Vídeo engana ao listar crimes de corrupção atribuídos aos governos petistas


Entre os 37 escândalos citados em postagem nas redes, há 11 casos sem relação com o PT ou anteriores a gestões de Lula e Dilma

Por Giovana Frioli e Bernardo Costa

O que estão compartilhando: vídeo com a seguinte inscrição em tom de ironia: “Não houve casos de corrupção nos governos petistas, é tudo invenção”. O responsável pela publicação diz: “Deixa eu citar uns aqui pra ti”. Em seguida, menciona, ininterruptamente, uma série de 37 casos. E conclui: “Fiquei até um pouco ofegante aqui...”

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Embora a maioria dos casos sejam denúncias de corrupção envolvendo o Partido dos Trabalhadores (PT), há 11 que não têm relação com políticos ou funcionários do partido: envolveram empresários, agentes públicos ligados a outras siglas ou outras esferas de poder, como o Judiciário. São citados, ainda, três casos com crimes anteriores ao período em que o PT ocupou a Presidência da República (2003-2016): evasão de divisas no Banestado (1996 e 1997), desvio de recursos no Banpará (1984) e sonegação fiscal envolvendo os irmãos Schincariol (2001 e 2022).

O vídeo mescla casos que marcaram os governos petistas com eventos não relacionados ao PT. Foto: Foto
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Saiba mais: Em meio a casos que notoriamente marcaram os governos petistas, como os do Mensalão e as denúncias contra Lula na Lava Jato, a lista citada insere outros que não estão ligados ao PT. Ao serem colocados em meio a episódios notórios, podem gerar confusão para os usuários das redes sociais.

Questionado, o homem que gravou o vídeo respondeu que “os casos ocorreram durante os governos de esquerda. Durante. Está na capa do vídeo”. No entanto, como já assinalado, a relação não procede. No caso do Banpará, por exemplo, os desvios foram em 1984, quando o presidente era o militar João Figueiredo.

Entre as repostagens do conteúdo nas redes sociais, foram adicionadas também legendas como: “Retrospectiva dos escândalos petistas”, relacionando todos os casos diretamente às gestões de Lula e Dilma.

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O Estadão Verifica fez uma pesquisa para identificar cada uma das alegações citadas no vídeo. Inicialmente, consultando as manchetes inseridas na tela.

Posse de Dilma Rousseff em 2011. 

Casos sem relação com o PT

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Além dos casos do Banestado, Banpará e dos irmãos Schincariol, já citados, os demais que não têm relação com o PT e, portanto, configuram desinformação na postagem são os seguintes:

Operação Anaconda - Realizada em 2003 pelo Ministério Público e a Polícia Federal (PF), desarticulou quadrilha especializada em venda de sentenças judiciais, naquele que foi considerado um dos maiores escândalos do Poder Judiciário do País. Em 2004, 10 acusados foram condenados, entre juízes, advogados, empresários e policiais. Não havia políticos do PT entre os condenados.

Propina em Ribeirão Preto - O caso envolveu esquema de corrupção na Prefeitura de Ribeirão Preto (SP), então comandada pela prefeita Dárcy Vera (PSD). Ela estava no segundo mandato quando foi presa em 2016, em operação deflagrada pela PF e Ministério Público de São Paulo. Em 2018, ela foi condenada a 18 anos e noves de prisão sob acusação de comandar um esquema que desviou R$ 45 milhões dos cofres da prefeitura, a partir do pagamento indevido de honorários advocatícios à ex-advogada do Sindicato dos Servidores Municipais Maria Zuely Librandi.

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Caso Mônica Veloso - Envolve denúncias de corrupção envolvendo o então presidente do Senado Renan Calheiros, à época no PMDB. Segundo denúncia da Veja em 2007, Renan Calheiros recebia recursos ilegalmente da construtora Mendes Júnior para o pagamento de pensão a uma filha que teve fora do casamento com a jornalista Mônica Veloso. Renan Calheiros foi absolvido do caso em 2018.

Mônica Veloso esteve envolvida no escândalo envolvendo Renan Calheiros, pai de sua filha Foto: Paulo Liebert/AE

Caso dos “laranjas de Alagoas” - Em 2007, como desdobramento do caso Mônica Veloso, a Secretaria da Fazenda de Alagoas enviou ao Conselho de Ética do Senado um relatório para a perícia da Polícia Federal em que afirma que as empresas que compraram gado do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) montaram um esquema de “laranjas”. Foi sustentado ainda que, em alguns casos, as firmas são fantasmas. Calheiros havia apontado a venda de gado como prova de que tinha recursos para pagar as pensões a Mônica Veloso. O STF não aceitou a denúncia sobre o tema.

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Cheque da GOL - No vídeo verificado, aparece a manchete “GOL volta atrás e confirma cheque a Roriz”. Segundo a reportagem do G1 de 2007, o caso se refere a uma transação financeira suspeita entre o presidente do Conselho de Administração da GOL, Nenê Constantino, para e o senador Joaquim Roriz (PMDB-DF).

Máfia do ISS - O caso envolve ex-fiscais da Prefeitura de São Paulo. Um deles, o ex-auditor fiscal Joaquim Cesar Cannassa Peres, foi condenado a devolver R$ 6 milhões aos cofres da Prefeitura da Capital. Segundo matéria do UOL, calcula-se que meio bilhão de reais teriam sido desviados dos cofres públicos entre 2008 e 2012, quando o prefeito era Gilberto Kassab, que foi do DEM antes de mudar para o PSD.

Operação Satiagraha - A Operação Satiagraha foi desencadeada em 2008 pela Polícia Federal comandada pelo ex-delegado Protógenes Queiroz. Chegaram a ser presos Daniel Dantas, sócio-fundador do Grupo Opportunity, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta (à época, filiado ao PTB), o investidor Naji Nahas e outras 14 pessoas. Eles eram suspeitos de manter um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro. O caso foi anulado em 2011 pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) por considerar que as provas obtidas se basearam em gravações telefônicas feitas ilegalmente — a decisão foi ratificada pelo STF em 2015. Protógenes foi condenado pela Justiça de São Paulo e exonerado da PF pelos crimes de violação de sigilo funcional e fraude processual.

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Golpe do INSS - A Polícia Federal prendeu, no ano de 2006, em três Estados (Rio, Paraná e Goiás) 60 pessoas acusadas de integrar uma quadrilha que havia praticado, entre 2001 e 2006, fraudes que causaram prejuízo de R$ 200 milhões à Previdência Social. De acordo com as investigações, os fraudadores inseriram vínculos empregatícios falsos no sistema do INSS e assim conseguiam obter benefícios fraudulentos, que eram vendidos por valores entre R$ 6.000 e R$ 10 mil. Não há relação com Lula ou Dilma.

A operação que apurou o golpe do INSS foi iniciada fevereiro de 2006, depois que uma auditoria descobriu a inserção de vínculos empregatícios falsos. Foto: André Dusek/Estadão Foto:

Casos com relação com o PT

Caso Cachoeira - O escândalo veio à tona em 2004 após a divulgação de uma gravação de vídeo em que Waldomiro Diniz, subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência da República, aparece negociando propina com o empresário de jogos Carlos Cachoeira para financiamento de campanhas do PT e PSB, nas eleições de 2002. Por conta do caso, foi realizada uma CPI dos bingos, que tiveram seu funcionamento interditado através de medida provisória editada pelo presidente Lula.

Waldomiro também foi condenado por improbidade administrativa, em 2009, no processo em que era acusado de tráfico de influência na renovação de contrato da rede de loterias, entre a Caixa Econômica Federal e a multinacional Gtech, citado pelo autor do vídeo checado.

Caso Francenildo Costa - Na peça analisada, o homem ainda comenta sobre o caso de Francenildo Costa, também ligado à CPI dos Bingos. Na comissão, o caseiro da mansão do advogado Luiz Antonio Guerra afirmou ter visto o ex-ministro Antonio Palocci numa casa frequentada por lobistas e palco de propinas.

Escândalo dos Correios - O caso surgiu em 2005 com a revelação de uma fita de vídeo que mostra o ex-funcionário dos Correios Maurício Marinho negociando propina com empresários interessados em participar de uma licitação. No vídeo, Marinho dizia ter o respaldo do ex-presidente do PTB Roberto Jefferson. Com a denúncia, é criada a CPI dos Correios para investigar corrupção em estatais. O foco da comissão, no entanto, foi deslocado para o Mensalão, quando Jefferson denunciou um esquema de pagamento de mesada a parlamentares da base aliada em troca de apoio político.

Caso dos dólares na cueca - Em 2005, a Polícia Federal prendeu José Adalberto Vieira da Silva, com US$ 100 mil escondidos na cueca e R$ 209 mil em uma mala de mão no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Ele era assessor parlamentar do deputado federal José Guimarães (PT), irmão do ex-presidente do partido José Genoíno. Após 16 anos, a Justiça Federal encerrou o processo contra Guimarães por suspeita de envolvimento no caso.

Deputado federal José Guimarães (PT - CE) Foto: BRUNO SPADA /AGENCIA CAMARA

Caso Sanguessugas - O esquema foi descoberto pela Polícia Federal em 2006, e consistia em fraudes em licitações para a aquisição de ambulâncias e equipamentos médicos. As prefeituras recebiam verbas da União por meio de emendas parlamentares e direcionavam as licitações superfaturadas para empresas envolvidas no esquema. Mais de 600 municípios teriam participado da fraude. O esquema era comandado pela empresa Planam, da família Vedoin, e envolvia parlamentares e funcionários do Ministério da Saúde. À época, Lula era o presidente do País.

Caso Aloprados - O vídeo repercute a delação premiada do ex-executivo Luiz Eduardo da Rocha Soares. Segundo ele, recursos de uma operação entre a construtora Odebrecht e a cervejaria Itaipava financiaram a compra de um dossiê no episódio que ficou conhecido como “escândalo dos aloprados”. Em 2006, a Polícia Federal prendeu dois homens ligados ao PT que tentavam comprar um dossiê falso contra o então candidato do PSDB ao governo paulista, José Serra. Na época, o presidente Lula classificou como “aloprados” os petistas que participaram do caso.

Caso dos cartões corporativos - Foi revelado em 2008 um escândalo envolvendo o uso indevido de cartões corporativos por ministros, que terminou com uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). A então ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência, campeã nos gastos, pediu demissão após suspeitas de compras abusivas com aluguel de carros feitos com cartão corporativo. Ela assumiu o erro sobre o uso indevido do cartão e alegou que teria sido mal orientada por servidores da pasta.

Caso Lina Vieira - Em 2009, a ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira alegou que Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil, pediu que fossem concluídas rapidamente as investigações envolvendo a família do ex-presidente e ex-senador, José Sarney. No entanto, Lina nunca apresentou provas de suas afirmações contra Dilma.

Escândalo dos atos secretos - O escândalo dos atos secretos levou à maior crise administrativa da história do Senado. Uma sindicância interna identificou em 2009 a existência de 663 boletins usados clandestinamente para nomear parentes de servidores e senadores e criar cargos, benefícios e privilégios. Uma auditoria da Fundação Getúlio Vargas também apontou que medidas não foram publicadas. Havia entre os beneficiados políticos do PT. Os boletins foram revelados pelo Estadão em 10 de junho daquele ano.

Caso Bancoop - O caso Bancoop é o nome dado ao suposto uso da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop) para beneficiar o caixa dois do PT entre os anos de 2002 e 2004. No ano de 2010, o Ministério Público de São Paulo pediu à Justiça denúncia contra João Vaccari Neto, então presidente da cooperativa e tesoureiro do partido. Ele foi preso por lavagem de dinheiro na décima fase da Operação Lava Jato, mas absolvido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo em 2019.

Caso dos Novos Aloprados - Na peça analisada o autor do conteúdo cita uma reportagem publicada pelo O Globo, em setembro de 2010, sobre a permanência de envolvidos com o Escândalo dos Aloprados nos governos petistas e em cargos da administração federal.

Caso Erenice Guerra - O escândalo político aconteceu em 2010. A Veja havia denunciado que Israel Guerra, filho da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, estava envolvido em tráfico de influência, em favor da empresa Master Top Linhas Aéreas (MTA) com os Correios. O caso culminou com a saída de Erenice Guerra do cargo. Em 2012, a 10ª Vara Federal do Distrito Federal arquivou o processo a pedido do Ministério Público Federal.

Delação de Palocci - O vídeo cita a delação do ex-ministro Antônio Palocci em 2019. Em acordo fechado com a Polícia Federal na Operação Lava Jato, o político havia apontado uma sucessão de ilícitos e propinas supostamente repassadas a políticos, servidores, empresários e ministros nos governos Lula e Dilma. No ano de 2020, um relatório da Polícia Federal concluiu que o depoimento de Palocci não tinha provas contra Lula. O STF determinou, no mesmo ano, a retirada da delação do ex-ministro nas ações contra o petista.

Palocci fecha acordo de delação premiada com a PF em 2018. Foto: Werther Santana/Estadão

Escândalo no Ministério dos Transportes - O post compartilha uma reportagem publicada pelo UOL, em julho de 2011. Trata-se de uma análise do professor de Ética e Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Roberto Romano sobre um caso de corrupção no Ministério dos Transportes naquele ano. O ex-ministro Alfredo do Nascimento havia sido denunciado em um suposto esquema de superfaturamento em obras envolvendo servidores da pasta. A PGR apontou a “ausência de indícios de envolvimento” de Nascimento nas acusações e pediu o arquivamento do caso, em 2013.

Escândalo do Ministério da Agricultura - Em 2011, a Veja revelou que um lobista chamado Júlio Fróes estaria operando dentro do Ministério da Agricultura. Segundo a reportagem, ele teria acesso liberado à entrada privativa do ministério e usava uma sala com computador, telefone e secretária na sobreloja do prédio, instalada na Comissão de Licitação. Na época, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, afirmou que não havia irregularidades.

Escândalo do Ministério do Turismo - A Operação Voucher foi realizada pela Polícia Federal em 9 de agosto de 2011. A investigação apurava desvios de recursos públicos destinados ao Ministério do Turismo por meio de emendas parlamentares. Entre os 38 detidos da operação, estavam o então secretário-executivo, Frederico Silva da Costa, o ex-presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), Mário Moysés e o secretário nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo, Colbert Martins.

Escândalo do Ministério do Esporte - Quando era ministro, Orlando Silva foi acusado de comandar um suposto esquema de desvios do Ministério do Esporte durante o governo da ex-presidente Dilma. Na época, Silva se demitiu do cargo. Em 2012, foi inocentado pela Comissão de Ética da Presidência da República por falta de provas.

Escândalo no Ministério do Trabalho - O caso envolve a gestão do atual ministro Carlos Lupi, quando ocupava o cargo no Ministério do Trabalho e Emprego, durante o primeiro governo Dilma. Segundo a denúncia, Lupi e sua equipe teriam usado avião de uma companhia que tinha contratos com a pasta para compromisso oficial. Por falta de provas, a ação foi julgada como improcedente em 2022.

Escândalo no Ministério da Pesca - Em 2012, o Tribunal de Contas da União (TCU) apontou superfaturamento e falhas no processo licitatório na compra de 28 lanchas-patrulha pelo extinto Ministério da Pesca e Aquicultura no valor de R$ 31 milhões. Estavam envolvidos no caso o ex-ministro Altemir Gregolin (que chefiou a pasta de 2006 a 2010) e outros ex-funcionários pela compra irregular. Em 2020, Gregolin foi condenado pelo TCU, com multa de R$ 1,8 milhão.

Operação Porto Seguro - A investigação da Polícia Federal desarticulou, em 2012, um grupo acusado de comprar pareceres técnicos de órgãos federais e acelerar processos internos de agências reguladoras para beneficiar empresas privadas. Ao todo, 14 pessoas haviam sido beneficiadas, incluindo o ex-senador Gilberto Miranda e a ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha durante o governo Lula e Dilma. Em 2021, as ações foram trancadas pela Justiça Federal de São Paulo.

Operação Lava Jato - No vídeo, o autor do conteúdo relembra a prisão de Lula na Lava Jato. O presidente enfrentou uma série de processos decorrentes da investigação, que atualmente estão encerrados ou suspensos. Houve dois principais caminhos para a conclusão das ações: Lula foi absolvido (a Justiça considerou que não havia provas de que ele havia cometido crimes) ou as condenações foram anuladas porque o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que os direitos do petista foram desrespeitados. O Comprova publicou material explicativo sobre as condenações do presidente no caso.

Lula sendo conduzido até a Polícia Federal em 7 de abril, data em que foi preso. Foto: Felipe Rau/Estadão

Como lidar com publicações do tipo: Fique atento com publicações que citam listas enormes de crimes, casos ou feitos políticos. É um recurso comum de desinformação inserir alegações enganosas ou falsas entre dados verdadeiros, a fim de enganar pela quantidade exaustiva de informações. Uma dica é procurar por alguns dos casos ou ficar atento às fontes e datas, para identificar na lista fatos fora de contexto ou sem ligação com as afirmações do conteúdo.

O que estão compartilhando: vídeo com a seguinte inscrição em tom de ironia: “Não houve casos de corrupção nos governos petistas, é tudo invenção”. O responsável pela publicação diz: “Deixa eu citar uns aqui pra ti”. Em seguida, menciona, ininterruptamente, uma série de 37 casos. E conclui: “Fiquei até um pouco ofegante aqui...”

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Embora a maioria dos casos sejam denúncias de corrupção envolvendo o Partido dos Trabalhadores (PT), há 11 que não têm relação com políticos ou funcionários do partido: envolveram empresários, agentes públicos ligados a outras siglas ou outras esferas de poder, como o Judiciário. São citados, ainda, três casos com crimes anteriores ao período em que o PT ocupou a Presidência da República (2003-2016): evasão de divisas no Banestado (1996 e 1997), desvio de recursos no Banpará (1984) e sonegação fiscal envolvendo os irmãos Schincariol (2001 e 2022).

O vídeo mescla casos que marcaram os governos petistas com eventos não relacionados ao PT. Foto: Foto

Saiba mais: Em meio a casos que notoriamente marcaram os governos petistas, como os do Mensalão e as denúncias contra Lula na Lava Jato, a lista citada insere outros que não estão ligados ao PT. Ao serem colocados em meio a episódios notórios, podem gerar confusão para os usuários das redes sociais.

Questionado, o homem que gravou o vídeo respondeu que “os casos ocorreram durante os governos de esquerda. Durante. Está na capa do vídeo”. No entanto, como já assinalado, a relação não procede. No caso do Banpará, por exemplo, os desvios foram em 1984, quando o presidente era o militar João Figueiredo.

Entre as repostagens do conteúdo nas redes sociais, foram adicionadas também legendas como: “Retrospectiva dos escândalos petistas”, relacionando todos os casos diretamente às gestões de Lula e Dilma.

O Estadão Verifica fez uma pesquisa para identificar cada uma das alegações citadas no vídeo. Inicialmente, consultando as manchetes inseridas na tela.

Posse de Dilma Rousseff em 2011. 

Casos sem relação com o PT

Além dos casos do Banestado, Banpará e dos irmãos Schincariol, já citados, os demais que não têm relação com o PT e, portanto, configuram desinformação na postagem são os seguintes:

Operação Anaconda - Realizada em 2003 pelo Ministério Público e a Polícia Federal (PF), desarticulou quadrilha especializada em venda de sentenças judiciais, naquele que foi considerado um dos maiores escândalos do Poder Judiciário do País. Em 2004, 10 acusados foram condenados, entre juízes, advogados, empresários e policiais. Não havia políticos do PT entre os condenados.

Propina em Ribeirão Preto - O caso envolveu esquema de corrupção na Prefeitura de Ribeirão Preto (SP), então comandada pela prefeita Dárcy Vera (PSD). Ela estava no segundo mandato quando foi presa em 2016, em operação deflagrada pela PF e Ministério Público de São Paulo. Em 2018, ela foi condenada a 18 anos e noves de prisão sob acusação de comandar um esquema que desviou R$ 45 milhões dos cofres da prefeitura, a partir do pagamento indevido de honorários advocatícios à ex-advogada do Sindicato dos Servidores Municipais Maria Zuely Librandi.

Caso Mônica Veloso - Envolve denúncias de corrupção envolvendo o então presidente do Senado Renan Calheiros, à época no PMDB. Segundo denúncia da Veja em 2007, Renan Calheiros recebia recursos ilegalmente da construtora Mendes Júnior para o pagamento de pensão a uma filha que teve fora do casamento com a jornalista Mônica Veloso. Renan Calheiros foi absolvido do caso em 2018.

Mônica Veloso esteve envolvida no escândalo envolvendo Renan Calheiros, pai de sua filha Foto: Paulo Liebert/AE

Caso dos “laranjas de Alagoas” - Em 2007, como desdobramento do caso Mônica Veloso, a Secretaria da Fazenda de Alagoas enviou ao Conselho de Ética do Senado um relatório para a perícia da Polícia Federal em que afirma que as empresas que compraram gado do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) montaram um esquema de “laranjas”. Foi sustentado ainda que, em alguns casos, as firmas são fantasmas. Calheiros havia apontado a venda de gado como prova de que tinha recursos para pagar as pensões a Mônica Veloso. O STF não aceitou a denúncia sobre o tema.

Cheque da GOL - No vídeo verificado, aparece a manchete “GOL volta atrás e confirma cheque a Roriz”. Segundo a reportagem do G1 de 2007, o caso se refere a uma transação financeira suspeita entre o presidente do Conselho de Administração da GOL, Nenê Constantino, para e o senador Joaquim Roriz (PMDB-DF).

Máfia do ISS - O caso envolve ex-fiscais da Prefeitura de São Paulo. Um deles, o ex-auditor fiscal Joaquim Cesar Cannassa Peres, foi condenado a devolver R$ 6 milhões aos cofres da Prefeitura da Capital. Segundo matéria do UOL, calcula-se que meio bilhão de reais teriam sido desviados dos cofres públicos entre 2008 e 2012, quando o prefeito era Gilberto Kassab, que foi do DEM antes de mudar para o PSD.

Operação Satiagraha - A Operação Satiagraha foi desencadeada em 2008 pela Polícia Federal comandada pelo ex-delegado Protógenes Queiroz. Chegaram a ser presos Daniel Dantas, sócio-fundador do Grupo Opportunity, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta (à época, filiado ao PTB), o investidor Naji Nahas e outras 14 pessoas. Eles eram suspeitos de manter um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro. O caso foi anulado em 2011 pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) por considerar que as provas obtidas se basearam em gravações telefônicas feitas ilegalmente — a decisão foi ratificada pelo STF em 2015. Protógenes foi condenado pela Justiça de São Paulo e exonerado da PF pelos crimes de violação de sigilo funcional e fraude processual.

Golpe do INSS - A Polícia Federal prendeu, no ano de 2006, em três Estados (Rio, Paraná e Goiás) 60 pessoas acusadas de integrar uma quadrilha que havia praticado, entre 2001 e 2006, fraudes que causaram prejuízo de R$ 200 milhões à Previdência Social. De acordo com as investigações, os fraudadores inseriram vínculos empregatícios falsos no sistema do INSS e assim conseguiam obter benefícios fraudulentos, que eram vendidos por valores entre R$ 6.000 e R$ 10 mil. Não há relação com Lula ou Dilma.

A operação que apurou o golpe do INSS foi iniciada fevereiro de 2006, depois que uma auditoria descobriu a inserção de vínculos empregatícios falsos. Foto: André Dusek/Estadão Foto:

Casos com relação com o PT

Caso Cachoeira - O escândalo veio à tona em 2004 após a divulgação de uma gravação de vídeo em que Waldomiro Diniz, subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência da República, aparece negociando propina com o empresário de jogos Carlos Cachoeira para financiamento de campanhas do PT e PSB, nas eleições de 2002. Por conta do caso, foi realizada uma CPI dos bingos, que tiveram seu funcionamento interditado através de medida provisória editada pelo presidente Lula.

Waldomiro também foi condenado por improbidade administrativa, em 2009, no processo em que era acusado de tráfico de influência na renovação de contrato da rede de loterias, entre a Caixa Econômica Federal e a multinacional Gtech, citado pelo autor do vídeo checado.

Caso Francenildo Costa - Na peça analisada, o homem ainda comenta sobre o caso de Francenildo Costa, também ligado à CPI dos Bingos. Na comissão, o caseiro da mansão do advogado Luiz Antonio Guerra afirmou ter visto o ex-ministro Antonio Palocci numa casa frequentada por lobistas e palco de propinas.

Escândalo dos Correios - O caso surgiu em 2005 com a revelação de uma fita de vídeo que mostra o ex-funcionário dos Correios Maurício Marinho negociando propina com empresários interessados em participar de uma licitação. No vídeo, Marinho dizia ter o respaldo do ex-presidente do PTB Roberto Jefferson. Com a denúncia, é criada a CPI dos Correios para investigar corrupção em estatais. O foco da comissão, no entanto, foi deslocado para o Mensalão, quando Jefferson denunciou um esquema de pagamento de mesada a parlamentares da base aliada em troca de apoio político.

Caso dos dólares na cueca - Em 2005, a Polícia Federal prendeu José Adalberto Vieira da Silva, com US$ 100 mil escondidos na cueca e R$ 209 mil em uma mala de mão no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Ele era assessor parlamentar do deputado federal José Guimarães (PT), irmão do ex-presidente do partido José Genoíno. Após 16 anos, a Justiça Federal encerrou o processo contra Guimarães por suspeita de envolvimento no caso.

Deputado federal José Guimarães (PT - CE) Foto: BRUNO SPADA /AGENCIA CAMARA

Caso Sanguessugas - O esquema foi descoberto pela Polícia Federal em 2006, e consistia em fraudes em licitações para a aquisição de ambulâncias e equipamentos médicos. As prefeituras recebiam verbas da União por meio de emendas parlamentares e direcionavam as licitações superfaturadas para empresas envolvidas no esquema. Mais de 600 municípios teriam participado da fraude. O esquema era comandado pela empresa Planam, da família Vedoin, e envolvia parlamentares e funcionários do Ministério da Saúde. À época, Lula era o presidente do País.

Caso Aloprados - O vídeo repercute a delação premiada do ex-executivo Luiz Eduardo da Rocha Soares. Segundo ele, recursos de uma operação entre a construtora Odebrecht e a cervejaria Itaipava financiaram a compra de um dossiê no episódio que ficou conhecido como “escândalo dos aloprados”. Em 2006, a Polícia Federal prendeu dois homens ligados ao PT que tentavam comprar um dossiê falso contra o então candidato do PSDB ao governo paulista, José Serra. Na época, o presidente Lula classificou como “aloprados” os petistas que participaram do caso.

Caso dos cartões corporativos - Foi revelado em 2008 um escândalo envolvendo o uso indevido de cartões corporativos por ministros, que terminou com uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). A então ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência, campeã nos gastos, pediu demissão após suspeitas de compras abusivas com aluguel de carros feitos com cartão corporativo. Ela assumiu o erro sobre o uso indevido do cartão e alegou que teria sido mal orientada por servidores da pasta.

Caso Lina Vieira - Em 2009, a ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira alegou que Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil, pediu que fossem concluídas rapidamente as investigações envolvendo a família do ex-presidente e ex-senador, José Sarney. No entanto, Lina nunca apresentou provas de suas afirmações contra Dilma.

Escândalo dos atos secretos - O escândalo dos atos secretos levou à maior crise administrativa da história do Senado. Uma sindicância interna identificou em 2009 a existência de 663 boletins usados clandestinamente para nomear parentes de servidores e senadores e criar cargos, benefícios e privilégios. Uma auditoria da Fundação Getúlio Vargas também apontou que medidas não foram publicadas. Havia entre os beneficiados políticos do PT. Os boletins foram revelados pelo Estadão em 10 de junho daquele ano.

Caso Bancoop - O caso Bancoop é o nome dado ao suposto uso da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop) para beneficiar o caixa dois do PT entre os anos de 2002 e 2004. No ano de 2010, o Ministério Público de São Paulo pediu à Justiça denúncia contra João Vaccari Neto, então presidente da cooperativa e tesoureiro do partido. Ele foi preso por lavagem de dinheiro na décima fase da Operação Lava Jato, mas absolvido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo em 2019.

Caso dos Novos Aloprados - Na peça analisada o autor do conteúdo cita uma reportagem publicada pelo O Globo, em setembro de 2010, sobre a permanência de envolvidos com o Escândalo dos Aloprados nos governos petistas e em cargos da administração federal.

Caso Erenice Guerra - O escândalo político aconteceu em 2010. A Veja havia denunciado que Israel Guerra, filho da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, estava envolvido em tráfico de influência, em favor da empresa Master Top Linhas Aéreas (MTA) com os Correios. O caso culminou com a saída de Erenice Guerra do cargo. Em 2012, a 10ª Vara Federal do Distrito Federal arquivou o processo a pedido do Ministério Público Federal.

Delação de Palocci - O vídeo cita a delação do ex-ministro Antônio Palocci em 2019. Em acordo fechado com a Polícia Federal na Operação Lava Jato, o político havia apontado uma sucessão de ilícitos e propinas supostamente repassadas a políticos, servidores, empresários e ministros nos governos Lula e Dilma. No ano de 2020, um relatório da Polícia Federal concluiu que o depoimento de Palocci não tinha provas contra Lula. O STF determinou, no mesmo ano, a retirada da delação do ex-ministro nas ações contra o petista.

Palocci fecha acordo de delação premiada com a PF em 2018. Foto: Werther Santana/Estadão

Escândalo no Ministério dos Transportes - O post compartilha uma reportagem publicada pelo UOL, em julho de 2011. Trata-se de uma análise do professor de Ética e Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Roberto Romano sobre um caso de corrupção no Ministério dos Transportes naquele ano. O ex-ministro Alfredo do Nascimento havia sido denunciado em um suposto esquema de superfaturamento em obras envolvendo servidores da pasta. A PGR apontou a “ausência de indícios de envolvimento” de Nascimento nas acusações e pediu o arquivamento do caso, em 2013.

Escândalo do Ministério da Agricultura - Em 2011, a Veja revelou que um lobista chamado Júlio Fróes estaria operando dentro do Ministério da Agricultura. Segundo a reportagem, ele teria acesso liberado à entrada privativa do ministério e usava uma sala com computador, telefone e secretária na sobreloja do prédio, instalada na Comissão de Licitação. Na época, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, afirmou que não havia irregularidades.

Escândalo do Ministério do Turismo - A Operação Voucher foi realizada pela Polícia Federal em 9 de agosto de 2011. A investigação apurava desvios de recursos públicos destinados ao Ministério do Turismo por meio de emendas parlamentares. Entre os 38 detidos da operação, estavam o então secretário-executivo, Frederico Silva da Costa, o ex-presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), Mário Moysés e o secretário nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo, Colbert Martins.

Escândalo do Ministério do Esporte - Quando era ministro, Orlando Silva foi acusado de comandar um suposto esquema de desvios do Ministério do Esporte durante o governo da ex-presidente Dilma. Na época, Silva se demitiu do cargo. Em 2012, foi inocentado pela Comissão de Ética da Presidência da República por falta de provas.

Escândalo no Ministério do Trabalho - O caso envolve a gestão do atual ministro Carlos Lupi, quando ocupava o cargo no Ministério do Trabalho e Emprego, durante o primeiro governo Dilma. Segundo a denúncia, Lupi e sua equipe teriam usado avião de uma companhia que tinha contratos com a pasta para compromisso oficial. Por falta de provas, a ação foi julgada como improcedente em 2022.

Escândalo no Ministério da Pesca - Em 2012, o Tribunal de Contas da União (TCU) apontou superfaturamento e falhas no processo licitatório na compra de 28 lanchas-patrulha pelo extinto Ministério da Pesca e Aquicultura no valor de R$ 31 milhões. Estavam envolvidos no caso o ex-ministro Altemir Gregolin (que chefiou a pasta de 2006 a 2010) e outros ex-funcionários pela compra irregular. Em 2020, Gregolin foi condenado pelo TCU, com multa de R$ 1,8 milhão.

Operação Porto Seguro - A investigação da Polícia Federal desarticulou, em 2012, um grupo acusado de comprar pareceres técnicos de órgãos federais e acelerar processos internos de agências reguladoras para beneficiar empresas privadas. Ao todo, 14 pessoas haviam sido beneficiadas, incluindo o ex-senador Gilberto Miranda e a ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha durante o governo Lula e Dilma. Em 2021, as ações foram trancadas pela Justiça Federal de São Paulo.

Operação Lava Jato - No vídeo, o autor do conteúdo relembra a prisão de Lula na Lava Jato. O presidente enfrentou uma série de processos decorrentes da investigação, que atualmente estão encerrados ou suspensos. Houve dois principais caminhos para a conclusão das ações: Lula foi absolvido (a Justiça considerou que não havia provas de que ele havia cometido crimes) ou as condenações foram anuladas porque o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que os direitos do petista foram desrespeitados. O Comprova publicou material explicativo sobre as condenações do presidente no caso.

Lula sendo conduzido até a Polícia Federal em 7 de abril, data em que foi preso. Foto: Felipe Rau/Estadão

Como lidar com publicações do tipo: Fique atento com publicações que citam listas enormes de crimes, casos ou feitos políticos. É um recurso comum de desinformação inserir alegações enganosas ou falsas entre dados verdadeiros, a fim de enganar pela quantidade exaustiva de informações. Uma dica é procurar por alguns dos casos ou ficar atento às fontes e datas, para identificar na lista fatos fora de contexto ou sem ligação com as afirmações do conteúdo.

O que estão compartilhando: vídeo com a seguinte inscrição em tom de ironia: “Não houve casos de corrupção nos governos petistas, é tudo invenção”. O responsável pela publicação diz: “Deixa eu citar uns aqui pra ti”. Em seguida, menciona, ininterruptamente, uma série de 37 casos. E conclui: “Fiquei até um pouco ofegante aqui...”

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Embora a maioria dos casos sejam denúncias de corrupção envolvendo o Partido dos Trabalhadores (PT), há 11 que não têm relação com políticos ou funcionários do partido: envolveram empresários, agentes públicos ligados a outras siglas ou outras esferas de poder, como o Judiciário. São citados, ainda, três casos com crimes anteriores ao período em que o PT ocupou a Presidência da República (2003-2016): evasão de divisas no Banestado (1996 e 1997), desvio de recursos no Banpará (1984) e sonegação fiscal envolvendo os irmãos Schincariol (2001 e 2022).

O vídeo mescla casos que marcaram os governos petistas com eventos não relacionados ao PT. Foto: Foto

Saiba mais: Em meio a casos que notoriamente marcaram os governos petistas, como os do Mensalão e as denúncias contra Lula na Lava Jato, a lista citada insere outros que não estão ligados ao PT. Ao serem colocados em meio a episódios notórios, podem gerar confusão para os usuários das redes sociais.

Questionado, o homem que gravou o vídeo respondeu que “os casos ocorreram durante os governos de esquerda. Durante. Está na capa do vídeo”. No entanto, como já assinalado, a relação não procede. No caso do Banpará, por exemplo, os desvios foram em 1984, quando o presidente era o militar João Figueiredo.

Entre as repostagens do conteúdo nas redes sociais, foram adicionadas também legendas como: “Retrospectiva dos escândalos petistas”, relacionando todos os casos diretamente às gestões de Lula e Dilma.

O Estadão Verifica fez uma pesquisa para identificar cada uma das alegações citadas no vídeo. Inicialmente, consultando as manchetes inseridas na tela.

Posse de Dilma Rousseff em 2011. 

Casos sem relação com o PT

Além dos casos do Banestado, Banpará e dos irmãos Schincariol, já citados, os demais que não têm relação com o PT e, portanto, configuram desinformação na postagem são os seguintes:

Operação Anaconda - Realizada em 2003 pelo Ministério Público e a Polícia Federal (PF), desarticulou quadrilha especializada em venda de sentenças judiciais, naquele que foi considerado um dos maiores escândalos do Poder Judiciário do País. Em 2004, 10 acusados foram condenados, entre juízes, advogados, empresários e policiais. Não havia políticos do PT entre os condenados.

Propina em Ribeirão Preto - O caso envolveu esquema de corrupção na Prefeitura de Ribeirão Preto (SP), então comandada pela prefeita Dárcy Vera (PSD). Ela estava no segundo mandato quando foi presa em 2016, em operação deflagrada pela PF e Ministério Público de São Paulo. Em 2018, ela foi condenada a 18 anos e noves de prisão sob acusação de comandar um esquema que desviou R$ 45 milhões dos cofres da prefeitura, a partir do pagamento indevido de honorários advocatícios à ex-advogada do Sindicato dos Servidores Municipais Maria Zuely Librandi.

Caso Mônica Veloso - Envolve denúncias de corrupção envolvendo o então presidente do Senado Renan Calheiros, à época no PMDB. Segundo denúncia da Veja em 2007, Renan Calheiros recebia recursos ilegalmente da construtora Mendes Júnior para o pagamento de pensão a uma filha que teve fora do casamento com a jornalista Mônica Veloso. Renan Calheiros foi absolvido do caso em 2018.

Mônica Veloso esteve envolvida no escândalo envolvendo Renan Calheiros, pai de sua filha Foto: Paulo Liebert/AE

Caso dos “laranjas de Alagoas” - Em 2007, como desdobramento do caso Mônica Veloso, a Secretaria da Fazenda de Alagoas enviou ao Conselho de Ética do Senado um relatório para a perícia da Polícia Federal em que afirma que as empresas que compraram gado do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) montaram um esquema de “laranjas”. Foi sustentado ainda que, em alguns casos, as firmas são fantasmas. Calheiros havia apontado a venda de gado como prova de que tinha recursos para pagar as pensões a Mônica Veloso. O STF não aceitou a denúncia sobre o tema.

Cheque da GOL - No vídeo verificado, aparece a manchete “GOL volta atrás e confirma cheque a Roriz”. Segundo a reportagem do G1 de 2007, o caso se refere a uma transação financeira suspeita entre o presidente do Conselho de Administração da GOL, Nenê Constantino, para e o senador Joaquim Roriz (PMDB-DF).

Máfia do ISS - O caso envolve ex-fiscais da Prefeitura de São Paulo. Um deles, o ex-auditor fiscal Joaquim Cesar Cannassa Peres, foi condenado a devolver R$ 6 milhões aos cofres da Prefeitura da Capital. Segundo matéria do UOL, calcula-se que meio bilhão de reais teriam sido desviados dos cofres públicos entre 2008 e 2012, quando o prefeito era Gilberto Kassab, que foi do DEM antes de mudar para o PSD.

Operação Satiagraha - A Operação Satiagraha foi desencadeada em 2008 pela Polícia Federal comandada pelo ex-delegado Protógenes Queiroz. Chegaram a ser presos Daniel Dantas, sócio-fundador do Grupo Opportunity, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta (à época, filiado ao PTB), o investidor Naji Nahas e outras 14 pessoas. Eles eram suspeitos de manter um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro. O caso foi anulado em 2011 pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) por considerar que as provas obtidas se basearam em gravações telefônicas feitas ilegalmente — a decisão foi ratificada pelo STF em 2015. Protógenes foi condenado pela Justiça de São Paulo e exonerado da PF pelos crimes de violação de sigilo funcional e fraude processual.

Golpe do INSS - A Polícia Federal prendeu, no ano de 2006, em três Estados (Rio, Paraná e Goiás) 60 pessoas acusadas de integrar uma quadrilha que havia praticado, entre 2001 e 2006, fraudes que causaram prejuízo de R$ 200 milhões à Previdência Social. De acordo com as investigações, os fraudadores inseriram vínculos empregatícios falsos no sistema do INSS e assim conseguiam obter benefícios fraudulentos, que eram vendidos por valores entre R$ 6.000 e R$ 10 mil. Não há relação com Lula ou Dilma.

A operação que apurou o golpe do INSS foi iniciada fevereiro de 2006, depois que uma auditoria descobriu a inserção de vínculos empregatícios falsos. Foto: André Dusek/Estadão Foto:

Casos com relação com o PT

Caso Cachoeira - O escândalo veio à tona em 2004 após a divulgação de uma gravação de vídeo em que Waldomiro Diniz, subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência da República, aparece negociando propina com o empresário de jogos Carlos Cachoeira para financiamento de campanhas do PT e PSB, nas eleições de 2002. Por conta do caso, foi realizada uma CPI dos bingos, que tiveram seu funcionamento interditado através de medida provisória editada pelo presidente Lula.

Waldomiro também foi condenado por improbidade administrativa, em 2009, no processo em que era acusado de tráfico de influência na renovação de contrato da rede de loterias, entre a Caixa Econômica Federal e a multinacional Gtech, citado pelo autor do vídeo checado.

Caso Francenildo Costa - Na peça analisada, o homem ainda comenta sobre o caso de Francenildo Costa, também ligado à CPI dos Bingos. Na comissão, o caseiro da mansão do advogado Luiz Antonio Guerra afirmou ter visto o ex-ministro Antonio Palocci numa casa frequentada por lobistas e palco de propinas.

Escândalo dos Correios - O caso surgiu em 2005 com a revelação de uma fita de vídeo que mostra o ex-funcionário dos Correios Maurício Marinho negociando propina com empresários interessados em participar de uma licitação. No vídeo, Marinho dizia ter o respaldo do ex-presidente do PTB Roberto Jefferson. Com a denúncia, é criada a CPI dos Correios para investigar corrupção em estatais. O foco da comissão, no entanto, foi deslocado para o Mensalão, quando Jefferson denunciou um esquema de pagamento de mesada a parlamentares da base aliada em troca de apoio político.

Caso dos dólares na cueca - Em 2005, a Polícia Federal prendeu José Adalberto Vieira da Silva, com US$ 100 mil escondidos na cueca e R$ 209 mil em uma mala de mão no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Ele era assessor parlamentar do deputado federal José Guimarães (PT), irmão do ex-presidente do partido José Genoíno. Após 16 anos, a Justiça Federal encerrou o processo contra Guimarães por suspeita de envolvimento no caso.

Deputado federal José Guimarães (PT - CE) Foto: BRUNO SPADA /AGENCIA CAMARA

Caso Sanguessugas - O esquema foi descoberto pela Polícia Federal em 2006, e consistia em fraudes em licitações para a aquisição de ambulâncias e equipamentos médicos. As prefeituras recebiam verbas da União por meio de emendas parlamentares e direcionavam as licitações superfaturadas para empresas envolvidas no esquema. Mais de 600 municípios teriam participado da fraude. O esquema era comandado pela empresa Planam, da família Vedoin, e envolvia parlamentares e funcionários do Ministério da Saúde. À época, Lula era o presidente do País.

Caso Aloprados - O vídeo repercute a delação premiada do ex-executivo Luiz Eduardo da Rocha Soares. Segundo ele, recursos de uma operação entre a construtora Odebrecht e a cervejaria Itaipava financiaram a compra de um dossiê no episódio que ficou conhecido como “escândalo dos aloprados”. Em 2006, a Polícia Federal prendeu dois homens ligados ao PT que tentavam comprar um dossiê falso contra o então candidato do PSDB ao governo paulista, José Serra. Na época, o presidente Lula classificou como “aloprados” os petistas que participaram do caso.

Caso dos cartões corporativos - Foi revelado em 2008 um escândalo envolvendo o uso indevido de cartões corporativos por ministros, que terminou com uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). A então ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência, campeã nos gastos, pediu demissão após suspeitas de compras abusivas com aluguel de carros feitos com cartão corporativo. Ela assumiu o erro sobre o uso indevido do cartão e alegou que teria sido mal orientada por servidores da pasta.

Caso Lina Vieira - Em 2009, a ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira alegou que Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil, pediu que fossem concluídas rapidamente as investigações envolvendo a família do ex-presidente e ex-senador, José Sarney. No entanto, Lina nunca apresentou provas de suas afirmações contra Dilma.

Escândalo dos atos secretos - O escândalo dos atos secretos levou à maior crise administrativa da história do Senado. Uma sindicância interna identificou em 2009 a existência de 663 boletins usados clandestinamente para nomear parentes de servidores e senadores e criar cargos, benefícios e privilégios. Uma auditoria da Fundação Getúlio Vargas também apontou que medidas não foram publicadas. Havia entre os beneficiados políticos do PT. Os boletins foram revelados pelo Estadão em 10 de junho daquele ano.

Caso Bancoop - O caso Bancoop é o nome dado ao suposto uso da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop) para beneficiar o caixa dois do PT entre os anos de 2002 e 2004. No ano de 2010, o Ministério Público de São Paulo pediu à Justiça denúncia contra João Vaccari Neto, então presidente da cooperativa e tesoureiro do partido. Ele foi preso por lavagem de dinheiro na décima fase da Operação Lava Jato, mas absolvido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo em 2019.

Caso dos Novos Aloprados - Na peça analisada o autor do conteúdo cita uma reportagem publicada pelo O Globo, em setembro de 2010, sobre a permanência de envolvidos com o Escândalo dos Aloprados nos governos petistas e em cargos da administração federal.

Caso Erenice Guerra - O escândalo político aconteceu em 2010. A Veja havia denunciado que Israel Guerra, filho da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, estava envolvido em tráfico de influência, em favor da empresa Master Top Linhas Aéreas (MTA) com os Correios. O caso culminou com a saída de Erenice Guerra do cargo. Em 2012, a 10ª Vara Federal do Distrito Federal arquivou o processo a pedido do Ministério Público Federal.

Delação de Palocci - O vídeo cita a delação do ex-ministro Antônio Palocci em 2019. Em acordo fechado com a Polícia Federal na Operação Lava Jato, o político havia apontado uma sucessão de ilícitos e propinas supostamente repassadas a políticos, servidores, empresários e ministros nos governos Lula e Dilma. No ano de 2020, um relatório da Polícia Federal concluiu que o depoimento de Palocci não tinha provas contra Lula. O STF determinou, no mesmo ano, a retirada da delação do ex-ministro nas ações contra o petista.

Palocci fecha acordo de delação premiada com a PF em 2018. Foto: Werther Santana/Estadão

Escândalo no Ministério dos Transportes - O post compartilha uma reportagem publicada pelo UOL, em julho de 2011. Trata-se de uma análise do professor de Ética e Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Roberto Romano sobre um caso de corrupção no Ministério dos Transportes naquele ano. O ex-ministro Alfredo do Nascimento havia sido denunciado em um suposto esquema de superfaturamento em obras envolvendo servidores da pasta. A PGR apontou a “ausência de indícios de envolvimento” de Nascimento nas acusações e pediu o arquivamento do caso, em 2013.

Escândalo do Ministério da Agricultura - Em 2011, a Veja revelou que um lobista chamado Júlio Fróes estaria operando dentro do Ministério da Agricultura. Segundo a reportagem, ele teria acesso liberado à entrada privativa do ministério e usava uma sala com computador, telefone e secretária na sobreloja do prédio, instalada na Comissão de Licitação. Na época, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, afirmou que não havia irregularidades.

Escândalo do Ministério do Turismo - A Operação Voucher foi realizada pela Polícia Federal em 9 de agosto de 2011. A investigação apurava desvios de recursos públicos destinados ao Ministério do Turismo por meio de emendas parlamentares. Entre os 38 detidos da operação, estavam o então secretário-executivo, Frederico Silva da Costa, o ex-presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), Mário Moysés e o secretário nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo, Colbert Martins.

Escândalo do Ministério do Esporte - Quando era ministro, Orlando Silva foi acusado de comandar um suposto esquema de desvios do Ministério do Esporte durante o governo da ex-presidente Dilma. Na época, Silva se demitiu do cargo. Em 2012, foi inocentado pela Comissão de Ética da Presidência da República por falta de provas.

Escândalo no Ministério do Trabalho - O caso envolve a gestão do atual ministro Carlos Lupi, quando ocupava o cargo no Ministério do Trabalho e Emprego, durante o primeiro governo Dilma. Segundo a denúncia, Lupi e sua equipe teriam usado avião de uma companhia que tinha contratos com a pasta para compromisso oficial. Por falta de provas, a ação foi julgada como improcedente em 2022.

Escândalo no Ministério da Pesca - Em 2012, o Tribunal de Contas da União (TCU) apontou superfaturamento e falhas no processo licitatório na compra de 28 lanchas-patrulha pelo extinto Ministério da Pesca e Aquicultura no valor de R$ 31 milhões. Estavam envolvidos no caso o ex-ministro Altemir Gregolin (que chefiou a pasta de 2006 a 2010) e outros ex-funcionários pela compra irregular. Em 2020, Gregolin foi condenado pelo TCU, com multa de R$ 1,8 milhão.

Operação Porto Seguro - A investigação da Polícia Federal desarticulou, em 2012, um grupo acusado de comprar pareceres técnicos de órgãos federais e acelerar processos internos de agências reguladoras para beneficiar empresas privadas. Ao todo, 14 pessoas haviam sido beneficiadas, incluindo o ex-senador Gilberto Miranda e a ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha durante o governo Lula e Dilma. Em 2021, as ações foram trancadas pela Justiça Federal de São Paulo.

Operação Lava Jato - No vídeo, o autor do conteúdo relembra a prisão de Lula na Lava Jato. O presidente enfrentou uma série de processos decorrentes da investigação, que atualmente estão encerrados ou suspensos. Houve dois principais caminhos para a conclusão das ações: Lula foi absolvido (a Justiça considerou que não havia provas de que ele havia cometido crimes) ou as condenações foram anuladas porque o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que os direitos do petista foram desrespeitados. O Comprova publicou material explicativo sobre as condenações do presidente no caso.

Lula sendo conduzido até a Polícia Federal em 7 de abril, data em que foi preso. Foto: Felipe Rau/Estadão

Como lidar com publicações do tipo: Fique atento com publicações que citam listas enormes de crimes, casos ou feitos políticos. É um recurso comum de desinformação inserir alegações enganosas ou falsas entre dados verdadeiros, a fim de enganar pela quantidade exaustiva de informações. Uma dica é procurar por alguns dos casos ou ficar atento às fontes e datas, para identificar na lista fatos fora de contexto ou sem ligação com as afirmações do conteúdo.

O que estão compartilhando: vídeo com a seguinte inscrição em tom de ironia: “Não houve casos de corrupção nos governos petistas, é tudo invenção”. O responsável pela publicação diz: “Deixa eu citar uns aqui pra ti”. Em seguida, menciona, ininterruptamente, uma série de 37 casos. E conclui: “Fiquei até um pouco ofegante aqui...”

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Embora a maioria dos casos sejam denúncias de corrupção envolvendo o Partido dos Trabalhadores (PT), há 11 que não têm relação com políticos ou funcionários do partido: envolveram empresários, agentes públicos ligados a outras siglas ou outras esferas de poder, como o Judiciário. São citados, ainda, três casos com crimes anteriores ao período em que o PT ocupou a Presidência da República (2003-2016): evasão de divisas no Banestado (1996 e 1997), desvio de recursos no Banpará (1984) e sonegação fiscal envolvendo os irmãos Schincariol (2001 e 2022).

O vídeo mescla casos que marcaram os governos petistas com eventos não relacionados ao PT. Foto: Foto

Saiba mais: Em meio a casos que notoriamente marcaram os governos petistas, como os do Mensalão e as denúncias contra Lula na Lava Jato, a lista citada insere outros que não estão ligados ao PT. Ao serem colocados em meio a episódios notórios, podem gerar confusão para os usuários das redes sociais.

Questionado, o homem que gravou o vídeo respondeu que “os casos ocorreram durante os governos de esquerda. Durante. Está na capa do vídeo”. No entanto, como já assinalado, a relação não procede. No caso do Banpará, por exemplo, os desvios foram em 1984, quando o presidente era o militar João Figueiredo.

Entre as repostagens do conteúdo nas redes sociais, foram adicionadas também legendas como: “Retrospectiva dos escândalos petistas”, relacionando todos os casos diretamente às gestões de Lula e Dilma.

O Estadão Verifica fez uma pesquisa para identificar cada uma das alegações citadas no vídeo. Inicialmente, consultando as manchetes inseridas na tela.

Posse de Dilma Rousseff em 2011. 

Casos sem relação com o PT

Além dos casos do Banestado, Banpará e dos irmãos Schincariol, já citados, os demais que não têm relação com o PT e, portanto, configuram desinformação na postagem são os seguintes:

Operação Anaconda - Realizada em 2003 pelo Ministério Público e a Polícia Federal (PF), desarticulou quadrilha especializada em venda de sentenças judiciais, naquele que foi considerado um dos maiores escândalos do Poder Judiciário do País. Em 2004, 10 acusados foram condenados, entre juízes, advogados, empresários e policiais. Não havia políticos do PT entre os condenados.

Propina em Ribeirão Preto - O caso envolveu esquema de corrupção na Prefeitura de Ribeirão Preto (SP), então comandada pela prefeita Dárcy Vera (PSD). Ela estava no segundo mandato quando foi presa em 2016, em operação deflagrada pela PF e Ministério Público de São Paulo. Em 2018, ela foi condenada a 18 anos e noves de prisão sob acusação de comandar um esquema que desviou R$ 45 milhões dos cofres da prefeitura, a partir do pagamento indevido de honorários advocatícios à ex-advogada do Sindicato dos Servidores Municipais Maria Zuely Librandi.

Caso Mônica Veloso - Envolve denúncias de corrupção envolvendo o então presidente do Senado Renan Calheiros, à época no PMDB. Segundo denúncia da Veja em 2007, Renan Calheiros recebia recursos ilegalmente da construtora Mendes Júnior para o pagamento de pensão a uma filha que teve fora do casamento com a jornalista Mônica Veloso. Renan Calheiros foi absolvido do caso em 2018.

Mônica Veloso esteve envolvida no escândalo envolvendo Renan Calheiros, pai de sua filha Foto: Paulo Liebert/AE

Caso dos “laranjas de Alagoas” - Em 2007, como desdobramento do caso Mônica Veloso, a Secretaria da Fazenda de Alagoas enviou ao Conselho de Ética do Senado um relatório para a perícia da Polícia Federal em que afirma que as empresas que compraram gado do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) montaram um esquema de “laranjas”. Foi sustentado ainda que, em alguns casos, as firmas são fantasmas. Calheiros havia apontado a venda de gado como prova de que tinha recursos para pagar as pensões a Mônica Veloso. O STF não aceitou a denúncia sobre o tema.

Cheque da GOL - No vídeo verificado, aparece a manchete “GOL volta atrás e confirma cheque a Roriz”. Segundo a reportagem do G1 de 2007, o caso se refere a uma transação financeira suspeita entre o presidente do Conselho de Administração da GOL, Nenê Constantino, para e o senador Joaquim Roriz (PMDB-DF).

Máfia do ISS - O caso envolve ex-fiscais da Prefeitura de São Paulo. Um deles, o ex-auditor fiscal Joaquim Cesar Cannassa Peres, foi condenado a devolver R$ 6 milhões aos cofres da Prefeitura da Capital. Segundo matéria do UOL, calcula-se que meio bilhão de reais teriam sido desviados dos cofres públicos entre 2008 e 2012, quando o prefeito era Gilberto Kassab, que foi do DEM antes de mudar para o PSD.

Operação Satiagraha - A Operação Satiagraha foi desencadeada em 2008 pela Polícia Federal comandada pelo ex-delegado Protógenes Queiroz. Chegaram a ser presos Daniel Dantas, sócio-fundador do Grupo Opportunity, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta (à época, filiado ao PTB), o investidor Naji Nahas e outras 14 pessoas. Eles eram suspeitos de manter um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro. O caso foi anulado em 2011 pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) por considerar que as provas obtidas se basearam em gravações telefônicas feitas ilegalmente — a decisão foi ratificada pelo STF em 2015. Protógenes foi condenado pela Justiça de São Paulo e exonerado da PF pelos crimes de violação de sigilo funcional e fraude processual.

Golpe do INSS - A Polícia Federal prendeu, no ano de 2006, em três Estados (Rio, Paraná e Goiás) 60 pessoas acusadas de integrar uma quadrilha que havia praticado, entre 2001 e 2006, fraudes que causaram prejuízo de R$ 200 milhões à Previdência Social. De acordo com as investigações, os fraudadores inseriram vínculos empregatícios falsos no sistema do INSS e assim conseguiam obter benefícios fraudulentos, que eram vendidos por valores entre R$ 6.000 e R$ 10 mil. Não há relação com Lula ou Dilma.

A operação que apurou o golpe do INSS foi iniciada fevereiro de 2006, depois que uma auditoria descobriu a inserção de vínculos empregatícios falsos. Foto: André Dusek/Estadão Foto:

Casos com relação com o PT

Caso Cachoeira - O escândalo veio à tona em 2004 após a divulgação de uma gravação de vídeo em que Waldomiro Diniz, subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência da República, aparece negociando propina com o empresário de jogos Carlos Cachoeira para financiamento de campanhas do PT e PSB, nas eleições de 2002. Por conta do caso, foi realizada uma CPI dos bingos, que tiveram seu funcionamento interditado através de medida provisória editada pelo presidente Lula.

Waldomiro também foi condenado por improbidade administrativa, em 2009, no processo em que era acusado de tráfico de influência na renovação de contrato da rede de loterias, entre a Caixa Econômica Federal e a multinacional Gtech, citado pelo autor do vídeo checado.

Caso Francenildo Costa - Na peça analisada, o homem ainda comenta sobre o caso de Francenildo Costa, também ligado à CPI dos Bingos. Na comissão, o caseiro da mansão do advogado Luiz Antonio Guerra afirmou ter visto o ex-ministro Antonio Palocci numa casa frequentada por lobistas e palco de propinas.

Escândalo dos Correios - O caso surgiu em 2005 com a revelação de uma fita de vídeo que mostra o ex-funcionário dos Correios Maurício Marinho negociando propina com empresários interessados em participar de uma licitação. No vídeo, Marinho dizia ter o respaldo do ex-presidente do PTB Roberto Jefferson. Com a denúncia, é criada a CPI dos Correios para investigar corrupção em estatais. O foco da comissão, no entanto, foi deslocado para o Mensalão, quando Jefferson denunciou um esquema de pagamento de mesada a parlamentares da base aliada em troca de apoio político.

Caso dos dólares na cueca - Em 2005, a Polícia Federal prendeu José Adalberto Vieira da Silva, com US$ 100 mil escondidos na cueca e R$ 209 mil em uma mala de mão no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Ele era assessor parlamentar do deputado federal José Guimarães (PT), irmão do ex-presidente do partido José Genoíno. Após 16 anos, a Justiça Federal encerrou o processo contra Guimarães por suspeita de envolvimento no caso.

Deputado federal José Guimarães (PT - CE) Foto: BRUNO SPADA /AGENCIA CAMARA

Caso Sanguessugas - O esquema foi descoberto pela Polícia Federal em 2006, e consistia em fraudes em licitações para a aquisição de ambulâncias e equipamentos médicos. As prefeituras recebiam verbas da União por meio de emendas parlamentares e direcionavam as licitações superfaturadas para empresas envolvidas no esquema. Mais de 600 municípios teriam participado da fraude. O esquema era comandado pela empresa Planam, da família Vedoin, e envolvia parlamentares e funcionários do Ministério da Saúde. À época, Lula era o presidente do País.

Caso Aloprados - O vídeo repercute a delação premiada do ex-executivo Luiz Eduardo da Rocha Soares. Segundo ele, recursos de uma operação entre a construtora Odebrecht e a cervejaria Itaipava financiaram a compra de um dossiê no episódio que ficou conhecido como “escândalo dos aloprados”. Em 2006, a Polícia Federal prendeu dois homens ligados ao PT que tentavam comprar um dossiê falso contra o então candidato do PSDB ao governo paulista, José Serra. Na época, o presidente Lula classificou como “aloprados” os petistas que participaram do caso.

Caso dos cartões corporativos - Foi revelado em 2008 um escândalo envolvendo o uso indevido de cartões corporativos por ministros, que terminou com uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). A então ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência, campeã nos gastos, pediu demissão após suspeitas de compras abusivas com aluguel de carros feitos com cartão corporativo. Ela assumiu o erro sobre o uso indevido do cartão e alegou que teria sido mal orientada por servidores da pasta.

Caso Lina Vieira - Em 2009, a ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira alegou que Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil, pediu que fossem concluídas rapidamente as investigações envolvendo a família do ex-presidente e ex-senador, José Sarney. No entanto, Lina nunca apresentou provas de suas afirmações contra Dilma.

Escândalo dos atos secretos - O escândalo dos atos secretos levou à maior crise administrativa da história do Senado. Uma sindicância interna identificou em 2009 a existência de 663 boletins usados clandestinamente para nomear parentes de servidores e senadores e criar cargos, benefícios e privilégios. Uma auditoria da Fundação Getúlio Vargas também apontou que medidas não foram publicadas. Havia entre os beneficiados políticos do PT. Os boletins foram revelados pelo Estadão em 10 de junho daquele ano.

Caso Bancoop - O caso Bancoop é o nome dado ao suposto uso da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop) para beneficiar o caixa dois do PT entre os anos de 2002 e 2004. No ano de 2010, o Ministério Público de São Paulo pediu à Justiça denúncia contra João Vaccari Neto, então presidente da cooperativa e tesoureiro do partido. Ele foi preso por lavagem de dinheiro na décima fase da Operação Lava Jato, mas absolvido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo em 2019.

Caso dos Novos Aloprados - Na peça analisada o autor do conteúdo cita uma reportagem publicada pelo O Globo, em setembro de 2010, sobre a permanência de envolvidos com o Escândalo dos Aloprados nos governos petistas e em cargos da administração federal.

Caso Erenice Guerra - O escândalo político aconteceu em 2010. A Veja havia denunciado que Israel Guerra, filho da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, estava envolvido em tráfico de influência, em favor da empresa Master Top Linhas Aéreas (MTA) com os Correios. O caso culminou com a saída de Erenice Guerra do cargo. Em 2012, a 10ª Vara Federal do Distrito Federal arquivou o processo a pedido do Ministério Público Federal.

Delação de Palocci - O vídeo cita a delação do ex-ministro Antônio Palocci em 2019. Em acordo fechado com a Polícia Federal na Operação Lava Jato, o político havia apontado uma sucessão de ilícitos e propinas supostamente repassadas a políticos, servidores, empresários e ministros nos governos Lula e Dilma. No ano de 2020, um relatório da Polícia Federal concluiu que o depoimento de Palocci não tinha provas contra Lula. O STF determinou, no mesmo ano, a retirada da delação do ex-ministro nas ações contra o petista.

Palocci fecha acordo de delação premiada com a PF em 2018. Foto: Werther Santana/Estadão

Escândalo no Ministério dos Transportes - O post compartilha uma reportagem publicada pelo UOL, em julho de 2011. Trata-se de uma análise do professor de Ética e Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Roberto Romano sobre um caso de corrupção no Ministério dos Transportes naquele ano. O ex-ministro Alfredo do Nascimento havia sido denunciado em um suposto esquema de superfaturamento em obras envolvendo servidores da pasta. A PGR apontou a “ausência de indícios de envolvimento” de Nascimento nas acusações e pediu o arquivamento do caso, em 2013.

Escândalo do Ministério da Agricultura - Em 2011, a Veja revelou que um lobista chamado Júlio Fróes estaria operando dentro do Ministério da Agricultura. Segundo a reportagem, ele teria acesso liberado à entrada privativa do ministério e usava uma sala com computador, telefone e secretária na sobreloja do prédio, instalada na Comissão de Licitação. Na época, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, afirmou que não havia irregularidades.

Escândalo do Ministério do Turismo - A Operação Voucher foi realizada pela Polícia Federal em 9 de agosto de 2011. A investigação apurava desvios de recursos públicos destinados ao Ministério do Turismo por meio de emendas parlamentares. Entre os 38 detidos da operação, estavam o então secretário-executivo, Frederico Silva da Costa, o ex-presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), Mário Moysés e o secretário nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo, Colbert Martins.

Escândalo do Ministério do Esporte - Quando era ministro, Orlando Silva foi acusado de comandar um suposto esquema de desvios do Ministério do Esporte durante o governo da ex-presidente Dilma. Na época, Silva se demitiu do cargo. Em 2012, foi inocentado pela Comissão de Ética da Presidência da República por falta de provas.

Escândalo no Ministério do Trabalho - O caso envolve a gestão do atual ministro Carlos Lupi, quando ocupava o cargo no Ministério do Trabalho e Emprego, durante o primeiro governo Dilma. Segundo a denúncia, Lupi e sua equipe teriam usado avião de uma companhia que tinha contratos com a pasta para compromisso oficial. Por falta de provas, a ação foi julgada como improcedente em 2022.

Escândalo no Ministério da Pesca - Em 2012, o Tribunal de Contas da União (TCU) apontou superfaturamento e falhas no processo licitatório na compra de 28 lanchas-patrulha pelo extinto Ministério da Pesca e Aquicultura no valor de R$ 31 milhões. Estavam envolvidos no caso o ex-ministro Altemir Gregolin (que chefiou a pasta de 2006 a 2010) e outros ex-funcionários pela compra irregular. Em 2020, Gregolin foi condenado pelo TCU, com multa de R$ 1,8 milhão.

Operação Porto Seguro - A investigação da Polícia Federal desarticulou, em 2012, um grupo acusado de comprar pareceres técnicos de órgãos federais e acelerar processos internos de agências reguladoras para beneficiar empresas privadas. Ao todo, 14 pessoas haviam sido beneficiadas, incluindo o ex-senador Gilberto Miranda e a ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha durante o governo Lula e Dilma. Em 2021, as ações foram trancadas pela Justiça Federal de São Paulo.

Operação Lava Jato - No vídeo, o autor do conteúdo relembra a prisão de Lula na Lava Jato. O presidente enfrentou uma série de processos decorrentes da investigação, que atualmente estão encerrados ou suspensos. Houve dois principais caminhos para a conclusão das ações: Lula foi absolvido (a Justiça considerou que não havia provas de que ele havia cometido crimes) ou as condenações foram anuladas porque o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que os direitos do petista foram desrespeitados. O Comprova publicou material explicativo sobre as condenações do presidente no caso.

Lula sendo conduzido até a Polícia Federal em 7 de abril, data em que foi preso. Foto: Felipe Rau/Estadão

Como lidar com publicações do tipo: Fique atento com publicações que citam listas enormes de crimes, casos ou feitos políticos. É um recurso comum de desinformação inserir alegações enganosas ou falsas entre dados verdadeiros, a fim de enganar pela quantidade exaustiva de informações. Uma dica é procurar por alguns dos casos ou ficar atento às fontes e datas, para identificar na lista fatos fora de contexto ou sem ligação com as afirmações do conteúdo.

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