O que estão compartilhando: que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ameaçou um produtor rural após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva.
O Estadão investigou e concluiu que: é enganoso. O vídeo mostra uma conversa entre um homem e agentes do Ibama, que avisam que ele terá que deixar o local com crianças e seus pertences em uma moto. As imagens, contudo, foram feitas em 2020, ainda no governo de Jair Bolsonaro (PL), e não em 2023, no governo Lula.
O original vídeo foi gravado em Uruará, no sul do Pará, e já circula pelas redes sociais pelo menos desde 28 de maio de 2020. Ele foi feito durante uma operação da autarquia federal que buscava combater desmatamento, garimpos e invasão nas Terras Indígenas (TIs) Trincheira Bacajá, Ituna/Itatá, Arara e Cachoeira Seca, no sul do Pará, entre os meses de abril e junho de 2020.
Apesar de a legenda e o texto inserido sobre a imagem mencionarem o governo do petista, é perceptível que a gravação não foi feita agora. Durante a conversa com os agentes, o homem que é orientado a deixar o local se refere a Bolsonaro como presidente e afirma acreditar que ele vai revogar a ordem que está sendo dada pelo órgão federal.
“Se Deus quiser, o nosso presidente vai revogar isso daqui ainda. Vamo sair agora, daqui a uns dias, volta (sic). Eu creio no Bolsonaro”, diz, depois de ouvir de um dos agentes que terá que colocar os pertences pessoais e as crianças em uma moto e deixar o local.
Saiba mais: Uma busca no YouTube pelos termos “Ibama+terror”, que aparecem no texto inserido sobre o vídeo, levou a pelo menos quatro publicações feitas entre os dias 28 e 29 de maio de 2020 (1, 2, 3 e 4). As publicações acusavam o Ibama de aterrorizar produtores rurais. Além da conversa entre um homem e os agentes em uma construção na Terra Indígena Cachoeira Seca, em Umuará, também há cenas de um imóvel sendo queimado. O deputado Federal José Medeiros (PL-MT) também publicou o vídeo em sua página no Facebook, no dia 29 de maio de 2020.
Em junho de 2020, quando a operação se encerrou, o Ibama divulgou que havia apreendido nas invasões 1,2 mil m³ de madeira, três pás carregadeiras, uma escavadeira hidráulica, três tratores, 21 caminhões, quatro motos, uma motobomba de garimpo, 25 motosserras e 27 armas de fogo, além de munições de diversos calibres. O valor total estimado dos bens apreendidos passa dos R$ 3 milhões e as multas aplicadas ultrapassam os R$ 16 milhões.
Na época, o órgão informou que, “ao desencorajar a permanência de invasores no local, agentes ambientais resguardam indígenas do contato com possíveis portadores do novo coronavírus”.
Ainda em maio de 2020, a corregedoria do Ibama decidiu investigar os agentes que participaram das operações que retiraram os invasores das Terras Indígenas. De acordo com informações do site O Eco, o pedido de investigação se originou em maio na Presidência da República, mas outras denúncias foram feitas pelo senador Zequinha Marinho (PSC-PA), pelo prefeito de Uruará, Gilson de Oliveira Brandão (MDB) e pela prefeita de Placas, Leila Raquel Possimoser (PSDB).
Eles pediam o fim das operações do Ibama nos municípios por conta da covid-19 e argumentavam, além de expulsar pessoas de suas casas, as operações causavam aglomerações, porque as pessoas estavam dispostas a protestar. Em resposta à ação movida na Justiça Federal pela prefeitura de Uruará, o Ministério Público Federal (MPF) enviou uma manifestação confirmando a legalidade da fiscalização do Ibama.
Na época, o MPF disse em nota que era “incoerente o argumento de que a fiscalização coloca em risco a população, ainda mais ‘quando se considera que este mesmo grupo, que se mobiliza por meio do município de Uruará, agendou manifestação na sede urbana da cidade, com previsão de aglomeração estimada em 400 pessoas, para protestar contra a ação fiscalizatória do Ibama’.
Ainda segundo o MPF, a manifestação contra a fiscalização foi violenta e estava sendo investigada pela Polícia Federal, e chegou até a ser proibida pela justiça estadual no município, “que reconheceu a importância da fiscalização para a saúde dos indígenas”.
Como lidar com postagens do tipo: O vídeo contém elementos que ajudam a identificar em que contexto foi feito. Neste caso, apesar de a legenda acusar os agentes de aterrorizarem produtores no governo Lula, o homem que está sendo abordado se refere a Jair Bolsonaro como presidente da República.