Estudo citado em post enganoso não diz que vacinas teriam causado mortes em asilos de todo o mundo


Pesquisa da área de Economia indica que doses de reforço não teriam contribuído para redução de mortalidade em idosos da Inglaterra; no entanto, especialista em Epidemiologia explica que metodologia não é usada na área de Saúde

Por Talita Burbulhan
Atualização:

O que estão compartilhando: que um estudo científico revelou que os reforços da vacina contra a covid-19 contribuíram diretamente para a morte de milhões de idosos que vivem em asilos em todo o mundo.

O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é enganoso, porque o estudo não diz que a vacina causou a morte de idosos, nem foi realizado levando em consideração todos os países do mundo. O estudo, publicado em uma revista científica da área da Economia, contesta a hipótese de que as altas taxas de vacinação tenham sido um fator particularmente importante na redução da mortalidade por covid após as ondas iniciais da doença. O próprio autor do estudo e dois especialistas consultados pelo Verifica afirmaram que a pesquisa não é conclusiva quanto à causa da mortalidade dos idosos. Um professor da área de Epidemiologia explicou que a metodologia da análise não conta como evidência para o setor de saúde.

Estudo não diz que vacinas causaram a morte de idosos em asilos Foto: Reprodução/Instagram
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Saiba mais: Uma postagem no Instagram diz que um estudo científico mostrou que as doses de reforço da vacina contra a covid-19 aceleraram a morte de milhões de moradores de asilos em todo o mundo. “Com a promessa de proteção, os idosos experimentaram um aumento da mortalidade após receberem doses de reforço, com a própria intervenção destinada a proteger suas vidas, na verdade, acelerando suas mortes”, afirma o autor na legenda do vídeo. Essa afirmação, no entanto, é enganosa.

Estudo levanta dúvidas sobre eficácia das doses de reforço da vacina

O estudo citado na postagem, Using double-debiased machine learning to estimate the impact of covid-19 vaccination on mortality and staff absences in elderly care homes (Usando maching learning de viés duplo para estimar o impacto da vacinação contra a covid-19 na mortalidade e nas ausências dos funcionários em casas de repouso para idosos), foi publicado pela revista científica European Economic Review, de novembro de 2024. A pesquisa está situada dentro do campo da chamada inferência causal, uma área da estatística e da ciência de dados que busca responder não apenas se duas variáveis estão correlacionadas, mas se uma influencia diretamente a outra.

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Os pesquisadores examinaram o impacto das taxas de vacinação contra a covid-19 sobre a mortalidade idosos que vivem em casas de repouso na Inglaterra. A conclusão do estudo é que o impacto da vacinação na redução da mortalidade em residentes de asilos foi limitado e principalmente observado durante o período inicial de distribuição da vacina (a imunização na Inglaterra começou em dezembro de 2020). Os pesquisadores observaram que no período das doses de reforço (a partir de setembro de 2021), as taxas de vacinação mais altas estavam associadas a uma maior mortalidade por covid-19 em asilos.

“Podemos dizer com razoável confiança que a adesão à vacina, na melhor das hipóteses, reduziu a quantidade de mortes apenas em uma pequena quantidade em lares de idosos na implementação inicial, mas não há evidência de qualquer redução no período do reforço”, explicou ao Verifica um dos autores do estudo e professor da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, David Paton.

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Ao ser questionado se as evidências do estudo mostraram que a vacina teria acelerado a morte dos idosos, como afirmou o autor da postagem do Instagram, Paton disse que o estudo encontrou “alguma evidência” desse efeito, mas isso não significa que seja uma prova conclusiva. “Não encontramos esse efeito para o total de mortes em asilos, então eu diria que há alguma incerteza associada e essa conclusão”, afirmou.

O doutor em Ciência Política e professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Lucas Novaes dá aulas de inferência causal, o mesmo campo do estudo em questão. Na avaliação dele, é difícil saber pelo estudo o que causou a morte dos idosos. “O aumento da mortalidade pode ser em função de pacientes que, ao tomar a vacina, são mais descuidados com a saúde”, exemplificou ele.

Para Novaes, é válido dizer que o estudo mostra uma limitação na efetividade da vacina no longo prazo, ou ainda que as vacinas, sem uma atualização de diferentes cepas da doença, não são tão efetivas. “Ele não é conclusivo o suficiente para assegurar que as vacinas são ineficientes, muito menos para dizer que causam aumento na mortalidade”, explicou ele.

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Metodologia empregada no estudo não costuma ser usada na área de Saúde

O professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Expedito Luna chama a atenção para o fato de o estudo ter sido publicado em uma revista da área da Economia, e não da Saúde.

Ele explica que a metodologia do estudo é vista com reserva dentro da literatura médica, porque tem como unidade de análise grupos, e não indivíduos. Na avaliação dele, o estudo não conta como uma evidência para o setor da saúde.“A Organização Mundial da Saúde e os programas de vacinação de todos os países sérios do mundo baseiam-se em estudos com base em indivíduos”, afirmou.

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Questionado sobre a eficácia das doses de reforço, Luna informou que a proteção começa a perder efeito após quatro meses da aplicação, mas que elas seguem sendo recomendadas pela OMS.

“A vacina é formulada a partir dos vírus principais que circularam no ano anterior”, explicou. “Sendo desse jeito, a vacina está sempre atrasada. O vírus está evoluindo, está fazendo mutações e a vacina está tentando correr atrás. Assim é com a gripe, assim vai continuar sendo com o coronavírus”.

Desde janeiro de 2024, a vacina contra a covid-19 integra o Programa Nacional de Imunizações (PNI). Os idosos estão dentro do grupo prioritário. Eles devem receber uma dose anual da vacina monovalente (SpikeVax), desde que aplicada com intervalo mínimo de três meses desde a administração da última dose contra a covid-19.

O que estão compartilhando: que um estudo científico revelou que os reforços da vacina contra a covid-19 contribuíram diretamente para a morte de milhões de idosos que vivem em asilos em todo o mundo.

O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é enganoso, porque o estudo não diz que a vacina causou a morte de idosos, nem foi realizado levando em consideração todos os países do mundo. O estudo, publicado em uma revista científica da área da Economia, contesta a hipótese de que as altas taxas de vacinação tenham sido um fator particularmente importante na redução da mortalidade por covid após as ondas iniciais da doença. O próprio autor do estudo e dois especialistas consultados pelo Verifica afirmaram que a pesquisa não é conclusiva quanto à causa da mortalidade dos idosos. Um professor da área de Epidemiologia explicou que a metodologia da análise não conta como evidência para o setor de saúde.

Estudo não diz que vacinas causaram a morte de idosos em asilos Foto: Reprodução/Instagram

Saiba mais: Uma postagem no Instagram diz que um estudo científico mostrou que as doses de reforço da vacina contra a covid-19 aceleraram a morte de milhões de moradores de asilos em todo o mundo. “Com a promessa de proteção, os idosos experimentaram um aumento da mortalidade após receberem doses de reforço, com a própria intervenção destinada a proteger suas vidas, na verdade, acelerando suas mortes”, afirma o autor na legenda do vídeo. Essa afirmação, no entanto, é enganosa.

Estudo levanta dúvidas sobre eficácia das doses de reforço da vacina

O estudo citado na postagem, Using double-debiased machine learning to estimate the impact of covid-19 vaccination on mortality and staff absences in elderly care homes (Usando maching learning de viés duplo para estimar o impacto da vacinação contra a covid-19 na mortalidade e nas ausências dos funcionários em casas de repouso para idosos), foi publicado pela revista científica European Economic Review, de novembro de 2024. A pesquisa está situada dentro do campo da chamada inferência causal, uma área da estatística e da ciência de dados que busca responder não apenas se duas variáveis estão correlacionadas, mas se uma influencia diretamente a outra.

Os pesquisadores examinaram o impacto das taxas de vacinação contra a covid-19 sobre a mortalidade idosos que vivem em casas de repouso na Inglaterra. A conclusão do estudo é que o impacto da vacinação na redução da mortalidade em residentes de asilos foi limitado e principalmente observado durante o período inicial de distribuição da vacina (a imunização na Inglaterra começou em dezembro de 2020). Os pesquisadores observaram que no período das doses de reforço (a partir de setembro de 2021), as taxas de vacinação mais altas estavam associadas a uma maior mortalidade por covid-19 em asilos.

“Podemos dizer com razoável confiança que a adesão à vacina, na melhor das hipóteses, reduziu a quantidade de mortes apenas em uma pequena quantidade em lares de idosos na implementação inicial, mas não há evidência de qualquer redução no período do reforço”, explicou ao Verifica um dos autores do estudo e professor da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, David Paton.

Ao ser questionado se as evidências do estudo mostraram que a vacina teria acelerado a morte dos idosos, como afirmou o autor da postagem do Instagram, Paton disse que o estudo encontrou “alguma evidência” desse efeito, mas isso não significa que seja uma prova conclusiva. “Não encontramos esse efeito para o total de mortes em asilos, então eu diria que há alguma incerteza associada e essa conclusão”, afirmou.

O doutor em Ciência Política e professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Lucas Novaes dá aulas de inferência causal, o mesmo campo do estudo em questão. Na avaliação dele, é difícil saber pelo estudo o que causou a morte dos idosos. “O aumento da mortalidade pode ser em função de pacientes que, ao tomar a vacina, são mais descuidados com a saúde”, exemplificou ele.

Para Novaes, é válido dizer que o estudo mostra uma limitação na efetividade da vacina no longo prazo, ou ainda que as vacinas, sem uma atualização de diferentes cepas da doença, não são tão efetivas. “Ele não é conclusivo o suficiente para assegurar que as vacinas são ineficientes, muito menos para dizer que causam aumento na mortalidade”, explicou ele.

Metodologia empregada no estudo não costuma ser usada na área de Saúde

O professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Expedito Luna chama a atenção para o fato de o estudo ter sido publicado em uma revista da área da Economia, e não da Saúde.

Ele explica que a metodologia do estudo é vista com reserva dentro da literatura médica, porque tem como unidade de análise grupos, e não indivíduos. Na avaliação dele, o estudo não conta como uma evidência para o setor da saúde.“A Organização Mundial da Saúde e os programas de vacinação de todos os países sérios do mundo baseiam-se em estudos com base em indivíduos”, afirmou.

Questionado sobre a eficácia das doses de reforço, Luna informou que a proteção começa a perder efeito após quatro meses da aplicação, mas que elas seguem sendo recomendadas pela OMS.

“A vacina é formulada a partir dos vírus principais que circularam no ano anterior”, explicou. “Sendo desse jeito, a vacina está sempre atrasada. O vírus está evoluindo, está fazendo mutações e a vacina está tentando correr atrás. Assim é com a gripe, assim vai continuar sendo com o coronavírus”.

Desde janeiro de 2024, a vacina contra a covid-19 integra o Programa Nacional de Imunizações (PNI). Os idosos estão dentro do grupo prioritário. Eles devem receber uma dose anual da vacina monovalente (SpikeVax), desde que aplicada com intervalo mínimo de três meses desde a administração da última dose contra a covid-19.

O que estão compartilhando: que um estudo científico revelou que os reforços da vacina contra a covid-19 contribuíram diretamente para a morte de milhões de idosos que vivem em asilos em todo o mundo.

O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é enganoso, porque o estudo não diz que a vacina causou a morte de idosos, nem foi realizado levando em consideração todos os países do mundo. O estudo, publicado em uma revista científica da área da Economia, contesta a hipótese de que as altas taxas de vacinação tenham sido um fator particularmente importante na redução da mortalidade por covid após as ondas iniciais da doença. O próprio autor do estudo e dois especialistas consultados pelo Verifica afirmaram que a pesquisa não é conclusiva quanto à causa da mortalidade dos idosos. Um professor da área de Epidemiologia explicou que a metodologia da análise não conta como evidência para o setor de saúde.

Estudo não diz que vacinas causaram a morte de idosos em asilos Foto: Reprodução/Instagram

Saiba mais: Uma postagem no Instagram diz que um estudo científico mostrou que as doses de reforço da vacina contra a covid-19 aceleraram a morte de milhões de moradores de asilos em todo o mundo. “Com a promessa de proteção, os idosos experimentaram um aumento da mortalidade após receberem doses de reforço, com a própria intervenção destinada a proteger suas vidas, na verdade, acelerando suas mortes”, afirma o autor na legenda do vídeo. Essa afirmação, no entanto, é enganosa.

Estudo levanta dúvidas sobre eficácia das doses de reforço da vacina

O estudo citado na postagem, Using double-debiased machine learning to estimate the impact of covid-19 vaccination on mortality and staff absences in elderly care homes (Usando maching learning de viés duplo para estimar o impacto da vacinação contra a covid-19 na mortalidade e nas ausências dos funcionários em casas de repouso para idosos), foi publicado pela revista científica European Economic Review, de novembro de 2024. A pesquisa está situada dentro do campo da chamada inferência causal, uma área da estatística e da ciência de dados que busca responder não apenas se duas variáveis estão correlacionadas, mas se uma influencia diretamente a outra.

Os pesquisadores examinaram o impacto das taxas de vacinação contra a covid-19 sobre a mortalidade idosos que vivem em casas de repouso na Inglaterra. A conclusão do estudo é que o impacto da vacinação na redução da mortalidade em residentes de asilos foi limitado e principalmente observado durante o período inicial de distribuição da vacina (a imunização na Inglaterra começou em dezembro de 2020). Os pesquisadores observaram que no período das doses de reforço (a partir de setembro de 2021), as taxas de vacinação mais altas estavam associadas a uma maior mortalidade por covid-19 em asilos.

“Podemos dizer com razoável confiança que a adesão à vacina, na melhor das hipóteses, reduziu a quantidade de mortes apenas em uma pequena quantidade em lares de idosos na implementação inicial, mas não há evidência de qualquer redução no período do reforço”, explicou ao Verifica um dos autores do estudo e professor da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, David Paton.

Ao ser questionado se as evidências do estudo mostraram que a vacina teria acelerado a morte dos idosos, como afirmou o autor da postagem do Instagram, Paton disse que o estudo encontrou “alguma evidência” desse efeito, mas isso não significa que seja uma prova conclusiva. “Não encontramos esse efeito para o total de mortes em asilos, então eu diria que há alguma incerteza associada e essa conclusão”, afirmou.

O doutor em Ciência Política e professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Lucas Novaes dá aulas de inferência causal, o mesmo campo do estudo em questão. Na avaliação dele, é difícil saber pelo estudo o que causou a morte dos idosos. “O aumento da mortalidade pode ser em função de pacientes que, ao tomar a vacina, são mais descuidados com a saúde”, exemplificou ele.

Para Novaes, é válido dizer que o estudo mostra uma limitação na efetividade da vacina no longo prazo, ou ainda que as vacinas, sem uma atualização de diferentes cepas da doença, não são tão efetivas. “Ele não é conclusivo o suficiente para assegurar que as vacinas são ineficientes, muito menos para dizer que causam aumento na mortalidade”, explicou ele.

Metodologia empregada no estudo não costuma ser usada na área de Saúde

O professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Expedito Luna chama a atenção para o fato de o estudo ter sido publicado em uma revista da área da Economia, e não da Saúde.

Ele explica que a metodologia do estudo é vista com reserva dentro da literatura médica, porque tem como unidade de análise grupos, e não indivíduos. Na avaliação dele, o estudo não conta como uma evidência para o setor da saúde.“A Organização Mundial da Saúde e os programas de vacinação de todos os países sérios do mundo baseiam-se em estudos com base em indivíduos”, afirmou.

Questionado sobre a eficácia das doses de reforço, Luna informou que a proteção começa a perder efeito após quatro meses da aplicação, mas que elas seguem sendo recomendadas pela OMS.

“A vacina é formulada a partir dos vírus principais que circularam no ano anterior”, explicou. “Sendo desse jeito, a vacina está sempre atrasada. O vírus está evoluindo, está fazendo mutações e a vacina está tentando correr atrás. Assim é com a gripe, assim vai continuar sendo com o coronavírus”.

Desde janeiro de 2024, a vacina contra a covid-19 integra o Programa Nacional de Imunizações (PNI). Os idosos estão dentro do grupo prioritário. Eles devem receber uma dose anual da vacina monovalente (SpikeVax), desde que aplicada com intervalo mínimo de três meses desde a administração da última dose contra a covid-19.

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