Vídeo distorce falas de Lula em evento na Bahia para atacar religiões de matriz africana


Trechos de discurso em Salvador, no ano passado, foram manipulados para parecer que o ex-presidente disse estar 'falando com o demônio' após encontro com lideranças negras

Por Clarissa Pacheco

Uma postagem compartilhada na conta de um pastor evangélico no Facebook distorce falas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante um encontro com lideranças do movimento negro em Salvador (BA), em agosto de 2021. Em um vídeo de pouco mais de um minuto de duração, frases do petista foram cortadas e reagrupadas de modo a simular que ele disse que lideranças de religiões de matriz africana participariam de um futuro governo e que, depois de receber uma imagem de Xangô e tomar um banho de pipoca na Bahia, ele estaria "falando com o demônio". O post teve mais de 8 mil interações na rede social.

Na realidade, Lula criticava opositores que disseram que, ao dialogar com religiões de matriz africana, ele estaria "falando com o demônio". O ex-presidente também disse que convidaria lideranças do movimento negro para participar da elaboração de um programa de governo na área da educação (veja as falas completas mais abaixo).

 Foto: Estadão
continua após a publicidade

Uma legenda foi inserida diretamente no vídeo com a frase: "Lideranças do candomblé da Bahia cosagram (sic) Lula aos orixás". Já a legenda do post diz: "Deus tenha misericórdia da nossa nação em nome de Jesus Cristo". Todas as falas que aparecem no vídeo foram editadas e retiradas de contexto. Além de distorcer as falas, o vídeo é um exemplo de intolerância religiosa: ele trata as religiões de matriz africana como inferiores e faz uma associação entre o candomblé e os orixás ao demônio, discurso comum nesse tipo de prática.

O vídeo original com a fala completa de Lula está disponível na conta oficial do Facebook do deputado federal Jorge Solla (PT-BA) e foi gravado ao vivo no encontro entre o ex-presidente e lideranças do movimento negro no dia 26 de agosto de 2021, em Salvador. O evento ocorreu no final da tarde na Senzala do Barro Preto, a sede do bloco afro Ilê Aiyê, e contou com a presença, além de Lula, do ex-governador e senador pela Bahia Jaques Wagner (PT-BA), da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffman, e de lideranças políticas e representantes de religiões de matriz africana e de evangélicos negros.

A transmissão inteira tem 1:30:59 de duração. A fala de Lula ocorre aos 26 minutos finais, após ouvir manifestações de diversos representantes do movimento negro, como Vovô do Ilê, presidente do Ilê Aiyê; João Jorge Rodrigues, presidente do Olodum; da socióloga Vilma Reis; e de Fernanda Júlia Onisajé, diretora teatral, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e representante do Fórum Nacional de Performance Negra.

continua após a publicidade

No evento, as lideranças cobraram de Lula mais espaço para os negros na política. O ex-presidente fala sobre acesso à educação por parte de jovens negros e pardos, da importância da reparação histórica com os povos africanos e cita críticas que recebeu depois de ter recebido um banho de pipoca e uma imagem do orixá Xangô na chegada para os compromissos à Bahia.

No candomblé, o banho de pipoca é associado a uma limpeza de energias negativas. Já o orixá Xangô simboliza a justiça. Usando um boné e uma túnica do Ilê Aiyê, Lula se declarou pessoalmente católico e afirmou que, enquanto candidato ou presidente da República, tratará todas as religiões com decência e respeito.

Procurada pelo Estadão Verifica, a assessoria de comunicação do ex-presidente disse que a manipulação do vídeo é revoltante e culpou apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo vídeo editado. "É revoltante, e mais uma baixaria do bolsonarismo, o uso constante de fake news e vídeos manipulados para promover ataques políticos e intolerância religiosa", diz a nota.

continua após a publicidade

Falas manipuladas

Participação no programa de governo

A primeira fala manipulada é a que dá a entender que as representantes das religiões de matriz africana participarão diretamente do governo federal, se Lula for eleito nas eleições deste ano. Nesta parte, três trechos de momentos diferentes são juntados, de modo a dar um sentido diferente ao que Lula realmente falava.

continua após a publicidade

Primeiro, o vídeo mostra a primeira declaração: "Não serão apenas consultados. No momento certo, vocês serão convidados a montar estrutura pra ajudar na elaboração do programa". É possível ver um corte brusco que emenda com outra fala: "E também as nossas queridas representantes das religiões da matriz africana". As duas falas existem, mas foram ditas em momentos diferentes.

Quando fala sobre convidar as pessoas a participar da elaboração do programa, Lula não está se referindo às representantes das religiões de matriz africana, e sim às entidades negras como um todo, no contexto da educação. No discurso original, a fala vem logo após Lula dizer que tem orgulho de ter criado o Programa Universidade para Todos (ProUni) e de saber que há mais negros e pardos nas universidades federais do que brancos. Lula, então, diz:

"Significa que nós precisamos fazer mais universidades ainda. Eu quero dizer pra vocês que nós vamos voltar aqui, porque vocês terão que fazer parte obrigatória da construção de um programa de governo pra esse País. Não, vocês não serão apenas consultados. No momento certo, vocês vão ser convidados a montar estrutura pra ajudar na elaboração do programa, para que a gente possa mostrar ao mundo que nós estamos tratando certo essa questão da reparação dos negros no Brasil." (1:21:30)

continua após a publicidade

O trecho "e também às nossas queridas representantes das matrizes africanas" aparece um pouco mais à frente (1:22:47), quando o ex-presidente se dirige, primeiro, ao representante presente dos evangélicos negros, Ademir Santos, e depois às representantes das religiões de matriz africana, sobre os ataques sofridos nas redes.

Banho de pipoca e fala com o demônio

A segunda fala manipulada é sobre a chegada de Lula à Bahia, na véspera do encontro. A fala editada começa com "Vocês sabem que eu tenho conversado com muita gente da religião das matrizes africanas". Lula diz isso logo após saudar o representante dos evangélicos e as ialorixás no evento. Há um corte no vídeo, que salta para a seguinte frase: "Eu, ontem, quando eu cheguei, as mulheres jogaram pipoca em mim e me entregaram um santo, como é que chama? Entregaram um Xangô".

continua após a publicidade

Há outro corte e então aparece uma fala de Lula: "Eu, relação com o demônio, que eu estou falando com o demônio e o demônio está tomando conta de mim". Os cortes nesta parte são ainda mais perceptíveis. A fala original é, na verdade, uma queixa de Lula aos ataques pelo fato de ele estar dialogando com religiões de matriz africana, por parte de pessoas que dizem que ele tem relação com o demônio :

"Então, eu queria falar ao meu companheiro evangélico e queria falar aqui também às nossas queridas representantes das matrizes africanas. Vocês sabem que eu tenho conversado com muita gente da religião das matrizes africanas e eu sei que os bolsonaristas estão fazendo uma verdadeira guerra na rede social. Eu ontem, quando eu cheguei, as mulheres jogaram pipoca em mim e me entregaram um santo, como é que chama? Me entregaram um Xangô e nas redes sociais do bolsonarismo, eles estão dizendo que eu tenho relação com o demônio, que eu estou falando com o demônio e que o demônio está tomando conta de mim. Mas é uma campanha massiva, é uma campanha violenta, como eles sabem fazer, do mal. Eles só sabem fazer isso." (1:22:55)

Fé e crença

Na terceira parte da fala manipulada, o vídeo faz parecer que Lula disse que as religiões e matriz africana são "a nossa fé a nossa crença". O ex-presidente começa dizendo "e as religiões de matriz africana serão tratadas com a maior decência, com o maior respeito". Há um corte e a fala continua: "É a nossa fé a nossa crença. Obrigado às entidades de me trazerem aqui".

Na verdade, Lula se declarou católico e disse que, enquanto candidato e presidente, trata todas as religiões com decência e respeito. O trecho em que o petista expressa sua religião pessoal e diz que respeita os evangélicos foi suprimido. A declaração original é:

"Primeiro, eu, como cidadão brasileiro, eu tenho a minha religião. Todo mundo sabe que eu sou católico. Mas enquanto candidato ou enquanto presidente da República, todas as religiões desse País, inclusive as religiões de matriz africana, serão tratados com a maior decência, com o maior respeito, e eu, jamais, enquanto governo, irei permitir o autoritarismo de uma religião sobre a outra. Se tem uma coisa que a gente tem que respeitar é a profissão de fé das pessoas, é o comportamento das peculiaridades de cada um de nós, é a nossa fé e a nossa crença. Portanto, eu não vou tratar melhor nenhuma e nem outra, eu vou tratar todas as religiões com a decência que elas precisam ser tratadas no nosso território nacional." (1:23:57)

Entre os dias 26 e 27 de agosto de 2021, Lula fez três postagens em sua conta pessoal do Instagram envolvendo imagens e representantes religiosos. A primeira, no dia 26, mostra uma imagem da Santa Dulce dos Pobres, santa baiana canonizada em 2019. Na segunda, também do dia 26, Lula posta uma imagem da Bíblia, ao lado do deputado federal Pastor Sargento Isidório (Avante-BA). A terceira, no dia 27, tem fotos ao lado das lideranças do movimento negro e de religiões de matriz africana na Senzala do Barro Preto.

Liberdade religiosa e de culto

No ano passado, as denúncias de intolerância religiosa cresceram 141% no Brasil, segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Eles foram publicados no último dia 21 de janeiro, quando se completaram 15 anos da instituição do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, data da morte da ialorixá Mãe Gilda de Ogum, em Salvador, que morreu vítima de um ataque contra sua religião.

O Estado brasileiro deve ser laico, ou seja, nenhuma religião é estabelecida como uma crença oficial do País e todas as manifestações de religião e de culto devem contar com a proteção do Estado. O artigo 5º da Constituição Federal de 1988 estabelece que "é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias". O artigo também diz que "ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei".

Já o artigo 19, sobre a organização do Estado, diz que é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios "estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público".

O autor do post no Facebook foi procurado, mas não respondeu ao pedido de informações até a publicação deste texto.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

Uma postagem compartilhada na conta de um pastor evangélico no Facebook distorce falas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante um encontro com lideranças do movimento negro em Salvador (BA), em agosto de 2021. Em um vídeo de pouco mais de um minuto de duração, frases do petista foram cortadas e reagrupadas de modo a simular que ele disse que lideranças de religiões de matriz africana participariam de um futuro governo e que, depois de receber uma imagem de Xangô e tomar um banho de pipoca na Bahia, ele estaria "falando com o demônio". O post teve mais de 8 mil interações na rede social.

Na realidade, Lula criticava opositores que disseram que, ao dialogar com religiões de matriz africana, ele estaria "falando com o demônio". O ex-presidente também disse que convidaria lideranças do movimento negro para participar da elaboração de um programa de governo na área da educação (veja as falas completas mais abaixo).

 Foto: Estadão

Uma legenda foi inserida diretamente no vídeo com a frase: "Lideranças do candomblé da Bahia cosagram (sic) Lula aos orixás". Já a legenda do post diz: "Deus tenha misericórdia da nossa nação em nome de Jesus Cristo". Todas as falas que aparecem no vídeo foram editadas e retiradas de contexto. Além de distorcer as falas, o vídeo é um exemplo de intolerância religiosa: ele trata as religiões de matriz africana como inferiores e faz uma associação entre o candomblé e os orixás ao demônio, discurso comum nesse tipo de prática.

O vídeo original com a fala completa de Lula está disponível na conta oficial do Facebook do deputado federal Jorge Solla (PT-BA) e foi gravado ao vivo no encontro entre o ex-presidente e lideranças do movimento negro no dia 26 de agosto de 2021, em Salvador. O evento ocorreu no final da tarde na Senzala do Barro Preto, a sede do bloco afro Ilê Aiyê, e contou com a presença, além de Lula, do ex-governador e senador pela Bahia Jaques Wagner (PT-BA), da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffman, e de lideranças políticas e representantes de religiões de matriz africana e de evangélicos negros.

A transmissão inteira tem 1:30:59 de duração. A fala de Lula ocorre aos 26 minutos finais, após ouvir manifestações de diversos representantes do movimento negro, como Vovô do Ilê, presidente do Ilê Aiyê; João Jorge Rodrigues, presidente do Olodum; da socióloga Vilma Reis; e de Fernanda Júlia Onisajé, diretora teatral, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e representante do Fórum Nacional de Performance Negra.

No evento, as lideranças cobraram de Lula mais espaço para os negros na política. O ex-presidente fala sobre acesso à educação por parte de jovens negros e pardos, da importância da reparação histórica com os povos africanos e cita críticas que recebeu depois de ter recebido um banho de pipoca e uma imagem do orixá Xangô na chegada para os compromissos à Bahia.

No candomblé, o banho de pipoca é associado a uma limpeza de energias negativas. Já o orixá Xangô simboliza a justiça. Usando um boné e uma túnica do Ilê Aiyê, Lula se declarou pessoalmente católico e afirmou que, enquanto candidato ou presidente da República, tratará todas as religiões com decência e respeito.

Procurada pelo Estadão Verifica, a assessoria de comunicação do ex-presidente disse que a manipulação do vídeo é revoltante e culpou apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo vídeo editado. "É revoltante, e mais uma baixaria do bolsonarismo, o uso constante de fake news e vídeos manipulados para promover ataques políticos e intolerância religiosa", diz a nota.

Falas manipuladas

Participação no programa de governo

A primeira fala manipulada é a que dá a entender que as representantes das religiões de matriz africana participarão diretamente do governo federal, se Lula for eleito nas eleições deste ano. Nesta parte, três trechos de momentos diferentes são juntados, de modo a dar um sentido diferente ao que Lula realmente falava.

Primeiro, o vídeo mostra a primeira declaração: "Não serão apenas consultados. No momento certo, vocês serão convidados a montar estrutura pra ajudar na elaboração do programa". É possível ver um corte brusco que emenda com outra fala: "E também as nossas queridas representantes das religiões da matriz africana". As duas falas existem, mas foram ditas em momentos diferentes.

Quando fala sobre convidar as pessoas a participar da elaboração do programa, Lula não está se referindo às representantes das religiões de matriz africana, e sim às entidades negras como um todo, no contexto da educação. No discurso original, a fala vem logo após Lula dizer que tem orgulho de ter criado o Programa Universidade para Todos (ProUni) e de saber que há mais negros e pardos nas universidades federais do que brancos. Lula, então, diz:

"Significa que nós precisamos fazer mais universidades ainda. Eu quero dizer pra vocês que nós vamos voltar aqui, porque vocês terão que fazer parte obrigatória da construção de um programa de governo pra esse País. Não, vocês não serão apenas consultados. No momento certo, vocês vão ser convidados a montar estrutura pra ajudar na elaboração do programa, para que a gente possa mostrar ao mundo que nós estamos tratando certo essa questão da reparação dos negros no Brasil." (1:21:30)

O trecho "e também às nossas queridas representantes das matrizes africanas" aparece um pouco mais à frente (1:22:47), quando o ex-presidente se dirige, primeiro, ao representante presente dos evangélicos negros, Ademir Santos, e depois às representantes das religiões de matriz africana, sobre os ataques sofridos nas redes.

Banho de pipoca e fala com o demônio

A segunda fala manipulada é sobre a chegada de Lula à Bahia, na véspera do encontro. A fala editada começa com "Vocês sabem que eu tenho conversado com muita gente da religião das matrizes africanas". Lula diz isso logo após saudar o representante dos evangélicos e as ialorixás no evento. Há um corte no vídeo, que salta para a seguinte frase: "Eu, ontem, quando eu cheguei, as mulheres jogaram pipoca em mim e me entregaram um santo, como é que chama? Entregaram um Xangô".

Há outro corte e então aparece uma fala de Lula: "Eu, relação com o demônio, que eu estou falando com o demônio e o demônio está tomando conta de mim". Os cortes nesta parte são ainda mais perceptíveis. A fala original é, na verdade, uma queixa de Lula aos ataques pelo fato de ele estar dialogando com religiões de matriz africana, por parte de pessoas que dizem que ele tem relação com o demônio :

"Então, eu queria falar ao meu companheiro evangélico e queria falar aqui também às nossas queridas representantes das matrizes africanas. Vocês sabem que eu tenho conversado com muita gente da religião das matrizes africanas e eu sei que os bolsonaristas estão fazendo uma verdadeira guerra na rede social. Eu ontem, quando eu cheguei, as mulheres jogaram pipoca em mim e me entregaram um santo, como é que chama? Me entregaram um Xangô e nas redes sociais do bolsonarismo, eles estão dizendo que eu tenho relação com o demônio, que eu estou falando com o demônio e que o demônio está tomando conta de mim. Mas é uma campanha massiva, é uma campanha violenta, como eles sabem fazer, do mal. Eles só sabem fazer isso." (1:22:55)

Fé e crença

Na terceira parte da fala manipulada, o vídeo faz parecer que Lula disse que as religiões e matriz africana são "a nossa fé a nossa crença". O ex-presidente começa dizendo "e as religiões de matriz africana serão tratadas com a maior decência, com o maior respeito". Há um corte e a fala continua: "É a nossa fé a nossa crença. Obrigado às entidades de me trazerem aqui".

Na verdade, Lula se declarou católico e disse que, enquanto candidato e presidente, trata todas as religiões com decência e respeito. O trecho em que o petista expressa sua religião pessoal e diz que respeita os evangélicos foi suprimido. A declaração original é:

"Primeiro, eu, como cidadão brasileiro, eu tenho a minha religião. Todo mundo sabe que eu sou católico. Mas enquanto candidato ou enquanto presidente da República, todas as religiões desse País, inclusive as religiões de matriz africana, serão tratados com a maior decência, com o maior respeito, e eu, jamais, enquanto governo, irei permitir o autoritarismo de uma religião sobre a outra. Se tem uma coisa que a gente tem que respeitar é a profissão de fé das pessoas, é o comportamento das peculiaridades de cada um de nós, é a nossa fé e a nossa crença. Portanto, eu não vou tratar melhor nenhuma e nem outra, eu vou tratar todas as religiões com a decência que elas precisam ser tratadas no nosso território nacional." (1:23:57)

Entre os dias 26 e 27 de agosto de 2021, Lula fez três postagens em sua conta pessoal do Instagram envolvendo imagens e representantes religiosos. A primeira, no dia 26, mostra uma imagem da Santa Dulce dos Pobres, santa baiana canonizada em 2019. Na segunda, também do dia 26, Lula posta uma imagem da Bíblia, ao lado do deputado federal Pastor Sargento Isidório (Avante-BA). A terceira, no dia 27, tem fotos ao lado das lideranças do movimento negro e de religiões de matriz africana na Senzala do Barro Preto.

Liberdade religiosa e de culto

No ano passado, as denúncias de intolerância religiosa cresceram 141% no Brasil, segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Eles foram publicados no último dia 21 de janeiro, quando se completaram 15 anos da instituição do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, data da morte da ialorixá Mãe Gilda de Ogum, em Salvador, que morreu vítima de um ataque contra sua religião.

O Estado brasileiro deve ser laico, ou seja, nenhuma religião é estabelecida como uma crença oficial do País e todas as manifestações de religião e de culto devem contar com a proteção do Estado. O artigo 5º da Constituição Federal de 1988 estabelece que "é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias". O artigo também diz que "ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei".

Já o artigo 19, sobre a organização do Estado, diz que é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios "estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público".

O autor do post no Facebook foi procurado, mas não respondeu ao pedido de informações até a publicação deste texto.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

Uma postagem compartilhada na conta de um pastor evangélico no Facebook distorce falas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante um encontro com lideranças do movimento negro em Salvador (BA), em agosto de 2021. Em um vídeo de pouco mais de um minuto de duração, frases do petista foram cortadas e reagrupadas de modo a simular que ele disse que lideranças de religiões de matriz africana participariam de um futuro governo e que, depois de receber uma imagem de Xangô e tomar um banho de pipoca na Bahia, ele estaria "falando com o demônio". O post teve mais de 8 mil interações na rede social.

Na realidade, Lula criticava opositores que disseram que, ao dialogar com religiões de matriz africana, ele estaria "falando com o demônio". O ex-presidente também disse que convidaria lideranças do movimento negro para participar da elaboração de um programa de governo na área da educação (veja as falas completas mais abaixo).

 Foto: Estadão

Uma legenda foi inserida diretamente no vídeo com a frase: "Lideranças do candomblé da Bahia cosagram (sic) Lula aos orixás". Já a legenda do post diz: "Deus tenha misericórdia da nossa nação em nome de Jesus Cristo". Todas as falas que aparecem no vídeo foram editadas e retiradas de contexto. Além de distorcer as falas, o vídeo é um exemplo de intolerância religiosa: ele trata as religiões de matriz africana como inferiores e faz uma associação entre o candomblé e os orixás ao demônio, discurso comum nesse tipo de prática.

O vídeo original com a fala completa de Lula está disponível na conta oficial do Facebook do deputado federal Jorge Solla (PT-BA) e foi gravado ao vivo no encontro entre o ex-presidente e lideranças do movimento negro no dia 26 de agosto de 2021, em Salvador. O evento ocorreu no final da tarde na Senzala do Barro Preto, a sede do bloco afro Ilê Aiyê, e contou com a presença, além de Lula, do ex-governador e senador pela Bahia Jaques Wagner (PT-BA), da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffman, e de lideranças políticas e representantes de religiões de matriz africana e de evangélicos negros.

A transmissão inteira tem 1:30:59 de duração. A fala de Lula ocorre aos 26 minutos finais, após ouvir manifestações de diversos representantes do movimento negro, como Vovô do Ilê, presidente do Ilê Aiyê; João Jorge Rodrigues, presidente do Olodum; da socióloga Vilma Reis; e de Fernanda Júlia Onisajé, diretora teatral, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e representante do Fórum Nacional de Performance Negra.

No evento, as lideranças cobraram de Lula mais espaço para os negros na política. O ex-presidente fala sobre acesso à educação por parte de jovens negros e pardos, da importância da reparação histórica com os povos africanos e cita críticas que recebeu depois de ter recebido um banho de pipoca e uma imagem do orixá Xangô na chegada para os compromissos à Bahia.

No candomblé, o banho de pipoca é associado a uma limpeza de energias negativas. Já o orixá Xangô simboliza a justiça. Usando um boné e uma túnica do Ilê Aiyê, Lula se declarou pessoalmente católico e afirmou que, enquanto candidato ou presidente da República, tratará todas as religiões com decência e respeito.

Procurada pelo Estadão Verifica, a assessoria de comunicação do ex-presidente disse que a manipulação do vídeo é revoltante e culpou apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo vídeo editado. "É revoltante, e mais uma baixaria do bolsonarismo, o uso constante de fake news e vídeos manipulados para promover ataques políticos e intolerância religiosa", diz a nota.

Falas manipuladas

Participação no programa de governo

A primeira fala manipulada é a que dá a entender que as representantes das religiões de matriz africana participarão diretamente do governo federal, se Lula for eleito nas eleições deste ano. Nesta parte, três trechos de momentos diferentes são juntados, de modo a dar um sentido diferente ao que Lula realmente falava.

Primeiro, o vídeo mostra a primeira declaração: "Não serão apenas consultados. No momento certo, vocês serão convidados a montar estrutura pra ajudar na elaboração do programa". É possível ver um corte brusco que emenda com outra fala: "E também as nossas queridas representantes das religiões da matriz africana". As duas falas existem, mas foram ditas em momentos diferentes.

Quando fala sobre convidar as pessoas a participar da elaboração do programa, Lula não está se referindo às representantes das religiões de matriz africana, e sim às entidades negras como um todo, no contexto da educação. No discurso original, a fala vem logo após Lula dizer que tem orgulho de ter criado o Programa Universidade para Todos (ProUni) e de saber que há mais negros e pardos nas universidades federais do que brancos. Lula, então, diz:

"Significa que nós precisamos fazer mais universidades ainda. Eu quero dizer pra vocês que nós vamos voltar aqui, porque vocês terão que fazer parte obrigatória da construção de um programa de governo pra esse País. Não, vocês não serão apenas consultados. No momento certo, vocês vão ser convidados a montar estrutura pra ajudar na elaboração do programa, para que a gente possa mostrar ao mundo que nós estamos tratando certo essa questão da reparação dos negros no Brasil." (1:21:30)

O trecho "e também às nossas queridas representantes das matrizes africanas" aparece um pouco mais à frente (1:22:47), quando o ex-presidente se dirige, primeiro, ao representante presente dos evangélicos negros, Ademir Santos, e depois às representantes das religiões de matriz africana, sobre os ataques sofridos nas redes.

Banho de pipoca e fala com o demônio

A segunda fala manipulada é sobre a chegada de Lula à Bahia, na véspera do encontro. A fala editada começa com "Vocês sabem que eu tenho conversado com muita gente da religião das matrizes africanas". Lula diz isso logo após saudar o representante dos evangélicos e as ialorixás no evento. Há um corte no vídeo, que salta para a seguinte frase: "Eu, ontem, quando eu cheguei, as mulheres jogaram pipoca em mim e me entregaram um santo, como é que chama? Entregaram um Xangô".

Há outro corte e então aparece uma fala de Lula: "Eu, relação com o demônio, que eu estou falando com o demônio e o demônio está tomando conta de mim". Os cortes nesta parte são ainda mais perceptíveis. A fala original é, na verdade, uma queixa de Lula aos ataques pelo fato de ele estar dialogando com religiões de matriz africana, por parte de pessoas que dizem que ele tem relação com o demônio :

"Então, eu queria falar ao meu companheiro evangélico e queria falar aqui também às nossas queridas representantes das matrizes africanas. Vocês sabem que eu tenho conversado com muita gente da religião das matrizes africanas e eu sei que os bolsonaristas estão fazendo uma verdadeira guerra na rede social. Eu ontem, quando eu cheguei, as mulheres jogaram pipoca em mim e me entregaram um santo, como é que chama? Me entregaram um Xangô e nas redes sociais do bolsonarismo, eles estão dizendo que eu tenho relação com o demônio, que eu estou falando com o demônio e que o demônio está tomando conta de mim. Mas é uma campanha massiva, é uma campanha violenta, como eles sabem fazer, do mal. Eles só sabem fazer isso." (1:22:55)

Fé e crença

Na terceira parte da fala manipulada, o vídeo faz parecer que Lula disse que as religiões e matriz africana são "a nossa fé a nossa crença". O ex-presidente começa dizendo "e as religiões de matriz africana serão tratadas com a maior decência, com o maior respeito". Há um corte e a fala continua: "É a nossa fé a nossa crença. Obrigado às entidades de me trazerem aqui".

Na verdade, Lula se declarou católico e disse que, enquanto candidato e presidente, trata todas as religiões com decência e respeito. O trecho em que o petista expressa sua religião pessoal e diz que respeita os evangélicos foi suprimido. A declaração original é:

"Primeiro, eu, como cidadão brasileiro, eu tenho a minha religião. Todo mundo sabe que eu sou católico. Mas enquanto candidato ou enquanto presidente da República, todas as religiões desse País, inclusive as religiões de matriz africana, serão tratados com a maior decência, com o maior respeito, e eu, jamais, enquanto governo, irei permitir o autoritarismo de uma religião sobre a outra. Se tem uma coisa que a gente tem que respeitar é a profissão de fé das pessoas, é o comportamento das peculiaridades de cada um de nós, é a nossa fé e a nossa crença. Portanto, eu não vou tratar melhor nenhuma e nem outra, eu vou tratar todas as religiões com a decência que elas precisam ser tratadas no nosso território nacional." (1:23:57)

Entre os dias 26 e 27 de agosto de 2021, Lula fez três postagens em sua conta pessoal do Instagram envolvendo imagens e representantes religiosos. A primeira, no dia 26, mostra uma imagem da Santa Dulce dos Pobres, santa baiana canonizada em 2019. Na segunda, também do dia 26, Lula posta uma imagem da Bíblia, ao lado do deputado federal Pastor Sargento Isidório (Avante-BA). A terceira, no dia 27, tem fotos ao lado das lideranças do movimento negro e de religiões de matriz africana na Senzala do Barro Preto.

Liberdade religiosa e de culto

No ano passado, as denúncias de intolerância religiosa cresceram 141% no Brasil, segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Eles foram publicados no último dia 21 de janeiro, quando se completaram 15 anos da instituição do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, data da morte da ialorixá Mãe Gilda de Ogum, em Salvador, que morreu vítima de um ataque contra sua religião.

O Estado brasileiro deve ser laico, ou seja, nenhuma religião é estabelecida como uma crença oficial do País e todas as manifestações de religião e de culto devem contar com a proteção do Estado. O artigo 5º da Constituição Federal de 1988 estabelece que "é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias". O artigo também diz que "ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei".

Já o artigo 19, sobre a organização do Estado, diz que é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios "estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público".

O autor do post no Facebook foi procurado, mas não respondeu ao pedido de informações até a publicação deste texto.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

Uma postagem compartilhada na conta de um pastor evangélico no Facebook distorce falas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante um encontro com lideranças do movimento negro em Salvador (BA), em agosto de 2021. Em um vídeo de pouco mais de um minuto de duração, frases do petista foram cortadas e reagrupadas de modo a simular que ele disse que lideranças de religiões de matriz africana participariam de um futuro governo e que, depois de receber uma imagem de Xangô e tomar um banho de pipoca na Bahia, ele estaria "falando com o demônio". O post teve mais de 8 mil interações na rede social.

Na realidade, Lula criticava opositores que disseram que, ao dialogar com religiões de matriz africana, ele estaria "falando com o demônio". O ex-presidente também disse que convidaria lideranças do movimento negro para participar da elaboração de um programa de governo na área da educação (veja as falas completas mais abaixo).

 Foto: Estadão

Uma legenda foi inserida diretamente no vídeo com a frase: "Lideranças do candomblé da Bahia cosagram (sic) Lula aos orixás". Já a legenda do post diz: "Deus tenha misericórdia da nossa nação em nome de Jesus Cristo". Todas as falas que aparecem no vídeo foram editadas e retiradas de contexto. Além de distorcer as falas, o vídeo é um exemplo de intolerância religiosa: ele trata as religiões de matriz africana como inferiores e faz uma associação entre o candomblé e os orixás ao demônio, discurso comum nesse tipo de prática.

O vídeo original com a fala completa de Lula está disponível na conta oficial do Facebook do deputado federal Jorge Solla (PT-BA) e foi gravado ao vivo no encontro entre o ex-presidente e lideranças do movimento negro no dia 26 de agosto de 2021, em Salvador. O evento ocorreu no final da tarde na Senzala do Barro Preto, a sede do bloco afro Ilê Aiyê, e contou com a presença, além de Lula, do ex-governador e senador pela Bahia Jaques Wagner (PT-BA), da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffman, e de lideranças políticas e representantes de religiões de matriz africana e de evangélicos negros.

A transmissão inteira tem 1:30:59 de duração. A fala de Lula ocorre aos 26 minutos finais, após ouvir manifestações de diversos representantes do movimento negro, como Vovô do Ilê, presidente do Ilê Aiyê; João Jorge Rodrigues, presidente do Olodum; da socióloga Vilma Reis; e de Fernanda Júlia Onisajé, diretora teatral, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e representante do Fórum Nacional de Performance Negra.

No evento, as lideranças cobraram de Lula mais espaço para os negros na política. O ex-presidente fala sobre acesso à educação por parte de jovens negros e pardos, da importância da reparação histórica com os povos africanos e cita críticas que recebeu depois de ter recebido um banho de pipoca e uma imagem do orixá Xangô na chegada para os compromissos à Bahia.

No candomblé, o banho de pipoca é associado a uma limpeza de energias negativas. Já o orixá Xangô simboliza a justiça. Usando um boné e uma túnica do Ilê Aiyê, Lula se declarou pessoalmente católico e afirmou que, enquanto candidato ou presidente da República, tratará todas as religiões com decência e respeito.

Procurada pelo Estadão Verifica, a assessoria de comunicação do ex-presidente disse que a manipulação do vídeo é revoltante e culpou apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo vídeo editado. "É revoltante, e mais uma baixaria do bolsonarismo, o uso constante de fake news e vídeos manipulados para promover ataques políticos e intolerância religiosa", diz a nota.

Falas manipuladas

Participação no programa de governo

A primeira fala manipulada é a que dá a entender que as representantes das religiões de matriz africana participarão diretamente do governo federal, se Lula for eleito nas eleições deste ano. Nesta parte, três trechos de momentos diferentes são juntados, de modo a dar um sentido diferente ao que Lula realmente falava.

Primeiro, o vídeo mostra a primeira declaração: "Não serão apenas consultados. No momento certo, vocês serão convidados a montar estrutura pra ajudar na elaboração do programa". É possível ver um corte brusco que emenda com outra fala: "E também as nossas queridas representantes das religiões da matriz africana". As duas falas existem, mas foram ditas em momentos diferentes.

Quando fala sobre convidar as pessoas a participar da elaboração do programa, Lula não está se referindo às representantes das religiões de matriz africana, e sim às entidades negras como um todo, no contexto da educação. No discurso original, a fala vem logo após Lula dizer que tem orgulho de ter criado o Programa Universidade para Todos (ProUni) e de saber que há mais negros e pardos nas universidades federais do que brancos. Lula, então, diz:

"Significa que nós precisamos fazer mais universidades ainda. Eu quero dizer pra vocês que nós vamos voltar aqui, porque vocês terão que fazer parte obrigatória da construção de um programa de governo pra esse País. Não, vocês não serão apenas consultados. No momento certo, vocês vão ser convidados a montar estrutura pra ajudar na elaboração do programa, para que a gente possa mostrar ao mundo que nós estamos tratando certo essa questão da reparação dos negros no Brasil." (1:21:30)

O trecho "e também às nossas queridas representantes das matrizes africanas" aparece um pouco mais à frente (1:22:47), quando o ex-presidente se dirige, primeiro, ao representante presente dos evangélicos negros, Ademir Santos, e depois às representantes das religiões de matriz africana, sobre os ataques sofridos nas redes.

Banho de pipoca e fala com o demônio

A segunda fala manipulada é sobre a chegada de Lula à Bahia, na véspera do encontro. A fala editada começa com "Vocês sabem que eu tenho conversado com muita gente da religião das matrizes africanas". Lula diz isso logo após saudar o representante dos evangélicos e as ialorixás no evento. Há um corte no vídeo, que salta para a seguinte frase: "Eu, ontem, quando eu cheguei, as mulheres jogaram pipoca em mim e me entregaram um santo, como é que chama? Entregaram um Xangô".

Há outro corte e então aparece uma fala de Lula: "Eu, relação com o demônio, que eu estou falando com o demônio e o demônio está tomando conta de mim". Os cortes nesta parte são ainda mais perceptíveis. A fala original é, na verdade, uma queixa de Lula aos ataques pelo fato de ele estar dialogando com religiões de matriz africana, por parte de pessoas que dizem que ele tem relação com o demônio :

"Então, eu queria falar ao meu companheiro evangélico e queria falar aqui também às nossas queridas representantes das matrizes africanas. Vocês sabem que eu tenho conversado com muita gente da religião das matrizes africanas e eu sei que os bolsonaristas estão fazendo uma verdadeira guerra na rede social. Eu ontem, quando eu cheguei, as mulheres jogaram pipoca em mim e me entregaram um santo, como é que chama? Me entregaram um Xangô e nas redes sociais do bolsonarismo, eles estão dizendo que eu tenho relação com o demônio, que eu estou falando com o demônio e que o demônio está tomando conta de mim. Mas é uma campanha massiva, é uma campanha violenta, como eles sabem fazer, do mal. Eles só sabem fazer isso." (1:22:55)

Fé e crença

Na terceira parte da fala manipulada, o vídeo faz parecer que Lula disse que as religiões e matriz africana são "a nossa fé a nossa crença". O ex-presidente começa dizendo "e as religiões de matriz africana serão tratadas com a maior decência, com o maior respeito". Há um corte e a fala continua: "É a nossa fé a nossa crença. Obrigado às entidades de me trazerem aqui".

Na verdade, Lula se declarou católico e disse que, enquanto candidato e presidente, trata todas as religiões com decência e respeito. O trecho em que o petista expressa sua religião pessoal e diz que respeita os evangélicos foi suprimido. A declaração original é:

"Primeiro, eu, como cidadão brasileiro, eu tenho a minha religião. Todo mundo sabe que eu sou católico. Mas enquanto candidato ou enquanto presidente da República, todas as religiões desse País, inclusive as religiões de matriz africana, serão tratados com a maior decência, com o maior respeito, e eu, jamais, enquanto governo, irei permitir o autoritarismo de uma religião sobre a outra. Se tem uma coisa que a gente tem que respeitar é a profissão de fé das pessoas, é o comportamento das peculiaridades de cada um de nós, é a nossa fé e a nossa crença. Portanto, eu não vou tratar melhor nenhuma e nem outra, eu vou tratar todas as religiões com a decência que elas precisam ser tratadas no nosso território nacional." (1:23:57)

Entre os dias 26 e 27 de agosto de 2021, Lula fez três postagens em sua conta pessoal do Instagram envolvendo imagens e representantes religiosos. A primeira, no dia 26, mostra uma imagem da Santa Dulce dos Pobres, santa baiana canonizada em 2019. Na segunda, também do dia 26, Lula posta uma imagem da Bíblia, ao lado do deputado federal Pastor Sargento Isidório (Avante-BA). A terceira, no dia 27, tem fotos ao lado das lideranças do movimento negro e de religiões de matriz africana na Senzala do Barro Preto.

Liberdade religiosa e de culto

No ano passado, as denúncias de intolerância religiosa cresceram 141% no Brasil, segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Eles foram publicados no último dia 21 de janeiro, quando se completaram 15 anos da instituição do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, data da morte da ialorixá Mãe Gilda de Ogum, em Salvador, que morreu vítima de um ataque contra sua religião.

O Estado brasileiro deve ser laico, ou seja, nenhuma religião é estabelecida como uma crença oficial do País e todas as manifestações de religião e de culto devem contar com a proteção do Estado. O artigo 5º da Constituição Federal de 1988 estabelece que "é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias". O artigo também diz que "ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei".

Já o artigo 19, sobre a organização do Estado, diz que é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios "estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público".

O autor do post no Facebook foi procurado, mas não respondeu ao pedido de informações até a publicação deste texto.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

Uma postagem compartilhada na conta de um pastor evangélico no Facebook distorce falas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante um encontro com lideranças do movimento negro em Salvador (BA), em agosto de 2021. Em um vídeo de pouco mais de um minuto de duração, frases do petista foram cortadas e reagrupadas de modo a simular que ele disse que lideranças de religiões de matriz africana participariam de um futuro governo e que, depois de receber uma imagem de Xangô e tomar um banho de pipoca na Bahia, ele estaria "falando com o demônio". O post teve mais de 8 mil interações na rede social.

Na realidade, Lula criticava opositores que disseram que, ao dialogar com religiões de matriz africana, ele estaria "falando com o demônio". O ex-presidente também disse que convidaria lideranças do movimento negro para participar da elaboração de um programa de governo na área da educação (veja as falas completas mais abaixo).

 Foto: Estadão

Uma legenda foi inserida diretamente no vídeo com a frase: "Lideranças do candomblé da Bahia cosagram (sic) Lula aos orixás". Já a legenda do post diz: "Deus tenha misericórdia da nossa nação em nome de Jesus Cristo". Todas as falas que aparecem no vídeo foram editadas e retiradas de contexto. Além de distorcer as falas, o vídeo é um exemplo de intolerância religiosa: ele trata as religiões de matriz africana como inferiores e faz uma associação entre o candomblé e os orixás ao demônio, discurso comum nesse tipo de prática.

O vídeo original com a fala completa de Lula está disponível na conta oficial do Facebook do deputado federal Jorge Solla (PT-BA) e foi gravado ao vivo no encontro entre o ex-presidente e lideranças do movimento negro no dia 26 de agosto de 2021, em Salvador. O evento ocorreu no final da tarde na Senzala do Barro Preto, a sede do bloco afro Ilê Aiyê, e contou com a presença, além de Lula, do ex-governador e senador pela Bahia Jaques Wagner (PT-BA), da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffman, e de lideranças políticas e representantes de religiões de matriz africana e de evangélicos negros.

A transmissão inteira tem 1:30:59 de duração. A fala de Lula ocorre aos 26 minutos finais, após ouvir manifestações de diversos representantes do movimento negro, como Vovô do Ilê, presidente do Ilê Aiyê; João Jorge Rodrigues, presidente do Olodum; da socióloga Vilma Reis; e de Fernanda Júlia Onisajé, diretora teatral, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e representante do Fórum Nacional de Performance Negra.

No evento, as lideranças cobraram de Lula mais espaço para os negros na política. O ex-presidente fala sobre acesso à educação por parte de jovens negros e pardos, da importância da reparação histórica com os povos africanos e cita críticas que recebeu depois de ter recebido um banho de pipoca e uma imagem do orixá Xangô na chegada para os compromissos à Bahia.

No candomblé, o banho de pipoca é associado a uma limpeza de energias negativas. Já o orixá Xangô simboliza a justiça. Usando um boné e uma túnica do Ilê Aiyê, Lula se declarou pessoalmente católico e afirmou que, enquanto candidato ou presidente da República, tratará todas as religiões com decência e respeito.

Procurada pelo Estadão Verifica, a assessoria de comunicação do ex-presidente disse que a manipulação do vídeo é revoltante e culpou apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo vídeo editado. "É revoltante, e mais uma baixaria do bolsonarismo, o uso constante de fake news e vídeos manipulados para promover ataques políticos e intolerância religiosa", diz a nota.

Falas manipuladas

Participação no programa de governo

A primeira fala manipulada é a que dá a entender que as representantes das religiões de matriz africana participarão diretamente do governo federal, se Lula for eleito nas eleições deste ano. Nesta parte, três trechos de momentos diferentes são juntados, de modo a dar um sentido diferente ao que Lula realmente falava.

Primeiro, o vídeo mostra a primeira declaração: "Não serão apenas consultados. No momento certo, vocês serão convidados a montar estrutura pra ajudar na elaboração do programa". É possível ver um corte brusco que emenda com outra fala: "E também as nossas queridas representantes das religiões da matriz africana". As duas falas existem, mas foram ditas em momentos diferentes.

Quando fala sobre convidar as pessoas a participar da elaboração do programa, Lula não está se referindo às representantes das religiões de matriz africana, e sim às entidades negras como um todo, no contexto da educação. No discurso original, a fala vem logo após Lula dizer que tem orgulho de ter criado o Programa Universidade para Todos (ProUni) e de saber que há mais negros e pardos nas universidades federais do que brancos. Lula, então, diz:

"Significa que nós precisamos fazer mais universidades ainda. Eu quero dizer pra vocês que nós vamos voltar aqui, porque vocês terão que fazer parte obrigatória da construção de um programa de governo pra esse País. Não, vocês não serão apenas consultados. No momento certo, vocês vão ser convidados a montar estrutura pra ajudar na elaboração do programa, para que a gente possa mostrar ao mundo que nós estamos tratando certo essa questão da reparação dos negros no Brasil." (1:21:30)

O trecho "e também às nossas queridas representantes das matrizes africanas" aparece um pouco mais à frente (1:22:47), quando o ex-presidente se dirige, primeiro, ao representante presente dos evangélicos negros, Ademir Santos, e depois às representantes das religiões de matriz africana, sobre os ataques sofridos nas redes.

Banho de pipoca e fala com o demônio

A segunda fala manipulada é sobre a chegada de Lula à Bahia, na véspera do encontro. A fala editada começa com "Vocês sabem que eu tenho conversado com muita gente da religião das matrizes africanas". Lula diz isso logo após saudar o representante dos evangélicos e as ialorixás no evento. Há um corte no vídeo, que salta para a seguinte frase: "Eu, ontem, quando eu cheguei, as mulheres jogaram pipoca em mim e me entregaram um santo, como é que chama? Entregaram um Xangô".

Há outro corte e então aparece uma fala de Lula: "Eu, relação com o demônio, que eu estou falando com o demônio e o demônio está tomando conta de mim". Os cortes nesta parte são ainda mais perceptíveis. A fala original é, na verdade, uma queixa de Lula aos ataques pelo fato de ele estar dialogando com religiões de matriz africana, por parte de pessoas que dizem que ele tem relação com o demônio :

"Então, eu queria falar ao meu companheiro evangélico e queria falar aqui também às nossas queridas representantes das matrizes africanas. Vocês sabem que eu tenho conversado com muita gente da religião das matrizes africanas e eu sei que os bolsonaristas estão fazendo uma verdadeira guerra na rede social. Eu ontem, quando eu cheguei, as mulheres jogaram pipoca em mim e me entregaram um santo, como é que chama? Me entregaram um Xangô e nas redes sociais do bolsonarismo, eles estão dizendo que eu tenho relação com o demônio, que eu estou falando com o demônio e que o demônio está tomando conta de mim. Mas é uma campanha massiva, é uma campanha violenta, como eles sabem fazer, do mal. Eles só sabem fazer isso." (1:22:55)

Fé e crença

Na terceira parte da fala manipulada, o vídeo faz parecer que Lula disse que as religiões e matriz africana são "a nossa fé a nossa crença". O ex-presidente começa dizendo "e as religiões de matriz africana serão tratadas com a maior decência, com o maior respeito". Há um corte e a fala continua: "É a nossa fé a nossa crença. Obrigado às entidades de me trazerem aqui".

Na verdade, Lula se declarou católico e disse que, enquanto candidato e presidente, trata todas as religiões com decência e respeito. O trecho em que o petista expressa sua religião pessoal e diz que respeita os evangélicos foi suprimido. A declaração original é:

"Primeiro, eu, como cidadão brasileiro, eu tenho a minha religião. Todo mundo sabe que eu sou católico. Mas enquanto candidato ou enquanto presidente da República, todas as religiões desse País, inclusive as religiões de matriz africana, serão tratados com a maior decência, com o maior respeito, e eu, jamais, enquanto governo, irei permitir o autoritarismo de uma religião sobre a outra. Se tem uma coisa que a gente tem que respeitar é a profissão de fé das pessoas, é o comportamento das peculiaridades de cada um de nós, é a nossa fé e a nossa crença. Portanto, eu não vou tratar melhor nenhuma e nem outra, eu vou tratar todas as religiões com a decência que elas precisam ser tratadas no nosso território nacional." (1:23:57)

Entre os dias 26 e 27 de agosto de 2021, Lula fez três postagens em sua conta pessoal do Instagram envolvendo imagens e representantes religiosos. A primeira, no dia 26, mostra uma imagem da Santa Dulce dos Pobres, santa baiana canonizada em 2019. Na segunda, também do dia 26, Lula posta uma imagem da Bíblia, ao lado do deputado federal Pastor Sargento Isidório (Avante-BA). A terceira, no dia 27, tem fotos ao lado das lideranças do movimento negro e de religiões de matriz africana na Senzala do Barro Preto.

Liberdade religiosa e de culto

No ano passado, as denúncias de intolerância religiosa cresceram 141% no Brasil, segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Eles foram publicados no último dia 21 de janeiro, quando se completaram 15 anos da instituição do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, data da morte da ialorixá Mãe Gilda de Ogum, em Salvador, que morreu vítima de um ataque contra sua religião.

O Estado brasileiro deve ser laico, ou seja, nenhuma religião é estabelecida como uma crença oficial do País e todas as manifestações de religião e de culto devem contar com a proteção do Estado. O artigo 5º da Constituição Federal de 1988 estabelece que "é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias". O artigo também diz que "ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei".

Já o artigo 19, sobre a organização do Estado, diz que é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios "estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público".

O autor do post no Facebook foi procurado, mas não respondeu ao pedido de informações até a publicação deste texto.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.