O que estão compartilhando: que o grupo Hamas explodiu um carro intencionalmente e usou figurantes para fingir que ficaram feridos no ataque, com a intenção de dizer ao mundo que Israel explodiu o veículo usando mísseis.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O vídeo foi feito em 2016. A operação que forjou a explosão de um carro aconteceu em Bagdá, no Iraque, não na Palestina. A ação fazia parte de uma operação secreta da polícia iraquiana. O uso das imagens no contexto dos conflitos entre Israel e o Hamas já foi alvo de uma checagem do Verifica em 2021.
Saiba mais: O vídeo completo tem um minuto e meio de duração e mostra imagens da câmera de segurança instalada em uma rua. No canto esquerdo, foi escrito em árabe: “Mentira palestina”. Aos 55 segundos de vídeo, contudo, é possível ver claramente a data em que o registro da câmera de segurança foi feito: 16 de outubro de 2016, às 3h40.
A cena começa com uma rua parcialmente vazia. É possível ver um carro de cor escura estacionado do lado esquerdo da imagem e um homem saindo deste carro e andando até um veículo branco estacionado do lado oposto. Ele entra no veículo, que sai da rua. Nove segundos após o carro branco sair da imagem, o veículo escuro explode.
Logo em seguida, um grupo de pessoas entra em cena e se joga no chão. Segundos depois, outro carro branco se aproxima e parece oferecer socorro aos feridos na explosão. Segundo o homem que narra o conteúdo, “começa aí o vídeo que todo mundo vê no mundo, como se o carro tivesse sido abatido”.
O autor do comentário também diz que este é “mais um vídeo da indústria de cinema do grupo terrorista Hamas”, produzido para ganhar o mundo “como se Israel tivesse atingido esse carro com mísseis”, o que é falso.
Operação secreta liderada por capitão da polícia do Iraque
Uma busca reversa usando frames do vídeo mostra que as imagens circulam pela internet pelo menos desde 2018. Foi neste ano que o jornal The New York Times publicou uma reportagem sobre o capitão da polícia iraquiana Harith al-Sudani. Ele era espião da Célula de Inteligência Falcon do Iraque, e conseguiu se infiltrar na organização terrorista Estado Islâmico (Isis).
Harith al-Sudani havia conquistado a confiança dos terroristas e recebia a missão de transportar explosivos e os instalar em locais estratégicos. No entanto, em vez de detonar as bombas, o agente as entregava para colegas de equipe, que forjava as explosões e, depois, usava atores para simular que os atentados tinham obtido sucesso.
Antes de morrer, em 2017, Harith al-Sudani tinha conseguido frustrar 30 ataques planejados em carros-bomba e outros 18 de homens-bomba durante os 16 meses em que atuou como infiltrado. Nas últimas missões, o Isis grampeou o veículo que ele usava e conseguiu ouvir as conversas do capitão Harith al-Sudani com sua equipe. Ele foi enviado a uma missão em 2017, e não voltou mais. O caso também repercutiu no New Zeland Herald e no NY Post.
Vídeo foi usado em 2021
Em 2021, quando houve uma escalada de violência entre Israel e o Hamas, o vídeo ganhou as redes e viralizou em páginas de apoio a Israel, que acusavam o Hamas e a Palestina de forjar ataques para culpar Israel. Agora, em 2023, o vídeo voltou a circular, novamente acusando palestinos e o Hamas.
Israel declarou guerra ao grupo extremista no dia 8 de outubro, em resposta a um ataque do Hamas no dia 7 de outubro. O número de mortos no confronto já passa de 6 mil, segundo dados divulgados por Israel e pelo Ministério da Saúde da Palestina, controlado pelo Hamas. Em Israel, são 1,4 mil mortos, enquanto as vítimas fatais na Faixa de Gaza, do lado palestino, passaram de 4,6 mil.