A meta de inflação se tornou o mais novo tema de acalorado debate entre analistas e investidores, especialmente depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva surpreendeu a todos ao, sem ser instigado a respeito numa recente entrevista, criticar o alvo perseguido pelo Banco Central, afirmando que, por ser demasiadamente baixo, o mesmo obrigaria a um arrocho na economia.
Para este ano, a meta é de 3,25%, com intervalo de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo. Tanto para 2024 quanto para 2025 o alvo é de 3%. Em junho próximo, o Conselho Monetário Nacional (CMN), que passará a contar com votos dos ministros da Fazenda e do Planejamento, além do presidente do BC, irá estabelecer a meta de 2026. E o presidente Lula, na recente entrevista, chegou a indagar: “Por que não fazia 4,5%, como nós fizemos?”.
Não há uma evidência empírica forte apontando para o nível adequado de uma meta de inflação, quer seja para um país desenvolvido ou emergente. Portanto, é legítimo questionar se o nível da meta perseguida pelo Brasil é o melhor para a realidade e a estrutura da nossa economia.
O problema é que não se deve fazer uma mudança de meta de inflação enquanto o País atravessa um momento de turbulência política – na esteira dos atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro – e também de desconfiança dos investidores em relação ao risco fiscal e à trajetória da dívida pública. Sem falar que o processo de desinflação ainda está longe de se completar. Após o estouro da meta em 2021 e em 2022, o mercado projeta que a inflação em 2023 vai ficar ao redor de 5,5%, acima do teto da meta pelo terceiro ano consecutivo.
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A função da meta é trazer a inflação para baixo com o menor custo à economia. Se todos os agentes econômicos acreditarem que, no médio prazo, a inflação é de 3%, o processo de desinflação acontece com menor prejuízo em termos de desemprego. Por outro lado, como trazer a inflação em direção a 3% se o presidente da República incita a dúvida ao sugerir que o alvo, na verdade, poderá ser de 4,5%?
Até junho, quando o CMN fixar a meta de 2026, Lula já terá torpedeado a credibilidade do BC de controlar as expectativas inflacionárias. Como ele vai ficar no cargo por quatro anos, enquanto Roberto Campos Neto deixará o comando do BC em dois anos, a quem o mercado provavelmente dará mais ouvido? Ao presidente da República, óbvio.
Esse conflito pressiona o dólar e os juros futuros, podendo adiar o corte da taxa Selic. É um tiro no pé trazer esse debate à tona neste momento. Deixa a meta em paz, Lula!