “mensagem” para o corpo, para que ele produza anticorpos contra a covid.

“Esse RNA da vacina chega no citoplasma da célula e não consegue ir pro núcleo”, explicou Orlando. “Não existe nenhuma possibilidade de um RNA que está no citoplasma da célula entrar no núcleo e, entrando no núcleo, ele ainda teria que se transformar em DNA pra poder ir pro nosso genoma. Então, isso não existe, isso é uma falácia dos grupos antivacina”.

O Estadão Verifica já desmentiu outras vezes que as vacinas alteram o DNA, quando publicou que estudo não mostra que vacina da Pfizer modifica o código genético, que os imunizantes não causam danos cause danos irreversíveis ao DNA ou que as vacinas de mRNA não são terapia genética.

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